‘Muito oportuno o tema escolhido pelo Observatório da Imprensa na TV desta terça-feira (8/11): a favela. No momento em que a violência volta às primeiras páginas, debater a realidade das áreas que concentram o maior número de vítimas seria fundamental. Pena o recorte não ter sido esse.
Logo no editorial, Alberto Dines lembra que a favela não é obra do acaso, mas do descaso. A matéria introdutória traz informações importantes, com números e exemplos de situações que poderiam tranqüilamente conduzir o debate sem grandes problemas.
Infelizmente os convidados (todos editores de jornalões) tiveram pouco tato para tratar o tema, ao ponto de deixarem transparecer que, para eles, o grande problema da favela no Rio de Janeiro é o fato de ela estar ‘imersa na cidade, disputando espaço com a população’. Observe como o discurso é revelador: se um lado é ‘população’, o outro não é.
Embora esse modo de tratar as favelas não chegue a surpreender, já que é isso mesmo que se depreende da leitura dos jornalões, ao menos preocupa. Afinal, estamos falando de veículos de comunicação de grande alcance, que de um jeito ou de outro acabam pautando o debate de seus leitores.
Durante o programa, tive a oportunidade de fazer uma pergunta a Paulo Motta, chefe da Editoria Rio de O Globo. Como meu nome e a pergunta que fiz foram trocados, entre o atendente de nome Samuel e a leitura da apresentadora, nem me dei ao trabalho de ligar novamente para tentar corrigir. Veja a ‘sutil’ diferença entre as duas perguntas:
Pergunta original: ‘Ao longo da cobertura de O Globo, pode-se notar um grande espaço dedicado ao secretário de segurança pública e às ações da polícia, mas raramente a opinião dos moradores das favelas é contemplada. Por exemplo, na ocasião da morte de Bem-Te-Vi, então responsável pelo abastecimento de drogas aos consumidores da zona sul do Rio, o título da matéria foi uma frase de um policial: ‘Esse não voa mais’, um tanto quanto emblemática. Logo no início da matéria, uma intrigante declaração, apresentada com naturalidade pelo jornal, do secretário de segurança pública, Marcelo Itagiba: ‘Hoje demos uma nova carta de alforria à Rocinha’. Por que o Globo faz esse papel de porta-voz da polícia?’.
Pergunta que foi ao ar: ‘Marcelo Vale, de Niterói, pergunta por que O Globo tem essa visão de classe média das favelas?’.
Paulo Motta respondeu, muito à vontade, negando o óbvio (a visão de classe média) e contando nos dedos as reportagens que fizeram dando espaço aos moradores, tentando dar a impressão de que eram muitas. Terminou brindando os telespectadores com a seguinte pérola: ‘O Globo sempre defendeu a ordem, defendeu a lei. Acho que o Globo não mudou há 80 anos e não vai mudar’. Numa breve contextualização histórica, lembro aos caros leitores que o editor tem razão. O Globo sempre foi intransigente defensor da ordem e da lei. A julgar pelo editorial do dia 28 de agosto de 1961, onde o jornal afirmava que iria ‘apoiar um movimento no sentido de obter do Sr. João Goulart um gesto de renúncia ao cargo que deverá assumir, tendo em vista a intranqüilidade que traria à Nação a presença do líder trabalhista na Presidência’. Já no dia 1º de abril de 1964, data do golpe, estampou em manchete: ‘Fugiu Goulart e democracia está sendo restabelecida’. Apenas para ficar em dois exemplos de como este jornal sempre foi afeito às causas democráticas.
Enfim, na verdade fui até pouco crítico ao formular a pergunta (que não foi ao ar), pois a cobertura de O Globo e demais jornalões têm sido uma verdadeira criminalizacao da pobreza, o que pode ter orientação da diretoria ou apenas advir de um preconceito enraizado dos jornalistas, geralmente oriundos de uma parte da classe média que, insensível, trata a favela como problema e não como a solução encontrada para contornar o tal descaso das autoridades públicas, como apontado por Dines na abertura.
