As expressões culturais das ocas dos mais de 200 povos indígenas brasileiros e das periferias das grandes cidades ocupam, por meio das tecnologias comunicativas digitais, como nunca aconteceu, tempos e espaços relacionais de públicos habituados a conviver apenas com as mídias tradicionais, baseadas no papel impresso e na idéia de que apenas esses veículos formam a denominada opinião pública.
Este é um dos resumos do que foi apresentado e debatido no 2º Seminário Mídias Nativas, evento que reuniu, em São Paulo, em 25, 26 e 27 de março, comunicadores e usuários das novas mídias digitais, dentre eles indígenas e jovens da periferia, que comandam emissoras de rádio e de televisão, produtoras de vídeo e de filmes, blogs e sites, lojas virtuais e outras ações de empreendedorismo digital.
O 2º Mídias Nativas, coordenado pelo professor Mássimo Di Felice, juntamente com um grupo formado por jovens pesquisadores em comunicação, atualmente agrupados no Centro de Pesquisa de Opinião Pública em Contextos Digitais (Cepop-ATOPOS, da ECA-USP), convidou para apresentar as suas mídias e experiências os comunicadores indígenas – dentre eles, Atia Pankararu, Yakuy Tupinambá e Anápuáka Pataxó Hã Hã Hãe (integrantes da Rede Índios Online), Giselda Gerá e Olívio Jekupé (escritores guaranis) e a comunicadora Nanine Terena – e, da metrópole paulistana, Ronaldo Costa e Eliezer Santos (Canal Motoboy), Gerô Barbosa (Rádio Heliopólis), Tio Pac (Filmagens Periféricas), Fernão Ciampa e Cristhian (Embolex) e Gil e Adriano Ferreira (Portal Bocada Forte).
Os casos apresentados e debatidos demonstraram que as tecnologias de comunicação digital estão consolidando novos territórios comunicacionais e relacionais, não mais baseados na difusão de informações autoritárias.
Em crescimento
A força da mídia étnica apresentada no evento, criadora de uma etnosfera onde convivem guaranis, xavantes, tupinambás e pataxós, dentre outros, vem de suas mensagens baseadas nas culturas indígenas, nas suas histórias, memórias, mitos e rituais, agora, expressas em fotografias, textos, cantos e sonoridades, filmes e vídeos. A maioria dessa produção comunicacional está disponibilizada e ofertada na internet.
A produção midiática da periferia bebe as suas mensagens e seu jeito de ser na cultura do hip-hop, na dança, moda, teatro e grafismos de rua. Embaixo ou sobre as lajes das casas periféricas rola muita conversa em que o assunto é como o jovem pobre, sem escola e sem emprego, diretamente impactado pela violência, pode construir a sua identidade, a sua presença no mundo. Um mundo que construía e veiculava a imagem desse jovem para a sociedade, a partir de preconceitos prontos. Por meio das novas mídias, esse jovem passa a produzir e difundir a sua imagem, a sua realidade e os seus desejos.
Os exemplos desses protagonistas mediáticos são as redes sociais digitais, os sites de motoboys, os portais de periferia e sites indígenas, que passaram pelo 2º Mídias Nativas. Estas redes digitais estão crescendo, a partir de computadores de organizações não-governamentais, igrejas e lans-houses. E vão crescer ainda mais, em quantidade e qualidade, com o acesso mais fácil ao crédito para a compra de computadores.
A consolidação da democracia em países habituados ao autoritarismo principalmente das autoridades, aninhadas nos governos e nas universidades, passa por mais computadores para os povos indígenas e das periferias.
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Jornalista, professor da ECA-USP e diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje)