Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mostra do World Press Photo chega ao Brasil

Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 15 de maio de 2008


WORLD PRESS PHOTO
Eder Chiodetto


Seleção mostra tolerância à manipulação de imagens


‘De um lado, a guerra, a disputa de poder e a intolerância que levam os homens a se aniquilarem mutuamente. Do outro, a possibilidade de o mesmo homem se reinventar e criar espaços de convivência em meio à adversidade. Essa é a síntese da mostra fotográfica do World Press Photo, o mais importante concurso de fotojornalismo do mundo, a partir de hoje no Sesc Pompéia, em São Paulo.


A mostra anual traz à tona uma seleção das fotografias que circularam na mídia em 2007.


Para se ter uma idéia da dimensão, as 185 fotografias de 59 profissionais desta 51ª edição foram selecionadas dentre 80.536 imagens de 5.019 fotógrafos de 125 países (imagens desta e de outras edições em www.worldpressphoto.nl).


Entre os grandes temas que ganharam as páginas dos jornais no ano passado, têm destaque na mostra o assassinato de Benazhir Bhutto, candidata à presidência do Paquistão, as trincheiras do infindável combate entre EUA e militantes islâmicos no Afeganistão e os conflitos étnicos na África.


O fotógrafo britânico e presidente da agência VII, Gary Knight, presidente do júri, diz, porém, que a prioridade foram as grandes fotos, e não os grandes temas: ‘Sentimo-nos qualificados a avaliar a fotografia, não o mundo, nem a decidir se a doença é um tema mais importante que a migração, a pobreza ou a falta de moradia’.


Knight faz ainda, no texto de abertura da mostra, uma crítica à postura de alguns fotógrafos: ‘Fico imaginando porque […] perdem tempo e energia em nos dizer aquilo que já sabemos, em um estilo emprestado de outro fotógrafo. Fica-se com a impressão de que muitas fotografias foram propostas por assemelharem-se a outras premiadas anteriormente. O único objetivo parecia ser angariar prêmios, um exercício jornalístico sem sentido’.


Tratamento de imagem


A aceitação cada vez maior de fotografias visivelmente manipuladas (ao menos no contraste e nas cores) por programas de tratamento de imagem mostra que essa questão, nevrálgica para o estatuto do fotojornalismo que se pretende documento da realidade, passa a ser mais tolerada. Para Maaike Smulders, gerente de projetos do WPP, que acompanhou a montagem da mostra em SP, a discussão, ainda difícil, ‘toca diretamente na questão ética da representação. A cada ano, o júri discute muito quais os limites aceitáveis. Não há consenso’.


Um exemplo da tolerância deste ano é a ótima série dos maratonistas após cruzarem a linha de chegada, do dinamarquês Erik Refner, e as fotos do parque El Castillo, do italiano Massimo Siragusa. Nos dois casos, o tratamento faz com que as imagens pareçam mais ilustrações do que fotografias -técnica claramente emprestada da fotografia publicitária.


O uso de metáforas foi outra vertente que agradou ao júri. É o caso da foto que ganhou o grande prêmio, que mostra um soldado americano visivelmente exausto numa trincheira no Afeganistão, de autoria do britânico Tim Hetherington (www.timhetherington.com). Segundo Knight, ‘a imagem vencedora representa a exaustão de um homem e de uma nação’.


WORLD PRESS PHOTO 2008


Quando: hoje, às 20h (convidados); de ter. a sáb., das 10h às 20h; dom. e feriados, das 10h às 19h; de 16/5 a 15/6


Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700; classificação: livre)


Quanto: entrada franca’


 


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Vencedora é metáfora dos EUA pós-11/9


‘A imagem: um soldado solitário visivelmente fatigado, meio sentado, meio deitado sobre a terra, com uma das mãos na testa e a outra no capacete. Olho e boca em expressão de um desespero incontido, emoldurados por uma atmosfera quase monocromática, reforçada pela luz rarefeita que aumenta a dramaticidade que envolve o bunker no vale Korengal, no Afeganistão, próximo à divisa com o Paquistão.


É um dos mais perigosos e mortais do mundo, onde soldados americanos, ainda à procura de Osama Bin Laden, tentam conter o ímpeto das forças talebans. A fotografia, realizada pelo fotógrafo britânico Tim Hetherington para a revista ‘Vanity Fair’, foi a grande vencedora desta edição do WPP. Curiosamente, quando a reportagem foi publicada, em 12 páginas da revista, a imagem não foi usada.


A metáfora da exaustão do soldado ilustra de forma perspicaz a posição atual de falta de rumos do governo norte-americano na condução política dos conflitos após o 11 de Setembro. Mais de seis anos depois, os Estados Unidos, assim como o soldado na trincheira, não sabem mais por que estão ali, tampouco o que fazer para sair dessa situação.


Hetherington é um fotógrafo documentarista especializado em zonas de conflito. Em entrevista à ‘Times’, após o anúncio do prêmio, afirmou seguir a máxima do mítico fotógrafo de guerras Robert Capa (1913-54), que dizia: ‘Se suas fotos não são boas o suficiente, é porque você não estava perto o suficiente’. Tal epíteto o tornou um dos maiores repórteres-fotográficos da história, mas também o levou à morte no Vietnã, ao pisar numa mina durante reportagem.


‘Tento estar o mais próximo possível do conflito, consciente de que o mais importante são a reportagem e a minha segurança’, diz Hetherington.’


 


REGULAMENTAÇÃO
Michel Temer


Liberdade de imprensa não precisa de lei


‘GERALDO ATALIBA dizia para seus alunos que, no Brasil, há grande desprezo pelos preceitos da Constituição Federal. Contava: se a norma está na Constituição, não se lhe dá atenção; se na lei ordinária, começa-se a olhá-la; se na portaria (que, na origem, é ordem do porteiro), já se lhe presta grande reverência; entretanto, se for telefonema de ministro, ninguém desobedecerá. O tempo da história era o do regime autoritário. Ocorre que, hoje, muitas e muitas vezes é assim. Quase ninguém pergunta, quando se quer praticar um ato, ‘o que é que diz o livrinho’, como perguntava o ex-presidente Dutra. O ‘livrinho’ era a Constituição de 1946.


