Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 6 de novembro de 2007
VENEZUELA
A linguagem que Chávez entende
‘O senador José Sarney não tem usado meias-palavras para se referir ao regime que o coronel Hugo Chávez está implantando na Venezuela. Para ele, a democracia de Chávez é uma ‘marca de fantasia’. De fato, um regime que permite a perenização do caudilho no poder, priva as minorias e a oposição das liberdades fundamentais e permite que o país seja governado sem que as necessárias garantias legais estejam em funcionamento é uma autêntica ditadura. Da mesma forma, um país que se arma até os dentes, sem que haja razões plausíveis para tal, constitui uma ameaça para seus vizinhos, por mais que o caudilho fale em fraternidade e solidariedade latino-americana.
Tivesse o coronel Hugo Chávez ficado na compra dos 100 mil fuzis Kalashnikov e se poderia acreditar que seu objetivo era, simplesmente, defensivo. Ou que ele, pensando em ficar no poder indefinidamente, estava armando milícias para impor o seu despotismo aos venezuelanos que não abdicaram de ser livres.
Mas o coronel está gastando cerca de US$ 6 bilhões na compra de aviões de ataque de grande performance, de helicópteros de combate, de navios de desembarque de tropas, de submarinos e de baterias de mísseis. Com esse tipo de equipamento não se mantém nem se restabelece a ordem interna, qualquer que seja. Além disso, o programa de aquisições militares de Chávez não se esgota com as encomendas que fez recentemente na Rússia. Há planos para a compra de novos e modernos equipamentos que podem ser utilizados em operações que os militares classificam de ‘projeção de poder’ – como, por exemplo, mais 120 aviões de combate de última geração.
O coronel Hugo Chávez, que esta semana se tornou ditador (perpétuo) constitucional da Venezuela, com a aprovação de uma constituição liberticida, prepara-se para uma aventura militar. O general Alberto Müller Rojas, que assessorou Chávez na elaboração dos planos militares, garante que a Venezuela não está iniciando uma corrida armamentista e que não conta com recursos militares para se constituir em ameaça ao Brasil. Mas não é apenas o Brasil que é afetado pelo armamentismo chavista. É o equilíbrio estratégico de toda a região que é alterado.
É tão absurdo supor que as forças venezuelanas invadiriam o Brasil como não tem sentido imaginar que os Estados Unidos invadirão a Venezuela, simplesmente porque o coronel Chávez acha que o presidente Bush exala enxofre. Mas foi o próprio Chávez quem disse que poderá intervir militarmente na Bolívia, para sustentar o regime de Evo Morales, e é perfeitamente possível que venha a ocupar a região do Essequibo, na Guiana. Quanto à Bolívia, não se pode esquecer que está em vigor um tratado que permite à Venezuela manter bases militares em território boliviano; e que os helicópteros e aviões que Morales usa em seus deslocamentos são venezuelanos, como também o são os seus guarda-costas. E, desde que assumiu o poder, Chávez pôs o olho gordo no Essequibo, que considera território integrante de seu país, ilegalmente sob a soberania da Guiana.
Uma aventura militar nas nossas fronteiras obrigaria o governo brasileiro a uma enérgica tomada de posição – que não poderia se restringir a condenações retóricas nos foros diplomáticos multilaterais.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, nega que o governo brasileiro esteja preocupado com o que se passa na Venezuela. Noblesse oblige. Mas o fato é que nem o governo Lula, que há mais de quatro anos tem demonstrado uma incompreensível tolerância em relação às extravagâncias do caudilho Chávez, pode ignorar os efeitos políticos que a aceitação de uma ditadura no Mercosul causará nos meios internacionais – uma vez que isso significaria rasgar a Cláusula Democrática, coonestando um regime de exceção. O governo brasileiro também não poderá deixar de considerar que, a persistir o estado de sucateamento de nossas Forças Armadas, não disporá de nenhum recurso efetivo para dissuadir o coronel Chávez de suas veleidades expansionistas.
O Brasil não conterá o caudilho com palavras suaves e chamados à razão. Chávez só entende uma linguagem. Fará bem o governo brasileiro se, como foi anunciado há dias, acelerar o programa de reaparelhamento das Forças Armadas, dotando-as rapidamente dos meios necessários para a defesa nacional.’
CHADE
Jornalista libertado no Chade diz que ONG mentiu
‘O jornalista francês Marc Garmirian qualificou ontem a atuação da ONG Arca de Zoé no Chade de ‘amadora’. Garmirian faz parte do grupo de três jornalistas franceses e quatro comissárias de bordo espanholas que foi libertado no domingo – após a intervenção direta e pessoal do presidente francês, Nicolas Sarkozy -, acusados de cumplicidade no seqüestro de 103 crianças africanas pela entidade francesa.
O jornalista entrevistou os ativistas da ONG durante a operação no Chade e filmou os integrantes da Arca de Zoé aplicando curativos falsos nas crianças – que têm entre 1 e 10 anos – para que parecessem feridas de guerra. ‘Eu percebi rapidamente que eles (ativistas) eram amadores pelo modo como conduziam as entrevistas com as crianças ou com as pessoas que traziam os menores.’ Garmirian disse que os ativistas mentiram para as pessoas que entregaram as crianças.
‘Eles mentiram para os chadianos e, segundo eles, essa era a condição essencial para o sucesso da operação’, afirmou. ‘Para todos, eles diziam que iriam abrir um orfanato em Abéché e em nenhum momento falaram que pretendiam levar as crianças para a Europa.’
