Com bom humor, a relações públicas e empresária de comunicação Regina Sion, abatida por um câncer no sábado (3/11), lembrava sempre, nas conversas com amigos e colegas, dos tempos em que os assessores de imprensa eram recebidos com pouco-caso, quando não aberta hostilidade, nas redações de jornais e revistas. Eram considerados, pelos jornalistas, meros entregadores de releases, mensageiros servis dos maiores interessados na divulgação desta ou daquela notícia – empresas privadas ou órgãos públicos. Ou, então, auxiliares menores do mais bem articulado setor de relações públicas do empresariado.
Algum fundamento havia para essa distorcida situação, de ambas as partes. Do lado dos jornalistas, aquela arrogância tão própria do oficio; do lado do homem de negócios, a falsa – e ofensiva – idéia de exigir a divulgação de seus produtos neste ou naquele jornal, no qual ele fazia sua publicidade paga.
O conflito terá perdurado até os anos 1980, quando um grupo de assessores de imprensa decidiu se organizar de forma mais independente e profissional, marcando sua própria identidade e disciplinadas algumas atividades comuns com relações públicas. Para tanto fundaram sua própria entidade, a ANECE – Associação das Empresas de Comunicação e Assessoria de Imprensa. A partir daí, o objetivo era funcionar com a adequada e correta mentalidade jornalística: se é notícia mesmo, por que não merece ser publicada, ainda que venha de fora, de um dos lados mais empenhados na sua divulgação? Afinal, cabe aos jornalistas fazer o texto final da matéria, a ela agregando informações de outras fontes, o release incluído. Nunca a publicação deste na íntegra.
Dedicação total
A batalha na direção de um melhor entendimento entre as partes, mídia e assessorias, respeito recíproco acima de tudo, foi longa e difícil, mas os resultados hoje são positivos, ainda que tenham gerado também uma perigosa acomodação nas redações, que, devido, entre outros fatores, à velocidade do processo industrial-informativo, mais e mais burocratizadas se apóiam no trabalho do ágil e próspero setor de assessorias de imprensa, agora feito de forma instantânea, via internet.
Regina Sion, com seus olhos claros e jeitão descontraído, sempre disposta a um bom papo, foi uma das integrantes mais aguerridas do grupo paulistano que, por assim dizer, regulamentou a atividade, livrando-a de um estigma comum aos assessores de imprensa (e os relações públicas) da época, uma inclinação nefasta para a conversinha particular, na tentativa de emplacar seu release – publicável ou não.
Já no principio da carreira, Regina, então trabalhando na agência Manager, do jornalista Gilberto Di Piero (Giba Um), levava seus releases às redações com humildade e disposição, gastando o tempo necessário para, texto na mão, mostrar ao redator de plantão a validade e a integridade das informações neles contidas. (Durante algum tempo fui esse redator, na revista Nova, então comandada com dinamismo e fina educação por Fátima Ali).
Mais tarde, Regina fundou sua própria empresa de assessoria de imprensa, a Intermeio, e nela cresceu. É bem possível que nos últimos anos já não visitasse mais as redações, já que para isso contava com uma pequena equipe, mas seu otimismo pessoal e a forma de divulgar a informação de seus clientes, com persistência e ética, serão lembradas sempre por seus amigos e colegas.
Santista de nascimento, 54 anos, empresária incansável, dedicada ao negócio todas as horas do dia, ela, também apegada à família, não escondia seu orgulho pelo sucesso do irmão Roberto, saxofonista, um dos nomes de prestígio da música brasileira.
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Jornalista e escritor