Difícil definir o que vai pior na televisão brasileira atualmente: o conteúdo dos programas ou a propaganda que passa nos intervalos. Seria muita incoerência esperar alguma qualidade dos programas de auditório, comandados por gente despreparada como Gilberto Barros ou sensacionalista como João Kléber. Mais ingênuo ainda seria tentar encontrar um mínimo de talento nas novelas, dirigidas por pessoas como Jorge Fernando e protagonizadas por atrizes como Débora Secco. Todavia, apesar da atmosfera pseudo-jornalística e da seriedade com que tratam fofocas e outras banalidades, é natural que o programa de Luciana Gimenez, por exemplo, ou o de Clodovil, sejam vazios e desinformativos.
O que não parece muito natural é que os milhões e milhões de reais gastos pelas empresas em publicidade raramente produzam um comercial de qualidade. A esmagadora maioria tem tanta criatividade quanto um pedaço de osso. Os anúncios de cerveja sobrevivem de preconceitos, beirando os limites da vulgaridade. Há pouco tempo, o alvo das chacotas era o baixinho da Kaiser. Agora, a Schinchariol procura incrementar suas vendas com um garoto-propaganda com problema de fala. Sem falar no tradicional machismo, que transforma mulheres em objeto e parece provar que cerveja é mesmo o néctar dos tolos. Fico imaginando se a próxima propaganda vai ridicularizar pessoas com deficiência física, ou, quem sabe, nordestinos.
Nunca se usou tanto as crianças, os velhinhos e os animais ‘fofinhos’ para se vender qualquer coisa. Quando começa um comercial com crianças na televisão é preciso aguardar para saber se o produto anunciado é um banco, uma marca de celular, de margarina ou de automóvel. A aparição de velhinhos e velhinhas nos comerciais obedece sempre à mesma contradição clássica: justapor a aparência envelhecida a uma atitude juvenil.
Mostrem a cara logo
Impressiona o fato de que os ditos melhores publicitários do país, que na verdade são simplesmente os que trabalham nas maiores agências de publicidade e ganham mais dinheiro, não façam mais do que se repetirem uns aos outros. Duda Mendonça prova que a publicidade muitas vezes legitima coisas que a moral e a ética condenam. Se os discursos de Washington Olivetto, tão ‘criativos’ e piegas quanto os de Bush, são tidos como exemplo, aonde vamos parar?
Seria culpa dos cursos de Publicidade e Propaganda? Talvez não, porque muitos publicitários trabalham sem nunca terem passado por uma universidade. Os publicitários sofrem o mesmo preconceito que vitima os jornalistas: muita gente pensa que não é preciso estudar para criar comerciais ou trabalhar na televisão. Darlene, a personagem de Débora Secco na principal telenovela do país, ilustra muito bem essa realidade. Seu sonho é ter um programa de televisão, mas ela não se preocupa em se preparar para a função. Parece tão simples…
A publicidade brasileira está sempre vencendo concursos internacionais e é considerada, até mesmo pelos brasileiros, como uma das mais criativas do mundo. Urge merecer a fama. Os publicitários realmente criativos precisam mostrar a cara logo, para que os intervalos na televisão e as páginas de publicidade nos jornais não continuem essa tortura chinesa.
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Estudante de Jornalismo na Universidade de Uberaba, MG