A mídia, sendo um palco social de embates e conquistas, cede aos indígenas um recinto de segundo plano, para não dizer que encara os nativos como meros coadjuvantes da história. O índio brasileiro é visto pela imprensa nacional, com a ressalva de poucas exceções, como um entrave ao progresso, ou ainda algo engraçado, pitoresco, entre outras sutilezas.
Podemos dizer que o último aspecto mencionado é um dos mais explorados pela grande mídia. Uma simples leitura dinâmica dos meios de comunicação poderá ser capaz de captar esta afronta aos nativos – que aqui estavam desde o desembarque dos homens que ofereciam espelhinhos.
Os mecanismos de construção do discurso desta cultura pelos não-índios ocidentais no noticiário há quinhentos e poucos anos são muitas vezes equivocados. ‘Ora, se fulano invade a sua casa e leva seus pertences, quando em sua moradia esteve, qual é a moral que ele tem para dizer se é legitima ou não sua causa’.
Mesmo com o passar de vários anos, muitos destes valores continuam sendo (re)construídos inveridicamente. Contradição que é reiterada diariamente pelos enunciadores (mídia). E este aparelho midiático, com seu discurso tecnológico de maximização de tudo e rompimento de inúmeras fronteiras, esquece questões básicas e primordiais: escutar e refletir sobre a história do sujeito-indígena.
Os quadrinhos infantis
A repetição do discurso com relação ao indígena também é encaixotada na imprensa infantil – histórias em quadrinhos (HQ). As narrativas quadrinísticas podem parecer simples e descompromissadas com seus conteúdos.
Ledo engano. As HQ estão carregadas de discursos ideológicos, como pode ser visto nos quadrinhos da ‘Turma da Mônica’, de Maurício de Souza. O trabalho deste sujeito-autor é espalhado pelo mundo afora. Atualmente é considerado o maior quadrinista em atividade no mundo.
Suas publicações representam 70% do mercado editorial dos quadrinhos no país. Entre os personagens de sua autoria, temos o simpático Papa-Capim. O próprio título já dá uma leve apresentação sobre o personagem. O indiozinho vive no coração da floresta amazônica de forma romântica e bela.
Nas historinhas, o jovem indígena não reclama de nada. Está tudo nos conformes. A Amazônia vai bem. A questão indígena não existe. E em seu contato com não-índios, seu papel é de coadjuvante em sua própria casa, seu habitat. É uma relação de submissão. Isto é, seu papel é sempre secundário. Relação que é materializada no discurso que é reiterado diariamente entre os co-enunciadores (leitores dos quadrinhos).
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Jornalista, pós-graduando em Linguagem, Cultura e Ensino na Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Foz do Iguaçu, PR