Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Artigo delineia grupos políticos pós-Lula

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 24 de março de 2008


PATOTA
Fernando de Barros e Silva


A direita e o lulismo


‘SÃO PAULO – A chegada de Lula ao poder seguida da ruína moral do petismo serviu de trampolim para impulsionar uma nova direita no país. É um fenômeno de expressão midiática, mais do que propriamente político. Está disseminado em jornais, sites, blogs, na revista. E deve sua difusão aos falcões do colunismo que se orgulha de parecer assim, estupidamente reacionário.


Mesmo que a autopropaganda seja enganosa e oculte que até ontem o conservador empedernido de hoje comia no prato da esquerda, que é só um ‘parvenu’, um espertalhão adaptado aos tempos -ainda assim, temos aqui uma novidade.


Essa direita emergente já formou patota. Citam uns aos outros, promovem entrevistas entre si, trocam elogios despudorados. Praticam o mais desabrido compadrio, mas proclamam a meritocracia e as virtudes da impessoalidade; são boçais, mas adoram arrotar cultura.


É uma direita ruidosa e cínica, festiva e catastrofista. Serve para entreter e consolar uma elite que se diz ‘classe média’ e vê o país como estorvo à realização de seu infinito potencial. Seus privilégios estão sempre sob ameaça e agora a clientela de Lula veio azedar de vez suas fantasias de exclusivismo social.


Invertemos a fórmula de Umberto Eco: enquanto a direita anuncia o apocalipse, os integrados, sob as asas do lulismo, são testemunhas vivas do fiasco do pensamento de esquerda neste país. Não me lembro de ter visto antes a mídia estampar com tanta clareza os passos da regressão social de que participa.


Do lado oficial, há um ambiente paragetulista de cooptação e intimidação difusas, se não avesso, certamente hostil às liberdades de expressão e de informação.


Na outra ponta, um articulismo de oposição francamente antinordestino e preconceituoso, coalhado de racismo e misoginia, que faz do insulto seu método e tem na truculência verbal sua marca. Deve-se a ele o retorno da cultura da sarjeta e do lixo retórico, vício da imprensa nativa que remonta ao Império, mas que havia caído em desuso.’


 


ELEIÇÕES
Ruy Castro


Acender as velas


‘RIO DE JANEIRO – Nos EUA, os senadores Barack Obama e Hillary Clinton têm conseguido conduzir suas campanhas à indicação pelo Partido Democrata sem golpes baixos ou referências àquelas que, para todo mundo, são suas caraterísticas mais evidentes: o fato de serem um negro e uma mulher. E nem eles são malucos: qualquer alusão a gênero ou cor da pele significaria derrota imediata para o agressor.


No Rio, a campanha pela prefeitura nem começou, e um candidato já jogou o nível da discussão para o fundo do poço: o senador Marcelo Crivella (PRB), ao acusar um possível adversário, o deputado Fernando Gabeira (PV-PSDB-PPS), de defender ‘aborto, homem com homem e maconha’. Supondo que a plataforma de Gabeira contemple esses itens, a grossura com que Crivella trata o assunto dá uma idéia do que fará ou dirá se for eleito.


Esta é uma forma perigosa de tratar a política. Crivella falou para o eleitorado como fala para as platéias de seus templos, onde deve reinar a homofobia. Imagine se Gabeira, em retaliação, apelar para o voto católico -que, queira ou não o evangélico Crivella, ainda é majoritário no Brasil. De repente, a eleição para a Prefeitura do Rio pode se transformar numa guerra religiosa, valendo, de um lado, chutes na santa e, de outro, a excomunhão de ‘bispos’ suspeitos.


Todos os candidatos têm características pessoais passíveis de ser exploradas pelos adversários. O próprio Crivella, também ‘bispo’ (ou ex, como prefere), é ligado a uma igreja que vive tendo de se explicar na Justiça. Mas, até prova em contrário, não seria justo confundi-lo com ela.


O presidente Lula já demonstrou sua disposição para fazer acordos com Deus e o diabo para derrotar a Rede Globo. Ao apoiar o senador Crivella, ele acende uma vela a um e a outro.’


 


Nelson Ascher


O grande desconversador


‘A IRRESISTÍVEL ascensão de Barack H. Obama (o ‘H’ é de Hussein, nome que, num consenso tácito, tornou-se impronunciável, como se sua menção fosse um golpe baixo) deparou-se, nas duas últimas semanas, com seus primeiros obstáculos sérios. Embora quem freqüentasse blogs especializados já soubesse não só de sua associação com o reverendo Jeremiah Wright, como do caráter pernicioso deste, para a maioria dos americanos foi uma surpresa assistir, na TV, ao mentor espiritual do provável candidato democrata à presidência dos EUA proferindo sermões nos quais vituperava contra a América.


Se muitos ao redor do mundo endossariam tais palavras, convém lembrar que, no país em questão, identificar-se com elas não é necessariamente boa propaganda eleitoral. Compelido a debelar uma crise que tentativas iniciais de negar e mudar de assunto não bastaram para abafar, Obama adotou outra estratégia e apresentou um discurso centrado no tema que, não obstante subjazer onipresente à sua campanha, ele conseguira evitar que viesse verbalmente à tona. Trata-se do tema da raça, das relações raciais.


O discurso, saudado por seus entusiastas (a mídia e a intelectualidade) como superior aos de Martin Luther King e comparável aos de Abraham Lincoln, mereceu, de observadores menos hipnotizados, juízos mais cautelosos, pois, escrita e apresentada por um brilhante advogado de Harvard cujo carisma e oratória nem inimigos questionam, a fala revela-se antes uma obra-prima da evasão e da desconversa. O veredicto final não saiu, mas ficou patente que, para o senador de Illinois, abolir o passado será mais difícil do que suprimir seu nome do meio.


Se usei acima os termos ‘raça’ e ‘relações raciais’ em vez de racismo é porque este, marcante nos EUA até os anos 50/60, converteu-se, por causa do movimento de direitos civis, no problema residual e confinado a grupos isolados que atualmente é. A marginalização discriminatória e opressiva de uma minoria étnica por uma maioria cruel ou indiferente, ou seja, o que se chama de racismo, deixou de ser o âmago das relações entre brancos e negros americanos. O que se vê agora pode ser descrito melhor como balcanização: uma justaposição de duas (na realidade, muitas) culturas que coexistem sem conviver nem se mesclar inteiramente, e isto por vontade mútua.


É quase certo que Obama não compartilha dos dogmas desvairados da teologia da libertação negra que seu pastor professa. Ele, no entanto, com o intuito de criar e consolidar uma base política em Chicago, deixou-se associar à igreja da Santíssima Trindade (Trinity Church), nem poderia, a esta altura, rejeitá-la convincentemente, ainda mais porque sua visão de mundo lhe favorece a campanha. O que gente como Wright proclama é que, sob formas diferentes, tanto a escravidão quanto o racismo continuam a definir a nação e todos os brancos são culpados até prova em contrário. O mínimo que lhes cabe fazer, portanto, é compensar material e simbolicamente suas vítimas. Eleger Obama seria um bom começo, e milhões de eleitores imbuídos de má consciência adquirida dispõem-se a aceitar o acordo.


Eis o que uma assessora (logo demitida) de Hillary Clinton quis dizer ao apontar que o candidato se beneficiava da cor de sua pele. Mesmo assim, não é a questão racial que está no centro de sua candidatura: ela não passa de seu trunfo mais ostensivo e, de fato, colabora com a desconversa que permite ao senador, lançando mão de slogans vazios como ‘mudança’ e ‘esperança’, não explicitar seu ideário constituído das propostas convencionais da esquerda democrata. Assim, uma vontade generalizada de expiar a história nacional e a capacidade de maquiar idéias de apelo restrito elevaram um novato mal conhecido e com escassas realizações à posição em que se encontra.


