A fotografia das caixas de papéis entregues na quinta-feira (3/4) pelo governo aos integrantes da CPI dos Cartões Corporativos, publicada na sexta por O Estado de S.Paulo e O Globo, é o melhor retrato da impossibilidade de se chegar a uma conclusão nas investigações sobre gastos pessoais de autoridades com dinheiro público. Foram desembarcados 102 volumes cheios de ofícios, notas fiscais e planilhas de prestação de contas. E essa papelada se refere a apenas dois ministérios.
Como ainda faltam documentos de 33 ministérios, se considerarmos a média de cinqüenta caixas para cada um, os parlamentares da CPI terão que abrir 1.650 caixas de papelão e de lá separar e analisar o que pode trazer indícios de fraudes.
Essa é a chamada missão impossível.
O material se refere a todas as despesas efetuadas por autoridades e funcionários graduados através das contas bancárias específicas e cartões de crédito corporativo, desde 1998. A imagem de centenas de caixas, que deverão se transformar num volume impossível de ser manipulado, revela a verdadeira natureza da CPI.
Informações secundárias
Nem governo nem a oposição acreditam de fato que se vai chegar a qualquer conclusão, a menos que o prazo para as investigações avancem pelo fim dos tempos. Mas, afinal, pouca gente ainda acredita que as CPIs servem para esclarecer alguma coisa. O que desejam todos os envolvidos é juntar munição para a campanha eleitoral que se aproxima.
Por outro lado, nenhum jornal avançou no caso do vazamento de dados sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem como principal suspeito o senador paranaense Álvaro Dias (PSDB-PR). O Globo e o Estadão descrevem o constrangimento que ele passou ontem na CPI e o Estadão chega a lamentar o ‘gol contra’ do senador tucano, que pode atrapalhar a investigação sobre o suposto dossiê.
A Folha de S.Paulo prefere investir no pacote de informações que vazou da Casa Civil da Presidência e deixa em segundo plano o fato de um senador da oposição ter tido acesso aos dados e ser apontado como o responsável por passá-los à imprensa.
A rigor, tudo que se publica nos jornais de sexta-feira (4) é secundário em relação à origem de toda a celeuma, que era a suspeita de que as contas especiais e os cartões corporativos estariam sendo usados para a realização de despesas irregulares.
Por enquanto, o que se sabe a respeito disso é que tanto neste governo como no governo anterior havia quem gostasse muito de tapiocas.