’04/04/2005
A chacina na Baixada Fluminense, na noite de quinta, e a morte do papa, no sábado, dominaram as edições do final de semana dos principais jornais, mas pegaram as revistas praticamente fechadas.
A evolução das manchetes nestes últimos dias:
Papa
Folha – ´João Paulo 2º piora e perde consciência`(sábado), ´Papa sabe que está morrendo, diz cardeal`(primeiros exemplares de domingo), ´Morre João Paulo 2º`(edição final de domingo), ´Roma espera 2 milhões pelo papa`(segunda).
´Estado`- ´Ele já vê e toca o Senhor`(sáb.), ´Papa perde consciência, coração resiste`(primeira edição de domingo), ´Acaba o martírio do papa`(edição final de domingo), ´Vaticano abre hoje o testamento do papa e aguarda 2 milhões no velório`(seg.).
´Globo`- ´Estado do papa é irreversível`(sáb.), ´Adeus, João de Deus`(dom.), ´Cardeais já discutem perfil do sucessor de João Paulo II`(seg.).
Chacina
Folha – ´31 são mortos na Baixada Fluminense`(chamada na Edição SP de sexta), ´Massacre no Rio deixa 30 mortos`(sáb.), ´Testemunha reconhece acusado de crime no RJ`(domingo, Edição Nacional), ´Polícia do Rio detém 2 suspeitos de massacre`(dom., Ed. SP), ´PF investiga dez PMs por chacina`(seg.).
´Estado`- Não teve chamada na edição de sexta. ´Assassinos atiram a esmo: 30 mortos na maior chacina do Rio`(sáb.), ´Dois policiais são presos no Rio`(apenas na edição anterior à morte do papa), ´Governo manda tropas para o Rio`(seg.).
´Globo`- ´Baixada tem 27 mortos por grupo de extermínio`(manchete da 3ª edição de sexta), ´Investigação reforça ação de PMs em chacina da Baixada`(sáb.), ´Dois policiais militares suspeitos da chacina na Baixada são detidos`(dom.), ´Lula cobra ação rápida contra violência no Rio´.
As revistas fecharam antes da morte de João Paulo 2º. Como tudo indicava que seu fim estava próximo, elas editaram reportagens especiais que tiveram como referência jornalística a agonia dos últimos dias. ´Época`e ´Veja`estamparam fotos do sofrimento do papa nas suas capas. A ´IstoÉ`começou a circular sem menção ao papa na capa e depois incluiu meia sobrecapa.
´Veja`- ´A grandeza da fé´.
´Época`- ´João Paulo II´.
´Veja`fez circular, depois, uma ´Edição histórica´: ´João Paulo II – 1920-2005´. O exemplar que vi era para assinante.
A capa da ´IstoÉ`é uma daquelas que deveriam ser bem estudadas pelas escolas de jornalismo em lição a respeito dos truques que ainda estão ao alcance da imprensa. A foto fechada do rosto da ex-prefeita Marta Suplicy está vazada pelo título ´Irresponsável´, grafado com letras pretas e garrafais. Em branco, em tipos bem menores, está escrito, acima do título: ´Os tucanos acusam a ex-prefeita Marta Suplicy:´. E abaixo: ´E, acredite, muitos petistas concordam´.
O papa
Jornais e revistas tiveram tempo de sobra para se preparar para a morte do papa, pressentida há meses. Foi o que fizeram.
A Folha começou a rodar no sábado a edição de domingo ainda sem a morte do papa (exemplares distribuídos para pontos mais distantes do país). Depois, incluiu o anúncio na sua capa, mas internamente ainda teve uma edição tímida (3 páginas e meia). Apenas na última edição conseguiu imprimir um caderno, com 16 páginas, à altura do fato jornalístico. Ainda não sei quantos exemplares circulou de cada edição. Mas, pelo horário, 16h37, é bem possível que a maioria dos exemplares tenha trazido o caderno especial ´João Paulo 2º´.
Há um erro grave na manchete da edição da Folha de sábado, corrigido na edição de domingo.
A última edição de domingo e a de hoje estão bem informadas e bem planejadas. Destaco alguns pontos:
– A espinha dorsal da cobertura são os textos de Clóvis Rossi no Vaticano e os textos didáticos de Paulo Daniel Farah. Os dois conferem solidez ao noticiário.
