‘A internet brasileira tem a cara do brasileiro. Essa é a conclusão do coordenador de análises do Ibope/NetRatings, Alexandre Magalhães, ao avaliar os dados de outubro de dez países. ‘É uma web concentrada nas classes A e B, bem ao estilo da distribuição de renda, mas nossa internet tem a ginga e o jeitinho do brasileiro, que teima em ser diferente de todos os países de Primeiro Mundo. Se eles navegam em casa, no conforto do lar, aqui navegamos na escola, na biblioteca, no trabalho.’ Segundo Magalhães, nos países de Primeiro Mundo, onde a Nielsen/NetRatings faz suas medições, no mínimo 90% das pessoas que têm acesso à internet a usam em casa. No Brasil, onde 32 milhões declaram ter acesso a esse meio de comunicação, 58% a usam na residência, número bem inferior aos outros países analisados: Estados Unidos, Austrália, Japão, França, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido. Na França, por exemplo, 85,4% dos usuários acessaram, em outubro, a internet da residência, porcentual que chegou a 98,4% nos EUA. Magalhães diz, com base em pesquisa Ibope e Nielsen/NetRatings, que a maior diferença entre o Brasil e os países desenvolvidos é a quantidade de pessoas que hoje fazem uso do meio de comunicação em locais públicos, que rivaliza com o uso doméstico (ver tabela). ‘Nosso internauta não tem dinheiro para bancar o custo de ter um computador, uma linha telefônica e um provedor de acesso, mas não desiste de ser um usuário. Ele usa os vários pontos disponíveis na cidade e navega.’ O pesquisador, que tem preparado análises sobre o desenvolvimento dessa mídia para o site especializado WNews, diz que o internauta brasileiro tem sido atraído pelos comunicadores instantâneos (MSN Messenger ou ICQ, por exemplo), blogs, fotologs, comunidades (como o Orkut), sites das operadoras de telefonia móvel e salas de bate-papo com muito mais intensidade que os de países desenvolvidos. ‘O e-mail, embora disseminado no Brasil, não é mais usado do que nos outros países, talvez por ser mais formal do que os outros tipos mencionados. Em outras palavras, os brasileiros são campeões de uso dos comunicadores instantâneos, blogs, fotologs, comunidades e sites de telefonia móvel.’ Ele dá um exemplo: no Brasil, em outubro, 6,2 milhões de pessoas visitaram a comunidade Orkut, o que representou 52,7% do total de brasileiros que navegaram a partir de suas residências. O segundo país com mais visitantes foi a Itália, com 68 mil, ou 0,39% do total. ‘O internauta brasileiro tem uma necessidade incrível de se comunicar e divulgar o que pensa.’ É a essa necessidade que ele atribui o sucesso de iniciativas como o FotoRepórter, do Grupo Estado, mas acha que são poucas as empresas que perceberam esse potencial. Muito do que ocorre na internet brasileira, diz Magalhães, é resultado de termos um usuário jovem e que fica mais tempo navegando que o de outros países. Exemplo: os brasileiros de 12 a 17 anos chegam a ficar navegando quase 42 minutos por cada acesso, ante 34 minutos na França e 26 nos Estados Unidos. ‘A internet se tornou um meio de inclusão de jovens no Brasil que não têm acesso a outro entretenimento e a usam em cybercafés e na escola. A inclusão ocorre até em lanchonetes, escolas e bibliotecas, ao contrário dos outros países. É o jeitinho brasileiro.’’
Luiz Fernando Vianna
‘Forfun usa mídia virtual e lota seus shows ‘, copyright Folha de S. Paulo, 1/12/05
‘A cena vista em 8 de novembro era de espantar: adolescentes aos magotes chegavam ao Canecão, no Rio, para ver uma coisa estranhamente chamada ‘Teoria Dinâmica Gastativa’. Quem gosta de rock, não tem idade para escrever ‘magotes’ e vive em meio a fotologs, messengers e flyers sabe qual palavra (em inglês) estava por trás da cena: Forfun.