Por isso, é louvável a iniciativa do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que foi buscar na Constituição todas as regras referentes à liberdade de imprensa para sustentar a desnecessidade de sua regulamentação. Examinou as Constituições brasileiras desde 1891, mostrando que, em todas, as liberdades de imprensa, de expressão e de comunicação eram normas de eficácia redutível, já que poderiam ver diminuído o seu alcance por meio de lei reguladora.


Já na Constituição em vigor, não. O seu artigo 220 determina que a manifestação de pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão nenhuma restrição, observado o disposto na Constituição. Aliás, ao referir-se à lei, no parágrafo 1º do artigo 220, impõe-lhe limites, dizendo que não poderá conter dispositivo embaraçador da plena liberdade de informação jornalística. Acrescenta no parágrafo 2º a vedação a qualquer espécie de censura.


Portanto, a lei não poderá restringir o que está na Constituição. A liberdade de imprensa é plena e irrestringível por lei infraconstitucional. Acrescenta Miro Teixeira que, em se tratando de autoridade pública, não há que falar em calúnia. Seriam incaluniáveis pela imprensa aqueles que exercem função pública. Em conseqüência, não seriam indenizáveis por dano material, moral ou à imagem. Talvez nem tivessem o direito a resposta. Somente aos particulares se aplicaria tal direito.


Aqui, sirvo-me do mesmo argumento segundo o qual tudo está na Constituição para registrar que o artigo 220, parágrafo 1º, se reporta ao artigo 5º, incisos IV, V, X, XIII e XIV, definidor dos direitos individuais e coletivos. É neles que se asseguram o direito de resposta e a indenização por dano material, moral ou à imagem.


Reitero que a menção a tais direitos é feita no mesmo preceito garantidor da liberdade de imprensa. Ao tratar desses direitos, a Constituição não faz nenhuma distinção entre os ocupantes de funções de Estado e os particulares. Ao contrário, a generalidade é a marca da descrição dos direitos individuais e coletivos (CF, artigo 5º).


É claro que será preciso analisar caso a caso para verificar se houve má-fé do noticiante ou irresponsável divulgação do fato. A revelação de um fato tipifica a atividade noticiosa da imprensa. Uma coisa é revelá-lo tal como veio à luz; outra é dar-lhe o matiz da certeza e do prejulgamento antecipado. Não é incomum que o fato noticiado se converta em objeto de comentários de colunistas, muitas vezes tomando posições em relação a ele.


Poderá haver maior agravo moral do que a imagem maculada de um homem público que, no decorrer do noticiário, se revela inocente? Não é sem razão que a imprensa já tem cuidado de, em seus quadros, incluir analistas jurídicos que pré-examinam as conseqüências de uma notícia.


O nosso sistema republicano é baseado no princípio da responsabilidade. Ou seja: todos, sem exceção, respondem pelos seus atos. Finalmente, entendo que se deva combater o argumento de que a lei é necessária para fixar limites indenizatórios, como registrou o notável jurista Saulo Ramos (‘Nova lei de imprensa, com urgência’,


‘Tendências/Debates’, 9/5). Não vislumbro tal necessidade. A dosimetria da pena para o direito de resposta e a quantia indenizatória serão fixadas pelo juiz que avaliará o tamanho (se houver) do dano moral ou à imagem. A sentença será recorrível em várias instâncias até que se produza a decisão final. Por isso é que há vários graus de jurisdição. Se o juiz de primeiro grau exagerar nos valores, os tribunais superiores dosarão adequadamente a pena pecuniária.


Em conclusão: a Constituição já fixa todos os critérios para assegurar a liberdade de imprensa, a impossibilidade de censura prévia e, como resultante, as conseqüências de um agravo à imagem do noticiado. Não há razão para uma lei menor se a lei maior já estabeleceu as regras. Basta aplicá-la.


MICHEL TEMER, 67, advogado e professor de direito constitucional da PUC-SP, é deputado federal (PMDB-SP) e presidente nacional do seu partido. Foi presidente da Câmara dos Deputados e secretário da Segurança Pública (governos Montoro e Fleury) e de Governo (gestão Fleury) do Estado de São Paulo.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘It is over’


‘Richard Lapper, o editor de América Latina do ‘Financial Times’, destaca um novo relatório do Council on Foreign Relations intitulado ‘Relações EUA-América Latina: Uma Nova Diretriz para uma Nova Realidade’. Está on-line, em PDF. Aconselha o futuro presidente a ‘repensar’ as relações, pois a diretriz atual, que vem da Guerra Fria e prioriza livre comércio e combate às drogas, está ‘obsoleta’.


Com o êxito econômico e a crescente ligação com Europa e Ásia, a região já não tem nos EUA seu ‘ator mais importante’. A estratégia americana tem que ser se relacionar ‘nos termos da própria América Latina’. Em suma, ‘se houve uma era de hegemonia dos EUA na América Latina, ela acabou’ (it is over).


LIDERANÇA COLETIVA


Começa hoje o encontro de chanceleres dos Brics na Rússia. Na agência Ria Novosti e no indiano ‘Hindu’, a diplomaria russa afirma que os quatro Brics, do acrônimo criado pelo banco Goldman Sachs, ‘podem dar uma nova liderança’ para o mundo, podem ‘promover mecanismos de liderança coletiva’. A reunião, com cobertura ainda concentrada nos próprios Brics, foi saudada por artigo de Mikhail Gorbatchev no russo ‘Rossiskaya Gazeta’.


SINAL DE ALERTA


O ‘FT’ do correspondente Jonathan Wheatley ressaltou o ‘isolamento’ de Marina Silva e sua ‘oposição às tentativas de conciliar os interesses de fazendeiros com a conservação’. Já o ‘Guardian’ de Tom Philips, entre outros, sublinhou os ‘temores’ criados com sua demissão. E a Reuters, no topo da busca de Brasil no Google, deu que ‘Lula põe a economia à frente da Amazônia’.


Mas a reação externa mais imediata foi da chanceler Angela Merkel, dando o episódio como ‘sinal de alerta’, para os correspondentes estrangeiros em Brasília.


ETANOL VS. FLORESTA


Mas a mensagem que Merkel queria deixar sobre a Amazônia, como mostrou em entrevistas à Deutsche Welle e à Globo, era que os biocombustíveis são, sim, uma alternativa ao petróleo, ‘mas somente se tiverem produção sustentável’, sem avançar sobre a floresta tropical.


