‘Integrantes da CPI dos Correios e o procurador-geral da República travaram ontem uma batalha sobre a necessidade de se pedir ou não a prisão do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Para o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), o empresário ‘atrapalha’ as investigações ao adulterar provas contábeis e deve ser preso.
Não foi esse, porém, o entendimento do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que afirmou que hoje não existem motivos para pedir a prisão de Marcos Valério. Ele criticou os parlamentares que insistem na adoção dessa medida. ‘Essa questão de tem de prender, tem de prender cria um clima ruim para o andamento do inquérito’, disse o procurador.
Indagado se na sua opinião o real objetivo de integrantes da CPI seria ‘aparecer’ ao pedir a prisão de Marcos Valério, Antonio Fernando foi direto: ‘Isso dá notícia de jornal.’ ‘Hoje não tenho elementos no inquérito para tomar essa iniciativa (pedir a prisão)’, insistiu. ‘Não estou com a previsão de pedir a prisão.’
STF
Antonio Fernando explicou que as investigações ainda estão em curso. Elas integram um inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF). O inquérito tramita em segredo de Justiça.
Uma eventual prisão de Marcos Valério teria de ser decretada pelo STF, porque o inquérito investiga pessoas com foro privilegiado. ‘A sugestão da CPI não importa, é irrelevante’, declarou o procurador. ‘A CPI tem o projeto dela. Eu tenho a minha investigação. Não vou atropelar o meu procedimento para atender à CPI’, concluiu Antonio Fernando.
Na manhã de ontem, Osmar Serraglio pediu ao delegado da Polícia Federal Luiz Flávio Zampronha a prisão do publicitário. ‘Estamos preocupados com a movimentação do Marcos Valério. Estamos pedindo providências mais enérgicas’, afirmou o relator da CPI. ‘Ele atrapalha a investigação e isso precisa ser estancado. Uma das formas é a detenção dele’, completou.
OUTROS PEDIDOS
No início das investigações da comissão, os integrantes da CPI pediram que a prisão preventiva fosse analisada por conta da queima de notas fiscais das empresas de Valério. A PF concordou com o pedido, mas o Ministério Público não concordou.
Em julho, o presidente do STF, ministro Nelson Jobim, negou o pedido de prisão de Marcos Valério apresentado pela Polícia Federal alegando que ele deveria ter sido feito pela Procuradoria-Geral da República.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
‘Movimentação’, copyright Folha de S. Paulo, 8/12/05
‘Jovem Pan, Bandeirantes e CBN falaram pela manhã com Lula. E muito da cobertura, no resto do dia, foi repercussão da longa entrevista.
No Brasil, do ‘JN’ à Folha Online, o enunciado foi ‘Lula diz que levaria José Dirceu para o palanque’.
No exterior, nos despachos da Reuters à Dow Jones, a atenção foi para a ‘defesa da redução gradual dos juros’, ao lado da ‘defesa da política econômica’.
Ao que interessa. Em análise de imediato na CBN, Franklin Martins apontou a definição do discurso eleitoral:
– Lula sendo candidato, e eu não tenho dúvida de que vai ser, o carro-chefe da campanha é a economia, se for um bom ano, e a área social, com Bolsa-Família, aumento real do salário mínimo -e tudo isso melhorando as condições de vida das camadas pobres. Vai ser o discurso. E é a síntese da entrevista.
À noite, na Record, o âncora Boris Casoy acrescentou:
– Esta foi séria, inclusive com jornalistas refutando. Assim mesmo, com os costumeiros exageros, Lula se comunica muito bem e aproveitou todas as perguntas para promover o seu governo.
E a sua reeleição.
Nos blogs, Jorge Moreno falou de José Dirceu no palanque, de uma eventual anistia posterior à eleição, registrando até um suposto apoio da ‘oposição’.
De outra parte, disse que para ‘alguns’ a reunião ministerial do dia 19 é a última. Saem para a campanha.
Josias de Souza postou que ‘Lula marcou a data’ para se lançar à reeleição, ‘entre o fim de fevereiro e início de março’. Ele estaria ‘preocupado com a desarticulação da candidatura’, quanto aos apoios de outros partidos, e ‘espantado com a movimentação de José Serra, que já detalha os entendimentos com o PFL’.
Daí o PMDB, para o qual Lula oferece ‘a vaga de vice’. Mas ‘o diálogo com a cúpula governista encontra-se interditado por uma picuinha’ -a nomeação do indicado de Renan Calheiros e José Sarney à Anatel.
Mais algumas horas e, ao que tudo indica, o diálogo avançou. Ricardo Noblat anunciou que ‘Renan finalmente emplacou’ seu apadrinhado.
Ato contínuo, Lula ‘aceitou convite’ e deve jantar com os peemedebistas do Senado, terça que vem. Ele ‘ainda alimenta o sonho de ter o PMDB a seu lado nas eleições de 2006’.
A PALAVRA DO ANO
A editora Oxford University Press se adiantou à editora Merriam-Webster e divulgou ontem, com repercussão por toda a rede, ‘a palavra do ano’. Em 2004, a Merriam-Webster, que faz dicionários, havia selecionado ‘blog’. Para este ano, a Oxford, também voltada a dicionários, elegeu ‘podcast’ como a palavra de 2005.
Como citou o blog de Tiago Dória no iG, o dicionário define podcast como ‘gravação digital de transmissão de rádio, colocada à disposição na internet para download’. É mais que isso, muito mais.