Infelizmente todos os convidados desse programa pertenciam à mídia grande, onde exercem cargos de confiança, o que inviabilizou a existência de pontos de vista destoantes da lógica hegemônica. Ou seja, quem assistiu a este programa vai continuar lendo jornal do mesmo jeito que lia antes.
PS: Quem quiser conferir como foi, a reprise costuma ir ao ar sábado às 20h, na TVE ou Cultura, dependendo da localidade.’
BEIJO POLÊMICO
Keila Jimenez
‘Mercado apostou no beijo gay ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 9/11/05
‘Não foi só o público que esperou ansioso pelo beijo gay – que não aconteceu – em América. Os anunciantes também apostaram pesado na falso vanguardismo da Globo.
O último capítulo da trama teve um break comercial a mais que os capítulos comuns – 5 breaks – e mais de 40 inserções comerciais. Em um capítulo normal, essas inserções não chegam a 30, tirando os anúncios de programação da própria emissora.
Segundo levantamento da Controle da Concorrência, empresa que monitora inserções comerciais para o mercado, o capítulo final de América teve aproximadamente 1h30 de duração, desses, 20 minutos foram só de propaganda. Normalmente esse tempo não passa dos 15 minutos por capítulo.
Esse montante parece ainda maior se olharmos para as cifras: 30 segundos avulsos no intervalo do desfecho do folhetim de Glória Perez custou a cada anunciante cerca de R$ 300 mil. Já cada patrocínio da novela saiu em média por R$ 5 milhões. O preço normal de 30 segundos em uma trama das 9 Globo é de R$ 250 mil.
Demanda excessiva ou falta de espaço, o fato é que para acomodar a todos os seus anunciantes a emissora teve de descumprir um regrinha básica de mídia. Segundo a Controle da Concorrência, a rede colocou no mesmo intervalo de América três anunciantes do mesmo setor: Ponto Frio, Lojas Marabraz e Casas Bahia. Esse tipo de inserção costuma gerar protestos de marcas e agências, que pagam para não ter concorrência no mesmo break. As Casas Bahia, por exemplo, não sabia que seu comercial entraria com o da concorrente.
Procurada, a Globo não se manifestou até o fechamento desta edição.’
Daniel Castro
‘Por ‘engano’, Globo exibe filme impróprio’, copyright Folha de S. Paulo, 9/11/05
‘O mesmo controle de qualidade da Globo que censurou o beijo gay de ‘América’ cometeu um vacilo: por suposto engano, deixou exibir na faixa livre (das 16h15 às 18h de sábado) um filme considerado violento e inadequado para antes das 21h (impróprio para menores de 14 anos).
‘O Vingador do Futuro’ (‘Total Recall’, 1990) foi a arma da Globo para ofuscar a estréia do novo programa de Márcio Garcia na Record. Deu certo. O longa registrou 19 pontos (contra 6 do SBT e 5 da Record e Band). A média da Globo no horário foi de 15 a 18 pontos de janeiro a junho.
Segundo o Ministério da Justiça, ‘O Vingador do Futuro’ foi classificado em 1992 como inadequado para antes das 21h por conter ‘tensão e violência’.
A Globo, que há muito tempo não descumpria a classificação indicativa, afirma que o longa ‘foi programado por engano’. Oficialmente, afirma que o filme é dela desde 1996 e que ‘sua ficha foi confundida com a de títulos similares como ‘Viajante do Futuro’ e ‘De Volta para o Futuro’.
No filme, Arnold Schwarzenegger vive um operário que, no final do século 21, após implante de memória, viaja a Marte e lá se une a um grupo de rebeldes que lutam contra o domínio da Terra. Como a classificação indicativa não é impositiva, a Globo só corre riscos de sofrer sanções se for condenada em eventual ação movida pelo Ministério Público.