O SUBSÍDIO CONTINUA


As agências deram com atenção a nova conversa entre Celso Amorim e a americana Susan Schwab sobre a Rodada Doha. Mas o ‘Wall Street Journal’ publicou longa reportagem avisando que a nova legislação agrícola nos EUA, que sai esta semana, ‘pode brecar a negociação’.


AUTOFLAGELAÇÃO


Mais do que Marina Silva, o que ecoava ontem pelo mundo, de Brasil, era o novo filme de Fernando Meirelles, ‘Blindness’, que abriu o festival de Cannes. Foi notícia da BBC ao Hollywood Reporter e amontoou críticas demolidoras de James Christopher no ‘Times’ de Londres, com passagens como ‘autoflagelador’ e ‘idéia insana’, e de Justin Chang no ‘Variety’, questionando o ‘excesso de tiques estilíticos’. Mas Peter Bradshaw, no ‘Guardian’, gostou da ‘visão de horror’. Os franceses ‘Le Monde’, ‘Le Figaro’, ‘Libération’, todos com manchetes para o festival e Sean Penn, ainda não opinaram.


CASO MADELEINE


Explorada por aqui em meio ao caso Isabella, há dias, a especulação sobre a presença de Madeleine McCann no Brasil foi parar ontem nos tablóides ingleses ‘Sun’ e ‘Daily Mirror’ e até no ‘Telegraph’’


 


TERREMOTO
Raul Juste Lores


Polícia chinesa detém repórter em Sichuan


‘Dois policiais e quatro soldados me abordam enquanto entrevisto desabrigados que padecem numa longa fila atrás de água e comida. Mais de 50 pessoas me cercam, contando dramas e reclamando da desatenção oficial. Os policiais dizem para eu sair imediatamente.


‘Para fazer entrevistas aqui, você precisa de permissão do Departamento de Informação e Propaganda do governo da Província de Sichuan’, diz o policial, que não se identificou.


Os seis pedem que eu os acompanhe a uma delegacia, no vilarejo de Luo Shui, um dos mais danificados pelo terremoto de segunda-feira. Duas fábricas vizinhas desabaram e houve um vazamento de amônia.


Sabendo que a liberdade de imprensa é um valor desconhecido em boa parte da China, acho melhor não discutir. Mas mostro minha credencial, registro do governo chinês, e digo que não há nenhuma proibição para o trabalho de jornalistas estrangeiros.


O policial diz que, pelas leis provinciais, eu preciso de um registro local e que talvez no dia seguinte possa entrevistar ‘as autoridades locais’.


Não quero saber de autoridades e digo que não dá para adiar meu trabalho. Levei quatro horas para chegar a Luo Shui, pelas estradas já precárias, independentemente do terremoto.


Os homens se mostram irredutíveis, mas eu argumento que a lei provincial não pode estar por cima da lei nacional.


Até dois anos atrás, jornalistas estrangeiros precisavam pedir permissão ao governo para fazer qualquer viagem pelo país. Como parte do compromisso para a preparação da Olimpíada de Pequim, o governo aprovou uma lei de imprensa que permite ao correspondente viajar pelo país sem autorização (com exceção da Província separatista do Tibete).


Ligo para uma diplomata no Ministério de Relações Exteriores e digo que estavam me proibindo de fazer entrevistas. Peço para ela conversar com o policial. Quando o celular volta às minhas mãos, ela afirma que a única preocupação deles é ‘com a minha segurança’.


O que a minha segurança tem a ver com um registro no governo, uma dessas burocracias que os chineses amam, não ficou lá muito claro. Será que era para que eu pudesse ser seguido?


Estava no meio da rua, entrevistando pessoas que passaram as duas últimas noites dormindo sob barracas feitas de sacos plásticos. Disse que não era inseguro para mim.


Réplica


Após 20 minutos de sermão, em que o policial me diz que não posso voltar a fazer entrevistas, somos interrompidos por um pequeno tremor, das dezenas que acontecem após um terremoto, as chamadas réplicas. A delegacia balança. Soldados, policiais e eu saímos correndo. Aproveito para voltar à rua, mas os policiais continuam a me vigiar.


Como já tinha ficado mais de duas horas em Liu Shui fazendo entrevistas, disse à minha tradutora que era hora de sair, já que não queria saber de ficar detido ali. Mais de sete quilômetros depois, surpresa: o carro da reportagem é abordado por uma viatura policial. ‘Você está mesmo indo embora de Shifang?’ Ao dizer que sim, deixei de ser seguido.


Diferentemente do que fez em outras tragédias recentes no país, o governo chinês tem adotado agora uma posição mais aberta, divulgando número de vítimas e desaparecidos a cada hora. Pela TV estatal, os chineses finalmente têm recebido um fluxo de informação inédito, ainda que os inúmeros problemas na atenção às vítimas sejam negados.


Mas o comportamento de Pequim demora bastante para ser seguido em regiões distantes, como Sichuan. Jornalistas têm sido detidos em províncias como Xinjiang, Gansu e Qinghai ao tentar cobrir protestos contra o governo.


Médicos e soldados impedem o acesso de jornalistas a locais da tragédia de segunda e se negam a passar dados básicos, como o número de feridos em tratamento ou de mortos achados sob os escombros.’


 


TECNOLOGIA
Folha de S. Paulo


Prejuízo com software pirata cresce 40%


‘Apesar de o índice de uso de software pirata ter caído no Brasil no ano passado, os prejuízos para a indústria pela utilização desses programas aumentaram em 40%, segundo estudo da BSA (Business Software Alliance).


De acordo com a pesquisa, 59% dos softwares instalados em computadores no Brasil no ano passado eram piratas -um ponto percentual menos que em 2006. As perdas para a indústria, no entanto, aumentaram em quase meio bilhão de dólares, para US$ 1,62 bilhão.


O principal motivo para o crescimento do prejuízo é a rápida expansão do mercado de PCs no país, em um ritmo muito superior ao da queda da pirataria. Segundo a consultoria IDC, o Brasil avançou duas posições no ano passado e se tornou o quinto maior mercado de PCs, com a venda de 10,7 milhões de computadores -38% a mais do que em 2006.


Outro fator foi a perda de valor da moeda americana ante o real. Mas, mesmo calculando o prejuízo de 2006 com a cotação do dólar de 2007, o prejuízo do setor no país superaria os US$ 300 milhões.