Nada disso, contudo, teria sido suficiente se o quadro geral não lhe fosse propício. Uma vez que oito longos anos no poder e a Guerra do Iraque pareciam assegurar a derrota dos rivais, os democratas não julgavam necessário oferecer um candidato competitivo. Daí terem desde cedo coroado outra novata cuja carreira era um subproduto do sucesso de seu marido presidente. Obama, percebendo o segredo de polichinelo que era a fragilidade de Hillary, entendeu que não seria impossível batê-la nas primárias do partido. E nenhum dos dois imaginava que estas acabariam sendo mais trabalhosas talvez do que a própria eleição. O resultado imediato desse duplo erro de cálculo é uma disputa interna que, ameaçando ambas as candidaturas, bem como o partido, de implosão, tornou plausível algo ainda há pouco impensável: uma vitória republicana.’


 


Álvaro Pereira Júnior


Moore e Obama se merecem


‘ESTÁ PASSANDO no Brasil ‘Sicko’, o filme mais recente de Michael Moore. Agora, o alvo (bem escolhido, como sempre) é o sistema de saúde dos EUA. Também como sempre no caso de Moore, o filme é magistralmente roteirizado e editado. As situações se encaixam em sucessão perfeita. E, mais uma vez, Moore se mostra um mestre da manipulação e da mistificação.


De todas as situações claramente armadas -mas apresentadas em tom de documentário- está um inocente passeio de barco que Moore organiza para levar doentes americanos a Cuba e provar que na ex-ilha de Fidel o sistema de saúde é muito melhor do que o dos EUA (e nem estou discutindo se é ou se não é -não é esse o ponto).


Quando o barco zarpa de Miami -e tudo é apresentado como se fosse uma coisa mambembe e improvisada-, a edição corta para uma tomada aérea da embarcação, obviamente feita a partir de um helicóptero.


Ou seja: era tudo tão ‘simplezinho’ e ‘espontâneo’ que havia até um helicóptero posicionado para filmar toda a situação. Vai tentar enganar suas negas, vai, Moore.


Isso me faz lembrar da campanha do Barack Obama -tão bonzinho, tão bem-intencionado… Até os fofoletes-mor do mundo indie, o Arcade Fire, fazem shows em benefício dele (e o Belle and Sebastian, se fosse americano e não escocês, também faria).


Mas aí aparece um trambiqueiro do ramo imobiliário que é unha e carne com o candidato ‘bonzinho’. E os bem-intencionados ficam com cara de tacho.’


 


GAY TALESE
Daniel Bergamasco


Nos EUA, os piores presidentes não tiveram amantes


‘GAY TALESE está resfriado. Telefona para o repórter da Folha, atendendo ao pedido deixado na secretária eletrônica, e avisa, raspando a garganta: ‘Me resfriei e vou viajar, não posso receber você em casa. Mas posso falar agora sobre o Spitzer, tenho poucos minutos’, diz o escritor de 76 anos, um dos pais do jornalismo literário, autor de reportagens antológicas reunidas nas coletâneas ‘Aos Olhos da Multidão’ e ‘Fama e Anonimato’ e de obras como ‘O Reino e o Poder’, sobre o ‘The New York Times’, onde atuou como repórter.


Talese diz que a sociedade americana não está mais ou menos moralista desde que ele publicou em 1980 ‘A Mulher do Próximo’, livro-reportagem que retrata a transformação sexual e moral dos Estados Unidos entre as décadas de 1960 e 1970. Contudo, diz, a mídia repete tanto as informações sobre escândalos sexuais que faz que as pessoas se importem com eles, como no caso do ex-governador de Nova York Eliot Spitzer, que, casado, renunciou no último dia 12 após confirmar que era cliente fiel de uma rede prostituição. Nesse caso, afirma Talese, o escândalo foi bem-vindo. ‘Não é que ele esteja vivendo uma vida tão diferente de muitas outras pessoas, tendo uma prostituta, uma amante. Mas a diferença é que ele preconizava uma posição de moralidade, ele quis fechar bordéis, e aí aparece que ele era cliente de bordéis. É bom que ele seja exposto’, diz o escritor.


FOLHA – O que mudou no moralismo americano entre ‘A Mulher do Próximo’ e o escândalo sexual do governador Eliot Spitzer?


TALESE – O moralismo não mudou. A mídia mudou.


FOLHA – De que forma?


TALESE – Quando escrevi ‘A Mulher do Próximo’, a mídia não discutia tanto infidelidade, não transformava a vida privada das pessoas em colunas de notícias. John Kennedy foi presidente dos Estados Unidos e teve muitos casos, mas ninguém escrevia sobre sua vida sexual. Havia rumores, mas isso nunca foi conhecido, como foi com Bill Clinton, ou agora, com o governador de Nova York, ou com o senador [Larry] Craig, o homossexual [que renunciou após assediar um homem em banheiro de aeroporto, em 2007]. Na França, quando François Mitterrand foi presidente, não havia discussão sobre seu filho ilegítimo. Mas a mídia americana publica hoje sobre qualquer coisa.


FOLHA – Os eleitores levam em conta o comportamento sexual do candidato?


TALESE – Não acho que faz diferença nenhuma desde que não se relacione com seu trabalho. John Kennedy foi um presidente muito bom e tinha amantes. Bob Kennedy, seu irmão, tinha amantes. Eram casados e tinham amantes. Lyndon Johnson tinha amantes. Eisenhower. Todos nossos bons presidentes tinham amantes. O presidente Richard Nixon não tinha amantes e foi um presidente ruim. Esse cara, George W. Bush, é um presidente ruim. E não tem amantes. Entende? Bill Clinton foi muito bom e teve. Os piores presidentes são os que não tiveram amantes. Nixon foi o pior de todos os tempos. E Bush é o segundo pior. Se Bush tivesse amantes, talvez não estaria matando tanta gente no Iraque e tendo essa politica de destruir a vida de tanta gente.


FOLHA – O senhor quer dizer que, se a vida sexual de Bush fosse menos comportada, seu governo seria melhor?


TALESE – Não digo que seria melhor, mas quando você olha… Os bons presidentes não eram pessoas que se ‘comportavam’ sexualmente. Martin Luther King tinha muitas amantes. Matin Luther King! Nós temos um feriado para ele, ele é um herói nacional. E tinha muitas amantes. Muitas. Ele era um cara mau? Não, não era.


FOLHA – O desrespeito da privacidade dos políticos é sempre ruim?


TALESE – Depende. Não é bom ou ruim. O que você quer dizer com bom ou ruim? Spitzer é um hipócrita, e é bom que ele seja exposto como hipócrita. Não é que ele esteja vivendo uma vida tão diferente de muitas outras pessoas, tendo uma prostituta, uma amante. Mas a diferença é que ele preconizava uma posição de moralidade, ele quis fechar bordéis, e aí aparece que ele era cliente de bordéis. É bom que ele seja exposto. O outro cara que o substituiu [David Paterson] diz que não tem um casamento perfeito. Mas quem tem? Pelo menos ele trouxe um pouco de verdade para o governo. Spitzer é um hipócrita.


FOLHA – Como repórter, hoje em dia, você publicaria matérias sobre esse escândalo?


TALESE – Não vou dizer que não publicaria, porque, se alguém mais publicar, você tem que publicar. Você não pode fingir que não viu, porque todo mundo sabe sobre isso, está na televisão, nos websites. Se você está no negócio de publicar jornais, tem que publicar o que é considerado notícia. É que hoje em dia tudo é notícia, o que não acontecia 30 anos atrás. É bom ou ruim? Eu não sei. O que acontece é que pelo menos força as pessoas a viverem em coerência com o que dizem.


FOLHA – O sr. avalia mesmo que nada mudou moralmente na sociedade? ‘A Mulher do Próximo’ mostra, por exemplo, a revista ‘Playboy’ como algo chocante e depois mais respeitada, mas hoje em dia a revista é uma instituição americana.