É primoroso, e um diferencial da Folha, o texto de Rossi na capa de ´Mundo`de sábado (´João Paulo 2º sofre colapso cardíaco, choque séptico e se `apaga serenamente´´). Ali estão as informações principais do dia costuradas por um relato de quem testemunhou a reação dos que ocuparam a praça de São Pedro nas últimas horas de vida do papa. Seu texto de hoje também consegue amarrar as informações objetivas do Vaticano com o que presenciou nas ruas da cidade.
– Desdobramentos gráficos dos textos de Farah sobre os ritos, cerimônias e histórias do papado, as artes da Folha nestes três últimos dias formam outro diferencial do jornal.
– Acho que o jornal acerta quando tenta encaminhar a discussão da sucessão do papa para uma análise mais de temas do que de nomes. Neste sentido, são boas as entrevistas feitas até agora com d. Cláudio Hummes e d. Geraldo Majella Agnelo.
Há uma torcida nacionalista que se forma em torno do nome de d. Cláudio Hummes. O título ´Lula afirma apoiar nome de d. Cláudio`(pág. 8 do caderno especial de hoje) deveria ter vindo com alguma aspa ou com a indicação de que o apoio de Lula não vale nada, é apenas mais uma carona que pega.
– O jornal tem análises e repercussões variadas e contempla os críticos do pontificado de João Paulo 2º. A tendência de santificação será cada vez maior e é importante que o jornal mantenha o distanciamento jornalístico.
Destaco, na edição de domingo do ´Estado`depois do anúncio da morte, o artigo do teólogo católico dissidente Hans Küng (´As contradições de um pontificado´). Na de hoje, dois detalhes: a entrevista com a embaixadora brasileira no Vaticano, Vera Machado, e a informação de que o primeiro jornalista a anunciar a morte foi um brasileiro, na Rádio Vaticano.
A primeira página da Folha de domingo chama de consistório a reunião dos cardeais para a eleição do papa. Como o próprio jornal informa em várias artes e textos, a reunião para a eleição chama-se conclave.
Não comparei todos os números do pontificado de João Paulo 2º. Mas na Folha está que visitou 129 países; no ´Estado´, há uma lista com 132.
Chacina
São fortes as fotos publicadas pelo jornal na capa e no caderno ´Cotidiano`de sábado. A da capa mostra três mortos no lava-a-jato de Queimados.
Houve a reação de um leitor no ´Painel do Leitor`de sábado. É uma reação que se repete, com argumentos válidos e que devem ser levados em conta pelo jornal, sempre que são publicadas fotos explícitas de violência e de assassinatos. Mas neste caso específico concordo com as ponderações das cartas publicadas na edição de hoje. A mensagem da leitora Maria Antonia de Souza merece reflexão: ´Muitos, ao lerem a reportagem e verem as fotos, devem ter-se indignado e perguntado: por que o jornal coloca uma foto dessa -e ainda por cima na capa? Eu também estou indignada e me pergunto: por que existem fotos e fatos como esses?´
Tem razão o jornalista Janio de Freitas na observação final (´Espeto de pau´) de sua coluna de domingo (pág. A11): ´Como sempre, o Rio paga. A chacina nos municípios de Nova Iguaçu e de Queimados foi assim noticiada, como sempre, pelo ´The New York Times´: ´30 mortos em ruas do Rio´. Quando comecei o velho sorriso, em homenagem à não menos velha opinião pessoal e profissional sobre o NYT, dei com esta outra manchete de primeira: ´Massacre no Rio deixa 30 mortos´. No meu jornal, como costumam dizer os jornalistas´.
Embora a chacina pudesse ter ocorrido na cidade do Rio, como tantas outras que já presenciamos, esta agora foi em dois municípios da Baixada Fluminense. Aliás, como estava na chamada da capa do jornal de sexta.
Imagino que tragédia semelhante em Osasco, Guarulhos ou em alguma cidade do ABC sairia com mais precisão: ´Massacre no ABC`ou ´Massacre na Grande SP´; dificilmente seria ´Massacre em São Paulo´. Rio remete sempre para a cidade. O jornal usou três formas distintas nos três primeiros dias que noticiou: Baixada Fluminense (sexta), Rio (sáb.) e RJ (dom.). Em nome da precisão, acho que deveria usar sempre os nomes dos municípios, da região (Baixada Fluminense) ou do Estado (RJ).
