Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica interna


’11/04/2005


Sai o papa e volta o governo às manchetes dos três principais jornais nesta segunda-feira:


‘Governo quer decidir quem vai a UTI’ (Folha);


‘Governo se arma para enquadrar preço do aço’ (‘Estado’);


‘Governo gastou em 10 anos 6,5 mais que investiu’ (‘Globo’).


Alguns jornais apostam na santificação de João Paulo 2º: ‘Vaticano começa a levantar supostos milagres de João Paulo’ (‘Zero Hora’). ‘Papa já fez 4 milagres’ (‘O Dia’).


As revistas, que perderam a notícia da morte do papa na semana passada, especulam sobre o futuro da Igreja Católica e o perfil do próximo papa: ‘Veja’ – ‘Quem? O desafio de eleger um novo papa com carisma, força mora e sabedoria’.


‘Época’ – ‘O futuro da fé’.


‘IstoÉ’ – ‘Dom Cláudio: um papa brasileiro?’


‘Carta Capital’ – ‘E Ele, quem escolheria?’


Painel do Leitor


Embora se coloque no papel de leitor, a carta de Aloysio Nunes Ferreira Filho (‘Avaliação’, no ‘Painel do Leitor’, pág. A3) é de um secretário municipal de Governo comentando a pesquisa de ontem da Folha que avaliou os primeiros três meses do governo Serra. Deveria ter sido editada junto com a repercussão dos tucanos, em ‘Cotidiano’ (‘PSDB culpa Marta por rejeição de Serra’, pág. C3 da Edição SP e C4 da Ed. Nacional), e deixado espaço para os leitores que provavelmente devem ter se manifestado sobre a pesquisa. Como ficou, o jornal acabou dando dois espaços distintos para a mesma repercussão. E tirou da carta do secretário o caráter de notícia. Mesmo as críticas que o secretário faz à cobertura da Folha teriam mais sentido no noticiário do jornal.


Nesta mesma edição, o jornal dá tratamento diferente à carta em que o secretário municipal de Cultura renuncia (‘Titular de Cultura deixa cargo e critica Serra’, em ‘Cotidiano’). Neste caso, o jornal considerou, corretamente, que deveria tratar a carta como notícia. Acho que este é um caminho que deveria ser adotado com mais freqüência. Muitas cartas que o jornal publica no ‘Painel do Leitor’ trazem informações oficiais (notícias, portanto, e não opinião) que contestam ou esclarecem assuntos que o jornal vem cobrindo e deveriam, portanto, ser aproveitadas no noticiário.


Política


O ‘Estado’ registra a opinião do presidente do STF, Nelson Jobim, a respeito do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. Depois de conviver alguns dias com Cavalcanti em Roma, Jobim disse que ele ‘não se concentra, errático, não consegue se expressar’. Deve ter troco. Não vi as declarações na Folha.


Papa


Com o silêncio assumido pelos cardeais e o fim das cerimônias funerais em Roma, as notícias sobre o Vaticano ficaram menos óbvias e é interessante notar como os jornais dão pesos distintos às notícias do dia. Na Folha, a notícia mais importante foram as manifestações contra o cardeal Bernard Law, lembrado por ter acobertado em Boston as denúncias contra padres pedófilos (‘Católicos dos EUA protestam contra cardeal’). No ‘Estado’, os protestos ocuparam um pequeno parágrafo num texto curto de pé de página. A manchete interna do ‘Estado’ foi ‘Vaticano já fala em curas do papa’. A Folha, neste caso, deu apenas uma nota (‘Milagre’). Folha e ‘Globo’ tiveram avaliações parecidas nos dois casos.


O título do ‘Estado’ (‘Vaticano já fala em curas do papa’) é forçado. Quem fala nas curas são os jornais italianos, dois deles ouvindo o secretário particular do papa, e não o Vaticano.


O artigo de John L. Allen Jr (‘Cardeais americanos são candidatos improváveis ao papado’, pág. C9) começa bem, com uma análise do bispado dos EUA e seus problemas para fazer um papa, mas termina de forma contraditória, com a defesa do cardeal Francis George, e imprecisa, com a vaga justificativa de o cardeal ‘ter feito um trabalho bastante bom em seu cargo’. Achei o tema pertinente, mas é provável que o jornal encontrasse artigo melhor, no nível do traduzido de Marco Politi.


