O cientista coreano Hwang Woo-suk se tornou referência em todo o mundo pelo pioneirismo em seus estudos de clonagem de células-tronco humanas embrionárias, em 2003, e por desenvolver, este ano, experimentos com células-tronco geneticamente modificadas para determinados fins, que podem ser úteis tratamentos para doenças como o Mal de Parkinson. Ambas as pesquisas foram divulgadas na revista americana Science. No entanto, a autenticidade de seus estudos foi questionada pela rede de televisão coreana MBC, que em novembro acusou o cientista de usar óvulos de duas de suas pesquisadoras – procedimento considerado antiético. Woo-suk admitiu que as acusações eram verdadeiras e renunciou a todos os cargos que ocupava em universidades e centros de pesquisa coreanos e internacionais, pedindo desculpas à comunidade científica.
O cientista e seus colegas de trabalho, entretanto, criticaram violentamente a atitude da MBC. Em entrevista ao canal a cabo YTN, o biólogo Kim Son-jong afirmou que a MBC o havia chantageado para fornecer informações que indicavam que o estudo de Woo-suk sobre células-tronco, que possuem a capacidade de formar vários tipos de tecidos, não passava de uma fraude. Son-jong teria dito que não fez nenhum comentário desfavorável a Woo-suk, negando a afirmação de produtores da MBC de que ele teria feito uma confissão questionando a autenticidade dos estudos do cientista. O biólogo trabalhou para Woo-suk com experimentos de clonagem de células-tronco humanas, que este ano tiveram um notável avanço.
O braço direito de Woo-suk, o professor Kang Sung-keun, da Universidade Nacional de Seul, também criticou a MBC e seus testes de DNA em cinco linhagens de células-tronco. Na semana passada, produtores da emissora que trabalharam em um programa investigativo chamado PD Notebook alegaram que as células-tronco modificadas de Woo-suk não eram autênticas. Os produtores contaram em uma coletiva de imprensa que pediram ao instituto de pesquisa IDGene para testar, por duas vezes, 15 amostras de células-tronco fornecidas pela equipe de Woo-suk e concluíram que uma das amostras de DNA não combinava com a célula somática do doador. No entanto, o IDGene não pôde verificar os perfis de DNA no restante das 30 amostras. Por esta razão, o produtor Han Hak-soo insiste em pedir à equipe de Woo-suk para conduzir um segundo teste para tirar quaisquer dúvidas, o que o cientista se recusa a fazer.
‘Nós fornecemos cinco células alimentadoras ou nutrizes de um único camundongo para a MBC. Os testes da TV mostraram que todas elas tinham diferentes estruturas de DNA. Isto significa que o teste está cheio de erros e não podemos aceitá-lo’, afirmou Sung-keun. Em resposta, a MBC alegou que os comentários de Sung-keun são contrários aos de Woo-suk. ‘Quando Woo-suk nos deu amostras de células-tronco, ele afirmou que as células nutrizes eram células humanas, sem referência a camadas de tecidos animais’, informou o produtor Hak-soo.
As células alimentadoras têm um papel fundamental para se obter células-tronco humanas. Neste ano, a equipe de Woo-suk usou células alimentadoras humanas para obter células geneticamente modificadas, uma façanha comparada às maneiras convencionais que dependiam de células alimentadoras de camundongos. As células alimentadoras animais são associadas a riscos como infecções virais ou transmissão de agentes patológicos, tornando as células alimentadoras humanas mais seguras para serem usadas para eventuais aplicações de terapia de substituição de células. ‘Usamos células alimentadoras humanas este ano, mas fornecemos células alimentadoras de camundongos para a MBC, que é mais apropriada para exames de DNA’, afirmou Sung-keun.
Comunidade científica critica MBC
A comunidade científica acredita que os experimentos científicos só podem ser testados e aprovados pelos próprios cientistas, e não por jornalistas que não têm qualificação para fazê-lo. ‘Os resultados científicos são tradicionalmente reavaliados e verificados no próprio círculo científico. As organizações de mídia podem levantar questões éticas, mas não é apropriado para elas confirmarem a verdade de uma pesquisa científica’, informou Cho Moo-je, presidente da Universidade Nacional Gyeongsang.
Uma associação de cientistas afirmou em declaração que ‘é uma tragédia que produtores da MBC, que não são cientistas, levantem suspeitas éticas e tentem estabelecer a verdade sobre a pesquisa de Woo-suk.’ O grupo também pediu que fossem tomadas medidas para evitar que voltem a ocorrer excessos jornalísticos.
Geralmente, um paper científico é testado um ou dois anos após sua publicação, na medida em que outros cientistas que estão estudando o mesmo assunto tentam verificar seus principais pontos antes de realizar seus próprios experimentos. Cientistas alegam que, se realmente há problemas nos estudos de Woo-suk publicados na reconhecida revista Science, cabe a outros cientistas, e não a jornalistas, provar que ele está errado.
No domingo, a MBC divulgou desculpas oficiais por usar procedimentos antiéticos para entrevistar os cientistas. O professor Kim Dong-wook, da Faculdade de Medicina da Universidade de Yonsei, espera que este incidente desenvolva uma discussão mais positiva e uma cooperação entre cientistas, especialistas em ética e imprensa. Informações de Kim Tae-gyu [The Korea Times, 4/12/05] e de Hwang Si-young [The Korea Herald, 6/12/05].