Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

TV brasileira chega ao telefone celular


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 19 de novembro de 2007


GAFE
O Estado de S. Paulo


Reunião de líderes vaza para TV


‘Durante uma reunião a portas fechadas com líderes da Opep em Riad, um guarda entrou na sala gritando ‘Corte o cabo, corte o cabo’, seguido por policiais sauditas, noticiou ontem o jornal britânico The Observer, versão dominical do Guardian.


Mas o apelo do guarda veio tarde demais. O encontro, na sexta-feira, estava sendo transmitido para a mídia mundial havia mais de meia hora porque, por engano, um técnico conectou o cabo da televisão no soquete errado. O erro estilhaçou a fachada de unidade que o cartel vem cultivando tão cuidadosamente para mostrar a um mundo assustado com os estratosféricos preços do petróleo.


Enquanto os presentes acreditavam participar de uma conversa particular, o ministro do Petróleo da Venezuela, Rafael Ramirez, e seu colega iraniano, Golamhossein Nozari, argumentaram que estabelecer o preço do petróleo – e vendê-lo – usando um dólar fraco como referência estava prejudicando o cartel.


Eles disseram também que a Opep devia expressar formalmente sua preocupação com a debilidade do dólar quando o cartel fizesse sua declaração final, o que acabou não ocorrendo.


Mas os sauditas, que são chefes de fato da Opep, vetaram a proposta. Saud al-Faisal, ministro do Exterior saudita, advertiu os colegas que a mera menção aos jornalistas do fato de os líderes estarem discutindo a queda do dólar faria com que a moeda despencasse.


Infelizmente, as palavras dele e as de todos presentes à reunião estavam sendo transmitidas via televisão ao vivo para um grupo de jornalistas atônitos. ‘Não consegui acreditar’, disse um deles. ‘Quando me dei conta de que eles não sabiam que estavam sendo televisionados, comecei a tomar notas freneticamente’.


A Opep só descobriu que a discussão dos líderes estava sendo transmitida para o mundo quando a agência de notícias Reuters postou uma notícia sobre a discussão.


A debilidade do dólar é um dos motivos pelos quais os preços do petróleo estão tão altos, por isso os membros da Opep tentam compensar a queda nos seus ganhos.


Às vezes, um erro inocente pode ter conseqüências econômicas e políticas de longo alcance. E os operadores já disseram que por causa da transmissão indevida, os preços do petróleo subirão de novo hoje, possivelmente quebrando o recorde de US$ 101 por barril estabelecido na década de 70.’


 


CINEMA
O Estado de S. Paulo


Greve em Hollywood faz outra vítima


‘A produtora Columbia adiou a filmagem de Anjos e Demônios, baseado no best seller de Dan Brown, autor de O Código Da Vinci, por causa dos efeitos da greve de roteiristas de Hollywood. Um comunicado acrescentou que devido à greve, que entrou na sua terceira semana, a empresa decidiu adiar para 2009 o lançamento do filme, estrelado por Tom Hanks. A produção foi adiada porque precisa de mudanças no roteiro. O roteirista Akiva Goldman não pode editar ou fazer reformas no texto enquanto durar o movimento. ‘O roteiro ainda não está no nível necessário para este ambicioso projeto’, diz o comunicado.’


 


Morre o cineasta francês Pierre Granier-Deferre


‘O cineasta francês Pierre Granier-Deferre, que dirigiu filmes como Adieu Poulet (O Incorruptível), Le Chat (O Gato) e Le Fils (Ange, o Gângster), morreu na sexta aos 80 anos. Ganhador de um César (o Oscar francês), teve uma carreira de mais de quatro décadas e dirigiu os principais astros dos anos 60 e 70, como Alain Delon, Jean Gabin, Simone Signoret, Lino Ventura, Michel Piccoli, Philippe Noiret e Romy Schneider. Era um diretor de linguagem clássica e apaixonado pelos chamados ‘romances negros’ de George Simenon. Foi assistente de Marcel Carné. ‘Trabalho com estrelas para poder me esconder melhor por trás delas’, costumava declarar.’