‘Teoria Dinâmica Gastativa’ é o CD de estréia dessa banda formada por quatro jovens cariocas. Foi lançado em novembro pelo selo Super Music, criado pelo superprodutor Liminha (Mutantes, Gilberto Gil, Titãs etc.) especialmente para impulsionar o grupo. O CD já vendeu 6.000 cópias, outras 3.000 estão indo para as lojas e, hoje, a banda o lança em São Paulo, no Hangar 110.
O que torna o Forfun exemplar de uma mudança de costumes é que seu sucesso crescente foi construído por meios digitais, especialmente a internet, sem o suporte de uma grande gravadora ou de meios tradicionais de divulgação. Daí o espanto de um jornalista diante do Canecão abarrotado por mais de 3.000 fãs.
‘Mais de 70% da nossa divulgação foi pela internet. O resto foi de filipetas e boca-a-boca. Nós plantamos muito e estamos começando a colher’, diz Vitor Isensee, 22. Guitarrista e responsável pela programação de efeitos, ele criou o Forfun em 2001 com o vocalista e guitarrista Danilo Cutrim, 23. Em 2002, Rodrigo Costa (baixo e vocal), 25, e Nicolas Cesar (bateria), 23, completaram o grupo.
Além da Tijuca, bairro da zona norte onde nasceram, os quatro tinham em comum o apreço pelo hardcore, o rock de levada pesada, distante das baladas. Começaram a integrar o que chamam de ‘cena punk-rock’ e a freqüentar sites e casas de shows do meio -no Rio e em outras cidades.
‘Quando fomos a Recife, em 2003, dormimos na casa de um dos promotores e não ganhamos nada. No primeiro show em Curitiba, pagamos até nossas passagens’, lembra Isensee.
Mas, enquanto dividia os palcos com bandas já na indústria (como Dead Fish e Dibob), o Forfun divulgava suas atividades pelo seu site e fazia vídeos informais para que os primeiros fãs os baixassem. Os downloads chegaram aos milhares e os vídeos chegaram a Liminha, com o CD demo que o grupo vendia nos shows.
‘Eu fiquei muito impressionado com a reação da platéia. Era um público enlouquecido, que subia no palco, jogava-se de volta. Quando fui ver no Garden Hall [no Rio, em 2004], a mesma coisa. Eles são músicos talentosos, e as letras fazem sentido para o público deles’, diz o produtor.
Palavrões
São letras precárias, de temática adolescente e muitos palavrões. O clima é de zona sul carioca, com referências a lugares como Posto 9 (Ipanema) e Baixo Gávea, a praias e noitadas. É a linha ‘gastativa’, adjetivo derivado da gíria ‘gastar’, semelhante a ‘curtir’.
‘Procuramos ver o lado bom das coisas, retirar idéias positivas de situações negativas’, define Rodrigo Costa. Todas as músicas são assinadas pelos quatro. Eles dizem que pretendem escrever letras mais adultas, até ‘políticas’, como já arriscam em duas faixas do CD de estréia.
A se julgar pelos fãs adolescentes, que entopem o fotolog da banda de mensagens em internetês (‘amu vcs’ etc.), não é preciso pensar em mudanças.
‘Cara, eles são muito maneiros, me identifico muito com eles, e me amarro em tocar ‘História de Verão’ e ‘Cara Esperto’, empolga-se Renan Ramos, 15, cuja banda de covers se nutre de Forfun.
‘Eu ouvi pela primeira vez no meio do ano e passei a ir a todos os shows deles no Rio’, conta Paula Marinho, 15, fundadora do fã-clube Forfunáticas.
Com tanto sucesso, namoros fixos estão fora de cogitação e os estudos andam prejudicados. Mas três deles ainda tentam se formar. ‘Meu pai já me falou, preocupado: ‘Essa faculdade pode acabar atrapalhando a banda’, conta, rindo (ou ‘gastando’), Isensee.