De acordo com a Arca de Zoé, as crianças eram órfãs do conflito em Darfur e seriam adotadas por famílias da França e da Bélgica. Mas fontes oficiais afirmam que muitas das crianças são de uma região chadiana próxima da fronteira com o Sudão.
Ainda estão detidos no Chade seis membros da ONG – acusados de seqüestro e fraude, pelos quais podem ser sentenciados a 20 anos de trabalhos forçados -, um piloto belga e três tripulantes espanhóis do avião fretado pela entidade, sob a acusação de cumplicidade no caso. Ontem, os dez acusados compareceram a um tribunal do país para que prestassem depoimento ao juiz responsável pelo caso.’
INTERNET
Google entra no mercado de celulares
‘O Google anunciou ontem sua estratégia para a telefonia celular. Pelo menos por enquanto, não existe um Gphone. A gigante da internet se uniu a fabricantes e operadoras para colocar no mercado a plataforma de software Android, que inclui um sistema operacional para os celulares e que vai concorrer com o Symbian, que pertence a empresas como Nokia e Ericsson, e com o Windows Mobile, da Microsoft.
‘O Android tem um navegador de internet bastante robusto, que vai permitir usar a internet no celular como se fosse no computador’, afirmou Andy Rubin, diretor de plataformas móveis do Google, em conferência telefônica com jornalistas. O software tem código aberto, ou seja, pode ser usado sem pagamento de licenças e modificado livremente. O kit para desenvolvedores de software estará disponível na semana que vem e os primeiros aparelhos devem chegar ao mercado no segundo semestre de 2008. Android era o nome da empresa fundada por Rubin, que foi comprada pelo Google em 2005.
‘Esse não é o anúncio do Google Phone’, disse Eric Schmidt, presidente do Google. ‘O anúncio de hoje é muito mais ambicioso do que um aparelho.’ Apesar de ter dito que haverá milhares de aparelhos diferentes que usarão o Android, o executivo não descartou o lançamento de um celular da empresa. ‘Não fazemos anúncios antecipados de produtos e não descartamos qualquer possibilidade para o futuro.’
ALIANÇA
Para suportar o Android, foi criada a Open Handset Alliance (OHA), que tem entre seus integrantes, além do Google, empresas como Motorola, LG, Samsung, Qualcomm, Intel, T-Mobile, Sprint Nextel, Telefónica e Telecom Italia. ‘Um tamanho não serve para todos. O Android vai otimizar a experiência de internet no celular’, disse Peter Chou, presidente da HTC, fabricante taiwanesa de celulares que faz parte da OHA. ‘Haverá múltiplos produtos, de múltiplos fabricantes’, disse Ed Zander, presidente da americana Motorola.
Além de competir com a Nokia e a Microsoft, a iniciativa do Google vai oferecer concorrência ao iPhone, da Apple, e ao Blackberry, da RIM. Schmidt faz parte do conselho da Apple. ‘É importante dizer que haverá vários tipos diferentes de experiências móveis’, disse Schmidt.
A principal fonte de receita do Google é a venda de anúncios. A melhora da experiência de navegação na internet via celular deve permitir que a empresa leve seu modelo de negócios para os dispositivos móveis. Hoje, a experiência de navegação na web é incompleta em grande parte dos aparelhos, e oferecer serviços e anúncios no celular depende de acordos com as operadoras.
Com o Android, as operadoras perderiam o controle que têm hoje sobre as aplicações disponíveis para seus clientes. Em compensação, ganhariam no tráfego que seria gerado com uma navegação melhor e com as aplicações que seriam desenvolvidas por empresas independentes para o Android.
Rubin disse que o Google planeja fornecer alguns serviços de hospedagem para aplicativos criados para o Android. Mas preferiu não divulgar informações sobre os requisitos mínimos de configuração do aparelho para o software funcionar e nem sobre a interface do usuário. ‘Como o código é aberto, os desenvolvedores poderão participar do processo para aperfeiçoar a interface’, disse o diretor do Google.’
CINEMA
Incrível Hulk põe favela do Bope na rota de Hollywood
‘Nascida e criada na Favela Tavares Bastos, no Catete, zona sul do Rio, Priscila Paola Nascimento Mendes, de 20 anos , está preocupada. A tarefa dela e de mais quatro vizinhas da Criativa Produções é encontrar 60 figurantes entre os moradores para dez dias de filmagem de Incrível Hulk 2, que começa a ser rodado hoje nas vielas da comunidade, com a presenças do astro Edward Norton e William Hurt – vencedor do Oscar como melhor ator em 1986 pelo filme O Beijo da Mulher-Aranha. A equipe americana se desloca pelos becos com a tranqüilidade garantida pelo Batalhão de Operações Especiais, o Bope, cuja sede, instalada no topo do morro há sete anos garante ao local a fama de ser a única comunidade sem a presença do tráfico ou de milícias. Norton esteve sábado na favela com a equipe – anônimo e sem seguranças. Além da Tavares Bastos, os Arcos da Lapa e a Praia de Ipanema servirão de cenário.
‘Já filmaram filmes nacionais e novelas aqui, mas é a primeira vez que vejo uma movimentação tão grande de equipamentos e pessoal’, revelou Priscila. Desde que foi descoberta como cenário sem riscos reais para produções cinematográficas, a favela tem uma agenda apertada de gravações. Já serviu de locação para os filmes 174 e Orfeu e para a novela da Rede Record Vidas Opostas. Com o monstro verde, a Tavares Bastos entrará na rota das produções internacionais.