OUTRO CANAL
Beleza O primeiro capítulo da boa ‘Belíssima’ teve média consolidada de 54 pontos no Ibope da Grande São Paulo _dois a menos do que o primiero de ‘América’.
Furo A média do ‘Roda Viva’ com o presidente Lula foi de dois pontos, apenas um décimo a menos do que a edição com Roberto Jefferson, em 20 de junho. Mas ‘replicou’ muito mais. O ‘Bom Dia Brasil’ de ontem foi todo sobre o programa da Cultura.
Prestígio O governador Geraldo Alckmin foi pessoalmente à TV Cultura, anteontem, assinar a liberação de R$ 5 milhões previstos em orçamento para a emissora fazer investimentos. Segundo Marcos Mendonça, presidente da Cultura, o dinheiro será usado na compra de câmeras de alta definição, ilha de edição digital, gerador de cenário virtual e uma nova unidade móvel (a atual tem 30 anos).
Telhado Silvio Santos ainda não desistiu, mas está em dúvida se produzirá a novela ‘Cristal’. Mandou os responsáveis pela teledramaturgia do SBT estudar outros textos da mexicana Televisa como alternativa para a próxima novela, que deve estrear em março.
Cinismo Até o ‘Fala que Eu te Escuto’, programa da Igreja Universal na Record, pegou carona no ‘não-beijo gay’ de ‘América’. Tema da edição da madrugada de ontem: ‘O beijo que não houve e gerou polêmica: é preconceito ou é nojento?’.’
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‘Globo assume que ‘mudou’ beijo gay de ‘América’’, copyright Folha de S. Paulo, 8/11/05
‘A decisão de vetar o beijo entre Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro), no último capítulo de ‘América’, dividiu a cúpula da Globo. Mario Lucio Vaz, diretor-geral artístico, ficou ‘no muro’. A decisão final foi de Octavio Florisbal, diretor-geral. Não houve interferência da família Marinho, apurou a Folha.
O argumento pelo corte foi o de que o beijo seria desnecessário para caracterizar a paixão entre os rapazes e que isso não prejudicaria a mensagem. Avalia-se que a novela das oito tem um público amplo demais (22% têm entre 4 e 17 anos) para não ser conservadora. Já houve ‘selinhos’ entre mulheres, mas nunca entre homens.
Glória Perez está sendo criticada por ter ‘forçado’ a exibição do beijo gay. Desde 1998, quando Aguinaldo Silva tentou emplacar um beijo entre dois homens em ‘Suave Veneno’, está implícito que isso é ‘proibido’ na Globo.
Executivos avaliam também que houve erro de comunicação. Já estava combinada na noite de sexta uma ‘operação abafa’.
Mas a resposta à Folha de Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação (CGCom), de que o beijo não estava no roteiro, jogou a ‘culpa’ sobre Glória Perez, que se irritou e deu entrevistas denunciando a censura.
Ontem, a CGCom apresentou nova explicação, em que admite o corte: ‘Foram apresentadas [à direção da emissora] gravações, com diferentes formatos, que permitiam entender, com mais ou menos intensidade, que estaria ocorrendo um beijo. A direção da TV Globo, ainda assim, determinou uma mudança na versão escolhida, optando pela abordagem que julgou mais apropriada para exibição numa novela das oito’.
O ‘não-beijo gay’ está sendo visto como um golpe de marketing. A promoção fez com que o último capítulo desse 68 pontos, com a sintonia de 86% dos televisores ligados na Grande São Paulo (participação), mas não foi o suficiente para que a novela batesse o recorde geral de ‘Senhora do Destino’ (cujo episódio final marcou 62). Na média do primeiro ao último capítulo, ‘América’ registrou 49 pontos e 69% de participação, contra 50,4 pontos e 75% da trama de Aguinaldo Silva.