Teoria Dinâmica Gastativa
Lançamento: Super Music
Quanto: R$ 21, em média
Forfun (show) Quando: hoje, às 19h
Onde: Hangar 110 (r. Rodolfo Miranda, 110, SP, tel. 0/xx/11/2229-7742)
Quanto: R$ 15′
Lúcio Ribeiro
‘Com internet, independentes viram febre’, copyright Folha de S. Paulo, 1/12/05
‘Crise na indústria musical? Que crise? Quem tem ouvidos no som e olhos na tela do computador sabe que nunca a música viveu tempos tão vibrantes. Ninguém mais se espanta hoje se o pequeno grupo carioca ForFun ter em seu site tantas visitas únicas quanto a megabanda inglesa Oasis. Ninguém fala ‘Não acredito’ quando ouve que o veterano grupo americano Pearl Jam só está tocando aqui nesta semana porque um grupo de fãs brasileiros armou o barraco virtual e mandou insistentes pedidos on-lines para o quarteto de Seattle descer à América do Sul pela primeira vez.
Quando em 1999 o programa de troca de músicas Napster tomou de assalto a indústria de entretenimento, estava anunciada a ‘sede oficial da revolução da nova música’. Agora que 2005 está acabando, o programa MySpace está mais que consagrado como a ‘nova nova nova nova sede da revolução da nova música’. Até que no ano que vem outro programa surja e faça o MySpace parecer tão antigo quanto um gramofone.
O MySpace, conhecido como o ‘Orkut dos Artistas’ porque junta amizade, bandas e MP3s, assombra as inter-relações virtuais com o mundo real e faz de bandas como o grupelho inglês Arctic Monkeys os novos Beatles indies.
Há dois anos, o Arctic Monkeys fizeram umas musiquinhas no quarto de sua casa, em Sheffield. Sem ter coisa melhor que fazer, postaram em site, entraram no MySpace, fizeram novos amiguinhos na internet, anunciaram seus showzinhos em botecos.
Em outubro último, depois de lotar shows em Londres e Nova York sem ter nada lançado oficialmente, soltaram no mercado inglês um single, ‘I Bet that You Look Good on the Dancefloor’. Foram direto para o primeiro lugar das paradas, desbancaram o popular e aparatado Sugababes do trono e fizeram pensar os caras que financiaram o terceiro álbum do Coldplay -como uma bandinha daquelas conseguiram o que o milionário grupo de Chris Martin, que gastou semanalmente cerca de R$ 200 mil de aluguel de estúdio para fazer o novo disco, não conseguiu?
No Brasil, o site TramaVirtual, braço ‘esperto’ na internet da gravadora ‘convencional’ Trama, uma espécie de MySpace com mais música e menos amizade, abriga bandas pequenas sem contrato e também cria aqui seus mitos modernos. O exemplo reluzente é o paulistano Cansei de Ser Sexy, que graças a ações na internet já tocou em megafestival e ganhou página de destaque no jornal britânico ‘The Observer’.
Os sucessos de MySpace e TramaVirtual é tamanho que os sites já lançam CDs ‘reais’ no mercado de discos. Como disse o título de reportagem recente do diário inglês ‘Guardian’, ‘Click your mouse and say ‘Yeah’!’.’
CLASSIFICAÇÃO NA TV
Taíssa Stivanin
‘Justiça estica prazo’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/12/05
‘A pedido de escolas públicas do Rio de Janeiro e São Paulo, o Ministério da Justiça prorrogou até 15 de dezembro a consulta pública sobre a classificação indicativa da TV – com novas determinações de adequação horária a cada faixa etária, por meio de novos símbolos. Esses sinais, segundo informações do Ministério, foram inspirados nos modelos dos Estados Unidos, Inglaterra e Austrália. O Ministério está disponibilizando um questionário com os exemplos para as pessoas se manifestarem – 12 mil foram recebidos até agora.
A princípio, o prazo de consulta pública se encerraria em 25 de novembro. Cerca de 200 instituições, entretanto, enviaram e-mails ao Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação do Ministério. Na mensagem, as escolas demonstraram interesse em envolver mais estudantes e professores na discussão. O Ministério está realizando audiências pelo País para explicar a classificação. Já foram realizadas sete caravanas entre Acre, Minas, São Paulo, Rio, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Para participar é só acessar o site www.mj.gov.br/classificacao/consultatv.’