Na trama, o melancólico cientista David Banner (Norton) busca a cura para a mutação que o transforma em Hulk no Brasil. O sigilo é total. Todos os envolvidos assinaram um contrato que os obriga a guardar segredo sobre o enredo. Mas sabe-se que haverá uma fuga do Hulk sobre os telhados dos barracos. A produção reforçou as lajes e pagou R$ 100 a cada morador que cedeu a casa. Um barraco cinematográfico foi construído e a parafernália montada na favela deve garantir explosões e efeitos pirotécnicos. Desde a semana passada, a equipe montou seu QG na pousada The Maze, do inglês Bob Nadkarni. ‘Suspendi até os shows de jazz’, disse o inglês.
‘As filmagens alteram a rotina da comunidade. Orientamos eles a exigirem uma contrapartida que gere emprego e estudo’, ressaltou o major Vargas, do Bope, um elo entre a tropa de elite e a comunidade, que caminha desarmado pelos becos. De acordo com os moradores, desde que o Bope se mudou para o antigo hotel-cassino Guinle, os bailes funks acabaram.
‘Para a comunidade, as filmagens representam chances para quem está sem emprego. Em algumas cenas serão necessárias 60 crianças e isso envolverá os pais também’, afirmou a médica Martha da Conceição Costa, de 54 anos, presidente da Associação de Moradores da Tavares Bastos. Ela afirma que a entidade nada cobrou para a produção.
A única exigência foi a contratação da mão-de-obra local. A associação também receberá a doação de R$ 10 mil para a construção de um posto de saúde. ‘Antes, as crianças aqui brincavam simulando situações violentas, mas hoje brincam de cinema. A cultura do lugar está mudando com a chegada do cinema’, afirmou Martha.
As doações realmente não são os únicos frutos das várias filmagens na favela. Com três filmes no currículo, o ator Alessandro Maciel, ‘cria’ da Tavares Bastos, coordena uma equipe de 50 moradores cuja tarefa é a produção de locação, ou seja, negociar com moradores e a equipe estrangeira o que servirá de cenário. ‘Não posso falar muito, mas os moradores estão muito contentes’, disse o rapaz. Ele ainda serve de inspiração para os alunos do cineasta cubano Antonio Molina, que ensina teoria cinematográfica, roteiro e produção em oito cursos para 50 moradores da comunidade no projeto Viajando na Telinha.’
TELEVISÃO
Gugu, o retorno
‘O Domingo Legal, do SBT, voltou a incomodar a Globo. Após anos tentando refazer a imagem do programa, abalada com a exibição de uma reportagem falsa com integrantes de uma facção criminosa em setembro de 2003, o Domingo Legal está retomando, pouco a pouco, a sua audiência.
Anteontem, a atração de Gugu Liberato chegou a ficar 11 minutos na frente da Globo – mais precisamente na frente do Fantástico – e registrando média de 14 pontos de ibope em seu horário de exibição, ante 20 pontos da Globo e 12 pontos da Record, segundo medição prévia na Grande São Paulo.
No mês de outubro, o Domingo Legal registrou 11 pontos de média, ficando em vários momentos bem próximo à liderança. No dia 7 de outubro, por exemplo, o programa do SBT alcançou média de 17 pontos no horário, encostando novamente no Fantástico. Segundo a medição do Ibope, no mês passado a Record registrou média de 9,8 pontos no horário e a Globo, 22,3 pontos. Boa parte dessa recuperação de Gugu tem a ver com quadros ligados a educação e cidadania que o programa vem promovendo, como o Livro Legal, que incentiva a leitura.’
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Folha de S. Paulo
Terça-feira, 6 de novembro de 2007
PERSONAGENS POLÍTICOS
Caricaturas viram gente
‘SÃO PAULO – Era uma vez o tempo em que comediantes faziam caricaturas de políticos. Como, para citar um só exemplo, o ‘Justo Veríssimo’, criado por Chico Anísio séculos atrás.
Os tempos mudaram. Agora são os políticos, quase todos, que procuram se adequar à caricatura. Como, também para ficar em um só exemplo, o deputado Fernando Ferro (PT-CE), responsável pelo pedido para desarquivar a emenda que permite a reeleição ilimitada de governantes.
Justificou-se assim, segundo o ‘Painel’ de domingo: ‘Fui oposição muito tempo. Agora sou governo, e gosto muito. Não pretendo mais deixar de ser. Desejo longa vida à oposição… na oposição’.
Nada que não coubesse à perfeição na boca de ‘Justo Veríssimo’ se as caricaturas não tivessem se tornado dispensáveis, já que os caricaturados assumem gostosamente o papel delas.
O deputado poderia ter ao menos acrescentando alguma frase épica, dessas com os quais os políticos enchem a boca e ninguém mais acredita. Do tipo: ‘Quero o poder para dar o melhor de si para fazer do Brasil um grande país’.
Imagino que 99,9% dos políticos, de 99,9% dos partidos, pensem rigorosamente como Ferro. O parlamentar não está, pois, dizendo nenhuma novidade, fazendo nenhuma revelação. Mas houve um tempo em que, pelo menos, havia um certo pudor -ou fingia-se um certo pudor. Todos sempre adoraram o tal de ‘puder’, mas a maioria fingia que não era apenas pelo gosto de usufruir de suas inúmeras benesses, as legais e as nem tanto.
O que mudou, na política brasileira, foi o banimento do pudor ou do fingimento de pudor. Não deixa de ser um progresso: antes dizia-se ‘ou restaure-se a moralidade ou nos locupletemos todos’; agora já não é preciso fingir estar interessado em restaurar a moralidade.’