OUTRO CANAL
Pêndulo 1 Gugu Liberato foi o mais prejudicado com a entrada de Raul Gil, pela Band, na ‘guerra dos domingos’. Anteontem, seu programa no SBT deu média de dez pontos, contra 18 no domingo anterior. Já Raul Gil emplacou seis pontos (o dobro do que a Band dava antes). O ‘Pânico na TV’ ficou com seis (sete na semana anterior). E o ‘Domingão do Faustão’ marcou os 22 habituais.
Pêndulo 2 Já a Record perdeu audiência com Márcio Garcia no lugar de Raul Gil. A estréia de ‘O Melhor do Brasil’, no sábado, marcou seis pontos _antes, o ‘Programa Raul Gil’ dava nove. ‘Caldeirão do Huck’ (13) e ‘Sabadaço’ (5) não sofreram impacto.’
Laura Mattos
‘‘Vejo com indignação a censura à arte’, diz Gagliasso ‘, copyright Folha de S. Paulo, 8/11/05
‘Quem estava ao lado de Bruno Gagliasso, o Júnior de ‘América’, enquanto o último capítulo da novela ia ao ar, na sexta, conta que ele chorou ao ver que o beijo entre seu personagem e o de Erom Cordeiro (Zeca) havia sido cortado.
Em entrevista exclusiva, o ator revela como foi a gravação do beijo gay e diz ver ‘com indignação’ qualquer tipo de censura à arte (saiba mais sobre o corte feito pela Globo à pág. E8). Leia abaixo as declarações de Gagliasso.
Folha – O beijo entre Júnior e Zeca foi gravado? Como era a cena?
Bruno Gagliasso – Foi gravado. Era uma cena que me dava conforto em realizar. Havia consenso entre os responsáveis pela novela de que a cena deveria ser de bom gosto, centrada no amor. O beijo teria a mesma sensibilidade com a qual o tema foi conduzido.
Folha – Havia no roteiro várias possibilidades de beijos, mais ou menos íntimos, ou só uma versão?
Gagliasso – Várias maneiras foram estudadas do ponto de vista técnico, de enquadramento, luz, movimento de câmera. Em todas, o beijo se manteve exatamente o mesmo, sem mudança na intensidade. A beleza emocional estava achada, buscava-se, na repetição, a beleza plástica para que o clima fosse de amor e elegância.
Folha – Você sabia que o beijo não iria ao ar? Quando soube do corte?
Gagliasso – Não sabia de nada, foi uma surpresa. Só percebi durante a exibição do capítulo.
Folha – O que achou do corte?
Gagliasso – A cena tal como foi ao ar frustrou muita gente, mas não posso deixar de reconhecer que o bom gosto se conservou, que os olhares amorosos estavam presentes, que a beleza plástica era incontestável. Se não foi ao ar o beijo em si, isso está além da responsabilidade da equipe da novela, assim como da minha.
Folha – Como a comunidade gay reagia à sua personagem?
Gagliasso – Eles entenderam a abordagem da Glória. Ela retratava com refinamento inédito na TV o momento que a esmagadora maioria dos homossexuais vive: a dificuldade de assumir para si e para a família sua orientação sexual. O apoio foi total. Houve dois movimentos fortes: no primeiro, vários gays se aproximaram de mim, ou escreveram, dizendo que viveram exatamente aquele drama. O segundo foi a aproximação de heteros que me relataram conhecer inúmeros casos idênticos ao do Júnior. Experimentei imenso carinho do público, de artistas e da crítica. Após o último capítulo, constatei, pela imprensa, que havia grande onda de frustração. Sendo absolutamente sincero, digo que preciso me recolher para descansar. Estou exausto. As últimas cenas exigiram emocionalmente tudo o que tinha para dar. Só aos poucos começo a tomar fôlego para pensar no que houve. Mas gosto de pensar.
Folha – O que achou da decisão?
