Na próxima quinzena meu 11º livro deverá chegar às bancas e a algumas livrarias. É Contra o poder – 20 anos de Jornal Pessoal: uma paixão amazônica (300 páginas, preço ainda não definido). Tenta mostrar porque o Jornal Pessoal pode ser considerado um caso singular na história da imprensa brasileira contemporânea. Contra muitos fatores que o impediriam de vir ao mundo ou de nele sobreviver por mais tempo, o jornal conseguiu completar 20 anos em setembro. Mesmo para os padrões da imprensa alternativa, não deixa de ser um feito.
O livro procura documentar as razões do surgimento da insólita publicação. Apesar de sua pobreza material, ela conseguiu se tornar uma referência em jornalismo e em Amazônia. Seus textos são citados em numerosos livros, científicos ou não, publicados a partir de 1987. Suas matérias circulam em clippings de empresas, de governos e de instituições de pesquisa ou de militância. Ignorar o que quinzenalmente sai aqui significa abrir mão de uma fecunda fonte de informações sobre a ‘ocupação’ da Amazônia, a maior aventura dos brasileiros – e de muitos estrangeiros – neste último meio século.
Amador na aparência, o JP representa uma atitude em relação à maior fonte de recursos naturais do Brasil – e do planeta. Atitude de combate à elite predadora, que toma a esmagadora maioria das decisões sobre o uso desses recursos e os benefícios que – e para quem – eles irão gerar. O combate, contudo, não é voluntarista, à base de vazias catilinárias: os argumentos se sustentam em numerosas provas, pesquisadas em documentos oficiais, publicações diversas, junto a pessoas, ou testemunhadas. Pode-se – e deve-se – discordar do que sai aqui e polemizar com seu autor, mas os fatos que servem de impulso ao raciocínio nas matérias que aqui se publicam são inquestionáveis em sua substância. Esta é a grande arma do jornalismo. Basta exercê-lo com seriedade para alcançar esses frutos.
Ler e difundir
O livro registra os dois anos iniciais desse combate, travado com a arma da verdade e sob o clamor da indignação. Mostra que uma imprensa pobre pode superar a imprensa rica quando se trata de praticar o jornalismo radical, definido etimologicamente (e semanticamente) como aquele que vai às raízes dos fatos, que penetra na camada do cotidiano em busca do significado dos acontecimentos. Ou seja: da história. Nesses dois anos iniciais o JP conquistou seu espaço, que nenhuma outra publicação atingiu nas mesmas condições: tornou-se uma voz autêntica e legítima da Amazônia. Um verdadeiro amazônida.
Por isso mesmo, os que se julgam os donos da região, dos seus numerosos recursos naturais, do seu povo e da sua história, vêm tentando calar de vez o Jornal Pessoal. O novo livro é mais uma contribuição para que essa voz continue a ser ouvida e persista no seu compromisso de dizer a verdade, doa a quem doer. Integrando-se, assim, à melhor tradição do jornalismo, no Brasil e no mundo, agora e sempre.
Espero que o leitor seja receptivo ao convite: de comprar, ler, discutir e difundir Contra o poder, tornando-o um instrumento em defesa da sua terra e da sua gente. Seu. [Reproduzido do Jornal Pessoal nº 404, 1ª quinzena de novembro/2007]
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Jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)