Uma olhada nos classificados online MonsterIndia.com confirma que o mais recente cargo das redações jornalísticas que está migrando de outros continentes para a Índia é o de repórteres econômicos. Um dos anúncios pede jornalistas econômicos para trabalhar em Mumbai, em turnos noturnos (horário comercial no Reino Unido). Outro procura jornalistas que falem inglês para trabalhar em Bangalore com ‘experiência em editoração para mídia americana e internacional’. Estes serviços terceirizados receberam o nome de ‘jornalistas por controle-remoto’ e se referem a estas mudanças de cargos para países com menores custos como Índia ou Cingapura, que têm conexões de fibra ótica e transmitem informações para todo o mundo.
Tal tendência se intensifica na medida em que os jornais procuram maneiras de reduzir custos diante de problemas de queda de circulação e anúncios publicitários e da pressão de acionistas. Um estudo da Associação Mundial de Jornais, organização que representa mais de 72 associações nacionais de jornais, realizado em julho com 350 periódicos na Europa, Ásia e EUA, revelou que esta terceirização constitui um papel importante na indústria de jornais hoje em dia. O Columbus Dispatch, de Ohio, anunciou sua intenção de contratar 90 designers para trabalhar de Pune, na Índia. O Contra Costa Times, jornal californiano recém-adquirido pelo Media News Group na venda do grupo Knight Ridder, revelou seus planos de mudar alguns cargos também para a Índia. No Reino Unido, o tablóide Daily Express gerou polêmica quando optou por trabalhar com jornalistas de sua seção econômica a partir de outros países. ‘É um tempo ruim para se trabalhar em jornais’, afirmou um dos representantes dos sindicatos do Daily Express, que não quis se identificar. ‘A questão é a influência que isto terá na qualidade do que está sendo publicado nos jornais. O tipo de produto que o Daily Express vai ter é um total desserviço. Se eu fosse um leitor, pararia de comprar o jornal’, acrescentou.
Casos de sucesso
No entanto, há casos de sucesso de empresas que se beneficiaram por trabalhar com jornalistas terceirizados no exterior. Há mais de dois anos, o serviço financeiro da Reuters abriu seu novo centro em Bangalore. Seus 340 empregados iniciais, incluindo uma equipe editorial de 13 jornalistas locais, foram escalados para escrever sobre os lucros corporativos e pesquisar sobre investidores em empresas dos EUA. Desde então, a equipe da Reuters na Índia cresceu para cerca de 1.600 jornalistas, com 100 jornalistas trabalhando em matérias sobre os EUA. A agência também mudou seu serviço de editoração de fotos do Canadá e Washington para Cingapura.
Mais mudanças são planejadas para a Índia, segundo David Schlesinger, editor global da Reuters. Ele afirma que os custos eram significativamente menores no país e, por isso, já há até maior competição para recrutar jornalistas financeiros. ‘O problema nos EUA é que há muitas empresas; usar jornalistas no exterior nos permitiu cobrir um número maior de companhias do que antes. E nos permitiu também nos aprofundar no assunto porque nos liberou repórteres em Nova York para escrever sobre outros assuntos’, diz.
Já o Newspaper Guild of New York, sindicato de jornalistas de Nova York, não pensa como a agência e entrou em diversas disputas com a Reuters sobre o tema. Jornalistas sindicalizados realizaram protestos no escritório da Reuters na Times Square no ano passado. Eles, no entanto, nem podem competir com os de Bangalore, que têm salários que representam menos de 1/5 do que os dos EUA. Informações de Doreen Carvajal [International Herald Tribune, 19/11/06].