A informação, ou boato, não está sendo divulgada em nenhum veículo estabelecido. Mas, nas redes de e-mails, a distribuição é farta: diz que alguém da família de um político conhecido comprou uma grande fazenda de determinado pecuarista, na região de fronteira entre Minas e São Paulo, sem ter recursos conhecidos para a aquisição. A fazenda estaria entre as certificadas para exportação. Importante: um portal respeitado, Migalhas, fez a publicação, embora não tenha insistido no assunto.
Como este colunista, que todos os dias recebe este e-mail/denúncia de remetentes diversos, muitas redações devem também recebê-lo. Não é difícil, com alguns recursos, apurar a verdade: o nome do vendedor, que dizem ser pecuarista com tradição no ramo, é citado, junto com o nome e localização da propriedade, mais o preço que teria sido pago: 47 milhões de reais.
1.
O referido pecuarista é, ou era, dono da referida fazenda?2.
Vendeu-a? A quem?3.
O comprador é aquele que aparece nos e-mails? Se não for, haverá a possibilidade de que esteja utilizando ‘laranjas’?Dá reportagem de qualquer jeito: ou comprovando as denúncias amplamente distribuídas via e-mail, ou demonstrando que é tudo falsidade, com o objetivo de prejudicar não o cavalheiro apontado como comprador, mas sua família.
A internet pode ser usada para o bem e para o mal. Cabe aos meios de comunicação tomar conhecimento do que é aí veiculado e, sendo o caso, confirmar ou desmentir os rumores. O que não se pode fazer é fingir que os boatos não existem, ou que, por circularem na internet, são automaticamente descartáveis.
E se não forem?
Liberdade de imprensa 1
Quando Elio Gaspari deixou o Estadão e foi para a Folha, houve cerceamento à liberdade de imprensa?
Quando Joelmir Beting deixou a Folha e foi para o Estadão, houve cerceamento à liberdade de imprensa?
Quando Zózimo Barrozo do Amaral deixou o Jornal do Brasil e foi para O Globo, houve cerceamento da liberdade de imprensa?
Não, claro que não. Como não houve cerceamento na liberdade de imprensa quando o iG suspendeu a coluna de Paulo Henrique Amorim. Houve uma ruptura comercial; agora, é uma questão de cumprimento das cláusulas de rescisão de contrato. Tanto não houve cerceamento da liberdade de expressão que, no dia seguinte, a coluna de Paulo Henrique Amorim já estava em seu novo endereço, mantendo sua linha habitual.
Quanto aos protestos, são legítimos: quem sente que o iG não é mais o mesmo sem Paulo Henrique tem todo o direito de deixar de procurá-lo.
Liberdade de imprensa 2
Onde a liberdade de imprensa está sendo atingida é em Águas de Lindóia (SP): lá, o jornal Tribuna das Águas foi proibido judicialmente de publicar nomes e imagens de agentes públicos relacionadas aos serviços, obras, atos e programas da administração pública, nos termos do artigo 37, parágrafo 4º da Constituição Federal, sob pena de multa diária de 5 mil reais.
A menos que alguém aponte outra interpretação possível, este colunista só vislumbra uma: o jornal está proibido de publicar notícias do presidente da República, ministros, senadores, deputados federais e estaduais, vereadores, governadores, prefeitos, secretários das administrações estaduais e municipais.
É a coisa mais parecida com censura prévia desde a ditadura militar.
Famosa por quê?
Andréia Schwartz, condenada por agenciamento de mulheres, lavagem de dinheiro e envolvimento com drogas, foi deportada dos Estados Unidos e recebeu, desde que embarcou no avião da American Airlines, um tratamento de estrela. Viajou na classe executiva, duas redes de TV disputaram suas atenções, recebeu tratamento especial da Infraero na pista e ainda anunciou que, de agora em diante, só dará entrevistas mediante pagamento de farto cachê.
E que é que Andréia Schwartz tem para contar? Supunha-se, por algum motivo, que ela tivesse algo a ver com a queda do governador de Nova York. Numa esplêndida reportagem na revista Joyce Pascowitch, o sempre ótimo Osmar Freitas Jr. desmonta a ficção: ela estava presa muito antes de se saber qualquer coisa sobre o governador, e se tivesse algo a ver com ele não teria sido deportada, pelo menos até o desfecho do caso.