Gagliasso – Creio que muitos fatores devem ter interferido nessa decisão. Não tive acesso aos processos que levaram ao corte. Da mesma forma que tentei compreender as situações da vida do Júnior, utilizo o mesmo procedimento agora. Prefiro falar quando tiver compreendido de forma mais consistente o que aconteceu.
Folha – Acredita que tenha havido muita pressão contra o beijo?
Gagliasso – Claro! E não vejo nada de errado, adoro o jogo democrático. Quem se sente incomodado tem o direito de se manifestar. Mas justamente por amar a democracia, vejo com indignação qualquer censura à arte, e a novela brasileira já tem esse status. Quem não quer ver muda de canal. O controle remoto é um grande instrumento democrático.
Folha – Lamenta o fato de que não será lembrado por ter interpretado o primeiro beijo gay em novelas?
Gagliasso – Não me preocupo com isso, sou jovem, quero ser lembrado pelo conjunto da minha carreira. Se algum dia entrar para a história da TV, como teria sido supostamente o caso, em ‘América’, não gostaria que fosse só por um beijo, apesar de ter total compreensão da importância que isso poderia ter. Gostaria que o beijo tivesse ido ao ar, não por vaidade boba de entrar ou não para a história da TV, mas por imaginar que poderia ajudar as pessoas que bombardearam meu celular, na última semana, chorando e dizendo que estavam abraçados às suas mães diante da TV e da verdade.
Folha – Participou de reunião para definir a exibição do beijo?
Gagliasso – Nunca, sou peixe pequeno. O que defendi foi a sinceridade dos meus sentimentos na construção do Júnior. Mesmo sem o beijo, espero que o esforço não tenha sido em vão.’
Folha de S. Paulo
‘Protesto contra censura a beijo gay reúne 150 ‘, copyright Folha de S. Paulo, 9/11/05
‘Um ato em frente ao Congresso Nacional, ontem, para protestar contra a decisão da cúpula da Rede Globo da cortar uma cena de beijo gay da novela ‘América’, reuniu cerca de 150 pessoas, mas poucos dos casais se beijaram, frustrando a expectativa da organização de um ‘beijaço’. Pela manhã, os manifestantes foram recebidos pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo.
‘Na novela, os caras que sonegaram imposto se deram bem. O beijo gay, que é natural, cortaram’, disse Roberto Kaiser, um dos manifestantes.’
BELÍSSIMA
Cristina Padiglione
‘‘Belíssima’ faz caricatura do caos para justificar os fins ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 9/11/05
‘A selva de pedra se perturba com uma ação de marketing da grife Belíssima. Modelos de parar o trânsito fazem caras e bocas, devidamente inseridas nos cartões-postais dessa São Paulo que, vista lá de cima – e não há primeiro capítulo de novela sem helicópteros e pirotecnia – dá fastídio só de pensar. Antes que o dia termine e que as modeletes tenham chance de retomar seus trajes, digamos, convencionais, manifestantes empunham faixas de protesto a essa ‘imoralidade’ e tomam as ruas. É um filminho que não encontra paralelo na vida real da cidade. E daí? Isso é novela.
Popularmente denominada como ‘forçada de barra’, a patinada ficcional que abriu o novo folhetim da Globo faz parte do show. Vale aí a máxima dos fins que justificam os meios. A apresentação dos conflitos a seguir carece sempre de um episódio capaz de denunciar, em poucas linhas, o caráter de cada personagem e o lugar destinado a essa galeria nos próximos meses. Como primeiro capítulo, Belíssima cumpriu a gincana: levou à platéia um novo enredo e foi didática o bastante para colocar a massa por dentro da história. Mais: deixou no ar o precioso gancho que seduz o telespectador ao segundo capítulo, regra básica de todo-santo-dia em novela e obviamente mais árdua de se alcançar no primeiro dia.