Marcos Nobre
Lembretes
‘QUANDO EM APUROS , políticos costumam ‘submergir’. Desaparecem, viajam ao exterior em missão oficial, cuidam de assuntos pessoais. Confiam em que as águas vão se acalmar com o passar do tempo. De algum tempo para cá, há mesmo quem nem mais se dê a esse trabalho e continue tocando a vida política como se nada houvesse.
Para evitar o que poderia parecer uma estranha antecipação do espírito natalino, vai abaixo uma breve lista de lembretes. Bastante recentes, aliás. Porque calmaria no Brasil é só esquecimento mesmo.
No dia 8 de outubro, o ex-ministro e atual deputado Paulo Renato Souza enviou à Folha texto para ser publicado na seção ‘Tendências/Debates’. Junto com o artigo, o jornal recebeu também correspondência trocada com o presidente do banco Bradesco. Dizia o seguinte: ‘Em anexo, vai o artigo revisto. Por favor, veja se está correto e se você concorda ou tem alguma observação’.
Segundo a reportagem da Folha, o artigo era contra a incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina pelo Banco do Brasil. O deputado afirmou que buscava apenas uma opinião técnica sobre o assunto e rejeitou qualquer acusação de lobby. Mas retirou o artigo de publicação. E não falou mais no assunto.
Em 18 de setembro, o ministro Walfrido dos Mares Guia foi acusado por relatório da Polícia Federal de ter participação no chamado ‘valerioduto mineiro’. Ele teria atuado para indicar políticos que receberiam dinheiro da campanha de Eduardo Azeredo (de quem havia sido vice-governador) e levantado empréstimos no Banco Rural.
Até hoje não houve a denúncia pelo procurador-geral da República. E Mares Guia continua a atuar de maneira desenvolta como ministro das Relações Institucionais.
É possível que as recentes investigações sobre a cooperativa habitacional dos bancários atinjam o deputado Ricardo Berzoini, que se licenciou da presidência do PT e ‘submergiu’ por causa do escândalo da campanha eleitoral de 2006, conhecido como ‘dossiê dos aloprados’.
Na época, em entrevista ao programa ‘Roda Viva’, Lula disse o seguinte: ‘Ricardo, você, que é o presidente do PT, tem obrigação de apresentar para a sociedade brasileira a resposta, Ricardo’. Ele não deu [a resposta]. Eu o afastei da coordenação da campanha’. Berzoini continua não respondendo. Segue candidato favorito à reeleição à presidência do PT. E as investigações sobre o dossiê continuam paradas.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
Nova ordem (ou não?)
‘No ‘Financial Times’, ‘PetroChina bate em US$ 1 tri’. Ao lançar ações em Hong Kong, ‘vale mais que a Exxon e a GE somadas’. Mas ‘para alguns é sinal de bolha’ nos emergentes. O ‘Wall Street Journal’ abriu por aí, ‘PetroChina passa Exxon (ou não?)’. A sombra de bolha cresceu depois que Alan Greenspan apontou ‘exuberância irracional’ na China. Mas a Bloomberg deu reportagem para afirmar o oposto, com analistas e confrontando PIB/valor das empresas: ‘Brics estão só nas primeiras etapas da alta’, estão até ‘baratos’.
NEGÓCIO DA CHINA
O blog de Lauro Jardim deu o encontro de brasileiros com o Fundo Soberano da China, de ‘US$ 200 bi para investir mundo afora’. Por aqui, ‘os chineses interessam-se por investir em infra-estrutura’.
RITMO LATINO
O ‘FT’ aponta ‘novo ritmo na América Latina’, foco de gerentes de diversos fundos.
E o ‘Telegraph’ noticia que a Bolsa londrina já ‘corteja’ empresas brasileiras e outras a lançarem suas ações por lá.
GISELE E O DÓLAR
Em destaque na home da Bloomberg, ‘Supermodelo Gisele Bündchen se une a fundos que jogam fora o dólar’. Quer, ‘como os investidores bilionários Bill Gross e Warren Buffett, quase qualquer moeda, menos o dólar dos americanos’.
RELAÇÕES RECOMPOSTAS
No ‘JN’ e sites, o anúncio da viagem de Lula à Bolívia -e antes da Petrobras, para fechar investimento em troca de gás. Também a promessa de Lula de que não vai faltar, após falar com Evo Morales ao telefone. Evo que antes, na AP, cobrou dele a ‘persuasão’ da Petrobras. O boliviano ‘La Razón’ já deu o editorial ‘Recomposição de relações’.
O diálogo seria efeito da demanda por aqui. Mas sites do setor apontam ‘atrofia’ do gás na Bolívia, daí as pressões.
PORTAS FECHADAS
Manchete do ‘Valor’, ‘Só 50% dos investimentos em etanol são confirmados’, no Brasil. Na capa do ‘WSJ’, com foto, ‘Motor dos biocombustíveis falha um pouco, pelo custo’, nos EUA etc. E ‘força governos a repensar’.
Mas não a baixar a tarifa sobre a importação de etanol de cana. Destaque da AP, ontem, ‘EUA e União Européia bloqueiam a tentativa do Brasil de reduzir tarifas sobre biocombustíveis via Organização Mundial do Comércio’.
LOUISIANNA E A CANA
O ‘Daily Advertiser’ de Louisianna, no Sul dos EUA, deu série de quatro dias sobre ‘a Meca do etanol’, o Brasil. No título geral, ‘Abastecendo o futuro de Louisianna’, um dos Estados a produzir cana.
FLÓRIDA E A CANA
E o governador da Flórida surgiu no site do ‘WSJ’ e outros dizendo que o Estado ‘pode ser a porta de entrada ao etanol brasileiro nos EUA’. Mas acha que a tarifa só deve baixar no próximo governo.