Para a BSA, a queda no índice de uso de programas piratas foi resultado da redução em segmentos como governo e grandes empresas, além das campanhas antipirataria.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Redes querem cobrar para entrarem no cabo


‘Polêmica das grades à vista. A Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão) decidiu fazer campanha para que as redes de TV aberta possam cobrar para cederem seus sinais às operadoras de TV paga, principalmente via cabo.


A proposta será encaminhada nesta semana a parlamentares envolvidos com o PL-29, que prevê cotas de conteúdo nacional na TV paga.


Assim como todo o PL-29, a idéia das redes abertas enfrenta oposição das operadoras de TV paga. Elas argumentam que não faz sentido a cobrança de um serviço gratuito e que o assinante é quem pagará a conta.


As redes abertas dizem que merecem ser remuneradas porque pagam caro por suas programações e porque representam mais de 70% da audiência da TV paga. As TVs não querem obrigar o pagamento por seus sinais, mas, sim, prever a possibilidade de cobrar por eles. Isso criaria uma moeda. A Record, por exemplo, poderia exigir a distribuição da Record News para ceder seu sinal.


A idéia foi apresentada pela Globo. Mas a emissora, sócia de operadoras, recuou. Record, SBT e RBS, no entanto, decidiram levar o pleito adiante.


Alexandre Annenberg, da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura), admite discutir pagar para distribuir canais abertos em alta definição, mas não os analógicos. ‘A Lei do Cabo já nos obriga a distribuir os analógicos’, diz.


SEM TRAVESTI A Globo está à procura de uma voz feminina para dublar o boneco Maria Loura, prima do Louro José. Lançada às pressas, ela faria o papel de fofoqueira no ‘Mais Você’, mas sumiu. É que a emissora vetou a voz da personagem, feita por Tom Veiga, o mesmo do Louro José. Ficou parecendo travesti.


COM TRAVESTI Jô Soares quebrou ontem de madrugada a estratégia da Globo de proteção ao atacante Ronaldo. ‘Ele [Ronaldo] podia se apaixonar por umas travestis mais bonitinhas, não podia?’, soltou durante uma entrevista.


AGORA VAI A engenharia do SBT finalmente se acertou com as câmeras de alta definição e começou, ontem, a gravar em seus estúdios a novela ‘Revelação’.


SEM BEIJO Em conversa com o autor Aguinaldo Silva, o diretor-geral da Globo, Octavio Florisbal, informou que sua avaliação é a de que a cena em que dois homens se beijam, no final de ‘Duas Caras’, não deverá ser gravada.


ATAQUE A Globo lançou uma ofensiva para recontratar antigos técnicos e cinegrafistas que migraram nos últimos anos para a Record. Até agora, não conseguiu recuperar ninguém _só inflacionar alguns salários.


TV SOFÁ Diretor de programa da Record, muito interessado nos atributos sexuais de uma modelo internacional, está tentando emplacá-la como apresentadora. Mas tem encontrado forte resistência. O desempenho da moça, na TV, é sofrível.’


 


INTERNET
Folha de S. Paulo


MySpace vence ação de US$ 234 mi contra spam


‘O popular site comunitário MySpace venceu uma ação contra as empresas Sanford Wallace e Walter Rines, duas das mais proeminentes criadoras de spams (e-mails não-solicitados, em geral de propaganda), que enviaram mais de 735 mil mensagens a seus usuários. A indenização, de US$ 234 milhões (R$ 388 milhões), foi a maior já aplicada contra remetentes de spam.’


 


Luiz Fernando Vianna


Gilberto Gil lança álbum pela internet


‘Doze anos depois de ser o primeiro artista brasileiro de ponta a lançar uma canção pela internet (exatamente ‘Pela Internet’), Gilberto Gil lançou ontem um disco inteiro pela rede: ‘Banda Larga Cordel’, que chegará às lojas em junho.


Porém, os melhores momentos das mais de duas horas de entrevista coletiva virtual remeteram a 40 anos atrás. Parece uma contradição, mas não é, ao menos para Gil. Ele vê no mundo digital de hoje a concretização das idéias tropicalistas.


‘São tempos irremediavelmente tropicalistas, porque o tropicalismo era a capacidade de operar com fragmentos, o que hoje é a linguagem corrente’, disse ele, que respondeu num estúdio a perguntas enviadas por meio de um chat por jornalistas de vários países.


Gil concordou com uma repórter que opôs à sua visão otimista do mundo digital a pessimista de parte da ‘geração 68’.


‘A esquerda sacrificada, que era comprometida com uma idéia de revolução, tem uma tendência justificada, por causa de traumas, a ter uma leitura pessimista desse maravilhoso mundo novo. Eu nunca acreditei muito na possibilidade de um comunismo idealizado. Fui fazer o tropicalismo, execrado por essa visão racionalista.’


Por enquanto, ‘Banda Larga Cordel’ só estará disponível na internet para streaming (a pessoa pode ouvir as músicas, mas não baixá-las para seu computador). Em 17 de junho, quando os CDs (um com 14 faixas e outro com 16) serão lançados em 24 países, as canções estarão à venda em lojas virtuais.


‘É a primeira vez que não me preocupo com a ordem [das faixas] de um disco’, disse ele, prevendo para breve lançamentos musicais apenas por meio da internet.


‘Será tudo pelo terminal de TV. Nos Estados Unidos, o disco físico já é quase peça de museu. Aqui, ainda temos necessidade de uma segunda ou terceira abolição, para que todos tenham acesso às máquinas do mundo contemporâneo.’


Gil não respondeu a perguntas específicas sobre o Ministério da Cultura -do qual vai se licenciar em junho e julho para uma turnê. Mas deixou claro que sairá em breve.


‘Passei quatro anos sem deixar espaço para inspiração. Agora, estou retomando o processo criativo. Sei que não vou ser ministro a vida inteira. Daqui a pouco acaba. Esse disco é para dizer: ‘Estou de volta, me reconciliei com a musa’.’


A maior parte das músicas é inédita em disco, como ‘Despedida de Solteira’, ‘Não Tenho Medo da Morte’, ‘O Oco do Mundo’, ‘Máquina de Ritmo’ e ‘Canô’ -feita para a mãe de Caetano Veloso. Outras já tiveram outros registros, como ‘Os Pais’ e ‘Outros Viram’ (parcerias com Jorge Mautner), ‘A Faca e o Queijo’ (para Flora, sua mulher), ‘Samba em Los Angeles’ (do disco ‘Nightingale’, de 68) e ‘Formosa’ (Baden Powell/ Vinicius de Moraes).’


