‘Tudo indica que o Jornal da Cultura, o principal noticiário da emissora, está finalmente no rumo certo. Fico à vontade, e feliz, com os progressos que observo, após mais de um ano de críticas à ausência de uma identidade própria e à letargia que parecia dominar o ânimo da equipe.
Tomemos como exemplo o JC de quinta-feira, 20 de outubro.
Foi o único telejornal de horário nobre a mostrar a saída dos Maluf (no ar às 21h31) da carceragem da Polícia Federal. O JC já havia abordado o assunto antes, mas teve agilidade e senso de oportunidade ao encaixar suas imagens exclusivas em ritmo de plantão. Um furo. Gol!
Recuperou bem o assunto febre aftosa com extensa e elucidativa matéria, que ocupou mais de sete minutos, em várias frentes, editando bem as entrevistas, reportagens, explicações sobre a crise, queda do preço da carne no açougue e mapa de localização dos focos da doença. O visual infográfico precisa ainda ser melhorado, mas já se nota um esforço em produzi-lo como reforço da informação jornalística. Televisão, não nos esqueçamos, é imagem.
Além de abordar todos os temas importantes do dia, como é de sua obrigação, o JC deu com destaque duas matérias exclusivas, ambas relevantes e bem cuidadas. A primeira, com imagens da TVE espanhola, sobre a outorga do prêmio Príncipe de Astúrias à escritora brasileira Nélida Piñon. A segunda, da repórter Márcia Dutra, sobre o programa desenvolvido pela USP, o Volta para Casa, que criou um banco de DNA para localizar crianças desaparecidas. De quebra, essa matéria revelou um dado inédito: a maioria das crianças que desaparecem simplesmente fogem de casa por causa de maus tratos e abuso sexual.
Esse JC de 20 de outubro deve servir como um guia para o modelo que a Cultura pretende implantar. Nesse mesmo dia, o Jornal Nacional da Globo, mais SBT, Record e Band, passaram ligeiramente por todos os assuntos, coisa que o JC também fez, mas a este coube o diferencial de explicar bem o que se passa, exibir duas matérias exclusivas relevantes e, de quebra, praticar algo que anda meio fora de moda no jornalismo brasileiro: o furo de reportagem.
Um único senão, pouco importante: o repórter José Donizetti na matéria sobre a iminente libertação dos Maluf, disse tratar-se de decisão do Supremo Tribunal Federal tomada ‘nesta quinta-feira’, quando deveria dizer ‘agora há pouco’, ou ‘no início da noite’. Parece contágio verbal da linguagem das chamadas da programação, que ainda não descobriu as palavras amanhã, hoje e daqui a pouco.’