Direito de Resposta
O ´Estado`publica no sábado, na página A8, a íntegra de uma sentença em que é condenado por danos morais por uma reportagem de 1999.
Waldomiro
Waldomiro Diniz concedeu entrevista exclusiva para o ´Estado´, publicada sábado: ´Waldomiro quebra silêncio e lamenta estrago a Dirceu´.
Marka/FonteCindam
Segundo o ´Globo`(coluna ´Ancelmo Gois`de hoje), os acusados no caso Marka/FonteCindam foram condenados por crime contra o sistema financeiro nacional. Inclusive Salvatore Cacciola (13 anos) e Francisco Lopes (dez anos) e os três diretores do BC. Não vi na Folha.
01/04/2005
A saúde do papa e a Medida Provisória que corrige a tabela do Imposto de Renda são os assuntos que os jornais destacam nas suas capas de hoje.
O ´Globo`começou a circular com manchete sobre o papa, mas mudou na terceira edição para a chacina no Rio: ´Baixada tem 27 mortos por grupo de extermínio´.
Papa:
Folha – ´Saúde de João Paulo 2º piora com infecção e febre alta`(Edição Nacional) e ´Saúde do papa piora e estado é muito grave, diz Vaticano`(Ed. SP).
´Estado`- ´Papa piora e recebe extrema-unção`(21h20) e ´Infecção torna crítico o estado de saúde de João Paulo II`(0h40).
´Globo`- ´Papa está perto do fim, diz cardeal´.
Imposto de Renda:
Folha – ´Nova MP mantém a correção do IR`(manchete).
´Estado`- ´Nova MP vai corrigir o IR. Novo imposto vira projeto´.
´Globo`- ´Nova MP garante a correção da tabela do IR´.
Os outros assuntos comuns aos três jornais: a morte de Terri Schiavo e Brasil é a 12ª economia. Folha e ´Estado`destacam ainda o enfrentamento entre PSDB (Alckmin e Serra) e o PT (governo Lula).
´Toda Mídia´
A coluna saiu cortada e descaracterizada na Edição Nacional.
Pelo segundo dia consecutivo ela é editada num formato diferente do que foi concebida.
´Painel do Leitor´
A carta do fazendeiro Délio Fernandes estaria mais bem editada em Brasil, dentro do noticiário sobre as investigações da morte da irmã Dorothy, do que no ´Painel do Leitor`(´Assassinato de Dorothy Stang´, pág. A3). Ele vem sendo citado nas investigações e ali estão as suas explicações. Acho que deveria ter recebido tratamento jornalístico e editado como ´Outro lado´.
Indenização
Ontem foi a família de Tenório Cavalcanti; hoje, é o Cabo Anselmo. O ´Estado`publica trechos do documento que o ex-marinheiro encaminhou à Comissão de Anistia com pedido de indenização.
Nepotismo
Segundo o ´Globo´, o projeto que proíbe o nepotismo na administrarão pública ´vai para o fim da fila na Câmara´.
´Quase dois irmãos´
A organização criminosa que nasce da convivência entre presos políticos e criminosos comuns na Ilha Grande é a Falange Vermelha, e não o Comando Vermelho, como está na apresentação do filme (´Lúcia Murat opõe ideologia a relações humanas em drama´, pág. E6 de ´Ilustrada´).
O mesmo texto localiza erroneamente o complexo de Bangu na Baixada Fluminense.
31/03/2005
Folha e ´Globo`mantém nas manchetes a indefinição do governo em relação à MP dos impostos:
Folha – ´Governo manobra e adia rejeição de MP´.
´Globo`- Impasse pode fazer imposto de autônomos subir amanhã´.
O ´JB`também trata do assunto: ´Decisão sobre impostos sai hoje´.
´Estado`e ´Valor`destacam outros temas:
´Estado`- ´Governo suspeita de cartel no setor de cimento´.
´Valor`- ´Fundo de R$ 6 bi garante estréia da PPP com 4 obras´.
Painel do Leitor e ´Erramos´
O jornal edita hoje duas cartas (´Gastos´, pág. A3) que contestam informações publicadas na primeira página e na página A4 da edição de sábado, dia 26, sob o título interno ´Governo gasta mais com carro oficial, e servidor dribla regras´.