 


TELEVISÃO
Alline Dauroiz


Record quer dobrar ibope do horário


‘Os executivos da Record estão bem otimistas em relação à próxima novela da emissora para o horário das 20h30, Amor e Intrigas, que estréia amanhã. A expectativa é de que a trama atinja, no mínimo, 17 pontos de média de audiência, quase 10 pontos a mais do que a média da atual novela Luz do Sol.


Amor e Intrigas será a décima produção da casa desde 2004, quando a Record retomou a teledramaturgia. Desde então, segundo o vice-presidente comercial da emissora, Walter Zagari, cada vez mais pessoas ouvem falar e assistem às novelas do canal. ‘Nosso objetivo é que uma novela dê dois dígitos de audiência’, diz Zagari.


Se depender do preço por capítulo, a Record já está emparelhada com sua concorrente Globo no horário da novela das 7. Cada capítulo da nova trama custará, em média, R$ 170 mil.


Diferentemente das novelas anteriores da Record, Amor e Intrigas não traz nenhum grande nome ‘roubado’ de outros canais. As novidades ficam por conta de Luciano Szafir e Vanessa Gerbelli, que serão os protagonistas, e Gorete Milagres e Otaviano Costa, estreantes em novelas – assim como a autora, Gisele Joras.’


 


Lucas Pretti


TV brasileira chega à pequena tela do celular


‘Se controle remoto falasse, poderia muito bem reclamar de uma conspiração contra ele. Primeiro foi o YouTube – e o conceito de compartilhar vídeos na internet – que deixou a televisão um pouco de lado, com programação definida por internautas e audiência sob demanda (cada um assiste ao programa na hora que quiser). Pois agora a coisa piorou: a TV chegou de vez ao celular.


Tem gente no Brasil produzindo programas especificamente para a telinha. Os vídeos ainda são caros e têm curta duração, mas o empenho e a qualidade de produção mostram que, se o controle remoto bobear, pode pedir aposentadoria. Afinal, os aparelhos de TV passarão da sala de estar para o bolso dos telespectadores.


O exemplo mais recente de programa para TV portátil no País é também o mais robusto. A novela Diário de Sofia, que estreou na semana passada distribuída apenas pela rede celular, experimenta linguagens e tem roteiro baseado na interação com o público. Uma adolescente de 16 anos vive seus dramas de colégio e namoro em três episódios semanais. No fim de cada um, usuários de celular escolhem entre dois finais propostos, nos moldes de Você Decide, programa que a TV Globo exibiu entre 1992 e 2000.


Diário de Sofia é, na verdade, um ‘mobisode’, união dos termos ‘mobile’ (celular, em português) e ‘episode’ (capítulo), neologismo criado nos Estados Unidos na divulgação da série 24 Minutos para celulares, inspirada no sucesso televisivo 24 Horas. Funciona assim: usuários se conectam à rede wap da operadora (TIM, Vivo, Claro e Oi) e então acessam o portal de vídeos. Às segundas, quartas e sextas-feiras, novos episódios da novela entram no ar, divididos em quatro vídeos com total de 2 a 3 minutos de duração. O download de cada parte, dependendo do plano e da operadora, custa de R$ 2 a R$ 4, mais o valor pago pelo tráfego de dados. Após baixado, o telespectador pode guardar o vídeo na memória do aparelho e assistir quando quiser.


Mas R$ 10 por um episódio de 2 minutos, quase o preço de um ingresso de cinema em São Paulo, não é caro demais? ‘Se compararmos com outras mídias, é realmente caro. Mas perto dos demais vídeos distribuídos via wap, como clipes e trailers de filmes, é barato’, afirma o diretor-executivo da Aitec Brasil, Luis Ochôa, empresa que produziu a série em 12 dias de filmagens em São Paulo e licenciou a marca Diário de Sofia no País. Antes, a novela já havia sido exibida em Portugal, Estados Unidos, Chile, Canadá, Alemanha e uma série de outros países.


A intenção da novela é seduzir o mesmo número de fãs que conseguiu mundo afora. Para isso, aposta na oferta de conteúdo multiplataforma, com vídeos e um blog na internet (http://www.diariodesofia.com.br), comunidade no Orkut, interação via celular e uma coluna mensal na revista feminina Atrevida. ‘O público-alvo, formado por adolescentes, só interage com algo se houver o efeito comunidade’, diz Ochôa.