Por problemas pessoais não pude ler com atenção a edição de DOMINGO, mas achei falta de coordenação a publicação, na mesma edição, de artigo do advogado Ives Gandra em ‘Tendências/Debates’ (‘Os papas e o Opus Dei’, pág. A3) e entrevista grande com ele sobre o mesmo assunto em ‘Mundo’ (‘Igreja não é moderna nem retrógrada’). Se era para defender a Opus Dei, o jornal tinha outras opções.


Aliás, Ives Gandra trata a organização sempre no masculino (o Opus Dei) e o jornal, no feminino (a Opus Dei). Quem está certo?


Títulos


É divertido o texto ‘Data Venia’ que acompanha a cobertura da reunião do Campo Majoritário do PT no Rio (pág,. A4). Mas o título, ‘Lições de Cícero inspiram ajuste do PT’, força um pouco. As lições de Cícero expostas na recepção do hotel foram objetos de brincadeiras e inspiraram piadas, mas não o ajuste do partido.


Numa semana de chacinas e degola, não é possível que o ‘Esporte’ não tenha um título melhor para tratar da vitória do Rio Branco sobre o Palmeiras do que ‘Palmeiras cai com três tiros do matador Jales’ (pág. D2).


08/04/2005


As manchetes do papa:


Folha – ‘Funeral reúne 200 líderes mundiais’.


‘Estado’ – ‘A surpresa do testamento: papa pensou em renunciar’.


‘Globo’ – ‘João Paulo II pensou em renunciar’.


O jornal do Rio tem uma segunda manchete: ‘Dólar em queda não reduz ritmo de exportação’.


Os jornais brasileiros em geral destacaram o testamento do papa. A interpretação recorrente foi a de que o papa cogitara em renunciar. A Folha fugiu desta interpretação e preferiu destacar, no seu texto da primeira página, as reflexões do papa sobre a morte. O jornal não usa o termo renúncia (‘Nele [no texto do papa] há uma preocupação constante com a morte e o questionamento de que sua missão já estivesse cumprida’). É uma cautela que fica sem justificativa na capa do jornal e o leitor só vai entendê-la ao ler a capa do caderno ‘Mundo’ dedicado ao papa, ‘Reflexões sobre a morte’. Acho que o jornal teve uma posição corajosa ao não embarcar na interpretação dominante, mas deveria ter sido explícito na sua primeira página. O tema (se o papa, doente, deveria renunciar ou não) dominou as discussões na Igreja Católica nos últimos anos. E a leitura feita de que ele cogitara renunciar esteve presente em todo o noticiário de ontem.


Mais uma vez o jornal opta, na Edição Nacional, por fotos menores que perdem o impacto da imagem. A foto fechada no presidente e nos dois ex-presidentes (Sarney e FHC) é mais forte e significativa, na minha opinião, do que a comitiva perfilada diante da escada do avião.


O jornal derrubou da capa da Edição SP duas chamadas relevantes da Edição Nacional: ‘Remessa de Meirelles foi maior, diz procurador’ e ‘Auditoria aponta irregularidade em compras da Saúde’.


Papa


A passagem do testamento espiritual do papa em que ele se refere a Simeão é dúbia e permite várias interpretações, inclusive a de que ele poderia ter cogitado na renúncia. O mérito do texto da Folha é o de enfrentar a discussão com propriedade. Imagino que o texto do papa vai passar por leituras e re-leituras e, exagerando, vai acabar objeto de estudo de exegetas. A Folha não se propõe a isso, mas achei os argumentos a que recorreu para fazer a sua interpretação bastante convincentes. Tem o mérito de não ter reproduzido mecanicamente o noticiário e de ter enfrentado o assunto na contra-mão.


Interessante, no texto do ‘Estado’ (‘Papa pensou em renunciar em 2000’, Especial H11), é que, no meio, assinala o seguinte: ‘Mas mesmo que não tenha feito o que sugeria – em caso de ter sido verdadeira a idéia da renúncia – seu testamento promete (…)’. Esta frase, acho, enfraquece bastante a interpretação de que o papa pensara na renúncia.


Como vários jornais deram como manchete a interpretação de renúncia, imagino que este assunto permanecerá no noticiário.


Muito boa a entrevista com Ricupero a respeito de sua experiência no Vaticano e dos comentários que faz sobre d. Cláudio Hummes e os rumos da igreja.


Publicidade e transparência


A Folha divulga antes dos outros jornais os gastos do governo Lula com publicidade no ano passado (‘Gasto de Lula com publicidade sobe R$ 250 milhões em 2004’, pág. A4). Este é um tema que o jornal trata com prioridade há muito tempo e é uma forma de exigir transparência do governo.


O jornal deveria insistir em obter do governo (dos governos, na verdade, aí incluídos os estaduais que também são grandes gastadores com propaganda) o destino destes gastos: que grupos jornalísticos receberam e quanto? Isso sim seria uma demonstração, para a sociedade, de transparência dos governos e seria mais um elemento para a sociedade avaliar os meios de comunicação. Os governos se recusam a fornecer estes dados e esta recusa diz muita coisa.


Política


‘Estado’ e ‘Valor’ têm relatos ligeiramente diferentes do jantar que reuniu tucanos em Brasília em torno do ex-presidente FHC, quarta à noite. Segundo o ‘Estado’, ‘FHC diz a tucanos que aceita ser opção para disputar Presidência’. Segundo o ‘Valor’, essa opção não ficou clara. Não vi nada na Folha.


07/04/2005


O papa voltou a ser a manchete dos principais jornais. O caos que parece ter se instalado em Roma no entorno do Vaticano é o assunto escolhido pela Folha e pelo ‘Estado’:


Folha – ‘Roma limita acesso para evitar caos’.


‘Estado’ – ‘Roma não comportara mais fiéis; eleição do papa começa dia 18’.


O ‘Globo’ destacou uma pesquisa que rastreou a quantidade de informações veiculadas sobre a morte de João Paulo 2º: ‘A maior notícia da História’.


O jornal do Rio tem uma segunda manchete, abaixo da dobra: ‘Justiça bloqueia 71 imóveis e 69 carros de fiscais do INSS’.


O efeito buscado pela Folha com a seqüência de imagens do Vaticano na primeira página ficou prejudicado pelo tamanho das fotos e pela impressão. No exemplar que recebi em casa, no Rio, só é possível reconhecer o presidente e ex-presidentes dos EUA com a leitura da legenda. A foto aérea teria sido mais bem aproveitada se trouxesse assinalado o extenso caminho percorrido pelos visitantes, desde Roma até a capela _como fez o ‘JN’ ontem e o ‘Globo’ hoje, e como está na arte da capa de ‘Mundo’. A foto dos norte-americanos diante do papa morto justificava uma edição ampliada, como fizeram o ‘Globo’ e diversos jornais.


Outros assuntos importantíssimos têm chamadas ainda contidas por conta da força do noticiário do Vaticano: o pedido de quebra do sigilo fiscal do presidente do BC, a reação no governo Lula às denúncias contra o ministro Romero Jucá e os desdobramentos da chacina da Baixada Fluminense.


Chacina


A Folha não ficou ontem apenas na delegacia e produziu boas reportagens sobre a chacina na Baixada Fluminense para a edição de hoje: ‘PMs praticavam extorsão, dizem moradores’, ‘Achava que só matavam vagabundos, diz irmão’ e ‘Mulher de um dos acusados se contradiz sobre álibi’ (‘Cotidiano’, capa e pág. C3 da Edição Nacional e págs. C3 e C4 da Ed. SP).


O jornal deu ontem com destaque na primeira página e na capa do caderno ‘Cotidiano’ o assassinato de um pedreiro a poucos metros da Delegacia de Homicídios que investiga a chacina, em Belfort Roxo. Ontem mesmo um sargento confessou o crime. A Folha não noticiou.


Se o crime foi tão importante a ponto de ser noticiado com destaque, era de se esperar que o jornal acompanhasse a investigação.


Segundo o ‘Estado’, ‘Seis dias após caso [a chacina], Rosinha guarda silêncio’. É interessante analisar como mudou o comportamento do governo do Estado em relação aos fatos violentos e crimes. A política de preservar a governadora e o ex-governador dos desgastes que marcaram o primeiro governo Garotinho parece estar dando resultado.


Papa


É ruim e impróprio o título ‘Lula chama até mãe-de-santo para funeral de João Paulo 2º’. Denota preconceito com o candomblé. O jornal colocaria o título ‘Lula chama até rabino para o funeral de João Paulo 2º’?


Entendo que o título ‘Documento secreto é ‘testamento espiritual’ é uma correção que o jornal faz de sua reportagem de terça (‘Papa não deixou nenhum testamento’) sem admiti-lo formalmente na seção ‘Erramos’.


Não há penitenciária no Vaticano, até onde sei. O cardeal James Francis Stafford dirige a Penitenciaria (sem acento, de expiação, arrependimento) Apostólica, e não a Penitenciária Apostólica, como está na tradução do artigo ‘Dinâmica geográfica tem peso na eleição’ (pág. 2 do caderno especial).


