Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O massacre dos quadrinhos norte-americanos

Faz tempo que os quadrinhos nacionais são espremidos pelos comics estrangeiros. Não sou contra a presença dos mesmos no mercado editorial brasileiro. Pelo contrário, acredito que o olhar estrangeiro ao longo dos anos contribuiu para enriquecimento cultural e técnico. Tanto para os profissionais, quanto para as HQ tupiniquins.

A presença dos quadrinhos via syndicates norte-americanos sem dúvida proporcionou a difusão de bons conhecimentos, de traços, argumentos e roteiros para as histórias seqüenciais que conhecemos hoje em todo mundo. Por outro viés, a entrada das mesmas de forma livre e sem regras é que foi o problema.

Esse procedimento, acredito, foi o principal vilão para o massacre editorial a que assistimos atualmente. Para comprovar esse nocaute das HQ nacionais, basta perguntar aos jovens brasileiros para dizer o nome de dez quadrinhos produzidos no Brasil.

Certamente, alguns poderão saber. Mas garanto que a maioria não saberá responder tal pergunta. Ao contrário, saberá a resposta se lhes pedirem para dizer o nome de dez títulos quaisquer de quadrinhos.

Contestação e esperança

É angustiante a situação da nona arte brasileira, que há tanto tempo clama por espaço e respeito, como já apresentava o livro Histórias em quadrinhos: leitura crítica, de Sônia Bibe-Luyten, edições Paulinas, em 1985. Na obra, a autora dispõe de um artigo dos jornalistas Stela Lachtermacher e Edison Miguel que desvenda os meandros do comércio quadrinístico.

Nesse estudo, os dois comunicadores traçam um perfil dos quadrinhos brasileiros. Analisam os primeiros vestígios da arte, com a revista O Tico-Tico, em 1905, até as mais originais manifestações – entre elas, o traço de Henfil, Ziraldo e Maurício de Sousa – e as incursões do Suplemento Juvenil, O Globo Juvenil e Edições Maravilhosas da Editora Ebal.

É evidente que os profissionais brasileiros têm capacidade de produzir belas obras, como pode ser verificado ao resgatarmos a história da nona arte no país. Além de humor, os desenhos foram meio de contestação e esperança.

20% de reserva de mercado

O que se pode constatar desta novela toda é que a HQ brasileira precisa de subsídios, de uma ajuda para subir ao ringue com as condições das estrangeiras. Caso isso não seja possível, amargaremos ainda mais um tempo para vermos os quadrinhos feitos aqui, por gente nossa, pensando nos problemas e nas vantagens que acontecem aqui.

Algo parece surgir nesse caminho estreito. Acredito não ser a solução, mas um excelente incentivo para os batalhadores profissionais e amantes das temáticas brazucas. É o Projeto de Lei nº 6581/2006 que pode ser acessado aqui.

A proposta prevê reserva de mercado para os quadrinhos nacionais. Com a aprovação da lei, as distribuidoras ficariam obrigadas a ter 20% de obras brasileiras entre os títulos lançados comercialmente. A medida busca beneficiar o nosso sofrido mercado. Atualmente o projeto tramita na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados.

Com a Lei aprovada, poderemos ter acesso com mais facilidade à nossa própria face. Mais títulos nacionais poderão estar disponíveis ao público em geral. Desta forma, artistas e historinhas poderão finalmente ser revelados.

É o caso do quadrinista Bira Dantas, de Campinas (SP), um grande desenhista que não tem o espaço que lhe é justo. Outro exemplo é a publicação Guerreiros da Tempestade, de Goiânia (GO), uma revista preocupada com a cultura brasileira através de uma liga de heróis nacionais. No entanto, é nítida a ausência destes trabalhos na maioria das bancas deste ‘solo és mãe gentil’.

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Jornalista, pós-graduando em Linguagem, Cultura e Ensino pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Foz do Iguaçu, PR