Na prática, mais que a adaptação do formato novela para a tela pequena, há por trás uma mudança de foco no que diz respeito a conteúdo para celulares. É olhar os aparelhos como suporte, como a mídia portátil final, caminho diferente do seguido até agora, no qual os equipamentos são vistos como ferramentas de produção por usuários amadores.


Desse jeito vai ficar difícil para o controle remoto, apesar de ele ter uma carta importante na manga. A TV digital estréia no Brasil no dia 2 de dezembro e tem como um dos trunfos oferecer conteúdo para… celular. Sim, a palavra é convergência.’


 


Oi lança canal de televisão


‘A primeira novela brasileira feita exclusivamente para celulares foi Parafina, exibida em fevereiro deste ano apenas para clientes da Oi. Foram 24 capítulos de uma história sobre surfistas filmada no Rio de Janeiro, distribuída três vezes por semana em downloads pagos via wap. A recepção do público foi tão boa que a operadora vai lançar na semana que vem um canal de televisão via celular, o Oi TV Móvel, primeiro do gênero no mercado brasileiro.


De início, serão oferecidos oito canais já existentes na televisão tradicional e um dedicado exclusivamente a produções audiovisuais para telefones móveis, o Humanóides. Ele já nasce 2.0: além do conteúdo previsto, será aberto para produtoras independentes e usuários amadores, estimulados com pagamento por cada download realizado.


O serviço estará disponível para celulares habilitados no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a partir da contratação de planos a R$ 5,90 ou R$ 9,90. A Oi pretende operar em São Paulo a partir do ano que vem, já que comprou a licença no leilão realizado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em setembro, por R$ 80,55 milhões.’


 


INTERNET
Rodrigo Martins


Divisão de países ricos e pobres marca IGF 2007


‘Um racha entre países pobres e desenvolvidos marcou a segunda edição do Internet Governance Forum (IGF), que ocorreu na semana passada, no Rio. Durante quatro dias, um hotel na Barra da Tijuca transformou-se no centro de cabeças pensantes da rede mundial. Políticos, ativistas, executivos, curiosos… Gente de todo o tipo e de todo o mundo reuniu-se para debater o futuro da internet no evento, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU).


A principal discussão foi sobre a universalização do acesso. Logo na abertura, um desfile de idiomas, sotaques e vestimentas típicas destacou: ‘Chegamos a 1 bilhão de internautas no mundo. Agora, queremos o próximo bilhão, e depois o outro, e o outro… Faltam 5.’ O secretário de Tecnologia da Índia, Jainder Singh, apontou as dificuldades para conectar o país. ‘Somos reconhecidos como produtores de tecnologia, mas a internet não é um bem comum. Especialmente nas áreas rurais, ela não existe.’


Países em desenvolvimento também reclamaram da falta de diversidade na rede. ‘O mundo tem 9 mil línguas e apenas 500 estão na internet, sendo que 90% do conteúdo é produzido em apenas 50 idiomas’, afirmou o diretor da ONG Funredes, da República Dominicana, Daniel Pimienta. O fundador da ONG Africa Network Operators Groups, de Togo, Alain Aina, concordou. ‘Temos de fomentar o conteúdo local, para não perdermos a nossa identidade’, arrematou.


O discurso de inclusão e diversidade enfrentou resistência dos países ricos. Como já contam com acesso disseminado, seus representantes defenderam que é hora de se preocupar mais com a segurança na rede mundial. ‘Mais do que inclusão digital, devemos falar de privacidade e segurança’, disse Catherine Trautman, do Parlamento Europeu. ‘Sem estabelecer leis que protejam os usuários, não há liberdade garantida na rede. Há risco de abusos contra crianças.’


O secretário das Comunicações da Itália, Luigi Vimercati, foi mais fundo. ‘É preciso criar regras para garantir que todos tenham a possibilidade de aproveitar a rede com segurança.’


Em três andares, todos com Wi-Fi, representantes de mais de 100 países travaram ainda debates sobre pornografia, direitos autorais e até lingüística. Foram nada menos do que 91 mesas de discussão e um total de 1.400 participantes, que chegaram a ficar até sem almoçar para acompanhar a maratona.


