Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Por que a imprensa é culpada

Eu acuso a imprensa de ser a maior culpada pelo estado de corrupção, violência, miséria e solidão da comunidade humana. Mais, reservo-me o direito de acusar a imprensa de ser a maior culpada pelo estado febril de nossa mãe Terra. De todas as ‘invenções’ humanas, a imprensa é, sem sombra de dúvidas, a mais deturpada, depreciada, esculhambada e perniciosa. Tudo porque, de todos os instrumentos de submissão, de coerção, de manipulação e desagregação da raça humana, a imprensa é a mais utilizada, a mais ferrenhamente controlada por todos os detentores do poder. O sistema de opressão tem predileção pela imprensa e a imprensa tem predileção pela subserviência ao poder, a ele se submetendo de forma nauseante, criminosa.

Engana-se quem pensa que a imprensa ‘nasceu’ com o tipo-móvel de Gutenberg. Ela nasceu quando surgiu o primeiro ‘conselheiro’ real, a primeira figura parda que se posicionava logo atrás do rei e lhe sussurrava notas e informações ao ouvido, não sem antes selecionar o que lhe interessava, e não o que interessava ao rei ou, menos ainda, ao Reino.

Você agora deve estar retrucando: que absurdo! Não fosse a imprensa e toda essa safadeza praticada pelos políticos não seria descoberta. Não fosse a imprensa e Renan Calheiros não seria sequer descoberto, quanto mais execrado. Em primeiro lugar, Renan Calheiros ‘seduziu’ a representante da imprensa… deitou-a sobre a mesa e nela empanturrou seu desejo, numa metáfora perfeita da relação entre o poder e a imprensa. Pense comigo: Acaso ninguém sabia desse ‘caso’? Acaso, em Brasília, onde há mais jornalistas que formigas, ninguém, ao longo desses anos todos, sabia de toda essa safadeza, desvio de recursos públicos? Não, Renan Calheiros não foi desmascarado pela imprensa. A imprensa estava prenha dele. Renan foi desmascarado pelo sortilégio, pela inimizade, pela vingança. Mas, por favor, leitor e leitora, não sejam tolos de achar que a imprensa prestou algum serviço ao Brasil ou a humanidade. Ela silenciou enquanto foi possível silenciar.

Desumanidade diária

Você já ouviu falar em Humberto Mendoza? Não? Humberto é fuzileiro naval estadunidense e, em depoimento tétrico prestado por conta de um massacre ocorrido no Iraque. Dentro de uma casa, Mendoza disse que recebeu ordem de outro marine, Stephen Tatum, para atirar contra sete mulheres e crianças que estavam escondidas em um quarto. Ele relatou, ipsis verbis: ‘Quando abri a porta, havia apenas mulheres e crianças (…) e, depois de poucos segundos, percebi que não eram uma ameaça, (…) pareciam assustados.’

Logo após sair do quarto, Mendoza encontrou Tatum e disse que lá só havia mulheres e crianças, mas mesmo assim recebeu nova ordem de atirar. O cabo revelou que ainda tentou argumentar com Tatum, dizendo que ‘eram apenas mulheres e crianças’, mas o outro marine ficou calado. Algum tempo depois, quando estava diante da casa, Mendoza ouviu um forte barulho e quando voltou ao quarto, encontrou todos mortos.

A imprensa, submissa até à medula, relembra incansavelmente as mortes ocorridas no 11 de setembro nos EUA. Mas não dá linhas para a barbárie, a desumanidade diária praticada contra irmãos nossos no Iraque, no Afeganistão e em qualquer outro lugar onde, por ordem, não há interesse em se relatar os fatos.

Até na internet…

Quer mais? O Instituto de Ciência Weizmann, em Israel, em recente pesquisa sobre uso de celulares, declarou que apenas dez minutos de uso do celular já são suficientes para um lotérico disparo de reprodução desordenada de células cerebrais. Em outras palavras, para o surgimento de tumores na cabeça. Você leu isso em algum lugar? Agora, quem é o novo técnico do Criciúma você lê em letras garrafais. Se o presidente Lula fala errado, você fica sabendo. Estás pensando que essa cruzada contra a CPMF é uma rebelião do povo contra a nova derrama? Te liga, meu amigo, minha leitora, a imprensa não noticiará coisa alguma que seja contra seu patrão… E o seu patrão, podem ter certeza, não é nem o povo, nem a verdade.

Para não dizer que saí sem deixar alternativas, deixo: a imprensa alternativa. Até a busca de informações na internet já deve ser feita ‘pelas beiradas’, porque o núcleo dela já está tomado. Nenhum dos grandes portais é confiável, nenhum meio de comunicação dominante, do local ao nacional, é confiável.

******

Advogado, Içara, SC