Na terça-feira (25/3/), o ministro da Educação, Fernando Haddad, foi sabatinado durante duas horas por quatro jornalistas da Folha de S.Paulo: Suzana Singer, Gilberto Dimenstein, Antônio Gois e Vera Magalhães (o vídeo está aqui).
Infelizmente, os entrevistadores não estavam à altura do sabatinado. Dimenstein perguntou, por exemplo, se o ministro matricularia os filhos numa escola pública. Pergunta capciosa e dispensável. Se Haddad respondesse ‘sim’, cairia na demagogia. Se respondesse ‘não’, atestaria que a escola pública brasileira não presta.
A resposta do ministro foi racional. Todo pai persegue o melhor para seu filho. Ora, se há uma escola pública boa por perto (e há boas escolas públicas, apesar dos pesares), por que não querer que o filho estude ali? E se o pai tem condições financeiras para matriculá-lo numa boa escola particular (se boa essa escola for), por que não o fará, mesmo sendo ministro da Educação?
Antônio Gois não parece compreender a importância de uma disciplina como filosofia no ensino médio, comparando-a a um penduricalho de árvore de Natal. O que faz pensar… Não estará faltando à formação dos jornalistas um pouco mais de Hegel e Habermas, para citar autores que o ministro aprecia?
Pré-candidato?
As idéias claras e a paixão medida agradaram o público. Quem estava no auditório ouvia comentários positivos. As respostas eram precisas, longas, trazendo estatísticas, informações atualizadas e contextualizadoras, ponderações cautelosas, o que talvez tenha levado Vera Magalhães a definir o ministro com o paradoxo malicioso: ‘É um petista tucano’.
De repente o ar gelou. Uma pergunta do auditório aludia ao fato de os salários dos professores da rede pública permanecerem baixos porque os governos precisam pagar os docentes aposentados. Fernando Haddad disse então, com todas as letras, que, a seu juízo, é ilegal o pagamento de inativos com verba destinada à Educação. Poucos estados e municípios cumprem a regra. Ao que parece, a Secretaria do Tesouro Nacional haverá de emitir uma instrução normativa a respeito.
Haddad vê em Anísio Teixeira um orientador, o que o aproxima dos antigos brizolistas. E é também um ser político, filiado ao PT desde 1983, um dos iniciadores dos CEUs em São Paulo, criador do ProUni, com especial talento para estabelecer consensos em diferentes níveis. Os jornalistas intuíram que estava ali um futuro pré-candidato à presidência da República. A meu ver, a intuição é correta.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br