O Brasil compareceu com uma tropa de choque de quatro ministros: Gilberto Gil, da Cultura; Sérgio Rezende, da Ciência e Tecnologia; Hélio Costa, das Comunicações; e Roberto Mangabeira Unger, da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo. Este último, inclusive, causou sensação. Com um discurso inflamado e cheio de frases de efeito – como ‘Temos de fazer da internet prática universal da imaginação libertadora’ e ‘A rede é um manancial de alternativas, pode derrubar ditaduras econômicas e sociais’ -, foi aplaudido efusivamente por vários dos gringos, que saíram perguntando: ‘Who’s that Mangabeira?’ (Quem é esse Mangabeira?).


As discussões também se concentraram na questão do direito autoral. ‘A violação da propriedade intelectual aumenta na web. Isso deve ser discutido’, afirmou Vittoria Bertolla, da ONG italiana Societá Internet. O ministro Gil, que estava na mesa, disse que a web não é ameaça. ‘Ao contrário, aumenta a diversidade. Estamos desafiados a encontrar formas legais de distribuir músicas e filmes pela rede.’ Já Robin Gross, da ONG norte-americana IP Justice, foi mais enfática: ‘Precisamos acabar com os direitos autorais. A lei tem de se adaptar.’


Porém, depois de horas de discussões que mostravam a divisão entre ricos e pobres, como tudo no Brasil, o IGF acabava em… samba. Um coquetel diário com caipirinha, chope, canapés e bufê de pratos típicos brasileiros reunia todo mundo no andar superior, enquanto baianas vestidas a caráter perambulavam entre os participantes. Nenhuma resolução foi assinada. O próximo IGF vai ocorrer na Índia, em 2008.’


 


Seth Finkelstein


Você sabe quem xereta o seu perfil?


‘The Guardian – Uma recente audiência no Congresso dos EUA sobre o envolvimento do Yahoo na prisão do jornalista chinês Shin Tao, incômodo ao regime de Pequim, realçou mais uma vez os perigos por trás da colaboração de grandes empresas da internet com governos ao redor do mundo.


Durante a audiência, Tom Lantos, presidente da comissão parlamentar para Assuntos Internacionais da Câmara dos Representantes, disse ao Yahoo: ‘Enquanto tecnologicamente e financeiramente vocês são gigantes, moralmente são anões.’


Em outro incidente, o Google foi acusado de ter colaborado com o governo da Índia a localizar um usuário do Orkut que havia postado imagens ofensivas a um herói da história do país.


O que ambas situações têm em comum é que grandes empresas online demonstraram ser fontes de informações pessoais relevantes e parecem dispostas a cedê-las. E, enquanto ferramentas de busca e redes de relacionamento reúnem mais e mais informações dos internautas para fins comerciais, governos se mostram interessados em obter esses dados para fins nem sempre respaldados nos direitos civis.


Esse conceito obviamente não é novidade: a análise do tráfego (de ligações telefônicas e/ou dados) é uma técnica de inteligência antiga. Mas as grandes corporações da internet agora têm grande capacidade de reunir toda a informação que circula na rede, analisá-la, processá-la e reuni-la em pacotes fáceis de serem buscados.


Essas informações são muito úteis para estratégias de marketing e propaganda online, mas também podem ser utilizadas com fins malignos.


Quando confrontados com esse perigo, os sites de busca relutam em enfrentar a questão. Limitam-se a dar declarações previsíveis sobre a necessidade de obedecer às leis locais e salientam os pontos fortes de seus produtos.


Ativistas de países onde há leis que garantem o direito de exigir explicações do governo podem solicitar informações sobre investigações policiais realizadas a partir de dados pessoais obtidos na internet. Mas não se pode dizer a mesma coisa no caso de governos repressivos.


Enquanto a recomendação comum aos internautas é que utilizem meios técnicos para proteger sua privacidade na rede, como senhas fortes, tais meios são usados apenas por aqueles que são mais dedicados ou esclarecidos. Para o cidadão comum, tais medidas representam um pesado fardo no dia-a-dia, exigindo que estejam em constante guarda.


