Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Tablóide gratuito e silencioso

O repórter Mark Jurkowitz, do Boston Phoenix [28/10/05], estava pautado para fazer uma matéria sobre o tablóide gratuito Metro Boston, focando na filosofia do jornal e no que a parceria do grupo Metro com o Boston Globe/New York Times Company poderia dizer sobre o futuro do jornalismo do século 21. Jurkowitz deveria falar com os funcionários do jornal para passar ao público um sentido de cidadania, dos princípios e das prioridades que regem a divisão local de uma companhia internacional que publica 59 edições diárias em 19 países – ou seja, uma visão positiva do fenômeno Metro em Boston.

No entanto, o repórter encontrou já nos primeiros contatos por telefone um problema: ninguém no jornal estava disposto a falar. Jurkowitz não conseguiu localizar a publisher do Metro, Peggy Onstad. O diretor do grupo Metro nos EUA, Robert Powers, não retornou seis telefonemas feitos pelo repórter em dois dias. Por fim, Jurkowitz decidiu ir pessoalmente descobrir o que acontece nos escritórios do jornal, mas também não obteve sucesso. ‘Seria mais fácil entrar na Situation Room da Casa Branca (de onde o governo monitora crises mundiais) no meio da crise dos mísseis cubanos’, brincou. Como Peggy não se encontrava no local, o repórter deixou um recado com a recepcionista.

Na oitava tentativa, Jurkowitz conseguiu finalmente falar com Powers, mas ele foi brusco e mal-humorado. Quando o repórter requisitou uma entrevista com os executivos do Metro Boston, Powers negou e deu a seguinte razão: ‘É uma política da companhia não dar entrevistas à imprensa’. Indignado, Jurkowitz perguntou como um jornal poderia ter a política de não falar com jornais. Como resposta, Powers então repetiu a política. Sobre não ter respondido os telefonemas, Powers alegou ser um homem muito ocupado e os telefonemas de Jurkowitz não eram prioridade. ‘Tenho que reconhecer que a mensagem de disciplina do Metro Boston é admirável e poderia até dar umas lições à administração Bush’, ironizou o repórter.

O Metro Boston faz parte de uma organização jornalística que se tornou uma das maiores dos EUA e, para Jurkowitz, isto deveria ser motivo de comemoração, em vez de paranóia. ‘Do que mais você pode chamar uma empresa jornalística que trata a imprensa como inimigo? E como você se sente sobre uma operação secreta e anônima que não quer ser descoberta? Como se evita concluir que o Metro Boston é apenas uma representação de uma fábrica internacional de jornalismo copia-e-cola e que seus executivos seguem uma cultura corporativa hierárquica e arrogante?’, questiona.