Audrey Pulvar é uma das poucas apresentadoras negras no horário nobre da televisão francesa. A jornalista da Martinica trabalha atualmente no canal estatal France 3, mas, desde que decidiu mudar-se para Paris, em 2000, recebeu muitos ‘nãos’ antes de conseguir um cargo para aparecer diante das câmeras. ‘Há muitos empregos para minorias na produção, mas na frente das câmeras o espaço é reservado para brancos’, desabafa Audrey.
A iniciativa de estimular a diversidade na TV é parte de um esforço gradual para tornar a mídia do país mais representativa da sociedade real. A França está mudando aos poucos. Em 2002, uma campanha estrelada por atores incentivava a diversidade e recebeu alguma atenção da mídia, mas sem muito efeito prático. Em 2003, grandes fotos de 13 mulheres – oito delas de origem árabe ou africana – estamparam a fachada do Parlamento para representar Marianne, símbolo francês da República e da liberdade. ‘Na televisão, os rostos são todos brancos, mas nas ruas da França eles são multicoloridos’, afirma Édouard Pellet, jornalista de origem argelina que trabalha para a rede de TV estatal France Télévisions.
Desde 2002, a rede iniciou um discreto programa de ação afirmativa, chamado de ‘plano positivo de ação de integração’. A discrição serve para evitar transgredir as leis do país, que proíbem a contratação com base em religião ou origens étnicas. ‘Não escrevemos em lugar nenhum que nós contratamos por causa da cor. Estamos fazendo tudo de maneira discreta. Se fizermos muito barulho, vai se tornar uma questão legal. Em vez de falar, agimos’, explica Pellet. O plano tem sete pontos e inclui objetivos como diversificar a origem étnica dos convidados e os assuntos tratados nos noticiários e outros programas para refletir os 10% da sociedade que são de origem estrangeira.
No entanto, muitas pessoas vêem com cautela estas mudanças, preocupadas que a diversidade com base em etnias possa fragmentar a audiência e aprofundar os preconceitos. Os membros de minoria ainda são poucos na televisão francesa: não há nenhum apresentador de talk show e nenhum apresentador de destaque de origem asiática. Até mesmo em peças publicitárias, as minorias são relegadas a estereótipos. ‘Não estamos acostumados a ver alguém que é diferente na televisão. No fim, o público questiona sua objetividade, afirmando que não podemos acreditar em Mourad, por exemplo, porque ele está falando pelos árabes’, afirma o apresentador de origem argelina do canal France 2 Rachid Arhab.
A disparidade entre a imagem monocromática do país na televisão e a realidade multicolorida nas ruas frustra jovens cidadãos descendentes de países estrangeiros e contribui para que eles se sintam excluídos da sociedade – o que foi demonstrado mais fortemente nos ataques em subúrbios que atingiram a França neste mês. Em relação a estes tumultos, o presidente Jacques Chirac afirmou, em discurso na segunda-feira (14/11), que se encontraria com representantes de organizações de mídia para ver o que poderia ser feito para ‘refletir melhor a realidade atual da França’. Informações de Craig S. Smith [The New York Times, 16/11/05].