TANTO CARRO, NUNCA
Na manchete dos sites de ‘Gazeta Mercantil’, Reuters Brasil e outros, os dados da indústria, que ‘emprega mais, aumenta vendas e segue forte’. De outro lado, na home da Veja On-line, ‘mais um mês de festa para as montadoras: outubro bateu todos os recordes históricos da indústria de automóveis no Brasil. Nunca se vendeu tanto carro’.
‘O DRAMA’
As hipóteses ficaram em segundo plano, ontem. Nas escaladas de ‘JN’ e demais e nas páginas iniciais de UOL e demais, a imagem recorrente de Laís, 11, e seu ‘relato’.’
CHADE
Folha de S. Paulo
Para repórter preso, ONG era amadora mas não teve má-fé
‘De volta à França, os três jornalistas presos com membros da ONG Arca de Zoé no caso dos ‘órfãos de Darfur’ e libertados anteontem no Chade afirmaram que os integrantes do grupo desconheciam a lei local, mas ‘não pareciam traficantes [de crianças]’.
O grupo de 17 europeus -além dos jornalistas havia quatro aeromoças espanholas também soltas no domingo e seis membros da ONG francesa, um piloto belga e três tripulantes espanhóis ainda presos- foi detido no último dia 25 no Chade quando tentava embarcar 103 crianças que diziam ser ‘órfãos der Darfur’. Posteriormente descobriu-se que elas eram chadianas, da região fronteiriça, e que apenas 12 eram órfãs. O Chade proíbe adoções internacionais.
Segundo o repórter Marc Gamiriam, o ‘amadorismo’ dos membros da ONG ‘teve conseqüências dramáticas para as crianças’, embora ele afirme que nunca viu sinais de que os meninos estivessem sob um risco ‘tão grande que ele tivesse que usar a câmera para intervir’. ‘Eles [a ONG] continuam convencidos da legitimidade da missão que atribuíram a si próprios, que é libertar órfãos da guerra de Darfur.’
O jornalista que fazia a cobertura das atividades da Arca de Zoé só foi solto depois de o presidente da França, Nicolas Sarkozy, intervir, indo pessoalmente ao Chade. Dez europeus continuam presos no país, onde podem ter de responder à Justiça. Sarkozy, no entanto, defende um julgamento em Paris.
As crianças, menores de dez anos, seriam entregues a famílias francesas e belgas que pagaram até 6.000 em ‘ajuda de custo’ à ONG.’
ESTADO DE EMERGÊNCIA
Presos no Paquistão podem ser 3.500
‘Novos protestos da população contra a imposição do estado de emergência no Paquistão no último sábado levaram a confrontos violentos com a polícia e a milhares de prisões ontem. Armados com bombas de gás lacrimogêneo e bastões de madeira, policiais atacaram advogados que protestavam contra o decreto e a suspensão da Constituição em três das maiores cidades do país -Lahore, Karachi e Rawalpindi.
Relatos sobre o número de detidos desde o fim de semana variam. Para o jornal ‘New York Times’, que cita fontes do governo paquistanês, ao menos 150 advogados só em Lahore e 500 opositores em todo o país foram presos. Já a agência Associated Press estima que há 3.500 detidos, segundo analistas, e metade deste número, de acordo com dados oficiais.
O ditador paquistanês, general Pervez Musharraf, impôs o estado de emergência há três dias e o justificou pela crescente oposição no Judiciário, na mídia e entre grupos políticos -que, segundo ele, ‘prejudicam o combate ao terrorismo’.
Estudantes universitários e jornalistas também participaram de protestos ontem, e o maior grupo de mídia do Paquistão, Jang Group, afirmou ter recebido ordens para não imprimir um jornal vespertino -mas desobedeceu. Desde sábado, Musharraf impede a transmissão de canais privados e internacionais de TV.
Especula-se que o estado de emergência tenha sido instituído para evitar que a Suprema Corte anule a recente reeleição do ditador, em outubro -a Constituição impede que o presidente acumule o cargo de chefe das Forças Armadas. A decisão deveria sair nesta semana, mas os juízes da Suprema Corte foram destituídos.
Eleições
Acusado de dar um segundo golpe no Paquistão -ele tomou o poder em 1999-, Musharraf sofre intensa pressão internacional para deixar a farda e convocar eleições gerais, sobretudo por seus aliados em Washington. Ele afirmou ontem que mantém seus planos de se tornar civil.
A dúvida sobre as eleições, porém, permanecem. Com o decreto, o governo sugeriu que a votação, prevista para janeiro, poderia ser adiada por um ano.
Ontem, nem o premiê do país, Shaukat Aziz, nem o próprio Musharraf citaram a data prevista para a realização das eleições em suas declarações.
Segundo Aziz, casos em análise na Suprema Corte -incluindo a reeleição do ditador- deverão ser resolvidos antes da votação. Apenas o procurador-geral do país, Malik Abdul Qayyum, deu sinais de que as eleições serão mantidas. Segundo ele, ‘ficou decidido que não haverá adiamento da eleição’. ‘Em 15 de novembro as assembléias [nacional e provinciais] serão dissolvidas e as eleições deverão ocorrer após 60 dias.’
Pressão internacional
Ainda ontem, o presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou esperar que Musharraf ‘restaure a democracia o mais rápido possível’. Washington informou ter suspendido negociações anuais sobre defesa com o país, mas não foram anunciados cortes na ajuda financeira -o Paquistão é o maior aliado dos EUA na região em sua ‘guerra contra o terror’ e desde 11 de setembro de 2001 recebeu US$ 10 bilhões.