TALESE – Eu mostrava como aquilo mudou naquela época. Nós tivemos mudança real nos anos 1960 e 1970, quando escrevi aquele livro. Pouca coisa mudou desde então. Exceto que a mídia fala mais sobre sexo agora porque há mais liberdade para isso. Mas você não vê pessoas tendo relação sexual com penetração na TV, não ouve certas palavras na TV. Há restrição sobre o que você pode dizer, o que você pode ver. Você não pode ver homem nu na TV mostrando o pênis, não pode. No Brasil também não pode, tenho certeza.


FOLHA – Mas, se a mídia muda, a percepção da sociedade não muda juntamente com ela?


TALESE – Eu acho que a mídia mantém a história viva. Quando Bill Clinton teve uma pequena vida sexual com Monica Lewinsky, isso não tinha nada a ver com o trabalho dele como presidente. Não ocupou muito tempo dele. Mas a mídia fez uma história enorme, e aí as pessoas começam a se importar. Lembra que o papa João Paulo 2º estava visitando [Fidel] Castro naquela época? Ele estava indo para Havana e toda a mídia estava lá para cobrir o papa. Quando houve o rumor de que o presidente Clinton teve esse pequeno caso sexual no Salão Oval, todo mundo deixou Havana. Toda a mídia foi embora. E o papa não tinha com quem falar. Não havia cobertura de Castro encontrando o papa. A mentalidade da mídia está toda voltada para escândalos sexuais. A mídia conduz a história.


FOLHA – Por quê?


TALESE – Sexo não é complicado. Política é complicado. Na campanha, veja, as pessoas não ligam para propostas. Elas gostam de histórias simples, escandalosas, com o mais baixo, o menor denominador comum. E a mídia provê isso. A mídia é que conduz a história.


FOLHA – Mas por que o governador renunciou, se as pessoas não se importam tanto assim?


TALESE – A mídia faz as pessoas se importarem, porque repete, repete, repete e repete a história. Fica batendo até a morte. A mídia quer manter a história. Acho que é bom que Spitizer tenha sido exposto como hipócrita, porque é. Já Bush não é um hipócrita sexual, mas é hipócrita em várias outras formas.


FOLHA – Em que formas?


TALESE – Ele diz que estamos tentando levar democracia para o mundo. E não estamos. Estamos invadindo o mundo, forçando eles [outros países] a se ajustarem a nossa política. A administração de Bush critica os chineses em direitos humanos, e nós invadimos os países de outras pessoas e levamos atrocidades para esses países. Não estamos em uma posição em que podemos dizer que somos melhores que os outros. Somos piores, de certo modo.’


 


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A alcova entrou na política


‘Os segredos de alcova agitaram a política americana nas últimas duas semanas.


Capítulo 1: Descobre-se que o governador de Nova York, Eliot Spitzer, se encontrava freqüentemente com uma prostituta de 22 anos, ligada a uma rede de prostituição para a qual ele repassou cerca de US$ 80 mil de origem controversa.


Capítulo 2: Spitzer leva a mulher, Silda, para anunciar que estava renunciando ao cargo.


Capítulo 3: O Brasil entra na trama. O tablóide ‘New York Post’ publica que a cafetina brasileira Andreia Schwartz, 33, que estava presa por porte de drogas e outros crimes, delatou o esquema da rede de prostituição na investigação que derrubou o governador. Ela havia trabalhado para a rede como prostituta antes de abrir o próprio negócio.


Capítulo 4: O novo governador, David Paterson, 53, casado há 15 anos, assume que já traiu a mulher. Várias vezes. Com uma das amantes por três anos. E a mulher também já o traiu. Mais: como eles se livraram da crise no casamento? Indo ao mesmo hotel da traição para introduzir ‘coisas novas e excitantes’ na relação.


Cenas dos próximos capítulos: Andreia, de volta ao Brasil neste fim de semana, deportada após quase dois anos de cadeia, vai contar tudo? Qual dos casos antigos de Paterson será o próximo detalhado nos tablóides americanos? Por onde anda Spitzer? Os EUA estão atentos a cada resposta.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘The Speech’


‘O vídeo com o discurso de Barack Obama sobre raça ou ‘The Speech’, como é chamado, virou fenômeno de YouTube, apesar dos 37 minutos, noticiou a Folha Online no final de semana. No feriado, nos EUA, ele ‘alimentou os sermões da Páscoa’, diz o ‘New York Times’ -que tem a transcrição nos ‘mais populares’.


Mas o ‘discurso marcante’ pode não ser o bastante para conter o estrago feito pelo pastor de Obama, também em vídeo, diz o ‘Financial Times’. Enquanto um é ‘reflexivo’, o outro fala coisas tipo ‘God damn America’, Deus amaldiçoe a América. Só uns ‘poucos americanos vão ouvir’ Obama, diz o editorial ecoando o humorista Jon Stewart. No vídeo mais cotado pelo agregador Digg, ele apoiou Obama, mas ironizando que ‘fala de raça como se fôssemos adultos’. Não são.


A EXTERMINADORA


‘The Terminator’ é como a colunista Maureen Dowd, do ‘NYT’, trata Hillary Clinton. Não ‘tem mais como ganhar’, mas ela insiste e ‘assombra o sonho de Obama’, o que ainda leva à vitória de John McCain.


Ecoando desde sexta, Bill Clinton afirmou que Hillary e McCain são, só eles, patriotas.


E A RESSURREIÇÃO


Outro colunista-símbolo do ‘NYT’, Frank Rich, já prevê a ‘ressurreição republicana’. Saúda ‘The Speech’ por seus ‘pensamentos de parágrafos longos’, hoje até ‘revolução’.


Mas diz que, se Clinton não evitar o fogo amigo, ‘discurso nenhum vai conter a segunda ressurreição’ do republicano.


TEORIA LÁ


Foi a capa de domingo do ‘China Daily’ e textos de teor semelhante se espalharam pela mídia estatal toda do país. Ecoou aqui, pela Veja On-line.


É a resposta à cobertura do conflito no Tibete, apontando manipulação. A partir de posts chineses, questionou os sites de CNN, Fox News, ‘Washington Post’, dos alemães ‘Bild’ e ‘Der Spiegel’. Fala-se até de um suposto movimento dos ‘netizens’ chineses, de ‘condenação’ da CNN e demais.


REAÇÕES CHINESAS


Pode ser coincidência, mas os sites chineses traziam de manchete, ontem, as mortes de americanos no Iraque. E o ‘Diário do Povo’ destacou a ação de Brasil e Argentina na crise de Colômbia e Equador -em contraste com os EUA ‘rígidos’, ‘não construtivos’.


‘NÓS CONTRA ELES’


Por outro lado, Raul Juste Lores relatou na Folha que ‘a cobertura que a TV estatal tem feito do Tibete reforça a imagem de nós-contra-eles’. Chineses feridos choram nos telejornais, ‘mas não há uma cena que mostre tibetanos sofrendo repressão policial’.


JORNAL E FÉ


Foi capa do ‘Corriere della Sera’ e do site. Bento 16, após ameaça de Bin Laden, ‘batizou’ o sub-editor muçulmano do ‘Corriere’. Que escreveu ‘carta’ ao editor, na capa, explicando


SEM CRISE


‘Os latino-americanos’, prevê Richard Lapper, do ‘FT’, ‘vão observar as commodities com especial interesse esta semana’. A queda nos preços ‘trouxe a crise mais perto’.


Mas ‘não teve nada a ver com forças fundamentais de mercado’. Reportagem do ‘FT’ aponta especulação. Diz que China e Índia vão crescer. Foi ‘tropeço temporário’.’


 


FRANÇA
Folha de S. Paulo


Sarkozy precisa de ‘dose de disciplina’, diz ‘NYT’


‘No momento em que Nicolas Sarkozy vê sua popularidade cair, o ‘New York Times’ publicou anteontem um editorial em que critica a postura do presidente francês, ‘punido [nas recentes eleições municipais] por todas as bufonarias midiáticas e pouco presidenciais’.


