Há uma semana, a revista IstoÉ publicou uma reportagem exclusiva sobre o chamado ‘mensalão mineiro’ e estampou na capa três personagens notórios: o governador Aécio Neves, o senador Eduardo Azeredo e o ministro Walfrido dos Mares Guia. Autêntico ‘furo’, o trabalho dos repórteres Alan Rodrigues e Hugo Marques revelou em primeira mão as conclusões da Polícia Federal a respeito do caso e teve a inteligência de se antecipar à denúncia que será apresentada nos próximos dias pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Foi quase um xeque-mate.
Depois disso, outros grandes veículos de comunicação, alguns ainda atordoados com a derrota sofrida no caso Renan Calheiros, tiveram de se render. Aos poucos, começaram a se pautar pela reportagem da IstoÉ. Curioso, porém, foi o tratamento desigual dispensado pelos concorrentes. Elegante, o Estado de S.Paulo, já no sábado (15/9), repercutiu a história e deu o devido crédito à IstoÉ. A Folha de S. Paulo, que entrou na história com certo atraso, agiu de modo curioso. Na coluna ‘Toda Mídia’, o crédito foi dado ao site Consultor Jurídico, que não fazia outra coisa senão repercutir a própria IstoÉ! Nos dias seguintes, a Folha continuou no caso e, no sábado (22/9), publicou o bilhete com as anotações de caixa 2 que o ministro Walfrido fez de próprio punho em 1998, algo que também já havia sido revelado por Alan Rodrigues e Hugo Marques. O crédito? Bem, o gato comeu.
Mais surpreendente ainda, no entanto, foi a postura do Jornal Nacional, da Rede Globo. Na noite da terça-feira (18/9), uma reportagem sobre o caso ocupou quase um bloco inteiro do programa e praticamente repetiu a história da IstoÉ – sem o devido crédito. A única diferença em relação à matéria da revista, no telejornal de William Bonner, foi a omissão do governador Aécio Neves, que teria recebido 110 mil reais do ‘tucanoduto’ mineiro e cujo nome consta do relatório da Polícia Federal.
Tal fato foi notado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, em seu blog Conversa Afiada, no iG, como evidência de que o JN já teria candidato à presidente da República. Difícil saber. Mas também foi estranha a postura de Paulo Henrique, que chamou de ‘inconsistente’ o jornalismo da IstoÉ, mas não se cansou de repercutir a matéria. Ora, se é inconsistente, por que reverberá-la?
Tigre de papel
O caso do Jornal Nacional também chama atenção pela diferença de critério. Ao longo da blitz pela cassação de Renan Calheiros, qualquer tiro de espoleta da revista Veja sobre o caso era amplificado na Globo, com o devido crédito. Por que o mesmo tratamento não foi concedido à IstoÉ? Má vontade? Esquecimento? Só William Bonner poderá dizer. Aliás, nunca é demais lembrar que a primeira capa de Veja sobre o caso Renan já havia sido antecipada na coluna de Ancelmo Góis, no jornal O Globo. Para quem observava tudo de longe, a sensação é de que havia um consórcio entre dois dos principais grupos de mídia do país na caçada a Renan.
No último fim de semana, a própria Veja entrou na história do mensalão mineiro, naturalmente também sem citar o ‘furo’ de seu maior concorrente. Num artigo de Alexandre Oltramari e José Edward, a revista faz uma espécie de réquiem para o ministro Walfrido dos Mares Guia, antecipando que ele será denunciado pelo procurador Antônio Fernando de Souza e que, neste caso, sua permanência no governo se tornará inviável.
O que se pode concluir a partir disso? Todos os canhões do exército da Editora Abril, um autêntico tigre de papel, não foram capazes de derrubar Renan Calheiros. Uma reportagem bem feita na IstoÉ deverá dar mais resultado. Sinal de que torcida é torcida, notícia é notícia.
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Editor das revistas IstoÉ Dinheiro e Dinheiro Rural