Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Elementar, meu
caro Roy

A matéria do jornal de Buenos Aires Clarín do dia 20/3, em sua edição dominical, com chamada de primeira página, esclareceu muitos pontos da contratação de Tevez, embora tenha revelado aspectos mais obscuros do que poderíamos acreditar. Contrariamente ao que informava o clube e trombeteava a MSI, o jogador Tevez não foi contratado pela empresa ‘matriz’ da MSI, e seus direitos federativos repassados ao Corinthians. Esta versão, divulgada para justificar o não-pagamento a ser feito através do Brasil, só existiu na cabeça dos que queriam simular a compra e na boa-fé dos jornalistas.

O que se vê no contrato divulgado pelo Clarín é que o Corinthians, e somente o Corinthians, comprou os direitos econômicos e federativos do jogador Tevez. A MSI ou a sua matriz não aparecem em nada. Não teve a gentileza sequer de firmar como testemunha do negócio. O Corinthians comprou por US$ 16 milhões, em operação a ser paga numa conta em Nova York. Também aí o Clarín esclareceu o valor exato da contratação.

Diferente, portanto, dos US$ 22,5 milhões em que a MSI tanto falou e tanto propagandeou. Coube ao presidente do Boca Juniors dar a explicação sobre a diferença de US$ 6,5 milhões entre o que está no contrato e o que diz a MSI. O primeiro US$ 1,5 milhão foi doado pelo jogador Tevez ao clube em reconhecimento ao trabalho da equipe portenha para revelá-lo como jogador.

Eles que se entendam

Gesto bonito, nobre e difícil de acreditar, como afirma o jornal. A segunda parte seria de US$ 2 milhões para, como disse o Clarín, ‘um até agora desconhecido convênio Corinthians-MSI para intercâmbio de juvenis’. Com isso totalizaríamos US$ 19,5 milhões, valor que, para chegar a US$ 22,5, teria que incluir comissões de intermediários e algumas outras despesas.

A explicação e o detalhamento, feitos pelo Clarín e pelo presidente Macri, longe de trazer tranqüilidade trazem, sim, mais apreensão. Até porque a única empresa citada no contrato, uma tal de HAZ Football Worldwide Ltd., sediada no paraíso fiscal de Gibraltar, é ao mesmo tempo quem teria recebido a comissão e se responsabilizado por alguns pagamentos da operação ao jogador Tevez.

Agora começa-se a entender por que a MSI falou tanto em US$ 22,5 ou US$ 22,6 milhões, quando o Boca recebeu apenas US$ 16 milhões. Estas cifras divulgadas pela imprensa e pelos dirigentes da empresa, como faz crer manchete de 23/3 do Diário de S. Paulo (‘Conselheiros falam em chapéu de Kia’), eram mais para os ouvidos dos investidores do que para nós, mortais brasileiros.

Elementar, meu caro Roy. Eles que são russos que se entendam. Ou melhor, eles que são russos, georgianos, ucranianos, iranianos, israelenses e espanhóis que se entendam.

O direito de nascer 2

O jornal Lance! vem publicando nos últimos dias uma série de reportagens sobre a parceria do Corinthians com declarações do dirigente Kia. Embora com manchetes bombásticas, tudo lá é requentado. Contratação de jogador, construção de estádio, venda de atletas, opiniões sobre mercado, TV Corinthians, tudo já havia sido publicado, até, algumas vezes, pelo Lance!. Faltava apenas indagar sobre a matéria do Clarín e sobre a diferença de US$ 6,5 milhões para que os leitores desta sonolenta série tivessem alguma novidade.

O Lance!, que já publicou grandes matérias sobre a parceria, com notícias favoráveis ou desfavoráveis, agora faz uma entrevista modorrenta, arrastada e sem nenhuma informação nova num trabalho que poderia ter sido inovador para os jovens e corretos jornalistas participantes do colóquio.

Penso que a série de matérias mais ficou para O direito de nascer, tais foram as repetições e a monotonia, e melhor faria o ‘little newspaper’ se a tivesse reduzido a uma pequena coluna num fim de página.

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Vice-presidente eleito do SC Corinthians Paulista (www.citadini.com.br)