Segundo o NYT, ‘seu divórcio tumultuado e o novo casamento com uma cantora-modelo glamourosa [Carla Bruni] foram algumas de suas iniciativas mais sensacionais, que valeram a Sarkozy as capas de 252 revistas em 2007’.


O NYT considera provas de seu ‘mau julgamento’ a decisão de ‘concluir abruptamente’ uma entrevista à CBS, de ‘chamar seu porta-voz de imbecil’ e ainda ‘sua observação grosseira a um indivíduo que se recusou a lhe apertar as mãos’.


Para o jornal, ‘esses escândalos são entremeados de mensagens confusas do governo’. E conclui: ‘Quando a conduta de um homem político interfere em sua missão, é hora de aplicar uma dose de disciplina’.


Mas, desde a semana passada, Sarkozy tenta mudar essa imagem e dar um tom mais digno a suas aparições públicas, de modo a deter a queda nas pesquisas. Ontem, em pesquisa do ‘Journal du Dimanche’, sua popularidade caiu mais um pouco em relação ao mês passado -de 38% para 37%.


Como parte de sua nova estratégia, o líder francês lembrou a morte do último veterano da Primeira Guerra, homenageou os heróis da Resistência na Segunda Guerra e conheceu o novo submarino da Marinha, Le Terrible (O Terrível).


Ontem, enquanto Sarkozy passava o feriado da Semana Santa no Marrocos, sua ex-mulher, Cécilia Ciganer-Albéniz, se casava em Nova York com o publicitário Richard Attias.


Com agências internacionais’


 


TIBETE
Folha de S. Paulo


Intelectuais pedem a Pequim que converse com dalai-lama


‘Intelectuais e escritores chineses de oposição fizeram ontem três pedidos, em carta ao governo: que se abram conversas com o dalai-lama, que o acesso da imprensa estrangeira e investigadores da ONU ao Tibete seja permitido e que se abandone a retórica da Revolução Cultural.


‘As informações divulgadas pelos meios de imprensa oficiais têm o efeito de avivar o ódio racial e intensificar a situação, que já é muito tensa’, diz um trecho de carta publicada pelo jornal ‘South China Morning Post’, de Hong Kong.


Entre os signatários, estão Liu Xiaobo, presidente de um grupo que defende escritores perseguidos, e Ding Zilin, líder das Mães da Praça da Paz Celestial, que agrupa famílias das vítimas do massacre de estudantes pelas tropas chinesas, em 1989.


A China continua, no entanto, a culpar o dalai-lama pela revolta iniciada na Província há 12 dias. ‘Os Jogos Olímpicos de Pequim, ansiosamente esperados pelo povo do mundo todo, chegarão. Mas o dalai-lama está planejando o seqüestro dos Jogos Olímpicos para forçar o governo chinês a fazer concessões à independência do Tibete’, diz texto publicado ontem no ‘Diário do Povo’.


Com agências internacionais’


 


CINEMA
Luiz Fernando Vianna


Vida de som e fúria


‘Em 2002, quando começou a buscar patrocínio para um documentário sobre Wilson Simonal (1939-2000), o humorista Cláudio Manoel encontrou dois tipos de pessoas: as que não se interessavam, por desconhecer quem tinha sido Simonal, e as que diziam coisas como ‘não quero me meter nisso’, ‘para que mexer nessa história?’.


‘Ninguém Sabe o Duro que Dei’, filme de Manoel, Micael Langer e Calvito Leal que será lançado no festival É Tudo Verdade (no próximo sábado, no Rio, e nos dias 4 e 5 de abril no CineSesc, em São Paulo), é o primeiro olhar do cinema sobre esse homem que, como diz Nelson Motta no documentário, ‘virou um tabu, um leproso, um pária’ na música brasileira.


O degredo começou em agosto de 1971, quando sua popularidade como cantor só era superada (e não por muitos pontos) por Roberto Carlos. Suspeitando de que seu contador o roubava, ele mandou dar-lhe uma surra.


O problema é que a surra foi dada por dois agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), serviço público cuja especialidade era torturar adversários da ditadura militar -e falsos adversários também. Um inspetor, Mário Borges, disse à imprensa que Simonal era informante do Dops, e a pecha de dedo-duro nunca mais se descolou dele, jogando-o num longo ostracismo.


‘Ele pagou uma pena dura demais, desproporcional para uma surra, porque sua condenação foi até o fim da vida. Para ele, não teve anistia’, afirma Manoel, da trupe Casseta & Planeta.


Mas o documentário não é uma defesa de Simonal. Por um lado, até piora sua situação, pois os três diretores, empenhados em saber o máximo sobre o que aconteceu, contrataram um detetive para localizar Raphael Viviani, o contador que foi o pivô da história.Viviani diz no filme que foi torturado com choques elétricos no Dops e só aceitou assinar uma confissão do roubo -que ele nega ter cometido- quando ameaçaram pegar sua família.


Talvez a história tivesse terminado aí, não fosse sua mulher ter dado queixa do seu desaparecimento. O delegado resolveu investigar o caso, viu Viviani todo machucado e chegou ao nome de Simonal.


Ingenuidade


O cantor alegou ter recorrido ao Dops porque vinha recebendo ameaças terroristas e disse, talvez para impressionar, que tinha conhecidos na polícia política. Quando, mesmo sem provas, foi classificado como informante, ele se enrascou.


‘Ele foi infeliz no caminho que seguiu’, afirma Viviani no filme. Por esse lado, o contador até ajuda a imagem de Simonal, pois reforça a idéia predominante no documentário: o cantor era um boquirroto ingênuo, sem consciência da gravidade da situação política de então, e morreu pela boca.


Pela surra que mandou dar, Simonal foi condenado em 1972 a cinco anos e quatro meses, que pôde cumprir em liberdade. Pela fama de dedo-duro, pagou enquanto esteve vivo -e depois também.


Em 2003, após a família pedir uma investigação sobre o caso e diante do documento de 1999 da Secretaria Nacional de Direitos Humanos informando que não havia nenhuma prova de que Simonal tivesse servido à ditadura, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) o reabilitou simbolicamente.


‘Ele dizia para mim: ‘Eu não existo na história da música brasileira’, conta, no filme, Sandra Cerqueira, a segunda mulher de Simonal, que acompanhou sua amargura, seu alcoolismo e sua grande raiva -o documentário tem imagens dele em programas de TV clamando inocência.


‘Ele tinha uma atitude provocativa que não o ajudava a fazer amizades. Era metido a besta, um crioulo de sucesso que andava de carrão e comia as filhas dos brancos. Era um negro liberto’, diz Manoel, tocando na questão racial, muito presente no longa.


Boa parte do filme cobre o ‘antes da queda’. Aí se vê Simonal ao lado de Pelé -possivelmente o único negro mais famoso do que ele no Brasil da época-, fazendo comercial da Shell, cantando ‘The Shadow of Your Smile’ com Sarah Vaughan, regendo o Maracanãzinho lotado e esbanjando malícia (ou pilantragem, como se dizia). ‘Pilantragem é o não-enchimento, o descompromisso com a inteligência’, diz ele no filme, sem saber que a frase seria premonitória.’


 


***


Filho do cantor diz que história está ‘incompleta’


‘Max de Castro e seu irmão, o também músico Wilson Simoninha, assistiram a ‘Ninguém Sabe o Duro que Dei’ e não pediram modificações no filme sobre o pai. Mas só porque não acham certo interferir em obra alheia.


Segundo Max, pôr o depoimento do contador Raphael Viviani na parte final do documentário deixou a história ‘incompleta’. ‘Não há contra-argumentos depois. E a coisa não é tão simples como aparece no filme. Não fica claro que houve ações anteriores [à surra]. Ele [Simonal] procurou saber o que estava acontecendo [em relação ao roubo]. Sabendo da origem humilde dele, do fato de não ter tido um pai, você consegue imaginar ser possível a atitude que ele tomou, ainda que nada justifique.’


