‘Três no cemitério, três no hospital: quadrilha desmantelada à bala’. Essa foi a manchete de uma edição do jornal Tribuna do Paraná. Títulos semelhantes a esse são considerados populares, senão sensacionalistas. Os impressos que os utilizam, como os diários Agora e Jornal da Tarde, de São Paulo, recebem as mesmas denominações. Mas o que acontece quando esse tipo de jornalismo é exposto também nos veículos chamados de referência – O Estado de S.Paulo e Folha de S. Paulo? Estariam esse dois grupos mudando suas filosofias na atualidade?
O jornalismo para ser popular não precisa necessariamente ser sensacionalista. O estilo é carregado de dramatização e procura a todo o instante transportar o leitor para o local da notícia, fazendo-o participante. Compará-lo ao jornalismo de elite é uma tarefa que exige paciência. A grande questão que envolve esses dois lados do jornalismo se baseia na utilização do popular pela elite, ou seja, espaços criados em veículos referenciais para tratar de assuntos do ‘povão’.
As edições dos jornais O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo são compostas pelos cadernos ‘Cidades’ e ‘Cotidiano’ respectivamente. Nessas editorias é possível encontrar, dentre outras, matérias com algum tipo de apelo popular. No caderno ‘ Cotidiano’, a matéria intitulada ‘Dentista é arrastada ao salvar filho de ladrões’ mereceu destaque de primeira página. Com elementos de dramatização das cenas do ocorrido, frases impactantes ditas pela dentista e ilustrações de como aconteceu o assalto, a Folha consegue transportar o leitor para o local da ação.
Outra forma de chamar a atenção do leitor e nele gerar algum tipo de sentimento impactante é a utilização de imagens fortes. A ilustração das matérias ajudam a situar e caracterizar o local da notícia, mesmo que em alguns casos seja composta por pessoas mortas ou cenas de destruição. O caderno ‘Cidades’, no Estadão, para ilustrar a matéria de violência ‘Sete pessoas morrem durante ação policial em favela do Rio’, utiliza do artifício popular: alguns policiais aparecem na foto carregando um dos mortos durante a ação na favela.
Negócio e populismo
Seria realmente necessário o jornalismo elite, que se sobressai por utilizar uma linguagem mais culta, refinada e ser editado em cores mais profissionais, utilizar desses artifícios? A resposta é simples. O popular vende. Vale ressaltar que os leitores dos jornais de referência, no geral, possuem um nível de escolaridade relativamente maior e exigem mais qualidade do conteúdo que recebem.
Em tempos de mudanças, cabe às empresas jornalísticas se enquadrarem nas novas exigências do público e mercado. Com relação à prática do popular, a autora do livro ‘Jornalismo Popular’, Márcia Franz Amaral, cita em sua obra que todos os jornais são sensacionalistas em alguma medida, pois buscam prender o leitor para ser lido e, conseqüentemente, alcançam uma maior tiragem.
A alternativa encontrada pelo Estadão e Folha é o reflexo da atualidade. Se um veículo deseja ser respeitado e desejado por todos, independentemente de estar nas classes A, B, C, D ou E, o mesmo deve procurar fazer um jornalismo conciso e sem excessos. O importante é focar a notícia no leitor.
Os veículos precisam de mercado para aumentar suas vendas. Para tanto, o tradicional tende a se esquivar para o moderno e, assim, conquistar mais leitores. Seja pelo popular ou pelo elitizado, a mensagem que deve chegar ao leitor deve ser clara e funcional. Somente numa sociedade de extremos, como a brasileira, será possível levar a mesma informação a todos.
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Aluno do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Adventista