O Ministério do Interior iraquiano formou uma unidade de monitoramento de imprensa para combater a divulgação do que chamou de ‘notícias fabricadas e falsas’ que não representariam a verdadeira situação de segurança no país. A unidade irá monitorar a cobertura noticiosa sobre o Iraque e abrir ações legais caso jornalistas e veículos de comunicação se neguem a corrigir matérias consideradas incorretas.
O general Abdul-Karim Khalaf, porta-voz do Ministério, afirmou que ‘notícias fabricadas dão aos iraquianos uma noção errada e exagerada da situação de segurança, quando os fatos são totalmente diferentes’. Ele completou que a imprensa deveria consultar o amplo departamento de relações públicas do governo para ‘notícias reais e verdadeiras’.
O estopim para a criação da unidade de monitoramento parece ter sido uma matéria da agência Associated Press, publicada em 24/11. Khalaf alega que a reportagem que descrevia um ataque a uma mesquita em Bagdá, quando seis muçulmanos sunitas foram queimados até a morte, não é verdadeira. Segundo ele, o Ministério não tem registro de existência do capitão Jamil Hussein, citado no texto. Desta forma, alguém pode ter se passado por policial e fornecido um nome falso para falar em troca de dinheiro, especula. Khalaf disse ainda que o Ministério não encontrou nenhuma evidência de que o ataque tenha ocorrido. O Exército americano apoiou as suspeitas do Ministério iraquiano.
Ataque em Bagdá
A AP rejeitou a acusação, mantendo a defesa sobre a veracidade da matéria, e afirmou que não paga por informações. Em uma declaração, a editora-executiva da agência, Kathleen Carroll, disse que o repórter responsável pela citada matéria possuía contato regular com o capitão por mais de dois anos e entrevistou testemunhas do ataque. ‘O porta-voz iraquiano afirmou hoje que reportar tais atrocidades ‘mostra que a situação de segurança é pior do que realmente é’. Ele fala de uma capital onde as pessoas são alvejadas em seus carros, arrastadas de suas casas ou explodidas em locais públicos diariamente’, afirmou.
O editor internacional, John Daniszewski, completou posteriormente que o questionamento feito pelos militares sobre a fonte do artigo tinha algo de ‘burlesco’ e revelava certo grau de ‘desespero em abafar os fatos do incidente em questão’. Daniszewski afirmou também que a AP havia apurado novamente o caso, enviando jornalistas ao bairro do ocorrido. Estes, por sua vez, disseram ter encontrado novas testemunhas do ataque.
Situação problema
Para inflamados blogueiros que defendem que a mídia tem pintado imagens falsas do conflito no Iraque, a insistência das autoridades iraquianas e dos militares americanos serviu como prova de que suas suspeitas estava corretas.
Tom Zeller Jr., em artigo no New York Times [4/12/06], afirma que a situação toda parece absurda. O tom do Ministério do Interior sobre monitorar a imprensa e tomar atitudes legais contra jornalistas é ameaçador e prejudicial a uma imprensa livre. Mas há de se questionar qual a solução para um país em guerra constante onde apurar informações nas ruas se tornou tão perigoso para profissionais de organizações ocidentais que a cobertura é feita, em grande parte, por habitantes locais pagos para isso. Com informações de Jemima Kiss [The Guardian, 1/12/06].