Nascido em 1972, ano em que o pai foi condenado, Max ressalta que Simonal não era politizado, daí ter pensado que era um trunfo dizer que conhecia gente do Dops. ‘Ele tentou usar a malandragem e o jogo de cintura. Não percebeu o tamanho da encrenca em que estava entrando.’


Apesar das ressalvas e de ver o filme como ‘apenas uma introdução’ à vida do pai, Max considera importante que se fale de Simonal. Ele acredita que é a juventude quem está reabilitando o cantor. ‘Pessoas que se deparam acidentalmente com a obra dele e não têm nenhum ranço ideológico querem saber quem foi esse artista. Os mais velhos, mesmo os que gostavam dele, não se sentiam à vontade’, diz Castro, contando receber com freqüência monografias de universitários sobre o pai.


Com depoimentos de Pelé, Miele, Chico Anysio e Tony Tornado, o documentário pode contribuir para que não sejam ditas frases como a ouvida por Cláudio Manoel de um frentista: ‘Pô, seu Casseta, vai fazer um filme sobre o cara que torturou o Caetano [Veloso]?’’


 


ESCÂNDALO EM NY
Mônica Bergamo


Quem der mais


‘A família da cafetina Andréia Schwartz, apontada como testemunha no escândalo que derrubou o governador de NY, Eliot Spitzer, quer faturar com as entrevistas que ela ainda dará sobre o caso. Elza Dias, mãe da garota, diz ter recebido ‘várias propostas de jornalistas estrangeiros e brasileiros’ por declarações exclusivas. ‘Tem um advogado me ajudando a analisar [as ofertas]. Ela não vai falar de graça, não!’, finaliza.’


 


QUADRINHOS
Marco Aurélio Canônico


HQ reflete busca existencial de Eisner


‘Tendo em vista a afeição mútua entre Will Eisner e o Brasil e a regularidade com que suas obras são publicadas por aqui, é incrível que ‘A Força da Vida’, uma de suas principais ‘graphic novels’, tenha levado 20 anos para chegar ao país.


O atraso deu-lhe um timing adequado: estamos em uma época de pânico econômico nos EUA, com uma crise mundial se avizinhando. Analistas já começaram as comparações com a crise de 1929, e é exatamente desse período, o da Grande Depressão, que trata a obra de Eisner (1917-2005).


‘De repente, para um mundo que tinha estado em uma alegre busca pela boa vida, parecia que viver havia se transformado em sobrevivência! Muitas suposições incontestáveis até então, agora eram reexaminadas’, escreve o autor na abertura da HQ, com incrível pertinência para os tempos atuais.


É claro que o período que Eisner viveu e descreve foi muito pior, pois teve ainda a Segunda Guerra a atormentá-lo -e, por causa dela, os imigrantes (como seus pais) que moravam nos cortiços (como ele e sua família) tocavam a vida resignados, ‘simplesmente porque tinham acabado de chegar de outros lugares mais hostis’.


Trilogia dos cortiços


Escrita em 1988 (mesmo ano em que foi criado o Eisner Awards, o Oscar das HQs, em sua homenagem), ‘A Força da Vida’ forma a segunda parte de uma trilogia que se completa com ‘Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço’, lançada dez anos antes, e ‘Avenida Dropsie’ (1995), ambas já publicadas no Brasil.


‘Depois que Eisner fez ‘Um Contrato com Deus’, decidiu que este era o formato que queria seguir. ‘A Força da Vida’ foi seu próximo projeto do gênero e foi muito importante para ele, definiu seu projeto de vida’, disse à Folha, por telefone, Bob Andleman, amigo e biógrafo do autor (escreveu ‘Will Eisner: A Spirited Life’).


O próprio Eisner confirmava a importância das duas HQs, listando-as como suas preferidas, ‘pois nelas eu demonstrei o que acreditava que uma ‘graphic novel’ poderia ser’.


‘A Força da Vida’ é formada por diversas histórias intercaladas (publicadas em série, entre 1983 e 1985, e unidas em um único livro, em 1988) que têm como personagem central o carpinteiro judeu Jacob Shtarkah, cuja busca existencial pelo sentido da vida refletia a do próprio Eisner.


Tendo como pano de fundo a Grande Depressão, a ascensão do nazismo e a chegada dos imigrantes aos EUA e usando a barata como metáfora de resistência e sobrevivência, o livro circula pelos cortiços da fictícia avenida Dropsie, onde os moradores ‘carregavam consigo o tabernáculo de uma força da vida que mal compreendiam’.


Gângsters italianos à la ‘O Poderoso Chefão’, comunistas sindicalizados, garotos que sonham em ser caubóis e dramáticas mães judias formam a comunidade por onde se move Jacob, angustiado não apenas pela desvalorização de seu trabalho como pelas amarras de um casamento arranjado, segundo as tradições judaicas.


Não é a história mais acessível de Eisner -ela é irregular e pontuada por recortes de jornal que contextualizam a época-, e, como é comum em sua obra, a narrativa pode ser bastante triste e desesperançada.


Mas é um primor do traço, com seus personagens incrivelmente expressivos, e parte indispensável de sua bibliografia.


A FORÇA DA VIDA


Autor: Will Eisner


Editora: Devir


Tradução: Marquito Maia


Quanto: R$ 38 (152 págs.)’


 


TELEVISÃO
Eduardo Simões


‘Diarista’ entra no time do ‘Casseta e Planeta’


‘A cena já está gravada. No próximo dia 1º de abril, a turma do ‘Casseta e Planeta Urgente!’ inicia nova temporada recebendo sua ‘personal substituteitor Tabajara’, a comediante Claudia Rodrigues, de ‘A Diarista’, que irá assumir o lugar da colega Maria Paula durante sua licença-maternidade. Após abrirem várias caixas, os ‘Cassetas’ se deparam com Claudia, substituta ‘portátil e versátil’.


A baixinha Claudia estréia no programa mostrando que está ‘à altura’ da grandalhona Maria Paula: já no primeiro programa, interpreta uma cangaceira, faz uma paródia do filme ‘Tropa de Elite’ e apresenta um personagem da galeria de seus shows: uma ex-modelo e apresentadora de TV paulista que quer ser atriz e ‘ensina a pegar o cara certo, tipo jogador de futebol’.


Sem previsão de retomar o papel da diarista Marinete, Claudia diz que prefere ‘não dar uma voltinha’ com a personagem, que ‘tem história própria’. Em vez disso, a atriz vai reviver no ‘Casseta’ outra empregada, a pernambucana Sirene, que fez no último ano do seriado ‘Sai de Baixo’ e também em ‘A Escolinha do Professor Raimundo’.


Gravando às segundas e terças, reservando os fins de semana para a peça ‘Esse Alguém Maravilhoso que Eu Amei’, ela está animada com a participação no programa. Fã, diz que costumava ouvir o disco ‘Preto com um Buraco no Meio’ (1989), primeiro álbum da turma, escondida do irmão mais velho, que não aprovava muito as piadas do grupo.


Por ora, Claudia não sabe se também fará as sátiras de novelas que deram fama a Maria Paula. Outras atrações do programa vão permanecer, como o quadro ‘Desenhos Animadões’, que terá como novos colaboradores os cartunistas da Folha Adão Iturrusgarai e Allan Sieber.’


 


Folha de S. Paulo


Oprah Winfrey enfrenta dois processos


‘A espectadora Orit Greenberg, de Chicago, pede indenização de US$ 50 mil (cerca de R$ 87 mil), alegando ter se ferido numa gravação do programa de Oprah Winfrey em 2006. E Darlene Tracy, de Boston, diz que a atração copiou sua proposta para um reality show.’


