‘1/11/07
O convite dos outros e o nosso
A Folha publicou com destaque, ocupando quase toda a pág. A6, a reportagem ‘Integrantes de CPI vão de graça a show pago pela TAM’.
O jornal está de parabéns. Havendo ou não conflito de interesses, é um direito dos cidadãos conhecer o relacionamento entre alguns parlamentares e a companhia que eles afirmavam investigar.
O jornal contou que na exibição do Cirque du Soleil estiveram presentes, a convite, ‘autoridades, congressistas e jornalistas’. Mas não deu o nome de um só jornalista. A Folha deveria ter explicado a diferença de tratamento.
O tom da edição é o de que haveria conflito de interesses na presença dos senadores.
Porém o novo verbete ‘Ética’ do ‘Manual da Redação’ afirma que ‘é proibido ao jornalista pedir ingresso para eventos culturais, como shows e peças de teatro. Sempre que possível, a Folha pagará pelo ingresso dos profissionais que forem cobrir tais eventos’.
Ou seja, o jornal veta o pedido de ingressos para um espetáculo como o do Cirque du Soleil, mas aceita que seus profissionais ganhem o convite. Não há restrição ao recebimento de convite sem estar a trabalho.
Como, então, cobrar os parlamentares?
Em nome da transparência e da prestação de contas aos leitores, a Folha deveria desenvolver –ou aprofundar– esse debate.
Nem uma palha
Abertura da nota ‘Sem seguro’ (pág. A4), sobre a lista de pedidos de indiciamento na CPI do Apagão Aéreo do Senado: ‘Em meio a tantos nomes suprimidos, chamou a atenção o fato de ninguém ter movido uma palha por Denise Abreu’.
A informação, relevante, coloca em questão relatos da Folha sobre as costas quentes da ex-diretora da Anac, que seria protegida de José Dirceu e do governo.
A história oficial
Título no alto da primeira página do ‘Globo’: ‘Fla no G-4; S. Paulo também é penta’. Ou seja, o Flamengo foi antes, em 1992.
Linha-fina da capa do caderno Esportes, do Estado: ‘Com os 3 a 0 sobre o América, equipe do Morumbi torna-se a maior vencedora da história, com 5 conquistas’. Quer dizer: o Flamengo só tem quatro Brasileiros.
Manchete do ‘Diário de S. Paulo’: ‘É penta – Tricolor é o maior campeão brasileiro’.
Título da capa de Esportes, na Folha: ‘São Paulo é o 1º pentacampeão’.
Título em seis colunas no alto da primeira página que fechou mais tarde: ‘São Paulo é o primeiro pentacampeão brasileiro’.
A chamada esclarece: ‘É o primeiro pentacampeão brasileiro reconhecido pela CBF. A entidade não conta como título nacional o módulo da Copa União conquistado pelo Flamengo em 1987’.
Ou seja, é o primeiro penta na opinião da CBF.
Ao suprimir nos títulos (jornalísticos) a informação sobre o reconhecimento pela CBF, a Folha se associa à controversa história oficial escrita pela controversa Confederação Brasileira de Futebol.
Leitores rubro-negros protestam contra o que consideram bairrismo do jornal.
(Transparência: este ombudsman é torcedor do Flamengo.)
Resposta ao ombudsman
Recebi do editor de Cotidiano, Rogério Gentile, por intermédio da Secretaria de Redação, a seguinte mensagem, pela qual agradeço:
Sobre a crítica interna do dia 30 [terça-feira], no tópico ‘Caso Lancelotti’, gostaria de esclarecer que padre Julio Lancelotti não teve o seu sigilo bancário quebrado pela Justiça.
30/10/07
Ninguém segura este país
No momento em que parcela expressiva do jornalismo nacional festeja a escolha do Brasil como sede da Copa de 2014, comportando-se como porta-voz informal dos organizadores, promotores e apoiadores do evento, é digna de elogio a cobertura da Folha na última semana.
O jornal mantém, a despeito de tropeços menores, a atitude que deve presidir as organizações jornalísticas: fiscalizar o poder –seja o(s) governo(s), a CBF ou a Fifa.
Tons
Título na primeira página da Folha: ‘Para Fifa, CPI não ameaça Copa no país’.
Na do Estado: ‘Fifa oficializa hoje Brasil como sede da Copa de 2014’.
Lobbies
Talvez tenha sido falta de atenção minha, mas não li hoje na Folha informação que está no Globo e no Estado: uma das principais disputas entre governadores dos Estados mais influentes é para receber o Congresso da Fifa e o Centro de Imprensa –a cidade escolhida será a sede da Copa.
Cifrado
O título da capa de Esporte é ‘Antes da festa, Fifa condena política’.
Li e reli o texto. Não identifiquei ‘condenação’ da ‘política’.
Atraso
Abertura da reportagem no alto da pág. D2, ‘Gargalos da economia real desafiam Mundial’: ‘Se a Fifa confirmar amanhã o Brasil como sede do Mundial de 2014…’.
O amanhã é hoje.
E daí?
Nota na pág. E8: ‘Ao vivo – A Globo enviou dois repórteres a Zurique para cobrirem o anúncio do Brasil como sede da Copa de 2014, hoje’.
A Folha, o Globo, o Estado… também enviaram dois repórteres.