O Reino Unido também se estuda mantém ou não a ajuda. A Holanda foi o primeiro país a suspender o fluxo financeiro devido ao estado de emergência, bloqueando o envio de 15 milhões.’
INTERNET
Google criará softwares gratuitos para celular
‘O Google confirmou ontem que está desenvolvendo um pacote de aplicativos gratuito para celular, para que a empresa disponibilize anúncios e serviços para pessoas que não estão em frente ao computador.
O anúncio põe fim a meses de especulação a respeito dos planos da empresa para a área de telefonia móvel. Entretanto, os primeiros aparelhos equipados com o pacote do Google estarão disponíveis no mercado apenas no segundo semestre de 2008.
O Google não fabricará celulares e diz que não planeja estampar sua marca nos aparelhos. Ele trabalhará com fabricantes que concordarem em usar seu sistema operacional.
Para ter acesso ao software, os consumidores terão de comprar um aparelho novo, porque o pacote não foi desenvolvido para produtos já existentes no mercado.
Cerca de 30 marcas já aderiram à plataforma, entre elas Motorola, Samsung e LG.
Engenheiros da companhia trabalham nesse projeto há três anos, por meio de uma empresa chamada Android Inc, que o Google comprou em 2005.
O objetivo da empresa é levar, do computador para o celular, a gama de serviços para internet que oferece, mercado este que sofre com problemas na padronização dos aplicativos e no design dos aparelhos.
Segundo a companhia, o sistema será a ‘única plataforma realmente aberta e abrangente para aparelhos celulares’.
O pacote do Google será baseado em sistemas de código aberto para computador, que podem ser mais facilmente manipulados por programadores. Segundo a Sprint Nextel Corp, operadora que faz parte da ‘aliança’, a plataforma será baseada no Linux.’
TELEVISÃO
Consumo de TV cresce, mas redes caem
‘A TV aberta está mesmo perdendo público para outras mídias, como defende o autor de ‘Duas Caras’, Aguinaldo Silva.
Em outubro, o número de televisores ligados na Grande São Paulo cresceu 0,5 ponto em relação a setembro, mas a audiência das cinco redes comerciais (Globo, Record, SBT, Band e Rede TV!) caiu 0,5 ponto. Em um mês, a TV aberta comercial perdeu um ponto, o equivalente a 71% da audiência da Rede TV! (1,4 ponto). Os dados são do Ibope, da faixa das 7h à 0h.
De cada cem televisores ligados, 81 estavam nas cinco redes comerciais, o menor índice do ano. Dos 19 restantes, menos da metade estava em outras TVs (Cultura, Gazeta, MTV e canais UHF). O restante, provavelmente, estava sintonizado em canais pagos ou ligado em DVDs ou videogames.
Depois de cair a 42,1% em setembro, o número de TVs ligadas subiu para 42,6%, um percentual ainda baixo _em janeiro, mês de férias, era de 44,4%; há um ano, atingia 46,2%.
As cinco redes, juntas, deram 34,6 pontos percentuais. Pela primeira vez no ano, o número de TVs não sintonizadas nas redes comerciais atingiu oito pontos (ou 8% dos domicílios da Grande SP: 440 mil casas).
A Globo, com 21,4 pontos em 2006, em outubro marcava 17,8. Em relação a setembro, Globo e Band perderam 0,2 ponto cada uma, e o SBT, 0,1. Record e Rede TV! mantiveram os números de setembro.
CALDEIRADA 1 Em alta na Globo, o ‘Caldeirão do Huck’ terá pela primeira vez um especial de fim de ano. A edição, no ar no último sábado de 2007, terá o nome de ‘A Festa É Sua’.
CALDEIRADA 2 Segundo Luciano Huck, uma única família, sorteada entre as 500 mil cartas que o programa recebeu só neste ano, participará de todos os quadros. Terá a casa reformada no ‘Lar, Doce Lar’, o carro turbinado no ‘Lata Velha’ e ganhará uma viagem no ‘Aventura em Família’, além de um show de uma banda nacional no próprio quintal.
AGENDA A Globo começa a gravar em janeiro sua próxima novela das oito, a primeira a ser ambientada em Brasília. A estréia está prevista para abril.
MALDIÇÃO O último capítulo da novela ‘Eterna Magia’ marcou 27,3 pontos na Grande São Paulo, número baixo para o encerramento de uma novela das seis.
NÃO COLOU Depois de duas semanas de empolgação no Ibope, a nova temporada de ‘Malhação’ já decepciona. Na sexta, deu 17,2 pontos, menos do que a reprise de ‘Da Cor do Pecado’. E ‘O Sistema’ estreou com 15.
ANTENADA Uma telespectadora de Porto Alegre, integrante da amostra do Ibope (ela tem um aparelho que detecta qual canal sua TV está ligada), muda de emissora toda vez que Antonio Fagundes aparece em ‘Duas Caras’. Diz que não o suporta mais e que Juvenal Antena é igual ao Pedro de ‘Carga Pesada’.’
Lucas Neves
Nova temporada aposta em nerds
‘Não é só por aqui que as maquinações do ‘sistema’ andam inspirando os roteiristas. Se o personagem de Selton Mello em ‘O Sistema’ (Globo) trava batalha para reaver dados e identidade apagados por uma operadora de telemarketing rancorosa, a peleja do protagonista da série ‘Chuck’ (estréia amanhã) é para se livrar de informações sigilosas de órgãos de inteligência dos EUA que foram parar em seu cérebro.
