O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) está alarmado pelo assassinato de dois radialistas brasileiros, conhecidos por suas denúncias contra a corrupção e o narcotráfico, em duas regiões remotas do país.
Em 24 de abril, o locutor de rádio José Carlos Araújo foi assassinado na localidade de Timbaúba, a 100 quilômetros de Recife, capital do estado de Pernambuco, no Nordeste do país. Dois pistoleiros não-identificados observaram e mataram Araújo por volta das 19h30 em frente a sua casa, em Timbaúba, segundo versões da imprensa local. Nenhum dos pertences do radialista foi roubado.
Araújo, de 37 anos de idade, apresentava o programa José Carlos Entrevista na Rádio Timbaúba FM. Citando fontes policiais, o Diário de Pernambuco, com sede em Recife, informou que Araújo ganhou vários inimigos em Timbaúba depois que denunciou a existência de grupos de extermínio e a participação de influentes figuras locais em assassinatos na região.
Segundo o jornal recifense Folha de Pernambuco, ontem, 28 de abril, a polícia capturou Elton Jonas Gonçalves de Oliveira, um dos suspeitos do crime, que confessou ter matado Araújo porque o jornalista o havia acusado pelos microfones de ser um delinqüente. A Folha de Pernambuco citou declarações do delegado de polícia de Timbaúba, segundo as quais Gonçalves negava ter cometido os crimes que o radialista lhe atribuíra e que estava aborrecido porque o comunicador havia lhe dado má fama.
Radialista assassinado na fronteira entre Brasil e Paraguai
Em 20 de abril, por volta das 18h, quatro pistoleiros que se deslocavam em duas motocicletas mataram o radialista Samuel Romã em frente a sua casa, na localidade de Coronel Sapucaia, no estado de Mato Grosso do Sul, na região Centro-Oeste do país, segundo as versões divulgadas pela imprensa local. A polícia transportou o comunicador ao hospital municipal, mas ele morreu no trajeto.
Romã era apresentador e proprietário da Rádio Conquista FM, emissora de Capitán Bado, localidade limítrofe a Coronel Sapucaia, no lado paraguaio da fronteira.
O radialista, de 36 anos de idade, era bastante conhecido na região e denunciava com freqüência as atividades dos narcotraficantes e o crime organizado na zona fronteiriça, segundo o Correio do Estado, jornal de Campo Grande, a capital do estado. Romã apresentava o programa A Voz do Povo.
Segundo o jornal O Progresso, em várias ocasiões antes de sua morte Romã havia exigido que a polícia investigasse recentes assassinatos ocorridos na região. Além disso, há pouco tempo havia anunciado ter documentos que envolviam importantes figuras locais no crime organizado e que divulgaria seus nomes.
Em 22 de abril, a polícia paraguaia prendeu três suspeitos do assassinato de Romã e os entregou à polícia brasileira, que os levou a Campo Grande.
O CPJ continua investigando as circunstâncias que rodeiam a morte do radialista. No início de abril, a polícia local havia solicitado declarações do comunicador sobre suas visitas a uma casa de jogo clandestina, informou a página web de notícias Dourados Agora. Romã militava no Partido Democrático Trabalhista (PDT) e tinha estreitas relações com políticos locais filiados ao PDT.
‘Os radialistas do interior do Brasil freqüentemente estão indefesos e a impunidade parece ser a norma’, declarou Ann Cooper, diretora-executiva do CPJ. ‘Esperamos que as prisões efetuadas nestes casos sejam um sinal de que se colocará um fim ao padrão de impunidade e se investigarão os casos pronta e rigorosamente’.
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O CPJ (www.cpj.org) é uma organização independente e sem fins lucrativos, radicada em Nova York, que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todas as partes do mundo