 


CINEMA
Silvana Arantes


Festival de Cannes aplaude Meirelles


‘Poucas horas antes da sessão de gala de seu ‘Ensaio sobre a Cegueira’, que inaugurou ontem o 61º Festival de Cannes, em competição pela Palma de Ouro, o cineasta brasileiro Fernando Meirelles dizia: ‘Ainda acho que esse não é um bom filme para abrir o festival’, dada sua história pesadamente dramática.


O tempo provou que Meirelles não tinha razão. Quando terminou a projeção de ‘Ensaio…’ no Palácio dos Festivais, às 22h11 (17h11, no horário de Brasília), a platéia toda se pôs de pé e, nos cinco minutos seguintes, aplaudiu, voltada para Meirelles e sua equipe.


Foi a segunda vez na noite que o diretor recebeu aplausos de pé dos convidados internacionais do festival, como as atrizes Cate Blanchett, Faye Dunaway e Eva Longoria, que dividiam a platéia com boa parte do quem é quem do cinema francês.


A primeira ovação ocorreu quando o diretor chegou para a cerimônia de abertura, e sua presença foi anunciada pelo cerimonial, com a frase: ‘Senhoras e senhores, Fernando Meirelles’. Entre uma e outra salva de palmas ao brasileiro, viu-se uma celebração ao cinema, em tom favorável aos autores que mantêm suas carreiras distantes do epicentro mercadológico da indústria (Hollywood), e seus filmes livres de ditames estéticos.


‘Cartas de amor’


‘O Festival de Cannes sempre seleciona grandes filmes. Vamos mandar cartas de amor a alguns deles, com o aviso aos distribuidores de que não são confidenciais’, disse o ator e diretor norte-americano Sean Penn, que preside o júri desta edição. Em entrevista pela manhã, Penn ressaltara a pretensão de fazer com que os prêmios a serem concedidos por seu júri, no próximo dia 25, ajudem os filmes a ‘encontrar o seu público’.


O ator francês Édouard Baer, mestre de cerimônias, citou a aparência de superficialidade que certos comportamentos em Cannes evocam -’os arrogantes, os que têm dentes sem sorrisos e sorrisos sem dentes’-, antes de enumerar filmes -como o vencedor de 2007, ‘4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias’, do romeno Cristian Mungiu- e encerrar com um ‘obrigado ao Festival de Cannes por haver seqüestrado as maiores brutalidades do mundo, em benefício da mais singular beleza’.


Quem declarou oficialmente aberto o festival foi o cineasta francês Claude Lanzmann, 82, que disse ter descoberto recentemente pontos de contato entre suas idéias de cinema e as do diretor americano Quentin Tarantino, cuja obra é antípoda da sua. ‘Assim como a humanidade é uma só, o cinema é um só.’


Pela manhã, após a primeira projeção para a imprensa de ‘Ensaio sobre a Cegueira’, que terminou sem reações de aplauso ou vaias, Meirelles e elenco falaram aos jornalistas.


Imaginação


O diretor citou o escritor português José Saramago, autor do livro no qual o filme se baseia. ‘Saramago disse que o cinema destrói a imaginação e [por isso] não queria vender os direitos do livro [para a adaptação].’


Na versão de Meirelles para a trama sobre epidemia de cegueira que atinge toda uma população, exceto uma mulher (vivida pela norte-americana Julianne Moore), há momentos de breu e outros de branco total na tela, deixando a imaginação do espectador livre para preencher as cenas.


O público conta, porém, durante todo o filme com o auxílio de um som límpido e audível até os detalhes, um recurso do diretor para mostrar como se aguçam os demais sentidos dos personagens recém-cegos.


O roteirista e ator (no papel do ladrão) canadense Don McKellar disse que era também preocupação de Saramago que o filme mantivesse ‘o caráter alegórico’ do livro, ‘um verdadeiro sumário do milênio’, na opinião de McKellar.


A Meirelles interessava abordar ‘a fragilidade da nossa civilização’. Para o diretor, o livro de Saramago mostra que ‘nós nos consideramos tão sólidos, mas, quando uma coisa desaparece [a visão], tudo colapsa’.


O ator norte-americano Danny Glover, intérprete do velho com a venda, foi o mais enfático ao associar a ficção à realidade, tomando como exemplo o furacão Katrina, ocorrido em 2005 nos Estados Unidos.


‘O negócio com o Katrina não é o que o governo fez ou deixou de fazer. É que aquelas pessoas [atingidas pela devastação] eram invisíveis para nós, assim como são no Iraque ou em Darfur. Nós vivemos num mundo em que não vemos pessoas’, afirmou Glover.’


 


Amir Labaki


Filme não capta angústia de Saramago


‘‘Ensaio sobre a Cegueira’, o filme, não consegue estabelecer o tom angustiante do extraordinário romance distópico de José Saramago, embora o roteiro mantenha fidelidade ao original. A regra se reafirma: grande literatura raramente é traduzida em grande cinema.


Há reverência demais. Quase coincidem as escaletas de seqüências do filme e do romance. Transformado o texto em ação, procura-se recuperar o essencial em alguns diálogos e na equivocada narração em off do ator Danny Glover. Entre a descrição reiterativa e a reflexão algo forçada, o comentário consome o filme.


Ao contrário de Saramago com o leitor, Meirelles não consegue transpor com o espectador o distanciamento frente à estranheza da trama: a inexplicável epidemia de uma cegueira que atira ao desespero uma cidade.


O toque mais pessoal da adaptação foi sediar a trama numa megalópole imaginária (rodada parcialmente em São Paulo) e tornar multiétnicos seus personagens, amplificando a essência universal da alegoria de Saramago. O diretor parece ter temperado seu ‘Ensaio…’ com elementos do projeto abortado ‘Intolerância 2’, sobre a globalização vista a partir de cinco pontos do planeta. Essa Babel sob ataque é outra boa idéia que dramaticamente não rende o esperado.


Avaliação: regular’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 15 de maio de 2008


QUESTÃO AMBIENTAL
Andrea Vialli e Marili Ribeiro


Sustentabilidade avança na mídia


‘A cobertura da mídia sobre sustentabilidade está aumentando, mas ainda é precária justamente em países que deveriam dar mais espaço ao tema, como os Estados Unidos. A avaliação é de Meg McDonald, presidente da Alcoa Foundation, braço social da mineradora Alcoa. Meg fez a abertura do 11º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, que começou ontem em São Paulo com a presença de 500 participantes.


