Peter Kent, subeditor da rede de televisão canadense Global Television News, leva uma vida dupla. Há cinco meses, ele concilia o cargo de executivo de empresa de mídia com uma candidatura política no Partido Conservador do Canadá para a próxima eleição federal. Esta combinação por si só já desagradava aos críticos. Mas, para piorar a situação, Kent resolveu criticar a imprensa do país. No mês passado, ele enviou uma carta para faculdades de jornalismo desafiando-as a examinar formalmente a alegação de que os jornalistas canadenses são tendenciosos contra o Partido Conservador e a monitorarem a cobertura da próxima eleição. O feitiço virou contra o feiticeiro, e Kent passou a ser seriamente criticado.
Depois que um colunista do jornal Globe and Mail escreveu sobre seu desafio às escolas de jornalismo, o ex-reitor da escola da Universidade de Western Ontario Peter Desbarats respondeu com uma carta. ‘Até onde eu me lembre, os jornalistas que concorreram a algum cargo político no passado sempre renunciaram a seu cargo em empresas jornalísticas. Se estivermos falando de objetividade jornalística, talvez Peter Kent deveria começar com seu próprio caso antes de fazer reclamações impulsivas’, afirmou.
Sobre Kent manter o cargo na rede, Christopher Dornan, diretor da escola da Universidade de Carleton, em Ottawa, e Paul Knox, da Universidade de Ryerson, em Toronto, disseram não estar preocupados, desde que ele fique afastado das decisões editoriais da emissora.
Ois dois, no entanto, deram menos apoio ao desafio de um estudo de tendências da mídia na cobertura eleitoral. Ambos afirmaram que estudos menores da mídia canadense sugeriram que os resultados eram insignificantes para que houvesse preocupações com a hipótese de uma cobertura tendenciosa. ‘O problema com o argumento de que a maioria dos jornalistas é liberal é que a maioria dos canadenses é liberal’, afirmou Knox. Informações de Ian Austen [The New York Times, 17/10/05].