Expliquemos: o nerd Chuck certo dia recebe um e-mail de um amigo dos tempos de faculdade que é agente informal da CIA. Ao ler a mensagem, inicia, sem querer, o ‘download’ do conteúdo (que inclui relatórios ultrassecretos da CIA e da Agência de Segurança Nacional) para o próprio cérebro. A partir daí, passa a ser perseguido pelas duas instituições: sua casa é invadida, seu computador pessoal, destruído. Ao perceberem que a tal ‘queima de arquivo’ demandará um óbito, os agentes decidem cooptar Chuck. O programa, recebido com frieza nos EUA, se equilibra bem entre ação, ficção científica e tiradas cômicas.
Também são nerds as estrelas de ‘The Big Bang Theory’, sitcom que estréia hoje mostrando dois colegas de apartamento atarantados pela chegada de uma loira espetacular à casa ao lado. Judd Apatow faz melhor…
CHUCK/THE BIG BANG THEORY
Quando: amanhã, às 20h (‘Chuck’); hoje, às 20h (‘The Big Bang Theory’), na Warner’
ENTREVISTA / SUSANA VIEIRA
‘Cachorro é um ser humano que une as pessoas’
‘A morte, por atropelamento, de Heitor, pastor alemão de Susana Vieira, movimentou a TV Globo na semana passada. A atriz, estrela da novela ‘Duas Caras’, chorou, brigou com o marido -e, ontem, falou com a coluna sobre o drama:
FOLHA – Como o Heitor foi parar na sua casa?
SUSANA VIEIRA – Comprei pela internet uma cadela e o Heitor veio junto porque o dono dela queria empurrar o cachorro. Ele tinha sete meses, tinha displasia [defeito na pata] e ninguém quis comprá-lo. O que eu sei, meu amor, é que assim que chegou em casa o cachorro começou a lamber a cara do Marcelo e o Marcelo começou a lamber a cara do cachorro. Aí comprei. A gente contratou de tudo: homeopata, ‘psiquiropata’, floral, fisioterapeuta. E o cachorro estava uma maravilha quando sofreu acidente e morreu atropelado. É uma pena que, dentro de um lar, entre um casal que se ama, tem um cachorro, e ele se vai.
FOLHA – Já tem cachorro novo?
SUSANA – Continuo com um casal, os yorkshire Scarlett O’Hara e o Clark Gable. E agora ‘tô’ com um bebezinho de dois meses aqui, porque o Clark, minha filha, traiu a Scarlett, arrumou uma mulher fora e teve um bebê fora de casa. E ainda trouxe o bebê para a Scarlett criar o problema! Na verdade, o dono da cachorrinha que ele ‘namorou’ me trouxe o bebê.
FOLHA – A Scarlett perdoou?
SUSANA – Não, estão se estranhando! [risos] É como na vida real, cara: ele arrumou uma mulher fora, engravidou a mulher. A Scarlett ‘tá’ muito doida. Qualquer uma de nós ficaria!
FOLHA – O Heitor foi enterrado?
SUSANA – Não, foi cremado. Não fiquei com as cinzas, não teve nenhum tipo de cerimônia. A imprensa chegou até a publicar que enterrei o cachorro no sítio do meu ex-marido. Imagine! Aqui no Rio não dá para falar com jornalistas porque há uma corja que trabalha em jornais especificamente de popularidade necrófila. Ninguém respeita nada.’
FOTOGRAFIA
Mostra revela pioneira em fotografias de guerra
‘DE NOVA YORK – A carreira da fotógrafa Gerda Taro, encerrada prematuramente em 1937, na batalha pela cidade de Brunete, durante a Guerra Civil Espanhola, sempre ficou à sombra da do seu companheiro Robert Capa. É uma imagem dele, ‘The Falling Soldier’ (o soldado caindo), a lembrada quando se fala do conflito. Mas agora o nova-iorquino Centro Internacional de Fotografia (International Center of Photography, ICP) está fazendo justiça ao trabalho e ao talento de Gerda, uma das pioneiras na fotografia de guerra, com a maior exposição de fotos de sua autoria já realizada.
‘O processo de localizar e identificar as obras da fotógrafa no nosso acervo, em agências e na coleção de Cornell Capa [irmão de Robert], durou aproximadamente dez anos. A mostra é o ápice dessa pesquisa’, explica a curadora Kristen Lubben.
Gerda nasceu Gerta Pohorylle em Stuttgart, Alemanha, em 1910. Foi presa por colaborar com militantes antinazistas e, posta em liberdade condicional, fugiu em 1933 para Paris. Lá conheceu o húngaro Endre Friedmann, que pouco depois adotaria o nome Capa e se apresentaria como renomado fotógrafo norte-americano.
Pelo desafio profissional e por afinidade política com a Frente Popular, a dupla aceitou cobrir a guerra na Espanha para a revista francesa ‘Vu’. A exposição, que está em cartaz até 6 de janeiro no ICP, inclui originais de algumas dessas imagens. Em alguns casos, elas são creditadas a Capa porque, por estratégia comercial, por um período os dois vendiam seu trabalho sob essa alcunha.
As primeiras 32 imagens da exposição vão de 1936 até o início de 1937. Com a sua Rolleiflex, ela registrou bastidores do conflito e as vítimas. Destaques são a série que retrata as mulheres se preparando para o combate, aprendendo a atirar, a que mostra os refugiados e a dos órfãos. Depois, tendo trocado a máquina para uma Leica, foi para a frente de batalha.
A partir daí surgem as suas obras mais fortes. Datam de maio e junho de 1937 impressionantes retratos de militares no leito do hospital, cadáveres, soldados feridos em campo.