Uma das contestações de hoje – a que se refere ao uso do carro do ministro das Comunicações sem identificação – está respondida pelo jornal de forma convincente. A outra carta, no entanto, a que contesta os dados da reportagem e mostra que 75% dos gastos não se referem a carros oficiais, não é respondida. Ou seja, a Assessoria de Comunicação do Ministério do Planejamento deve ter razão, caso contrário haveria uma resposta do jornal.
Se o meu raciocínio está correto, o jornal deveria ter admitido que errou. Como fez, embora com quase um mês de atraso, em relação ao erro que registra na primeira correção da seção ´Erramos`de hoje: ´Texto e título da reportagem ´Após furto, bola do penta é recuperada`estavam errados´. Simples e direto.
Novela ministerial
O relato do ´Globo`a respeito da insatisfação do ministro José Dirceu em relação ao desfecho da reforma ministerial é um tom acima do da Folha. No jornal do Rio, sob o título ´Irritação máxima´, ´Dirceu avisa que vai deixar a coordenação política e cuidar apenas de gerenciar o governo´. A Folha apenas registra a insatisfação. O aviso pode ser apenas uma ameaça, uma forma de pressão. É aguardar para conferir.
Indenização
Segundo o ´Globo´, a viúva de Tenório Cavalcanti, cassado pela ditadura militar, ganhará indenização. Foi um político folclórico, violento, mas importante na década de 50 e início dos anos 60 no Rio. Não vi na Folha.
CPI das sapatilhas
O jornal vem dando grande espaço para as investigações que apuram irregularidades na Escola do Teatro Bolshoi, em Curitiba. A decisão da Justiça favorável aos acusados (´Justiça rejeita denúncia sobre caso Bolshoi´, pág. A11) deveria ter tido mais destaque do que um colunão de ´Panorâmica´, como foi editado na Edição SP.
Diplomacia
O ´Estado`dá mais espaço, e tem mais informações do que a Folha, a respeito dos desdobramentos da reunião de ontem em Caracas. O jornal tem o rescaldo da Folha (´Para espanhol, EUA querem ´lulalizar`Chávez´, pág. A9) e mais informações e análise sobre a visita programada da secretária de Estado americana (´Condoleezza vem ao País em abril, com Venezuela no topo da agenda´) e sobre as reações na Espanha à venda de armas para a Venezuela (´A polêmica das armas para Caracas´).
O ´Estado`também valoriza os desdobramentos provocados pelo relatório da ONU sobre a Justiça brasileira: ´ONU pediu explicações ao Brasil´, ´Algumas críticas à Justiça são procedentes, diz Bastos`e ´Reforma do Judiciário precisa incluir planejamento´.
Papa
O ´Globo`relata uma ´Crise silenciosa na Santa Sé´. Segundo o jornal, a decadência da saúde do papa ´abre crise interna na igreja`envolvendo os cardeais Ratzinger e Sodano e o arcebispo Dziwisz.
Resposta
Recebi de Neivaldo José Geraldo, editor adjunto de Brasil, via SR, a seguinte mensagem:
´Em respeito aos repórteres Rubens Valente, Marta Salomon, Ranier Bragon, Elvira Lobato e Catia Seabra, tenho a informar, sobre duas notas do ombudsman ´Novela ministerial´, da crítica interna de 22 de março, e ´Dinheiro público´, de 28 de março, que: a Folha publicou, sim, reportagens sobre o currículo de ministeriáveis nos dias que antecederam a reforma ministerial, depois abortada pelo presidente Lula e que só indicou dois ministros. Foram publicadas reportagens que mostram a atuação e a ´folha corrida`ao serviço público de Ciro Nogueira, Romero Jucá e Eunício de Oliveira, que já era ministro, mas que chegou a ser cogitado para uma troca de pastas. As reportagens, acredito, respondem a algumas perguntas da crítica interna de 22 de março como ´são bons parlamentares, foram bons administradores, entendem do assunto que vão tratar, já foram condenados, respondem a processos ou estão sendo investigados?`Já o texto publicado no dia 28 de março ´Jucá toma crédito, não paga e garantia é falsa`é decorrência das primeiras reportagens feitas antes da posse do ministro Romero Jucá.
Segue relação de reportagem publicadas:
1)No dia 1º de março foi publicada a reportagem ´Com Eunício, Ceará expande comunicações´, de autoria de Catia Seabra, que informava que o Ceará, domicílio eleitoral do ministro das Comunicações, estava sendo favorecido na divisão das consultas públicas para a instalação de emissoras de rádio e TV do país.