O ‘Estado’ tem duas fotos ótimas no seu caderno sobre o papa: a chegada de d. Cláudio Hummes a Roma, protegido por policiais e assediado pela imprensa; e o jantar que juntou, depois da troca de declarações divergentes sobre o catolicismo de Lula, os cardeais d. Cláudio Hummes e d. Eusébio Scheid (páginas H4 e H5).


A Folha tem publicado reportagens e análises sobre as correntes internas da igreja, mas tem dado pouco espaço para o que restou das alas progressistas e da Teologia da Libertação. Hoje o ‘Estado’ dedica uma página ao assunto, com reportagem e um artigo de Leonardo Boff.


O ‘Globo’ tem algumas informações interessantes que não vi na Folha.


– A resistência do episcopado brasileiro ao nome de d. Cláudio Hummes (ele perdeu duas eleições para presidente da CNBB), um contraponto à torcida que se formou;


– A pesquisa que mostra que a morte do papa foi mais noticiada que o ataque terrorista de 11 de setembro em NY (tem um registro na coluna ‘Toda Mídia’);


– As informações sobre o déficit financeiro do Vaticano (‘Contas no vermelho há dois anos’), também manchete do ‘JB’ (‘Finanças do Vaticano desafiam futuro papa’).


Terra sem lei


O jornal não deveria chamar de ‘Outro lado’ o box ‘Empresas não têm entidade que as represente’ que acompanha a reportagem sobre as madeireiras ilegais do Pará (Pág. A12 da Ed. Nacional e A11 da Ed. SP). Ali não tem as explicações ou a defesa das acusadas, mas o registro de que as entidades procuradas não as representam. Isso não é ‘outro lado’. Assim como não deveria estar neste box a informação de que funcionários das serrarias embargadas bloquearam uma estrada. Isso é notícia, deveria estar na reportagem principal ou em outra reportagem, mas não como ‘outro lado’.


E por que o jornal não publica os nomes das madeireiras flagradas pelo Ibama?


Romero Jucá


É mérito da Folha a publicação das principais investigações que têm deixado o ministro Romero Jucá em situação difícil. Ele ainda não conseguiu responder, de forma convincente, às denúncias que se acumulam contra ele. Mas os desdobramentos políticos destas denúncias têm sido acompanhados com mais detalhes pelos concorrentes. Hoje, por exemplo, o jornal não registra a reação do presidente do Senado, Renan Calheiros, à cobrança feita pelo deputado petista João Paulo. A reportagem ‘Jucá precisa esclarecer melhor o que está publicado, diz João Paulo’ (pág. A6 da Edição SP) não tem a reação irritada de Calheiros. A Ed. Nacional não noticia o assunto.


06/04/2005


O noticiário sobre o velório do papa continua bem editado nas capas dos jornais, mas já não é necessariamente a manchete. Entre os grandes jornais, apenas o ‘Globo’ cravou o assunto no título principal: ‘Vaticano muda ritual para a escolha do novo Papa’.


Como outros jornais continuaram a cobertura do Vaticano:


Folha – ‘Papa deixou para os cardeais documento secreto, diz Vaticano’.


‘Estado’ – ‘Rezem por nós, pedem cardeais’.


As manchetes:


Folha – ‘Lucro de siderúrgicas e bancos bate recorde’.


‘Estado’ – ‘Fontelles pede ao Supremo investigação de Meirelles’.


Faltou na Folha, na Edição Nacional, uma chamada para a decisão do Supremo de investigar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.


Papa


Está muito mal dada na Folha, mas muito mal dada mesmo, a entrevista que o cardeal do Rio, d. Eusébio Scheid, concedeu ao desembarcar em Roma. Ele não falou apenas que ‘Lula não se entende muito bem com o Espírito Santo’ (como está na retranca ‘Lula viaja por dívida pessoal, diz Argentina’, página Especial 3).


Disse o cardeal, e está nos outros jornais: ‘Lula não é católico, é caótico’, ‘Não misture Lula nesta história’, ‘(Lula) Quer tirar dividendos políticos’ e por aí vai.


É uma entrevista impressionante e é mais impressionante ainda que o jornal não tenha conseguido recuperá-la e editá-la com o destaque que merecia. Pela virulência do cardeal e pelo inusitado, acho que o jornal deveria editar amanhã a entrevista.