Pioneirismo
‘Gerda desafia a idéia de um estilo feminino nessa arte -ela é politicamente comprometida, uma jovem fotógrafa que está tentando estabelecer uma carreira para si e obter imagens que poderiam ser vendidas para uma revista e ajudar a causa da República’, define Lubben.
Gerda foi a primeira fotógrafa mulher a morrer em uma cobertura de guerra. O carro em que ela viajava saindo de Brunete foi atingido por um tanque de guerra em 26 de julho de 1937. Era o dia em que voltaria para Paris. Seu companheiro esperava convencê-la a reconsiderar a sua proposta de casamento, recusada pouco antes.
Enquanto as imagens de Gerda ocupam o principal espaço da galeria, a exibição de de Capa está no subsolo. Ele já esteve sob os holofotes em ocasiões anteriores -seu irmão fundou o ICP. O destaque é exatamente ‘The Falling Soldier’, de setembro de 1936, que mostra um combatente no momento em que é atingido por um tiro.’
TROPA DE ELITE
Fracasso do pensamento
‘UM MUNDO sem reflexão, onde a violência da realidade obriga o sujeito a deixar de pensar para agir, cedendo ao senso comum, ao simplismo e ao pragmatismo cínico, recorrendo ao preconceito e a ações impensadas que antes ele condenava, quando essa mesma realidade ainda não o atingia diretamente e ele podia repetir belas teorias da boca para fora, não é um mundo menos hipócrita (como alguns gostariam), é um mundo pior. Um mundo sem arte (no qual a arte, aceitando a pecha de ilusão e perfumaria, cede ao consenso da realidade e passa a funcionar como jornalismo e sociologia) também.
É nesse mundo desiludido que a representação de jovens tolos e inconseqüentes, repetindo Foucault da boca para fora, para acabar quebrando a cara na prática contraditória do trato direto com a realidade nua e crua, passa a ter um efeito catártico junto a platéias em busca de um bode expiatório.
É desse mundo (o do fracasso do pensamento) que trata ‘Tropa de Elite’: onde só é permitido escapar à violência (e deixar de ser violento) fora da realidade -tudo o que o capitão Nascimento quer, ou diz querer, é sair desse mundo (onde quem pára para pensar morre), para poder cuidar em paz do filho e da família.
Gostei do filme, embora tivesse preferido o longa-metragem anterior de José Padilha, o documentário ‘Ônibus 174’. Não acho o filme fascista. Mas é inegável que, como qualquer representação da realidade, ele tem um discurso (que não é exatamente o mesmo do capitão Nascimento), a despeito de dizer que se limita a mostrar a realidade. E não é um discurso novo. É o discurso de um realismo funcional que volta e meia reaparece para dizer que a realidade é o que é. E que só os fatos (ali representados) contam.
Num mundo em que o jornalismo substitui a filosofia (e em que a arte se esconde como discurso para se apresentar como espelho de uma realidade unívoca), é lógico que o bom senso não tem vez. A demagogia e a ira, sim. É preto no branco. Produção de subjetividade é coisa de elite irresponsável. Aqui, nós tratamos de fatos objetivos.
Com o desbaratamento das idéias, este passa a ser um mundo de polarizações em torno de questões simplistas e indiscutíveis. Não se produz pensamento; tomam-se partidos. Vozes da ponderação e do conhecimento de causa -como a de Alba Zaluar, que exercita o bom senso semanalmente e sem maiores alardes nas páginas deste jornal- vão se tornando inaudíveis em meio ao bruaá dos lugares-comuns estridentes. O bom senso não aparece, porque não tem graça nem dá manchete. As idéias foram reduzidas a representações sociais. Basta que cada um fale e seja reconhecido como representante do seu grupo social (e que muitas vezes se aproveite disso para respaldar a banalidade ou a demagogia do que diz). O que conta não é o teor das idéias (em geral, as mais simplistas), mas que sirvam para identificar o lugar social de quem as manifesta no campo de batalha. Essa aparente desordem apenas encobre uma ordem geral, o consenso em torno da realidade como um campo de forças autônomo, um teatro de ação e reação, imune à reflexão e à inteligência.
Foi em meio a esse contexto que bati com os olhos na recém-publicada edição espanhola dos artigos e palestras do dramaturgo francês Enzo Cormann: ‘Para que Serve o Teatro?’ (Universidade de Valência). Na conferência de 2001 que dá título à coletânea, o autor diz que o teatro (e de resto toda arte que se preze), por ser reflexão, ‘consiste em reinjetar subjetividade num corpo social entrevado pelo uniforme demasiado estreito do pragmatismo econômico’ -ou (por que não?) do realismo oportunista que reivindica para si uma pretensa objetividade, condenando ao mesmo tempo toda produção subjetiva à impotência e ao ridículo, como se dela não fizesse parte.
Em nome de uma representação unívoca da realidade, o discurso embutido em ‘Tropa de Elite’ (que não se assume como discurso) limita a própria possibilidade de produção de subjetividade a quem está fora desse mundo, ao diletantismo ridicularizado de estudantes inconseqüentes. Ao associar a produção de subjetividade aos ricos, aos tolos e aos irresponsáveis, como se tampouco estivesse produzindo subjetividade, o filme acaba, provavelmente sem perceber, dando um tiro no próprio pé, pois contribui para estreitar o entendimento do que num passado não muito remoto, e graças ao esforço e à resistência de grandes cineastas, garantiu ao cinema um lugar entre as artes, justamente como produção de subjetividade.’
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