2)No dia 3 de março foi publicada a reportagem ´Cadastro de rádio e TV embaraça ministro e secretário executivo´, de autoria de Elvira Lobato,que informava que Euníco e seu secretário, Paulo Lustosa, tinham emissoras de rádio e TV no Ceará, apesar de eles terem declarado publicamente que não eram mais proprietários deste tipo de negócio.
3) No dia 5 de março foi publicada a reportagem ´Corregedor da Câmara tem bens bloqueados´, de Ranier Bragon, que informava que o corregedor da Câmara, que vem a ser o então ministeriável Ciro Nogueira, teve seus bens tornados indisponíveis pela Justiça devido à acusação de improbidade administrativa, pois ele não retomou para a Câmara três apartamentos funcionais que ex-deputados continuavam usando sem mandato.
4)No dia 13 de março foi publicada a reportagem ´Candidato à Previdência, senador deve para a União´, de autoria de Rubens Valente e Marta Salomon, que informava que o senador Romero Jucá é investigado por dever para o INSS, órgão subordinado ao ministério que assumiria dia depois. No mesmo dia e na mesma página outra reportagem informava que a Polícia Federal investigava a participação de Jucá em um caso de desvio de recursos federais da Prefeitura de Cantá (RR).
5)No dia 15 de março foi publicada a reportagem ´Mulher de Jucá, prefeita deve R$ 16 mi ao INSS´, de Rubens Valente e Marta Salomon, que informava que a mulher do então ministeriável , prefeita de Boa Vista devia ao INSS.
6)No dia 16 de março foi publicada a reportagem ´Deputado dá emprego a parentes´, de Ranier Baragon, que informava que pelo menos oito familiares do deputado Ciro Nogueira foram contratados em cargos de confiança por seu gabinete ou pela Câmara desde 2001´.
Em respeito aos leitores e aos profissionais que fizeram as reportagens citadas, devo lembrar ao editor adjunto que todas elas foram citadas por mim na coluna dominical ´A reforma ministerial´, de 20 de março. Repito o que escrevi então: ´Nenhuma [reportagem] abrangente o suficiente para ser considerada um balanço´. Continuo com a mesma opinião e lamento que a editoria considere o problema uma responsabilidade dos repórteres. Não vejo assim. As falhas que tenho apontado neste caso referem-se à editoria, e não aos repórteres.
29/03/2005
As manchetes dos principais jornais destacam o fim do acordo do Brasil com o FMI e todas têm o mesmo enfoque.
Folha – ´Brasil não renova com o FMI, mas mantém aperto´. Na Edição Nacional trazia ainda um extrato de artigo assinado por Clóvis Rossi, ´País não abandona receita do Fundo´.
´Estado`- ´Brasil sai do FMI e mantém política´. A submanchete: ´Juros altos anulam esforço de superávit´.
´Globo`- ´Brasil não renova com FMI mas mantém o rigor fiscal´.
Nos diários econômicos:
´Valor`- ´Brasil encerra ciclo com o FMI`e ´Fundo dá garantia de nova ajuda´.
´Gazeta Mercantil`- ´Reservas animam governo a não renovar com FMI´.
Dinheiro público
A Folha abriu esta semana dois casos importantes que estão tendo repercussão na política e nos outros meios de comunicação: a lista de cônjuges empregados pelos deputados federais e as investigações que sofre o novo ministro da Previdência, Romero Jucá.
´Estado`e ´Valor`informam que o governo Lula já tinha conhecimento das denúncias contra o senador Romero Jucá no caso Frangonorte e mesmo assim o nomeou ministro. Segundo ´Valor´, ´Jucá explicou-se ao governo antes de ser nomeado`e o governo entendeu que neste caso trata-se de ´questão empresarial´. Segundo o ´Estado´, José Dirceu foi informado pelo PMDB das denúncias contra ministro.
Os dois jornais trazem ainda a movimentação do PMDB, ao longo do dia de ontem, para tentar justificar a posição do ministro.
É um bastidor que revela os critérios de nomeação do governo federal e, por isso, o jornal deveria recuperar.
´Mundo´
Com apenas duas páginas, a editoria só tem espaço para tratar bem de dois assuntos, o novo terremoto na Ásia e o caso Schiavo, nos Estados Unidos. Senti falta, por exemplo, de mais informações de bastidores e de um texto mais analítico a respeito do encontro dos presidentes do Brasil, Venezuela e Colômbia e do premiê da Espanha a partir de hoje em Caracas. O texto da Folha (´Lula, Chávez, Uribe e Zapatero vão a reunião de cúpula na Venezuela´, pág. A11) está correto, mas é praticamente uma apresentação oficial do encontro.