Sua Excelência
Como o Datafolha reafirmou há pouco, o Corinthians é dono da segunda maior torcida do país e da maior na praça onde a Folha é publicada.
Os leitores-torcedores corintianos se angustiam com o desempenho da equipe no Campeonato Brasileiro.
Pois hoje a Folha publica um parágrafo, no pé de uma reportagem em pé de página (‘Lyon cobra 400 mil euros a mais, de juros, no caso Nilmar’), para o noticiário do time. Exatas cinco frases.
A contusão de Finazzi, no entanto, interessa mais que os juros da novela Nilmar.
E o jornal dedicou mais espaço a notícias como ‘Pugilistas roubam e são deportados’ (oito linhas); um texto-legenda sobre luta entre pugilistas da Croácia e do Azerbaijão (sete linhas); ‘Surfe – Brasileira busca topo do ranking e 1ª vitória’ (18 linhas); ‘Surfe – Imbituba pode ver campeão mundial’ (oito linhas); ‘Doping – Volante Adãozinho é flagrado em teste’ (oito linhas).
Isso mesmo, a notícia sobre o jogador do Bragantino recebeu mais espaço que a preparação do Corinthians para a partida de amanhã contra o Flamengo.
Não custa lembrar: o jornal é feito para o leitor.
Dois pesos
No dia 30 de agosto, a Folha publicou em alto de página o título ‘Zaga são-paulina conquista marca de palmeirenses’.
Linha-fina: ‘Clube do Morumbi tem agora melhor defesa da história do Nacional, distinção que pertencia ao Palmeiras desde 1973’.
Parágrafo: ‘Completando sua sexta partida sem sofrer gols, o São Paulo tem agora a melhor defesa da história do Nacional, derrubando a marca que pertencia ao clube rival de ontem à noite e perdurava desde 1973’.
O jornal se precipitou, destacando com ares de definitivo um resultado parcial.
Na segunda-feira, uma pequena nota informou: ‘Tento sofrido em Recife [pelo São Paulo] mantém marca palmeirense de 1973’.
Os leitores-torcedores palmeirenses têm razão em apontar o desequilíbrio entre a reportagem de agosto e a notícia de ontem.
Dezenas deles procuraram o ombudsman para reclamar.
Caso Lancelotti
A Folha acertou hoje em não dar chamada de primeira página para o caso. Não havia informação para merecer tamanho destaque. Um alto de página (C8) foi ‘Presa diz que padre Júlio ofereceu dinheiro’. O outro (C9): ‘Testemunha nega ter visto ‘atos libidinosos’.
Ou seja, versões.
Pelo mesmo motivo, acredito que o jornal errou ao pôr na sua capa as chamadas ‘Ex-funcionária acusa padre Júlio de molestar jovem’ (quinta-feira passada), ‘Preso afirma que não viu padre Júlio praticar pedofilia’ (sexta) e, principalmente, ‘Ex-interno diz que fazia sexo por dinheiro com padre’ (na metade superior da primeira página dominical).
Se o jornal trouxesse hoje notícia do Diário de S. Paulo, sobre decisão judicial de quebrar o sigilo bancário de Lancelotti, a informação mereceria chamada na capa.
É legítima a cobertura em curso. Quem acionou a polícia para denunciar a suposta extorsão foi o religioso. Trata-se de informação de interesse público, dada a projeção do padre Júlio. Cabe ao jornalismo ouvir o outro lado –no caso, o das pessoas contra as quais houve queixa.
Apesar da exposição exagerada de versões controversas na primeira página, não constatei até agora ‘condenações’ jornalísticas na Folha, seja contra o padre ou contra quem ele denuncia. Em Cotidiano, há uma série de informações que indicam a inconsistência ou a suspeição tanto da versão do padre como das pessoas que ele denunciou à polícia.
Não sei o que de fato ocorreu entre o religioso e o ex-interno da Febem. E, sem ter Lancelotti como referência, registro que, ao contrário do jornalismo de outros países, o brasileiro não investigou o tema da pedofilia na Igreja Católica como era seu dever.
História
O texto ‘Sem Lula, 50 anos depois’ (pág. A2) afirma que Jânio Quadros foi eleito em 1961.
Na verdade, a eleição presidencial ocorreu em 1960.
Tentáculos e facetas
O artigo do deputado Paulo Renato que acabou não saindo na Folha pôde ser lido domingo no Estado –pelo menos parte dele. Na Folha, o título seria ‘Tentáculos da reestatização’. No Estado, chamou-se ‘Facetas da reestatização’.
A expressão ‘nítida ofensa às regras concorrenciais’, que constava do texto enviado à Folha, se manteve no que o Estado veiculou.
A Folha não publicou o artigo a pedido do deputado, depois que o jornal revelou que o parlamentar consultara o presidente do Bradesco sobre o conteúdo do artigo.
Forfait
Participo amanhã, em São Paulo, do Workshop Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) – Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) de Comunicação.
Por esse motivo, esta crítica não circulará.
29/10/07
Mídia e violência
Participo hoje de debate na Universidade Candido Mendes, no Rio de Janeiro, por ocasião do lançamento do livro ‘Mídia e Violência’ (de Silvia Ramos e Anabela Paiva).
A crítica diária não circula hoje. Volta amanhã.’