Bangladesh é um dos países mais perigosos para a prática do jornalismo. Desde 2000, pelo menos nove repórteres foram mortos por causa de seu trabalho. Centenas de outros foram espancados ou sofreram intimidações. As ameaças são apresentadas pelos rebeldes maoistas, pelos militantes islâmicos, pelo crime organizado e até pelo establishment político. O pior, dizem os jornalistas locais, é que a lei praticamente não os protege.
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, no ano passado houve uma média de um ataque físico a jornalista a cada dois dias. No ranking de liberdade de imprensa da organização, Bangladesh aparece na 151ª posição, em um total de 167 países listados.
A RSF acusa o primeiro-ministro, Begum Khaleda Zia, de se recusar a dar atenção a violações da liberdade de imprensa e outros direitos humanos. A violência contra jornalistas é maior fora da capital, Dacca, e ‘continua a limitar a possibilidade da livre cobertura de assuntos importantes como corrupção, violações dos direitos humanos e casos de conivência entre o governo e o crime organizado’.
Governo culpa jornalistas
O governo, por sua vez, afirma que o problema é exposto de maneira exagerada e que muitos dos jornalistas assassinados tinham, eles próprios, ligações com grupos criminosos ou foram vítimas de rixas locais. A versão oficial diz que a imprensa gozaria de completa liberdade, mas às vezes abusa dela escrevendo artigos críticos ao governo baseados em informações mentirosas e sem fundamento.
Os jornalistas em Bangladesh admitem que muitas vezes a profissão não é exercida pelas melhores razões. É comum que empresários abram veículos de comunicação apenas para ganharem poder. Hoje, são publicados cerca de 130 jornais diários apenas em Dacca.
Com isso, a corrupção corre solta. A organização Transparência Internacional colocou o país na pior posição de seu índice de corrupção global nos últimos cinco anos. O jornalismo não é exceção.
Profissionais de imprensa se envolvem com dinheiro político e a polarizada e turbulenta cultura política do país faz com que qualquer passo em falso defina a preferência de um jornalista. ‘Como em qualquer profissão, há pessoas ruins no jornalismo. Mas as realmente ruins não são os alvos [da violência], são as que se comprometem’, afirma o jornalista Tipu Sultan, que quase morreu – e guarda muitas cicatrizes – em um ataque sofrido em 2001 após ousar escrever artigos sobre a ligação entre políticos, o crime organizado e a corrupção em Bangladesh. ‘Apenas os bons jornalistas, que não se comprometem, que continuam a escrever contra as pessoas ruins, são os alvos [dos ataques e ameaças]’, conclui ele. Informações de Simon Denyer [Reuters, 24/11/05].