O jornal informou ontem que o papa não deixou testamento (‘Papa não deixou nenhum testamento’). Informa hoje, no entanto, que deixou um documento secreto. Não é a mesma coisa? Ninguém imagina que o testamento de um papa se refira necessariamente à divisão de bens materiais. Segundo acabo de ler no UOL, ‘o documento, de 15 páginas e escrito em polonês, foi redigido ao longo do pontificado de João Paulo 2º, com suas primeiras páginas datando já de 1979. Algumas páginas, inclusive, estão inacabadas, segundo o porta-voz’. Isso pode ser chamado de um testamento, não? Como o jornal vai se referir amanhã, a documento ou testamento?


O nome é secundário. Mas o jornal não deveria ter sido tão afirmativo na edição de ontem. Um documento deixado pelo papa, escrito de próprio punho e para ser lido após a sua morte pode ser chamado de testamento.


É pobre a forma como a Folha noticia o anúncio de que o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, não viajará para o funeral do papa. Faltou informar que são tensas, hoje, as relações entre o governo argentino e a Igreja Católica.


O jornal tem condições de ampliar muito o espaço que está reservando às manifestações dos cardeais e às ponderações que fazem em relação ao perfil do novo papa. Quão mais ampla for a mostra, mais condições os leitores terão de avaliar o que se discute na cúpula da igreja. E tenho a impressão que nunca se discutiu tão ampla e francamente como está ocorrendo agora.


Uma curiosidade: por que o papa é enterrado em três caixões? Se o jornal já explicou (e está indo bem no aspecto ‘didatismo’) peço desculpas.


Chacina


O pedreiro José Martins Rodrigues foi assassinado ontem próximo à Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense onde jornalistas se concentravam à espera de informações sobre as investigações policiais da chacina de Queimados e Nova Iguaçu. Em que cidade foi morto o pedreiro? A Folha não informa. Está nos outros jornais: Belfort Roxo.


Segundo o ‘Globo’, a Polícia Civil já estaria fazendo uma grande pesquisa nos registros policiais de 144 delegacias para buscar informações relativas aos policiais presos nos inquéritos de homicídio e autos de resistência. A conferir.


Continuo achando que a nossa cobertura está exclusivamente focada nas investigações policiais. Há uma situação de calamidade na região (miséria, exclusão, insegurança, medo) que sumiu das páginas da Folha.


Não sei se foi problema de horário, mas a prisão de três policiais militares do COE, a tropa de elite da PM paulista, envolvidos num roubo de mais de R$ 1,2 milhão era notícia para constar da Edição Nacional da Folha. Ainda mais agora, quando a PM do Rio está sob investigação.


Resposta


Recebi da diretora da Sucursal da Folha no Rio, Paula Cesarino Costa, o seguinte comentário a respeito do item ‘Chacina’ da Crítica Interna de ontem:


‘Em relação a sua crítica de hoje, é importante deixar claro que todos os seis policiais militares presos até a noite de segunda-feira, e não apenas o soldado Carlos Jorge Carvalho, foram reconhecidos por testemunhas como participantes da chacina na Baixada Fluminense. Essa informação está registrada na reportagem publicada hoje no caderno Cotidiano. Foi a partir dos depoimentos de testemunhas da chacina que a Polícia Civil e a Polícia Federal pediram a prisão temporária dos seis. Portanto, seria incorreto ou no mínimo impreciso informar que Carvalho _preso na noite de segunda_ foi o ‘primeiro atirador preso’. Para podermos dizer isso, teríamos de poder afirmar que os outros cinco presos, que também foram reconhecidos, não atiraram, mas apenas assistiram aos assassinatos. E não há, por enquanto, elementos que sustentem essa afirmação’.


Tem razão. Mas acho que a informação de que mais um policial fora preso depois de reconhecido como um dos matadores também deveria estar na chamada da primeira página do jornal na Edição SP, ‘Matador no RJ voltou a local do crime, diz testemunha’. A prisão era a notícia mais importante do dia. Aliás, pelo que entendi do noticiário de hoje, é o mesmo policial que voltou para discutir com policiais que faziam o reconhecimento de um dos locais da chacina.


05/04/2005


As manchetes ainda vêm de Roma:


Folha – ‘Papa será sepultado sexta no Vaticano’.


‘Estado’ – ‘400 mil fazem fila para ver o papa; enterro será na sexta’.


‘Globo’ – ‘Temas modernos desafiam cardeais na escolha do Papa’.


Há a torcida por d. Cláudio Hummes:


‘Correio Braziliense’ – ‘As chances de dom Cláudio Hummes ser o novo papa’.


‘Diário de S. Paulo’ – ‘D. Cláudio viaja para Roma com chances de virar Papa’.


Jornais do Rio mantiveram a chacina ocorrida na Baixada Fluminense como principal destaque:


‘JB’ – ‘Testemunhas são ameaçadas’.


‘Extra’ – ‘Testemunha de chacina aponta PM como autor dos disparos’.


‘O Dia’ – ‘Chacina: 12 PMs presos’.


Outro assunto comum a praticamente todos os jornais: as condenações do banqueiro Salvatore Cacciola, do ex-presidente do BC, Francisco Lopes e outros ex-diretores do banco no caso Marka/FonteCindam.


Os econômicos:


‘Valor’ – ‘Bancos acirram disputa pelo crédito consignado’.


‘Gazeta Mercantil’ – ‘Concessão de rodovias terá novos critérios’.


Chacina


A informação mais importante de ontem a respeito da chacina ocorrida na Baixada Fluminense foi a prisão, à noite, do primeiro PM reconhecido por testemunhas como um dos autores dos disparos em Queimados. A chamada da primeira página (‘Matador no RJ voltou a local do crime, diz testemunha’) deveria ter sido atualizada.


O ‘Estado’ manteve o assunto na capa do seu caderno e mudou o título de ‘Rio: força-tarefa contra ‘justiceiros’ para ‘Preso o primeiro atirador da chacina’.


Está desarrumado, na Edição Nacional, o noticiário sobre a chacina. As informações a respeito dos indícios contra os acusados (provas recolhidas pela Polícia Civil e pela Polícia Federal) estão espalhadas por duas reportagens diferentes (‘Munição usada é apreendida em casa de PMs’ e ‘5 policiais militares estão presos’, na capa de ‘Cotidiano’). Deveriam estar juntas para melhor compreensão do que já se tem contra os presos. A reportagem ‘5 policiais militares estão presos’ acabou amontoando informações diversas e sem relação.


O jornal não deu importância à formação da força-tarefa anunciada pelas cúpulas da Secretaria de Segurança do Rio e pela Superintendência da PF,


como fez o ‘Estado’. O jornal está certo ao não superestimar a informação. Até hoje estes anúncios têm tido mais efeito de propaganda. Mas, no caso de ontem, havia uma notícia que o jornal não soube explorar. Segundo o ‘Globo’, ‘Força-Tarefa acaba horas após ser anunciada’. Ou seja, mais uma saia-justa entre as duas forças policiais, que não conseguem se entrosar. Isso é notícia.


Não deu para entender a foto do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, no jornal. Nenhuma reportagem faz menção ao prefeito. Se o jornal não tinha outra foto para ilustrar, deveria ao menos ter feito um texto-legenda com alguma informação que justificasse a publicação.


Está no ‘Globo’: segundo o chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, parte dos PMs presos estava sendo investigada desde o ano passado pela Corregedoria da PM por suspeita de participação em seqüestros, envolvimento com grupos de extermínio e roubo. Por que não foram afastados?


O ‘Saiba Mais’ (‘Força Nacional atua em situações de emergência’) da Edição Nacional era completamente dispensável. O assunto era de véspera. A Força Nacional, como sempre, vai chegar atrasada e não vai ter qualquer papel neste caso específico da chacina. O espaço poderia ter sido mais bem aproveitado. Tanto é verdade que caiu na Edição SP.


O jornal fez, nos dias seguintes à chacina, reportagens sobre a região da Baixada e publicou análises de especialistas. Este material de apoio fundamental sumiu. As pessoas ainda se perguntam como uma tragédia como esta pode ter ocorrido envolvendo policiais militares, como parece indicar as investigações e prisões. Acho que o jornal deveria se debruçar ainda mais sobre a Baixada Fluminense e sobre a PM, ouvindo ‘especialistas’ que vivem na região (juizes, promotores que investigam grupos de extermínio, religiosos, ongs, políticos com alguma informação ou reflexão, associações de moradores) e especialistas de fora, que tenham trabalhos sobre a Baixada ou sobre a violência policial.


A cobertura está agora restrita às investigações e ficou pobre.


Questão indígena


Segundo o ‘Estado’ e o ‘Globo’, morreu a 18ª criança indígena em Mato Grosso do Sul. Segundo o jornal do Rio, ‘erro de diagnóstico pode ter acelerado a morte de crianças indígenas’.’