De acordo com a executiva, as mudanças climáticas deram grande impulso à cobertura de temas ligados à sustentabilidade na mídia impressa. Essa tendência começou há menos de dois anos. ‘O tema merece muito mais cobertura, mas podemos ver que os jornais, incluindo os brasileiros, estão dando mais espaço’, afirmou.


Antes de atuar na fundação empresarial, Meg foi diplomata de carreira no Ministério das Relações Exteriores e Comércio da Austrália e também embaixadora para o Meio Ambiente. Participou das negociações que levaram ao Protocolo de Kyoto, acordo para redução das emissões de gases de efeito estufa, e que considerou ‘um primeiro passo’. ‘Era necessário fixar metas de redução do CO2, mas o acordo só tem duração até 2012. Depois disso, as negociações políticas sobre clima terão de ser intensificadas.’


Meg lamentou ainda a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente, ocorrida anteontem. Ela acredita que o governo brasileiro manterá as posições que a ex-ministra defendia. ‘A reputação que ela construiu vai servir de base para as políticas que o novo ministro vier a adotar. A política é assim, ministros vêm e vão.’


ERA DIGITAL


Em um painel sobre comunicação na era digital, o presidente da agência Lew Lara/TBWA Propaganda, Luiz Lara, disse que, nos tempos atuais, em que a produção e o consumo de informação são imediatos, a marca é o ativo mais importante. ‘O discurso publicitário não basta mais. Se ele for vazio de sentido, o consumidor vai dizer: isso não é verdade, é só propaganda’, enfatizou. Segundo ele, hoje 42% do valor da fabricante de cosméticos Natura na Bolsa de Valores é atribuído à marca.


Para Lara, um exemplo de profissional que entendeu os novos tempos, em que o consumidor passa a ter papel mais relevante, é Steve Jobs, fundador da Apple. ‘Jobs criou a empresa não para fabricar computadores, mas para criar ferramentas para libertar mentes criativas.’


Ao final do evento, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) recebeu homenagem pelo seu centenário.’


 


TERREMOTO
Andrew Jacobs, The New York Times


TV chinesa tem liberdade inédita para cobrir tremor


‘A divulgação ininterrupta dos esforços de resgate pela televisão chinesa é notável para um país que tem histórico de ocultar a dimensão das catástrofes naturais e responder mal aos desastres.


Desde que o terremoto de segunda-feira arrasou a Província de Sichuan, o governo de Pequim montou um agressivo esforço de emergência, enviando dezenas de milhares de soldados e mandando imediatamente o primeiro-ministro Wen Jiabao para a região do desastre, acompanhado de repórteres.


Com a lenta e xenofóbica resposta do governo de Mianmar ao ciclone que atingiu o país ainda fresca na memória, os líderes do Partido Comunista têm plena consciência de que sua reação ao terremoto será observada de perto no país e no exterior. E após dois meses humilhantes de críticas do Ocidente pelo modo como lidou com os distúrbios no Tibete, o governo não pode se dar ao luxo de receber mais condenações enquanto se prepara para ser o anfitrião da Olimpíada, em agosto.


Sua decisão de reduzir o elaborado percurso na China da tocha olímpica – após uma enxurrada de protestos pela internet chamando-o de insensível – é um sinal de que as autoridades não estão ignorando o sentimento público. ‘O governo aprendeu algumas lições a partir das reações negativas’, disse Shi Anbin, professor de estudos de mídia da Universidade Tsinghua, de Pequim. ‘Acho que isto reflete um anseio entre os chineses por reformas e abertura.’


Até agora, essa abordagem parece estar compensando. Comentários em sites e salas de bate-papo na China têm elogiado a resposta do governo à emergência. No Tianya, um fórum popular onde às vezes podem ser encontrados comentários contra o governo, os usuários rapidamente reagem com estardalhaço aos que criticam o primeiro-ministro e a demora do Exército em chegar a algumas das vítimas do terremoto.


Os sites chineses continuam sob forte censura e o breve flerte com a abertura não quer dizer que a China esteja rumando para a democracia nos moldes ocidentais. Ao contrário, se a China for capaz de lidar com um grande desastre natural melhor do que os Estados Unidos lidaram com o furacão Katrina, o feito pode sublinhar a asserção de Pequim de que sua modalidade não-ideológica de autoritarismo é capaz de proporcionar um bom governo tanto quanto um rápido crescimento.


LEGITIMIDADE


Dali Yang, o diretor do Instituto Asiático de Cingapura, disse que é possível que o governo tenha percebido que a abertura e a responsabilidade poderiam aumentar sua legitimidade e combater o crescente descontentamento com os casos de corrupção, a inflação crescente e a disparidade entre as populações urbana rica e rural pobre. ‘Acho que a resposta deles ao desastre mostra que eles podem agir e se importam’, disse. ‘Parecem cientes de que um desastre como este pode unir o país e trazer-lhes apoio.’


A resposta oficial contrasta com o péssimo desempenho do próprio governo chinês durante o terremoto de 1976, quando 240 mil pessoas morreram na cidade de Tangshan. Nos dias posteriores ao terremoto, a poderosa ‘camarilha dos quatro’ minimizou o desastre e rejeitou ofertas de ajuda internacionais, deixando o resgate nas mãos de soldados mal equipados. Hua Guofeng, o sucessor escolhido por Mao, que se encontrava em posição desfavorável, visitou Tangshan. Esse ato de boa vontade aumentou seu poder e, com a morte de Mao naquele ano, encorajou-o a prender a ‘camarilha dos quatro’, encerrando a Revolução Cultural que durava uma década.