A repórter do ´Estado`que vai cobrir o encontro já está na Venezuela.
Segundo a Folha, ´três meses após o tsunami que devastou a Ásia, novo sismo, com epicentro semelhante ao de dezembro, assusta região`(capa de ´Mundo´). Li o relato do jornal feito a partir das agências internacionais e não consegui entender o que o jornal quis dizer com ´epicentro semelhante ao de dezembro´. Não seria próximo ao de dezembro?
FMI
Todos os jornais deram bastante espaço para o anúncio do governo brasileiro de que não renovará o acordo com o FMI.
Achei a cobertura da Folha bem abrangente, com bastante informações e bastidores e com análises e repercussões diversificadas.
Desembarque imediato
Está incompleta a reportagem ´Passageiro com cadeira de rodas é impedido de viajar`(pág. C2 de ´Cotidiano´). A companhia justifica a decisão de não transportar a bateria da cadeira de rodas com base em portaria do DAC. O passageiro prejudicado informa que a portaria fala em bateria líquida, quando a bateria da cadeira de rodas dele é seca. Caberia ao jornal buscar uma informação técnica do próprio DAC ou de outra autoridade em transporte aéreo que esclarecesse se a medida da companhia aérea foi correta ou abusiva. Como está apurado, o leitor fica sem saber quem tem razão.
Apólice de risco
Este caso vai tomando grandes proporções e justifica o interesse do jornal de aprofundar as investigações.
Acho, no entanto, que há um ponto ainda pouco claro: a Porto Seguro participou das fraudes ou foram funcionários seus sem conhecimento da cúpula da empresa? Enquanto este ponto não fica esclarecido, o jornal deveria publicar sempre a defesa da seguradora. Isso não ocorre na Edição Nacional de hoje.
Outro problema na Edição Nacional: as informações da Corregedoria da Polícia Civil a respeito dos funcionários foragidos não poderiam estar no box com o ´Outro lado`dos envolvidos. O recurso gráfico ´Outro lado`é destinado às defesas dos acusados, e não a mais informações contra eles.
Cicarelli
A Folha informou ontem, sem qualquer hesitação, que a mulher do jogador Ronaldo está grávida:
´Pouco mais de um mês após se casarem nos arredores de Paris, Ronaldo e a modelo e apresentadora Daniella Cicarelli esperam um filho. A gravidez tem cerca de um mês, e a criança vai nascer em novembro. Será o segundo filho de Ronaldo e o primeiro de Daniella (´Ronaldo diz ao Real que mulher está grávida´, pág. A6).
Ontem mesmo a notícia foi desmentida por Daniella. Ou a modelo está mentindo ou o jornal cometeu um erro grave de apuração.
Resposta
A respeito da reportagem ´Casamento dá emprego na Câmara´, escrevi, na Crítica Interna de ontem, na nota ´Domingo´, a seguinte observação: ´(…) um caso merecia uma correção no ´Erramos´: segundo registro no jornal hoje, segunda, a mulher do deputado Jutahy Junior trabalha na Câmara porque fez concurso público. Não pode, portanto, estar na lista dos cônjuges contratados ´sem concurso público´, conforme o critério elegido pela reportagem´.
Recebi do repórter Ranier Bragon, via Secretaria de Redação, a seguinte explicação:
´O caso do Jutahy enquadra-se na reportagem pelo seguinte: embora ela [a mulher do deputado] tenha entrado na Câmara via concurso, como afirma o deputado, hoje ocupa um cargo de confiança (com remuneração superior a que teria pelo concurso) graças à indicação do marido –lembro que nos gabinetes não existem ´cargos concursados´. Ou seja, o cargo que ela ocupa hoje é uma nomeação não submetida a concurso´.
O jornal deveria ter fornecido estas informações na reportagem de domingo, em que inclui a funcionária concursada na lista, e na de segunda, em que registra apenas a informação do deputado Jutahy sem contra argumentar.
Aviso
Participarei amanhã pela manhã de um seminário na Escola de Comunicação da UFRJ a respeito da cobertura jornalística de celebridades. Por esta razão não farei a Crítica Interna.