Dois trunfos sólidos foram plantados na estréia para manter o público sintonizado: o segredo que Cláudia Abreu tenta contar ao seu príncipe encantado e, claro, não consegue – é de se prever que nunca consiga e que o mistério abasteça a sede da megera de Fernanda Montenegro – e o núcleo grego da Katina de Irene Ravache. O que é Irene Ravache nos trejeitos dessa matriarca? Tudo-de-bom. Poucas são as análises combinatórias que já se mostram felizes num elenco desde o primeiro momento. América, por exemplo, manteve-se longe desse mérito do início ao fim. Nesse contexto, é louvável ver o dueto de Irene com Lima Duarte e se surpreender com Cláudia Raia, filha do casal, e com um Reynaldo Gianecchini que mal lembra aquela performance de alface por ele desempenhada em Laços de Família, quando estreou na TV. Está bem, o moço. Mistura paulistanês com resquícios de caipirês e exibe o dorso de graxa, bem ao gosto da platéia feminina.
Em tempo: a audiência foi de 54 pontos, 2 a menos que América, em São Paulo.’
Folha de S. Paulo
‘Em capítulo de estréia, novela das oito declara o fim da ética ‘nesse planeta’’, copyright Folha de S. Paulo, 8/11/05
‘Em tempos de crise política e denúncias de ‘mensalão’, a descrença em relação à ética chega à novela. ‘A ética já acabou há muito tempo nesse planeta.’ A cena em que a frase é dita por Bia Falcão (vilã interpretada pela atriz Fernanda Montenegro, 75) foi exibida ontem, no primeiro capítulo da novela ‘Belíssima’, da TV Globo, que teve média de 52 pontos de audiência no Ibope.
A trama narra a história de uma empresa familiar, dona da marca de lingeries ‘Belíssima’. Na cena, Bia Falcão revela à neta, Júlia (Glória Pires), que os protestos contra a campanha publicitária da marca foram encomendados por ela. A polêmica estratégia de propaganda consistiu em levar às ruas modelos que trajavam apenas lingeries.
‘Isso é condenado pelo Conar [Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária]’, retruca Júlia. Bia responde que é um modo de economizar e manter o produto na mídia.’
REDE TV!
Keila Jimenez
‘Justiça tira João Kleber do ar ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 8/11/05
‘João Kleber pode ficar dois meses de molho. Pelo menos é isso que determina a liminar aceita ontem pela Justiça Federal, que suspende por 60 dias a exibição do programa Tarde Quente, da RedeTV!. Em determinação da juíza da 2ª Vara Civil Federal, Rosana Ferri Vidor, além de tirar a atração do ar, a emissora deve adequar o programa ao horário e exibir em seu lugar por 60 dias programação de cunho educacional.
A liminar faz parte de ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal em 24 de outubro. A ação, ajuizada em parceira com ONGs que defendem os direitos dos homossexuais, acusa a emissora de homofobia e de desrespeito aos direitos humanos no quadro Pegadinhas do programa Tarde Quente.
A juíza determina que, até domingo, a emissora possa exibir no lugar das edições do Tarde Quente reprises do noticiário nacional do canal. A partir de segunda-feira, a rede deve colocar no ar os tais programas educativos. Segundo o Ministério Público, essas atrações funcionariam como uma espécie de direito de resposta às ONGs.
Desses programas, dez – ao custo de R$ 50 mil cada um – deverão ser bancados pela rede. Os demais serão indicações do MPF.
E a confusão não pára por aí. O mesmo MPF enviou à RedeTV! na semana passada uma recomendação para que suspendesse a exibição do famoso Teste de Fidelidade, no ar no Eu Vi na TV!, também de João Kleber. Caso a emissora não acate, outra ação civil pública deve ser ajuizada contra a rede.
Segundo o superintendente Jurídico da RedeTV!, Dennis Munhoz, a emissora não conseguiu sequer ter acesso ao processo do Tarde Quente, e até o fechamento desta edição não havia recebido nenhum comunicado da Justiça.’