Para além do dicionário, os arquivos de som e imagem avançam sobre outras áreas tradicionais. Como noticiou o ‘New York Times’, o maior prêmio da TV nos EUA, o Emmy, agora vai abranger também ‘vídeo criado para computadores, celulares e outros equipamentos, como iPod e PlayStation’. Daí o título:
– E o Emmy de melhor ator num iPod vai para…
E tem mais. O site do mesmo ‘NYT’ destacou ontem que o Pulitzer, principal prêmio de jornalismo, segue a onda e vai aceitar a indicação de trabalhos que saíram só nos sites. Diz o diretor da premiação que é para ‘refletir a importância crescente do conteúdo on-line’.
DUTO A CNN, que fez a revolução dos canais de notícias, acaba de lançar seu primeiro canal exclusivo para internet. A CNN Pipeline, um chassi com várias telas ‘ao vivo’ ou ‘on demand’, com âncoras próprios, entrou no ar na segunda-feira -e já foi objeto de avaliação positiva nos blogs americanos e até brasileiros voltados à mídia
Entusiasmados
A CPI dos Correios acionou a metralhadora. Em pouco mais de um dia, na Folha Online, se amontoaram manchetes da CPI sobre fundos, Coteminas, prisão de Marcos Valério e depoimento de Henrique Pizzolato.
Fim de noite e os blogs já acresciam que ‘membros da CPI estão entusiasmados com uma fita de vídeo envolvendo empresa que presta serviços ao correio aéreo noturno’.
Regimentais
O jornal baiano ‘A Tarde’ e o site comunista Vermelho, entre vários outros, noticiavam ontem uma manifestação realizada em Salvador pela instalação de uma CPI da Bahiatursa, para apurar suposta irregularidade no que o blog da Folha Online apelidou de ‘o duto baiano’.
A CPI estaria sendo adiada por ‘manobras regimentais’.’
VENEZUELA
Gustavo Barreto
‘Como usar a linguagem para promover amigos e difamar inimigos’, copyright Fazendo Média (http://www.fazendomedia.com/novas/internacional071205.htm), 7/12/05
‘Foram disputados neste domingo, 4 de dezembro, na Venezuela, 167 cargos na Assembléia Nacional, 12 no Parlamento Latino-Americano e cinco no Parlamento Andino. A tentativa de boicote por parte da oposição é mais uma dura derrota na pretensão da direita venezuelana de tirar a legitimidade do pleito. Além disso, até o fechamento da edição, o relatório eleitoral sugeria que todos os cargos na Assembléia Nacional ficaram com partidos aliados do governo.
O presidente Chávez adotou um discurso claro de que apóia o surgimento de uma nova oposição, mas considera obsoleta a atual, baseada no golpe de Estado e no boicote político às mudanças sociais e econômicas como forma de conseguir suas vitórias. A imprensa brasileira correu para dizer que ‘Chávez governa sem oposição’ (O Globo de 6/12/2005) e que ‘país caminha para sistema chavista’ (Folha de S. Paulo, 6/12/2005), numa clara alusão a uma suposta onda de autoritarismo por parte do governo, imagem recorrente e baseada no nada, já que todas as vitórias que Chávez conseguiu em sua carreira política foram no voto. Desde 1998, os partidos que lideraram o ‘boicote’ – Ação Democrática (AD) e o partido social-cristão COPEI – já sofreram nove derrotas eleitorais consecutivas para Chávez.
Anote o seguinte detalhe: a tentativa de atacar o governo venezuelano consiste na reiteração de que quem manda no país é Chávez, ou o ‘chavismo’. Pensando nisso, os jornais quase nunca utilizam, em manchetes, expressões como ‘governo’ e são poucos os ministros que aparecem. Personifica desta forma todo um grupo de chefes de Estado e de políticas públicas na figura de Chávez. Seguindo a mesma lógica, evitam citar nominalmente os partidos pró-Chávez – a saber: Movimento Quinta República (MVR), Podemos, Pátria para Todos, Partido Comunista e União Popular. Se o fizerem, poderão dar pistas de que Chávez não é o ditador que se pinta por aí nos jornalões.
Eleições tranqüilas e direita desequilibrada
O jornal ‘O Globo’ do mesmo dia afirma ainda que ‘Chávez poderá governar tendo como único freio a Constituição’ e que ele usaria esse suposto poder em proveito próprio, alargando seu mandato. Os opositores que, ao boicotar as eleições, romperam um compromisso assumido com a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Européia (UE), agora – acreditem – querem entrar na Justiça para anular o pleito como, citando, ‘um passo para levar o caso a tribunais internacionais’1. O diário carioca continua escrevendo que ‘movimentos opositores acusam o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de ter maquiado os números da abstenção, que, segundo alguns deles, teria chegado a 90%’, mas o mesmo jornal, na edição de 5/12/2005 citando autoridades venezuelanas, informa outros dados que dão pistas sobre o que foi o chamado ‘boicote’: apenas 556 dos 5.516 candidatos anularam suas candidaturas. Cerca de 10%, que O Globo insiste em chamar de ‘boicote parcial’.
No mais, o que a imprensa precisa fazer para continuar sua pequena farsa internacional é mudar a linguagem de acordo com os seus interesses. Por exemplo: não utilize a palavra ‘golpe de Estado’ para seus amigos, apenas para seus inimigos. ‘O Globo’ já aprendeu a lição. Na notinha ‘De golpista a presidente’, que conta resumidamente a história política de Chávez, o militante jornal pró-direita escreve que o ‘tenente-coronel Hugo Chávez, insatisfeito com as políticas neoliberais do presidente Carlos Andrés Pérez, tenta promover um golpe de Estado. Os rebeldes tomam cidades como Valencia e Maracay, mas não Caracas. Chávez, ao perceber a derrota, entregou-se ao governo, que aceitou que ele falasse na TV e pedisse que os rebeldes cessassem a rebelião, dizendo que o golpe falhara