A cobertura do terremoto em Sichuan parece mais livre do que em outras ocasiões. Repórteres chineses têm transmitido ao vivo da região do terremoto e, ao menos até agora, os correspondentes estrangeiros receberam acesso irrestrito. O professor Shi, da Universidade de Tsinghua, disse que ficou surpreso com a sinceridade do governo e o vigor da imprensa estatal chinesa. Ele atribuiu parte da abertura a uma recente lei exigindo que as autoridades ofereçam informações durante desastres naturais.’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Blindness, admiração fria em Cannes


‘No cartaz do 61º Festival de Cannes, que homenageia David Lynch, uma tarja cobre os olhos de uma mulher loira, de lábios e unhas pintados de vermelho, a cor da paixão. Ela não pode ou não quer ver? É uma imagem que remete a desejos interditos – perversos – como nos filmes do homenageado? Mais ou menos como perguntar quem, ou o que, nasceu primeiro – a galinha ou o ovo -, seria perguntar quem, ou o que, foi escolhido primeiro – o cartaz ou o filme de Fernando Meirelles para abrir o maior evento de cinema do mundo? Blindness, que no Brasil vai se chamar Ensaio Sobre a Cegueira, é bom, sobretudo muito bem-feito, vamos logo responder à pergunta que você deve estar-se fazendo, mas não é um filme fácil. O próprio livro de José Saramago que lhe deu origem é uma obra muito complexa – o escritor cria uma metáfora, mas sob essa aparência o filme tem uma base brutalmente realista, e deve ter sido este o fator decisivo para que o autor de Cidade de Deus fosse chamado pelo produtor canadense para dirigir a adaptação.


Um filme sobre a cegueira abrindo um festival cujo cartaz é esta mulher de olhos censurados (vendados?) parece até obviedade. Na coletiva, Meirelles lembrou que há dez anos tentou comprar os direitos, mas Saramago lhe disse não, porque o cinema é contrário ao espírito do livro. O cinema mata a imaginação – o cinema mostra, e a cegueira branca, metafórica, que atinge seus personagens (e a humanidade em geral), está na contramão desta tendência realista-naturalista. Foi o produtor canadense Niv Fichman quem convenceu o escritor, premiado com o Nobel, a vender os direitos. O resto é história. O filme voltou às mãos de Meirelles e ele assumiu a co-produção internacional. Juliane Moore disse na coletiva que via em Blindness o futuro do cinema no mundo globalizado. Em toda a equipe, existem somente três norte-americanos – os atores Mark Ruffalo e Danny Glover, e ela. Todos os demais, o que inclui elenco e técnicos, são uma fusão de pessoal do Brasil, do México, do Japão e do Canadá, todos atuando como uma família.


O resultado é intrigante, mas Blindness não é mesmo de fácil adesão. Algumas pessoas, no fim da sessão, achavam que o filme banaliza a complexidade do romance. Ou então é a velha diferença entre cinema e literatura. Um filme como Blindness dificilmente pode aspirar à unanimidade. Fernando Meirelles voa no sábado para Lisboa, especialmente para mostrar o filme para o autor do livro. Como reagirá Saramago? Como reagiu a platéia de Cannes? Com profundo respeito, senão entusiasmo, pela carpintaria que Meirelles, mais uma vez, revela.


A história não é muito diferente da de outros filmes fantásticos. Um vírus, ou sabe-se lá o que, infecta algumas pessoas, que vão perdendo a visão. Só que, em vez de ingressar num mundo de sombras, elas ingressam num mundo de excesso de luz – a tal cegueira branca. São confinadas e aí o filme chega ao ponto. Quando a ordem estabelecida entra em colapso, a barbárie se estabelece. Apenas uma mulher, a personagem de Julianne Moore, consegue enxergar. A metáfora de Saramago, expressa na primeira frase que o espectador ouve, refere-se justamente a essa tragédia do mundo moderno. As pessoas vêem sem ver. Um dos efeitos secundários desta cegueira branca é a sensação de invisibilidade. Danny Glover fez o discurso mais político da coletiva – ele diz que no mundo atual, as pessoas perderam a capacidade de ver o sofrimento do outro.


Para Meirelles, seu filme é sobre a barbárie. Para o roteirista Don McKellar, é sobre a luta das pessoas para não perder a dignidade. Existem elementos de O Senhor das Moscas, de William Golding; de O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel; de Os Filhos da Esperança, de Alfonso Cuarón (que integra o júri presidido por Sean Penn) A autoridade, o confinamento, o apocalipse now. Pode-se até ver no filme uma estilização cênica à Lars Von Trier. Blindness seria Blackville, Dogville sem Lars. Blindness impressiona e, em alguns momentos, quando a música impulsiona a comunhão do grupo, também emociona, mas eles são raros. Existem inverossimilhanças, mas elas podem ser creditadas ao não querer ver dos personagens (e das autoridades que hostilizam os cegos brancos). Como disse a atriz Jeanne Balibar, na coletiva do júri, certos filmes, mais do que outros, exigem uma segunda visão para que se possa emitir um juízo definitivo. Talvez seja o caso de Blindness, que desperta uma admiração fria. O excepcional tratamento fotográfico de César Charlone, o som e as interpretações, de qualquer maneira, saltam a uma primeira visão. Cannes não serviu nenhum refresco em sua abertura. Ponto para o festival, e para Meirelle s.


BURRICE E MAL


Na seqüência da coletiva de Blindness, houve a do júri. O presidente Sean Penn foi cobrado se está apoiando Barack Obama e disse que, embora não tenha dado seu apoio formal ao candidato, acredita que Obama esteja inaugurando uma nova era. Obama vem de encontro ao que os EUA querem ‘depois do horror da era George W. Bush’ – que Sean Penn comparou à ‘burrice, à insensibilidade e ao mal’ – e, neste sentido, Sean acredita que seja a eleição mais importante das últimas décadas, a mais importante de que já participou, como eleitor.’


 


TELEVISÃO
Julia Contier


Tata Amaral procura


‘Criadora da série Antônia, Tata Amaral tem três projetos para a TV, a começar por uma adaptação do livro infantil Bagdá: o Skatista, do escritor Toni Brandão, que pode render série e filme. ‘Fala da molecada do skate e retrata o rito de passagem entre a adolescência e o mundo adulto’, conta Tata. ‘Na mesma linha de Antônia, que falava das meninas do rap.’


Bagdá é um skatista entre 17 e 18 anos, com dois amigos. Juntos, ele saem de São Mateus, zona leste de São Paulo, e giram pela capital à procura de boas manobras. O próximo passo é buscar uma emissora interessada para firmar parceria.


O segundo projeto é a série De Menor. Ainda embrionária, gira em torno de uma jovem advogada, que começa a atender jovens na Fundação Casa, ex-Febem. ‘Quero mostrar a vida dos meninos presos.’


E a terceira proposta para a TV é A Rua Onde Eu Nasci, série de esquetes de 3 a 5 minutos sobre as ruas de São Paulo. ‘Estou fissurada por esse projeto, adoro esta cidade, por isso minha vontade de retratá-la de diversas maneiras’, diz. Em foco, famosos e anônimos darão curtos depoimentos sobre diferentes ruas de Sampa.’


 


LITERATURA
Ubiratan Brasil


‘Na América Latina, a realidade supera a ficção’


‘Depois de passar uma longa temporada contaminada pela vontade de sempre ensinar algo, além de passar lições de moral, a literatura infanto-juvenil peruana sofreu, finalmente, um sopro de renovação, apostando no incentivo da imaginação de seu público. E um dos principais responsáveis pela mudança é o economista, inventor e atual ministro da Saúde do Peru, Hernán Garrido-Lecca. Basta analisar dois livros recém-lançados pela editora Salamandra, Piratas no Callao (48 páginas, R$ 22) e Mena e Anisinha (40 páginas, R$ 26,50), ambos com tradução de Estevão Calahani Felicio.


‘Ele utiliza uma linguagem fluente, capaz de carregar o leitor com facilidade de uma página a outra’, atesta Ana Maria Machado, uma das principais autoras de história para crianças e adolescentes no Brasil e que participa, ao lado de outra grande escritora, Ruth Rocha, de dois debates ao lado de Garrido-Lecca. O primeiro ocorre hoje, às 15 horas, com entrada franca, no Instituto Cervantes, onde a conversa vai reunir Ruth e o autor peruano. Amanhã, será a vez do Rio de Janeiro, onde Ana Maria vai recebê-lo às 17 horas, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.


O título dos debates, Literatura Infantil: do Pedagogismo à Leitura por Prazer, resume a intenção do encontro: como o efeito prejudicial do texto carregado de intenções moralistas cedeu espaço (e ganhou leitores) para uma obra mais criativa e estimulante. ‘Especialmente na América Latina, onde a realidade supera a ficção’, comenta Garrido-Lecca, que respondeu às seguintes questões por e-mail:


Como a literatura infanto-juvenil pode conquistar a atenção de jovens em uma época tão fortemente marcada por internet e videogames?


Creio que são prazeres distintos. Há quem considere que videogames são um vício, assim como a internet, mas, antes que um vício, são uma forma de entretenimento (ainda que, efetivamente, podem converter-se – como a leitura – em um vício). O que me questiono é o que tornam jogos de vídeo em entretenimento, pois a maioria não passa de um ‘remake’ de Hércules superando provas: a cada vitória, passa-se para o nível seguinte. Ou seja, nada mais que uma velha estrutura da tradição oral de quase todos os povos da Terra plasmada sobre uma tecnologia multimídia. Não acredito que a melhor tecnologia possa vencer a melhor história contada. É mais difícil hoje uma criança trocar uma boa história por um videogame do que há 50 anos, quando poderia preferir jogar futebol com tampinhas de garrafa? Não acredito. Ganhará sempre quem contar a melhor história, com ou sem vídeo.


Qual o caminho que um escritor para jovens deve evitar hoje?


Deve-se evitar, primeiro, o moralismo. A tentação de subestimar as crianças é freqüentemente muito grande entre aqueles que se arriscam a escrever para esse público. Se querem pregar contra o consumo de drogas, é melhor utilizar a televisão. Passar lição de moral é a melhor maneira de afastar o prazer de ler das crianças. Afinal, a literatura infantil é a que também deve agradar às crianças.


Piratas no Callao é um relato de ficção e aventuras, com antecedentes históricos. Como unir ficção e realidade histórica de maneira agradável e satisfatória?


Povos mais antigos, portanto, também mais sábios, honram seus antepassados contando suas façanhas. A História está repleta de relatos incríveis que, bem contados, deleitam pequenos e adultos. Veja o sucesso dos canais de história e biografia na televisão a cabo. Além disso, todos sabemos que, especialmente na América Latina, só a realidade supera a ficção. No fundo, realidade e ficção se alimentam uma da outra e a literatura é um espaço perfeito para dar conta disso.


O senhor já disse que a indústria do futuro está no entretenimento. Que lugar a literatura para jovens pode ocupar nesse ramo?


A literatura é arte, mas também faz parte da indústria do entretenimento ou o que os espanhóis chamam de ‘indústria do ócio’. O crescimento e o desenvolvimento de países como China e Índia, além de regiões como a própria América Latina, vêm criando um novo e grande grupo humano que crescentemente vai demandar entretenimento em todas as suas formas. A literatura é fonte fundamental de outras formas de diversão como a tevê, o cinema, os videogames e até parques temáticos que, por sua vez, implicam em hotéis, restaurantes e espetáculos. O império Disney é um exemplo claro de até onde pode chegar uma história bem contada por um simpático rato. J.K. Rowling, atualmente, não viu nem a metade do que se construirá a partir de sua obra.


O senhor é político, economista e também inventor. Como essas atividades influenciam sua literatura?


O denominador comum de tudo que faço é minha fé na imaginação, a arma mais poderosa que temos para enfrentar o que nos espera – seja em política, economia, arte ou na vida cotidiana. Caminho por essa estrada tratando de descobrir o que ainda não existe.


O senhor também já escreveu poesia. Escrever literatura para jovens é mais difícil que para adultos?


Crianças e jovens têm tolerância zero com aquilo que não gostam. Se, na segunda página não se capturou seu interesse, deixam o livro de lado. Os adultos normalmente são mais concessivos, influenciados pela fama do autor, por uma boa crítica ou até pelo preço que pagaram pela obra. Assim, podem ler cem páginas antes de descobrir que não gostaram do livro. Por isso, escrever para crianças e jovens é mais difícil. A outra face dessa moeda é que, quando uma criança diz que gostou de seu livro, acredite, pois é verdade. Já com um adulto, nunca se está seguro.


Como classificar a literatura para jovens na América Latina em relação ao resto do mundo? Há alguma particularidade?


Na América Latina, é, acredito, o lugar no mundo onde a realidade supera a ficção com maior freqüência. As contradições são grandes e somos bons contadores de histórias: é uma combinação que fertiliza o campo para a criação literária.


Serviço


Hernán Garrido-Lecca.Instituto Cervantes. Avenida Paulista, 2.439, Bela Vista, telefone 3897-9600. Hoje, às 15 horas. Entrada franca’


 


 


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