Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Educação problemática, mídia perplexa

Muitas avaliações sobre a situação educacional brasileira já chegaram ao nível do ‘chover no molhado’. Talvez fosse o momento de descobrirmos que medir a pressão de meia em meia hora, por si só, não evita o risco de um derrame.

Em alguns casos, o colapso está evidente, e não é de hoje. Mesmo assim, surge um novo instrumento de avaliação, o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp), cujos resultados mostram como se encontra desamparada a escola pública da região mais rica do país.

A mídia divulga, perplexa:

[…] metade das escolas estaduais paulistas tem indicadores abaixo das médias fixadas pelo Idesp para os dois ciclos do ensino fundamental (1ª a 4ª séries e 5ª a 8ª séries). No ensino médio, a situação é ainda mais alarmante: quase 60% das escolas ficaram abaixo da média desejada. Isso significa que grande parte dos alunos da rede pública estadual está no nível abaixo do básico, não sendo capaz de compreender textos ou fazer cálculos elementares em matemática. Entre os principais problemas detectados pela pesquisa estão a falta de professores de história, geografia, física, química e matemática, o desinteresse dos alunos dos cursos noturnos de se submeterem às avaliações e os currículos que não despertam interesse entre os adolescentes. (O Estado de S.Paulo, 17/05/2008)

Constatar que faltam professores, ou que os professores (por mil motivos) faltam; constatar que os alunos estão desinteressados, nada disso requer grandes pesquisas. Basta visitar as escolas, ouvir o corpo docente, as famílias dos alunos, ler jornais. O que os índices indicam todos já sabem. Não sabemos é o que se fará com o óbvio.

Gilberto Dimenstein, na Folha de S.Paulo (18/05), fala em mistério. Refere-se ao fato de que, segundo o Idesp, a Escola de Aplicação da USP teve desempenho ruim, ao passo que algumas escolas da periferia saíram-se melhor. A analogia com o ‘mistério do câncer’, título da matéria de Dimenstein, desperta novas angústias. Se ainda não existe cura para a fatalidade, o que fazer com os resultados assustadores da tomografia computadorizada? Não são exames profiláticos. Se a educação, como já sabíamos, encontra-se tão doente, mesmo em setores de excelência, pouco adianta comemorar que ‘órgãos’ isolados apresentem (precários) sinais de saúde.

A menos que a comprovação do que já sabíamos provoque, de fato, ações e reações eficazes. A exemplo do que está acontecendo em Minas Gerais. Lá, o Programa de Avaliação de Educação Básica (Proeb) tem mostrado que há progressos (pequenos, mas reais) quando os números, além de freqüentarem a mídia, tornam-se objeto de análise e ponto de partida para decisões concretas a serem tomadas por aqueles que se consideram especialistas, não em avaliação apenas, mas em educação sobretudo!

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Doutor em Educação pela USP e escritor – www.perisse.com.br