Os recentes casos do Yahoo e do Google são provavelmente apenas o começo do que promete ser uma longa batalha contra as corporações da internet como agentes de controle da rede mundial de computadores.


Se depender delas, essas grandes empresas do universo virtual continuarão a estocar a maior quantidade possível de informações de seus usuários.


Mas nós não podemos esperar que essa grande quantidade de dados e informações pessoais estocada estará livre de ser utilizada para outros fins, especialmente quando há fortes incentivos para se construir modelos bastante detalhados da vida de cada um e de todos os que circulam na internet.


O preço da personalização total na rede mundial de computadores é a vigilância total de seus usuários.’


 


O Estado de S. Paulo


Google é sabatinado por censura na China


‘O representante do Google Bob Boorstin foi alvo de perguntas indignadas a respeito da obediência da empresa à censura na China. ‘Escolhemos o que é bloqueado conforme as leis do país’, disse. ‘Não é melhor nós fazermos isso que o governo?’’


 


Pedro Doria


E-mail já está ultrapassado


‘Dez anos atrás, as universidades norte-americanas começaram a se comunicar com seus alunos via e-mail. Todo aluno tinha direito a sua própria caixa postal e, nela, recebia tudo que havia de importante para se saber da vida no câmpus. Não está dando mais certo: os alunos não lêem e-mail.


Em 2005, um estudo detalhado do Instituto Pew, nos EUA, já indicava uma tendência de os adolescentes usarem e-mail para se comunicar apenas ‘com os mais velhos’.


Não é difícil perceber a tendência: jovens, sejam adolescentes, estejam já na casa dos vinte e poucos, usam a internet, passam horas e horas online, mas as caixas postais eletrônicas ficam de lado. A comunicação se dá através de vários outros meios. Mensagens instantâneas, por exemplo, do tipo MSN Messenger. Ou o Twitter – espécie de blog minimalista que permite a qualquer um fazer pequenos updates a respeito do que está fazendo. Ou mesmo o bom e velho SMS, mensagens de texto pelo celular.


Particularmente populares entre jovens são os sites de relacionamento como nosso Orkut infestado de brasileiros, ou equivalentes globais, como MySpace ou o crescentemente popular Facebook. É onde mensagens são deixadas para todo mundo e a vida social eletrônica ocorre. E-mail? E-mail é coisa de velhos.


E talvez seja mesmo. Cresce também uma nova tendência que é o e-mail pelo celular. Basta um passeio pelo saguão de qualquer aeroporto para vê-los: homens sisudos com caras de ocupados e seus celulares sofisticadíssimos, Blackberrys ou não, capazes de receber e enviar e-mails. Sempre conectados, talvez, capazes de manter suas conversas de negócio em curso enquanto viajam de um canto a outro do país, quiçá do mundo.


O e-mail tem vantagens que mensagens instantâneas não têm. Por e-mail é muito simples enviar arquivos, por exemplo. Por natureza, o e-mail armazena todo o passado daquela conversa– e não carece nenhum comando para manter tudo guardado para futura referência. O e-mail é prova de que uma conversa se deu. E o e-mail não requer uma resposta instantânea: pode-se guardar a mensagem, pensar nela com carinho, responder com calma no dia seguinte.


Com todas essas vantagens, não é surpresa que seja um instrumento de comunicação para velhos. Afinal, o e-mail prova-se ideal para trabalho, não para a conversa comezinha do dia-a-dia, para marcar o chope da noite ou se atualizar a respeito de quem ficou com quem na festa de anteontem. Sim: trata-se de um choque cultural.


O que surpreende, por certo, é como veio rápido esse choque cultural. O ano de 1996, quando a internet começou para a maioria dos brasileiros – ou mesmo 1994, quando começou para a maioria dos americanos – está logo ali na esquina. O e-mail ainda tem uma cara de tecnologia recente. E, é bem possível, já está caindo em desuso.


A dúvida que sobra é se jovens passarão a usar e-mail quando ficarem mais velhos e forem trabalhar ou se levarão seus novos hábitos para os escritórios que ocuparão.


Por enquanto, SMS ainda não é de amplo uso através das gerações – e talvez jamais venha a ser. O iPhone apostou nisto: não passa mensagens de texto. Derrapada da Apple?


