Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Internet e música ocidental censuradas

O presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, que também é chefe do Supremo Conselho Revolucionário Cultural, sancionou uma lei proposta em outubro que proíbe todas as músicas ocidentais, incluindo as clássicas, de serem exibidas nas estações de rádio e televisão estatais no Irã, noticia Nasser Karimi [Associated Press, 19/12/05]. ‘Proibir músicas ocidentais e indecentes das rádios e televisões da República Islâmica do Irã é necessário’, afirmava declaração no sítio do Conselho.


Logo depois da revolução islâmica de 1979, o aiatolá Ruhollah Khomeini classificou a música popular como ‘não-islâmica’ e a baniu do país. Muitos músicos foram para o exterior e alguns construíram uma indústria de música iraniana em Los Angeles, nos EUA. Khomeini posteriormente permitiu que músicas clássicas pudessem ser tocadas nas rádios estatais. Desde a morte do aiatolá, em 1989, a música popular invadiu as rádios e lojas de discos iranianas.


Nos anos 90, principalmente durante o governo do presidente reformista Mohammad Khatami, que teve início em 1997, as autoridades começaram a diminuir as restrições. Atualmente, o hip-hop pode ser ouvido em carros nas ruas de Teerã, e músicas, filmes e vestuário ocidentais são facilmente disponíveis no país. Vídeos e DVDs de filmes proibidos pelo governo podem ser encontrados no mercado negro. No entanto, as mulheres ainda não podem cantar em público, exceto para uma platéia exclusivamente feminina, pois conservadores temem que a voz de uma mulher cantando sozinha possa despertar pensamentos impuros nos homens. Mulheres podem cantar somente como integrantes de um coro.


O atual presidente ordenou que a lei seja implementada dentro de seis meses. Apenas iranianos que possuem televisão por satélite poderão ter acesso às músicas ocidentais através de canais estrangeiros. O guitarrista iraniano Babak Riahipour lamentou o que ele chamou de ‘decisão terrível’. ‘A decisão mostra uma falta de conhecimento e experiência’, opinou Riahipour. No começo do mês, Ali Rahbari, maestro da orquestra sinfônica de Teerã, renunciou ao cargo e deixou o país em protesto ao tratamento dado à indústria da música no Irã. Antes de ir embora, ele tocou a Nona Sinfonia de Beethoven – que não era apresentada no país desde 1979 – para teatros lotados, por diversas noites em novembro. Muitos conservadores acusaram Rahbari de promover valores ocidentais.


Cada vez mais censura


Ahmadinejad assumiu o poder em agosto, depois de oito anos de um governo reformista de Khatami. Durante sua campanha presidencial, ele prometeu lutar contra o que chamou de ‘invasão cultural ocidental no Irã’ e promover valores islâmicos. Desde então, o presidente vem colocando no governo ex-comandantes militares e conservadores religiosos sem experiência política. Ahmadinejad foi muito criticado por suas recentes declarações contra Israel, ao falar que o país deveria ‘ser riscado do mapa’ e ao descrever o holocausto como um ‘mito’. Os EUA também acusam o Irã de ter um programa de armas nucleares, o que é negado pelo país.


A lei mais recente de censura à mídia limita o conteúdo dos filmes, séries de televisão e dublagem. O Conselho proibiu filmes estrangeiros que promovam ‘poderes arrogantes’, em referência aos EUA. O governo também bloqueia o acesso a diversos sítios na internet.


A organização Repórteres Sem Fronteiras apoiou, em seu sítio [20/12/05], o protesto de 13 deputados iranianos contra a censura à internet no Irã. Eles enviaram uma carta no dia 13/12 a Ahmadinejad para protestar contra a censura à rede – principalmente de sítios de publicações científicas –, descrita por eles como ‘inconstitucional’. ‘É encorajador ver representantes do povo iraniano fazendo campanha contra a censura do governo’, declarou a organização.