 


Discovery relata casos de doenças raras


‘Para hipocondríacos e curiosos de plantão, o canal pago Discovery Home & Health traz ao Brasil uma série com descobertas recentes da tecnologia médica para o tratamento de doenças raras, apoiada em casos de ‘sobreviventes’.


‘Medicina Extraordinária’, que estreou na semana passada no canal e é exibida todas às segundas, às 23h, apresenta histórias de gente com diversos tipos de doenças -hereditárias, degenerativas ou ainda sem origem conhecida pela ciência.


A série, produzida pela Beyond Productions, de ‘Caçadores de Mitos’ (Discovery Channel), por vezes envereda por caminhos bizarros, como o das irmãs siamesas unidas pela cabeça ou dos trigêmeos concebidos fora do útero da mãe.


Os progressos dos tratamentos, as novidades da medicina e a evolução das pesquisas acompanham as histórias.


No primeiro episódio, exibido na semana passada e reprisado hoje, às 16h, o foco é uma mulher alérgica a antibióticos e cuja pele sofreu o choque com o remédio.


A partir das 23h (com reprise na madrugada de hoje para amanhã, às 4h), o programa inédito ‘Movimento Frágil’ mostra a história de uma família inteira que sofre com o mesmo problema: fragilidade das juntas -qualquer movimento pode causar o deslocamento das articulações.


MEDICINA EXTRAORDINÁRIA


Quando: hoje, às 23h


Onde: no Discovery Home & Health’


 


TEATRO
Valmir Santos


Suposto policial aponta arma para atores em espetáculo


‘Um mal-entendido entre um suposto policial e atores de uma peça de Plínio Marcos quase terminou em tragédia no Festival de Curitiba.


O incidente ocorreu ontem, às 12h, no centro da cidade. Os atores Paulo Américo e Thiago Barros, da Cia. Independente de Teatro (SP), interpretavam ‘laçadores’ que atraem homens para o bordel na adaptação de ‘Abajur Lilás’, peça de 1969.


Um homem que se identificou como policial reagiu aos palavrões e ao assédio dos personagens, que interagiam com o público de 60 pessoas. O homem sacou uma arma, dizendo que ‘em Curitiba não se diz palavrão’. Os artistas registraram queixa.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 24 de março de 2008


ELEIÇÕES
Carlos Alberto Di Franco


Jornalismo em ano eleitoral


‘Estamos em ano eleitoral. Campanhas milionárias, promessas irrealizáveis e imagens produzidas farão parte, mais uma vez, do marketing de alguns candidatos. Assistiremos, diariamente, a um show de efeitos especiais capazes de seduzir o grande público, mas, no fundo, vazio de conteúdo e carente de seriedade. O marketing, ferramenta importante para a transmissão da verdade, pode, infelizmente, ser transformado em instrumento de mistificação. Estamos assistindo à morte da política e ao advento da era da inconsistência. Os programas eleitorais vendem uma bela embalagem, mas, de fato, são paupérrimos na discussão das idéias. Nós, jornalistas, somos (ou deveríamos ser) o contraponto a essa tendência. Cabe-nos a missão de rasgar a embalagem e desnudar os candidatos. Só nós, estou certo, podemos minorar os efeitos perniciosos de um espetáculo audiovisual que, certamente, não contribui para o fortalecimento de uma democracia verdadeira e amadurecida.


Por isso, uma cobertura de qualidade será, antes de mais nada, uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão. Não basta um painel dos candidatos, mas é preciso cobrir a fundo as questões que influenciam o dia-a-dia das pessoas. É importante fixar a atenção não nos marqueteiros e em suas estratégias de imagem, mas na consistência dos programas de governo. É necessário resgatar o inventário das promessas e cobrar coerência. O drama das cidades (segurança, educação, saúde, saneamento básico, iluminação, qualidade da pavimentação das ruas e transporte público de qualidade, entre outros) não pode ficar refém de slogans populistas e de receitas irrealizáveis. Os candidatos deverão mostrar capacidade de gestão, ousadia e criatividade.


O nosso papel é ouvir as pessoas, conhecer suas queixas, identificar suas carências e cobrar soluções dos candidatos. Não se pode permitir que as assessorias de comunicação dos políticos definam o que deve ou não ser coberto. O centro do debate tem de ser o cidadão, as políticas públicas, não mais o político, tampouco a própria imprensa. O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute a Nação oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País real. Precisamos fugir do espetáculo e fazer a opção pela informação. Só assim, com equilíbrio e didatismo, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório.


Outros desvios éticos podem comprometer a qualidade da cobertura eleitoral. Sobressai, entre eles, o perigoso jornalismo de dossiê. Os riscos de instrumentalização da imprensa são evidentes. Os protagonistas do teatro político não medirão esforços para fazer com que a mídia, à sua revelia, destile veneno nos seus adversários. Por isso, é preciso revalorizar, e muito, as clássicas perguntas que devem ser feitas a qualquer repórter que cumpre uma pauta investigativa: checou? Tem provas? A quem interessa essa informação? Trata-se de eficiente terapia no combate ao vírus da leviandade.


O esforço de isenção, no entanto, não se confunde com a omissão. O leitor espera uma imprensa combativa, disposta a exercer o seu intransferível dever de denúncia. O leitor quer um quadro claro, talvez um bom infográfico, que lhe permita formar um perfil dos candidatos: seus antecedentes, sua evolução patrimonial, seu desempenho em cargos atuais e anteriores, etc. Impõe-se, também, um bom levantamento das promessas de campanha. É preciso mostrar os eventuais descompassos entre o discurso e a realidade. Trata-se, no fundo, de levar adiante um bom jornalismo de serviço.


Os políticos, pródigos em soluções de palanque, não costumam perder o sono com o rotineiro descumprimento da palavra empenhada. Afinal, para muitos, infelizmente, a política é a arte do engodo. Além disso, contam com a amnésia coletiva. O jornalismo de qualidade deve assumir o papel de memória da cidadania. Precisamos falar dos planos e do futuro. Mas devemos também falar do passado, das coerências e das ambigüidades.


Armação da imprensa. Distorção da mídia. Patrulhamento de jornalista. Quantas vezes, amigo leitor, você registrou essas reações nas páginas dos jornais? Inúmeras, estou certo. Irritam-se os políticos apanhados com a boca na botija. Inconformados, referem-se à imprensa que desencadeia a pressão popular contra homens públicos aéticos comparando-a, com cinismo, à ‘ditadura’. Tais declarações, marca registrada desses homens de palha, não nos devem preocupar. Afinal, todos, independentemente do seu colorido ideológico, procuram o bode expiatório para justificar seus deslizes éticos e morais. A culpa é da imprensa! O grito é uma manifestação vergonhosa de desprezo pela verdade.


Personalidades públicas, inúmeras, têm procurado usar a mídia. Afirmam e depois, cinicamente, desmentem o que afirmaram. Nós não podemos ficar reféns desse jogo. Os meios de comunicação existem para incomodar. Um jornalismo cortesão do poder é o antijornalismo. A imprensa, sem injustos prejulgamentos, tem o dever de desempenhar importante papel na recuperação da ética na vida pública. Nosso compromisso não é com os políticos, mas com a verdade, com a informação bem apurada e com os leitores.


Transparência nos negócios públicos, ética, qualificação e competência são as principais demandas da sociedade. E são também as pautas de uma boa cobertura eleitoral. Deixemos de lado a pirotecnia do marketing e não nos deixemos aprisionar pelas necessárias pesquisas eleitorais. Nosso papel, único e intransferível, é ir mais fundo. A pergunta inteligente faz a diferença. E é o que o leitor espera.


Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia E-mail: difranco@ceu.org.br’


 


PROPAGANDA
Marili Ribeiro


Marketing viral provoca polêmica


‘Por pressão dos anunciantes, cresce na propaganda o uso da ferramenta conhecida como ‘marketing viral’ ou ‘buzz marketing’. São iniciativas que apelam ao velho recurso da divulgação boca-a-boca, só que agora difundido via internet e, se possível, em noticiários de rádio, televisão e mídia impressa. Para chamar atenção do consumidor em meio a tanta oferta de anúncios, as agências tentam ações inusitadas na expectativa de gerar exposição na mídia e visibilidade para as marcas.


O excesso de uso desse tipo de iniciativa, na opinião de alguns publicitários, começa a saturar o consumidor e causar problemas. Afinal, quando se provoca os comentários espontâneos, se perde o controle da situação. E, quando se provoca factóides pode se provocar críticas. ‘Há risco envolvido nessas ações e isso precisa ficar claro para o anunciante’, diz Paulo Sanna, diretor de criação da agência McCann-Erickson.


Nas últimas semanas, duas ações de grandes anunciantes, Nike e Unilever, acenderam comentários sobre o tema. A Nike apelou para um blog na tentativa de plantar um fato positivo sobre o jogador Ronaldo, operado no joelho e patrocinado da marca. Houve protesto da comunidade blogueira por se sentir manipulada. ‘A proposta era provocar um ato de solidariedade ao jogador’, diz o assessor da Nike, David Grinberg. Mas a onda de comentários negativos acabou provocando a demissão do publicitário que disparou a ação.


Se há consenso que, no caso da Nike, o viral não foi bem sucedido – até mesmo entre os mais radicais, adeptos do estilo ‘falem bem ou mal, mas falem de mim’ -, no caso do falso incidente dos ‘vestidos iguais’ usados por duas atrizes, criado pela Unilever promover a sua marca Seda de xampu, há divisões. ‘A imprensa é que se sentiu manipulada’, diz um publicitário que prefere o anonimato.


A coincidência tinha jeito de ação orquestrada desde o início, mas, mesmo assim, em especial a mídia de celebridades e as colunas sociais embarcaram na situação criada pela Unilever. Deram exposição ao falso incidente de Adriane Galisteu e Taís Araújo. A ação integra a campanha em que a embalagem do xampu tem a estampa do vestido usado pelas atrizes, contratadas como garotas-propaganda .


‘Contratar gente para disparar e-mails não é uma ação viral, embora seja vendida como tal’, critica Sérgio Valente, presidente da agência DM9DDB. ‘É muito difícil criar um factóide que vire assunto para um boca-a-boca, que seja capaz de mobilizar as pessoas. Quem promete algo assim não vai entregar. Pior, o consumidor não aceita manipulação. Ele aceita uma idéia surpreendente, mesmo que seja pura publicidade.’


Sanna, da McCann, que já fez uso do marketing viral a pedido de clientes, faz questão de destacar que o uso deve ser bem ponderado, para não resultar em prejuízo para a marca. ‘Plantar um fato falso pode promover antipatia’, diz ele. ‘A exploração do recurso fez muito sucesso em 2000, quando surgiu, até 2005, quando o uso excessivo reduziu sua força. Hoje, só faz sentido usá-lo se o recurso fizer parte de uma campanha maior, orquestrada em várias etapas’. Esse seria o caso da Unilever para a marca Seda.


Para atingir seus objetivos comerciais, as ações virais precisam ter senso de oportunidade. A agência NBS obteve bons resultados para o cliente MyMovies, uma locadora de filmes do Rio de Janeiro, ao produzir uma campanha no boca-a-boca a partir de um vídeo postado no YouTube. A ação teve a participação do ator Caio Junqueira, um dos policiais em treinamento pelo capitão Nascimento no filme Tropa de Elite.


O momento da iniciativa contou a favor, já que aconteceu quando o filme começava a fazer sucesso junto ao público e criar polêmica. A estratégia tinha duas etapas. Na primeira, mostrava o ator brigando com um camelô de filmes piratas, sugerindo que ele confundia o personagem com a vida real.


O rumor causado pelo vídeo rendeu várias matérias na imprensa, além de ter figurado entre os mais assistidos no YouTube na semana de sua estréia. Depois desse sucesso, a agência pôs outro vídeo no ar, em que o serviço da locadora MyMovies era apresentado.’


 


CINEMA
Stuart Elliott


‘Sex and the City’ atrai mulheres e anúncios


‘The New York Times – Quando se trata de produtos para ajudar a promover o próximo filme baseado na popular série de TV Sex and the City, parece que o céu é o limite. Melhor dizer que a Skyy é o limite. A vodca Skyy está sendo nomeada a ‘patrocinadora oficial das bebidas alcoólicas’ do filme. Os merchandisings incluem bebidas feitas com Skyy para serem servidas em restaurantes Houlihan e batizadas com os nomes de personagens como Carrie, Samantha e Mr. Big.


A Skyy Spirits, parte do Gruppo Campari, está entre as oito empresas – grandes, pequenas e médias – que acertaram uma parceria promocional para o lançamento da New Line Cinema, Sex and the City: The Movie, em 30 de maio. As marcas associadas estão incluídas no filme de maneiras que variam de menções em falas a várias cenas na tela. Em troca, os donos das marcas ajudarão a divulgar o filme com comerciais, pôsteres, loterias, sessões especiais, eventos em lojas, sorteios, doação de ingressos e até produtos com rótulos inspirados em Sex and the City.


Refletindo o apelo da série, que se manteve na HBO de 1998 a 2004, os patrocinadores vendem produtos endereçados principalmente a mulheres ou querem aumentar vendas em lojas para consumidoras. Além da Skyy, elas incluem a Bag Borrow or Steal, que aluga bolsas e jóias online; perfumes Coty; Glacéau Vitaminwater, vendida pela Coca-Cola Company; a divisão Mercedes-Benz USA da Daimler; e a joalheria brasileira H. Stern.


‘Posicionamos esse filme desde o início como o ?Super Bowl para mulheres?’, disse Chris Carlisle, presidente de marketing da New Line Cinema, parte da Time Warner, tomando emprestada uma expressão usada por Madison Avenue para celebrar a grande audiência feminina nas transmissões anuais da cerimônia do Oscar.


‘Então queremos alinhar apenas com as marcas que fazem sentido, que combinam com a marca Sex and the City’, acrescentou, ‘e ampliar nossa influência, não duplicá-la.’ Executivos da New Line e os patrocinadores associados se reuniram muitas vezes para coordenar como os esforços das marcas podem ampliar a campanha planejada pela New Line.


A primeira fase está a caminho com trailers em cinemas, cartazes em Manhattan e um site (sexandthecitymovie.com). Os anúncios começarão em cerca de um mês em revistas e jornais e também em sites da internet, rádio e televisão, especialmente durante as reapresentações de Sex and the City na TV a cabo e em estações abertas.


Hollywood vêm pedindo às marcas uma assistência de marketing desde que a General Electric se associou à Warner Brothers em 1933 para enviar um trem com sete vagões através do país para a publicidade do filme Rua 42. A prática se tornou mais sofisticada ultimamente quando o cenário do mercado de entretenimento ficou abarrotado e aumentaram os orçamentos dos estúdios para fazer filmes.


Há um antecedente incomum nos esforços da New Line para encontrar parceiros promocionais: eles foram complicados pela enormidade de marcas vistas e discutidas nos 94 episódios da série de TV. Entre essas estiveram os sapatos desenhados por Manolo Blahnik e Jimmy Choo, um computador Apple em que Carrie escrevia suas colunas, e etiquetas de grifes como Chanel, Dior e Dolce & Gabbana Essas marcas foram escritas nos roteiros mais para fins de verossimilhança que por considerações comerciais, disse John Melfi, produtor executivo da série e um dos produtores do filme. ‘Não se trata de pôr uma tigela de cereais ou uma Coca-Cola diante da câmera’, acrescentou. ‘São coisas orgânicas nas vidas das damas.’’


