Relatório produzido pelo ex-chefe de jornalismo da BBC, Ron Neil, publicado na semana passada, deve inaugurar uma nova fase de maior rigor na produção de notícias pela emissora britânica. A análise dos processos de trabalho foi motivada pela crise criada com a afirmação do repórter de rádio Andrew Gilligan de que o governo britânico teria apimentado um relatório sobre armas de destruição em massa em poder do Iraque para justificar a guerra contra o país.
A denúncia estremeceu a relação entre a BBC e o governo, e resultou no suicídio do especialista em armas David Kelly, que havia sido a fonte off the record de Gilligan.
Mesmo com a conclusão de Neil de que muita coisa precisa mudar na BBC, matérias com fontes anônimas continuarão sendo permitidas na companhia. Mas os editores de cada programa passam a ter o direito de saber de seus repórteres quem são as fontes e passam a ter total responsabilidade sobre o conteúdo que seus subordinados produzem.
Experiência e impaciência
O relatório também pede mais atenção para o treinamento dos profissionais. Um editor sênior é citado dizendo que a BBC estaria ‘contratando pessoas com menos experiência jornalística que são mais impacientes para progredirem e serem promovidas’.
Gilligan, por exemplo, já era um jornalista experiente quando insinuou no ar que o governo do Reino Unido estaria mentindo para levar o país à guerra. Mas era seu primeiro trabalho em rádio – até então, só havia atuado na imprensa escrita. Apesar disso, seu comentário foi espontâneo. Nenhum superior exigiu que ele seguisse um roteiro. Daí surge outra ‘função fundamental’ dos editores, destacada pelo relatório: eles devem determinar a linha editorial dos apresentadores. Estes, por sua vez, têm de ‘trabalhar de forma colaborativa com seus editores, cujas decisões sobre todas as questões editoriais são finais’.
Neil recomenda a criação de uma escola interna para garantir que todos os profissionais da BBC tenham os conhecimentos necessários para serem promovidos, independente de sua experiência profissional. The Guardian [23/6/04] destaca ainda que, pela primeira vez, a emissora pública terá advogados em suas redações.