É claro que, para o pessoal que precisa encher tempo e espaço, isso não conta: apresentam-na como a responsável pela queda do governador de Nova York. Mas, das várias coisas que falaram da moça, esta deve ser a única falsa.
Em resumo, estão puxando o saco da pessoa errada. E, se a moça realmente posar para Playboy (veja aqui tudo aquilo que derrubou o governador de Nova York), estarão tirando o vestido da pessoa errada.
Jornalismo é isso
Do ombudsman da Folha de S.Paulo, Mário Magalhães:
‘Jornalismo crítico não é enumerar declarações críticas de uns contra os outros, mas mostrar a vida como ela é e desconfiar do poder – de todos os poderes’.
Tradução maneira 1
O presidente Lula garantiu que ligou para o presidente Bush e lhe disse o seguinte:
‘Bush, o problema é o seguinte, meu filho, nós ficamos 26 anos sem crescer, e agora que a gente tá crescendo você vem atrapalhar, pô. Resolve, resolve a tua crise’.
Os jornalistas acharam engraçado e deixaram passar. Ninguém perguntou ao presidente Lula se o presidente Bush costuma atender a seus telefonemas assim de sopetão, sem nenhum agendamento. Ninguém perguntou ao presidente Lula se ele usou, em seu diálogo com o presidente americano, o mesmo discurso chão com que se dirigiu ao povo brasileiro. Ou será que, na conversa, foi diplomático, usou a linguagem formal, e só a passou para o discurso vulgar para que fosse mais fácil entender o que estava dizendo?
Tradução maneira 2
O presidente Lula, aliás, não limitou ao tal diálogo com o presidente Bush as suas declarações estranhas. Elogiou o presidente venezuelano Hugo Chávez, dizendo que passou ‘de guerrilheiro a pacificador’. Só que Chávez nunca foi guerrilheiro. E disse que Severino Cavalcanti, que na verdade renunciou à presidência da Câmara por ter sido apanhado na cobrança de um mensalinho (10 mil reais mensais, para manter a concessão do restaurante da Casa), foi afastado porque, ao contrário do que os partidos oposicionistas esperavam, não fez oposição a Lula.
A falha certamente é deste colunista, que não leu o noticiário com a atenção devida. Mas o presidente deve ter falado depois do almoço, não é mesmo?
Boa leitura
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo’, que vem fazendo um excelente trabalho, oferece o livro Mídia e Violência: Novas Tendências na Cobertura de Criminalidade e Segurança no Brasil, de Sílvia Ramos e Anabela Paiva. O livro, com base em pesquisas do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, estuda o papel da imprensa diante do aumento da violência. Contato: (21) 2531-2033.
E eu com isso?
Tem gente pesquisando o papel da imprensa, e tem gente ocupando o espaço da imprensa com notícias absolutamente indispensáveis. Por exemplo:
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‘Carol Castro vai ao supermercado com o namorado’**
‘Xuxa passa o aniversário trabalhando’**
‘Briga entre Paris e Li-Lo pára festa’**
‘Grazi vai aparecer de maiô de bolinha em `Desejo Proibido´’**
‘Dois meses após aborto e fora, Lily Allen se apaixona’Como é mesmo?
É um grande portal, de uma grande organização jornalística, que faz questão de mostrar sua qualidade. Mas diz que o prefeito carioca César Maia faz ‘acusasões’ contra seus adversários – ou será adverçários?
De outro portal, também importante: ‘Brasileiro teria acertou garrafada em homem numa discoteca em Berlim’. Correto: as duas versões da história, a de que acertou mesmo ou a de que alguém imagina que ele acertou, foram contempladas no texto. Só não foi contemplado no texto o consumidor da notícia.
Os grandes títulos
Há abundância de material para escolha: desde os títulos que, por algum motivo, saíram incompletos, até aqueles que só especialistas podem decifrar.
Em frente!
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‘Barretinho, finalmente, se casa com Sabrina, em‘**
‘Assaltante diz que serviu aprendeu uma lição e não esperava a reação’**
‘A treinamento, estádio dá só 1 hora e nega luz’São todos caprichados. Mas há um, que provavelmente se refere a corridas de automóveis, que está bem na ponta do grid:
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‘Dados, números e dois canos de descarga fumegantes em Interlagos’******
Jornalista, diretor da Brickmann&Associados