 


Luiz Carlos Merten


Cássia, a estrela sobe


‘Cássia Kiss foi mãe aos 38 e agora, aos 51 (incompletos), amamenta o quarto filho, um menino de 3 anos. ‘Tudo acontece tarde comigo’, ela diz, no saguão do hotel, em São Paulo, onde concedeu esta entrevista, na terça-feira de manhã. Cássia marcou o horário para poder voar em seguida para o Rio, para almoçar com os filhos. ‘Sou mãe em tempo integral, mas tento não ser a mãezona’, ela diz. O cinema também ocorreu meio tarde em sua vida. ‘Havia feito alguns filmes, mas minha estrela só brilhou quando fiz Bicho de Sete Cabeças, da Laís Bodanzky. Já tinha mais de 40 anos e, desde então, tenho feito filmes dos quais me orgulho muito. Chega de Saudade é um p… filme.’


Chega de Saudade é o segundo longa de Laís. Estreou sexta-feira em 31 salas de Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Laís e seu marido roteirista – Luiz Bolognesi – transformam um salão de danças em protagonista da história, multifacetada como seus muitos personagens, quase todos de meia-idade, para falar sobre o tempo, a solidão, a vontade de recomeçar, de se sentir vivo e o poder, tanto destruidor quanto sedutor, da palavra. Mas Cássia também está em Meu Nome não É Johnny, de Mauro Lima, no qual faz a juíza que teve a sensibilidade de perceber que João Estrella – a história é real – não era traficante, permitindo-lhe reconstruir a própria vida. Johnny ultrapassou a marca de 2 milhões de espectadores e é o primeiro grande sucesso de público (de crítica, também) do cinema brasileiro neste ano.


Dois filmes em cartaz, dois papéis pequenos que ficam imensos na tela. Para ambos, Cássia Kiss se preparou bastante. Ela é uma atriz do ‘método’, não o de Stanislawski, associado ao Actor’s Studio e praticado, no cinema norte-americano, pelo lendário Marlon Brando, entre outros. O método de Cássia Kiss consiste em ir fundo nos personagens. Na TV, que é uma linha de montagem, onde tudo ocorre mais rápido, ela não tem tempo de se aprofundar como gosta. No cinema é diferente. ‘Fiquei uma tarde no fórum do Rio assistindo às atuações de uma juíza. Teria direito de assistir, como qualquer pessoa, mas pedi licença e fiquei ali observando, prestando atenção. Minha participação no Johnny é pequena, mas muito forte no desenvolvimento do personagem. Não podia ser menos do que exata.’


Sua personagem em Chega de Saudade também é uma grande observadora – fala pouco e olha muito, vendo como seu acompanhante nos bailes da vida, interpretado por Stepan Nercessian, começa a gravitar em torno desta jovem que Maria Flor cria com tanta beleza (e talento). É uma diferença sensível entre atriz e personagem. Cássia tem este mesmo olho para captar o que ocorre ao seu lugar, mas falar pouco não é com ela. ‘Falo muito, não?’, ela pergunta rindo, enquanto bombardeia o repórter com suas histórias. Cássia havia voltado da Europa na manhã de domingo, na segunda-feira à noite já estava em São Paulo, para a pré-estréia de Chega de Saudade. Por isso queria voltar tanto ao Rio, para se reunir com os filhos. Quando chegou ao aeroporto, vindo da Europa, viveu um dilema – os filhos estavam dispersos, na casa de amigos, do ex-marido e na própria casa. Uma escolha de Sofia, brinca o repórter? ‘Mais branda, felizmente’, ela responde.


Cássia teve uma infância difícil. Brigava com a mãe, que batia nela. Aos 16 anos, depois de fugir de casa, chegou a dormir na rua. O repórter vai logo interrompendo para perguntar – ‘Mas você se reconciliou com sua mãe?’ Ela responde – ‘Claro, o que você pensa que sou? Alguma louca? Sou uma mulher madura.’ Madura, sim, mas as dificuldades nunca deixaram de acompanhá-la. Cássia teve bulimia, sofre de depressão, toma medicamentos. E tem o trabalho e a família para completá-la. É bela ao natural. De manhã cedo, pede um tempinho ao fotógrafo para ir lá em cima (no quarto), ‘para passar um batom’. ‘Não gosto de maquiagem, só em casos extremos, quando o trabalho exige’, ela conta. A ida à Europa teve um lado de turismo, mas também de trabalho. Cássia foi a Viena fazer pesquisa sobre sua próxima personagem, a cientista Marie Curie, que vai interpretar no teatro.


O marido, o jornalista da área de saúde Sérgio Brandão, está por trás dessa fascinação. Foi ele quem lhe deu a biografia de Marie Curie. Cássia apaixonou-se. ‘Ela conseguiu superar o preconceito dos homens e ganhou duas vezes o Prêmio Nobel. Era tão obcecada por suas pesquisas que se alheava do que ocorria ao redor dela. É uma personagem complexa, que estou com muita vontade de criar.’ Por enquanto, ela só pesquisa. A peça ainda está sendo escrita por Valderez Cardoso Gomes. A Globo lhe deixa espaço para fazer teatro, cinema? ‘Tenho uma relação não possessiva com eles. Na véspera de embarcar para a Europa, liguei dizendo aonde ia para dar uma satisfação. Se eles precisassem de mim saberiam onde me encontrar.’


Ela tenta fazer seu trabalho na TV o melhor possível – e como outras grandes atrizes (Fernanda Montenegro, Renata Sorrah, Eva Wilma) consegue fugir ao naturalismo das interpretações que domina as novelas. Cássia repete a história que o repórter já ouviu de Malu Mader. Malu, sua companheira de elenco em Eterna Magia, interpretava uma pianista clássica na novela das 6. O tema de abertura era de Rachmaninoff, que o público não aprovou. A emissora substituiu Rachmanoniff, que tinha tudo a ver com a trama, por Sidney Magall, que não tinha nada a ver, mas era mais popular. ‘Novela vive da reação do público. Dependendo dela, pode mudar completamente e a gente vai atrás.’ Por falar em música clássica, de Viena Cássia foi a Nuremberg só para ver a meio-soprano Cecilia Bartoli, que já virou objeto de culto. A diva não viaja de avião. Só se apresenta em lugares na Europa, aos quais possa chegar viajando de trem ou carro. Cássia foi à Alemanha pelo prazer de vê-la e ouvi-la e, quem sabe, para ampliar suas pesquisas. Do quê? ‘Foi maravilhoso vê-la cantar. Como ela solta a voz, como se move no palco, como coloca as mãos. Fiquei tão emocionada que puxei os aplausos e forcei todo aquele público a ovacioná-la de pé.’ Toda essa paixão é Cássia Kiss.’


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Globo volta a ter fantasmas em novela


‘E os fantasmas voltam a assombrar as novelas da Globo. Depois de um tempo – ou melhor, poucos meses – sem colocar nenhuma ‘assombração’ ou ‘espírito’ em suas novelas, a Globo recorre ao tema, que costuma alavancar a audiência.


O desencarnado da vez será José Wilker. Sim, assim que o professor Macieira deixar Duas Caras, irá encarar Augusto, um marido que morre e volta para assombrar sua esposa, Virgínia, vivida por Regina Duarte.


A trama em questão é Três Irmãs, de Antonio Calmon, próxima novela das 7 da Globo. Com direção de Denis Carvalho, o folhetim, que já começou sua reserva de elenco, tem, entre os nomes escalados, Carolina Dieckmann, Cláudia Abreu, Giovanna Antonelli, Marcos Palmeira, Christiane Torloni, Natália do Valle e Eliane Giardini.


A grande vilã da história será Violeta, vivida por Vera Holtz. O personagem de Wilker promete boas risadas, pois será uma alma penada à Vadinho, de Dona Flor e Seus Dois Maridos.


As primeiras gravações da trama estão marcadas para maio, em Bali, uma vez que a história terá alguns surfistas. A estréia está prevista para setembro.’


 


 


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