‘No fim da última coluna, cochilei na montagem do texto. Escrevi ‘…que o sujeito pode se apresentar de diversas maneiras’. Depois mudei (ou melhor, quis mudar) para ‘…que a função de sujeito pode se apresentar de diversas…’, mas deixei de cortar o ‘o’ que antecedia ‘sujeito’, e o que acabou saindo foi ‘…que a função de o sujeito pode se apresentar de diversas…’. O Diabo mora nas Redações…
O fato é que o cochilo deixou intrigados alguns leitores. Alguns deles viram na esdrúxula construção ‘…a função de o sujeito pode se apresentar…’ algo semelhante ao que se vê em frases como ‘Está na hora de a onça beber água’ ou ‘O fato de o presidente não admitir que sabia de tudo…’, nas quais se separa do artigo que faz parte do sujeito a preposição (‘de’, no caso) que introduz a oração que tem o verbo no infinitivo (‘beber’ e ‘admitir’).
Vamos tentar traduzir tudo isso, começando por um ponto importante: uma coisa nada tem que ver com a outra. O que houve no fim da última coluna foi mesmo cochilo na montagem do texto, o que, por sinal, é muito comum na era do computador. Não existe a construção ‘…a função de o sujeito pode se apresentar…’.
E quanto às frases ‘É hora de a onça beber água’ e ‘O fato de o presidente não admitir…’? Como se explica a forma ‘de o’? Pense neste caso: ‘Apesar de terem sido extraviadas as amostras analisadas, parece claro que…’. Qual é o sujeito de ‘terem sido extraviadas’? É o termo ‘as amostras analisadas’, posposto ao verbo. Se for anteposto (ao verbo), esse termo poderá conservar a mesma forma, ou seja, ‘as amostras analisadas’. O resultado disso será a construção ‘Apesar de as amostras analisadas terem sido extraviadas…’, em que a preposição ‘de’ não se funde com o artigo ‘as’, que inicia o sujeito da oração, cujo verbo auxiliar (‘terem’) está no infinitivo (pessoal).
A esta altura, o leitor talvez queira saber se é obrigatória a manutenção da preposição separada do artigo. A julgar pelo que se vê nos clássicos e nos modernos, a contração da preposição com o artigo (ou com alguns pronomes, como ‘ele’, ‘ela’, ‘este’, ‘esta’ etc.) é mais do que comum.
Em sua ‘Moderna Gramática Portuguesa’, o professor Evanildo Bechara arrola diversos exemplos em que ocorre essa contração. Vejamos dois desses exemplos: ‘Só voltou depois do infante estar proclamado regedor’ (de Alexandre Herculano); ‘…no caso do infinitivo trazer complemento direto’ (de Epifânio Dias, importante estudioso da língua).
Convém lembrar que, na linguagem escrita formal, predomina a construção em que a preposição não se funde com o artigo ou com alguns pronomes (‘ele/a’, ‘este/a’, ‘isso’, ‘aquilo’ etc.) Nos textos jornalísticos modernos, por exemplo, a separação ocorre em quase 100% dos casos.
Convém lembrar também que essa questão só faz sentido quando se trata de preposição que introduz oração que tenha verbo no infinitivo. Não existe a menor possibilidade de que se separe a preposição do artigo em frases como ‘Ninguém acredita na versão do presidente’ ou ‘O governo do PT é pior do que todos os que a agremiação sempre criticou’.
Ainda há algo a dizer sobre o tema. Mais cedo ou mais tarde será conveniente voltar a ele. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.’
INTERNET
Folha de S. Paulo
‘Blogs políticos do UOL são os mais visitados’, copyright Folha de S. Paulo, 24/11/05
‘Os blogs dos jornalistas Fernando Rodrigues e Josias de Souza, ambos da Folha, são líderes entre os que tratam de política no Brasil, segundo a newsletter ‘Jornalistas & Cia.’, publicação voltada para profissionais de mídia, que utilizou dados do Ibope.
Os dois blogs são hospedados no portal UOL. Em terceiro, está o do jornalista Ricardo Noblat, pioneiro na área, hoje hospedado no portal Estadão.com.br.
Segundo a publicação, o blog de Fernando Rodrigues teve, em outubro, 182.212 visitantes únicos residenciais -ou seja, foi acessado, pelo menos uma vez, por 182.212 computadores residenciais diferentes. O blog de Josias teve 113.481 e o de Noblat 88.415 visitantes, no mesmo período.’
TV CULTURA EM CRISE
Painel do Leitor, FSP
‘Cultura ‘, copyright Folha de S. Paulo, 24/11/05
‘‘A Fundação Padre Anchieta discorda do conteúdo do texto ‘Sem caixa, Cultura atrasa pagamentos’ (Ilustrada, 19/11). A Rádio e TV Cultura está com a situação financeira equilibrada. Com efeito, não está com problemas de caixa nem está atrasando pagamentos. O objetivo de sanar suas dívidas e sair do vermelho foi alcançado com muito esforço e planejamento. Desde a posse de seu atual presidente, Marcos Mendonça, em junho de 2004, a partir da implantação de uma política rigorosa de controle administrativo, com redução de despesas e incorporação de novas receitas, foi gerado um resultado positivo no exercício -eliminando-se assim um déficit mensal de R$ 1 milhão. Aliás, se tais medidas não tivessem sido adotadas, no final do ano passado, a FPA teria amargado um déficit de R$ 20 milhões (conforme previsão feita então pelo conselho curador da fundação, já que, no segundo semestre de 2004, teria gastos adicionais com dissídio coletivo e 13º salário). Neste período, a FPA criou e colocou no ar, com recursos próprios, a primeira e até hoje única emissora de TV infantil por assinatura com programação produzida no Brasil, o Canal Rá Tim Bum, cujo número de assinantes atinge atualmente a casa de 700 mil. A emissora lançou o ‘Cultura Marcas’, com mais de mil produtos. Entre outras ações importantes estão a compra de novos equipamentos para a Rádio Cultura AM (já em instalação), também com recursos próprios, e a implantação do projeto de digitalização do acervo da emissora -que engloba mais de 100 mil horas de programação. Outros exemplos que ilustram o atual ‘status’ da saúde financeira da FPA: de duas horas e meia de produção diária, a TV Cultura passou a produzir 14 horas de programação (mpb, música erudita, teledramaturgia, literatura, jornalismo, infantil etc). O fato de negociar prazos e valores com fornecedores comprova a competência gerencial e operacional, pois os resultados alcançados até aqui confirmam que a FPA está no caminho certo.’ Caetano C. Bedaque, assessoria de comunicações e imprensa da Rádio e TV Cultura (São Paulo, SP)
Resposta do jornalista Daniel Castro – A Folha tem cópia de documento de 25/10 em que a Federação Paulista de Futebol reclama que os custos de realização da Copa Cultura de Futebol Júnior, no total de R$ 852 mil, ‘por razões ininteligíveis’, não haviam sido pagos até aquela data, embora já ‘vencidos’. A FPF, em telefonema gravado, confirmou que a TV Cultura estava ‘inadimplente’.’