Celulares provavelmente vão definir a maneira mais habitual de conversa digital. Em algum tempo todo celular será inteligente – um iPhone, um Google ou o que for. O que funcionar melhor neles será, provavelmente, o padrão. (E não é arriscado dizer que os mais jovens é que decidirão o que for melhor.)


Até lá, não há muita saída cá para os dinossauros do tempo do e-mail. Poderemos até continuar com nosso correio. Mas cientes de que há uma turma que não responderá nossas mensagens. E não será, como era em 1996, porque são mais velhos.’


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 19 de novembro de 2007


ARGENTINA
Folha de S. Paulo


Para o jornal La Nación, o Brasil ‘se converteu em potência’


‘Reportagem diz que o Brasil ‘é o país da América Latina que mais recebeu investimentos estrangeiros no ano passado, suas reservas crescem, bate recordes em exportações, baixa o risco país, será a sede da Copa de 2014, e, se faltava algo, acaba de descobrir uma megarreserva de ouro negro’.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Outro rei e o ‘colapso’


‘Na manchete do ‘Financial Times’, ‘Opep se une por preços altos’ em ‘histórica’ reunião que opôs Chávez ao rei saudita, Abdullah. Eles e os respectivos aliados na Opep se confrontaram sobre como agir diante do dólar em queda, ‘preocupação que ofuscou’ a reunião e vazou cenas ‘bizarras’ -com o chanceler saudita se dizendo contra citar o dólar na declaração final, o que ‘ajudaria no colapso’ da moeda dos EUA. O ‘FT’ notou que as reservas sauditas são em dólar.


O ‘Wall Street Journal’ foi pelo mesmo caminho, sublinhando o conflito, as cenas vazadas, o ‘colapso’.


MAIS DÓLAR


Não são apenas Chávez e a Opep que temem pelo dólar, em público. Em incontáveis despachos desde a África do Sul, na reunião dos ministros de finanças dos 20 maiores economias, debates ‘francos’ -com o secretário dos EUA prometendo a valorização.


Mas também por lá o dólar acabou de fora da conclusão geral, nos enunciados das agências. Nada de ‘colapso’.


SAINDO DOS EUA


O ‘New York Times’ tratou do referendo na Venezuela, ressaltando que o país ‘parece que vai iniciar extraordinária experiência em socialismo’. Mas, diz o texto, ‘centralizada e abastecida por petróleo’.


Já o ‘WSJ’ destacou que a refinaria venezuelana nos EUA, 10% da gasolina do país, decidiu desviar recursos para investir no país de origem e ‘financiar planos de Chávez’.


LULA, CRISTINA E O DÓLAR


O dólar entrou nas agendas todas e será também tema de Lula e da argentina Cristina Kirchner, hoje na reunião. Segundo destacaram o ‘Clarín’ e agências, a idéia seria ‘avançar na eliminação do dólar do comércio bilateral’. Mas o foco em Brasília, segundo argentinos e as agências, será energia, com o campo Tupi mencionado de todo lado -e com reunião já agendada com a diretoria da Petrobras.


TUPI CONTINUA


A ‘Economist’ fechou a semana com os enunciados ‘Tudo isso e ainda petróleo’ e ‘Deus pode mesmo ser brasileiro, afinal’, para uma longa reportagem -e ilustração de Lula como ‘redentor’ (dir.).


Mas registrando que a produção demora e, até 2010, a energia poderia ser uma ‘dor-de-cabeça eleitoral’ e não uma ‘bênção’ para Lula e ‘Ms. Dilma Rousseff’.


De todo modo, sites de investimento tipo Daily Wealth já indicam empresas especializadas em águas profundas. E até na cobertura da Opep entrou o Brasil, em textos desde Riad, por conta da pretensão de entrar no cartel.


ETANOL SINO-AMERICANO


Enquanto se amontoam as más notícias do petróleo e agora do dólar, o chinês ‘Diário do Povo’ e o site do ‘WSJ’, entre outros, noticiaram que a China e os EUA ‘podem anunciar pacto para promover biocombustíveis’ no próximo dia 12. Está em ‘rascunho’, mas já ‘maduro’.


A China é o terceiro maior produtor mundial de etanol, atrás de EUA e Brasil, que já fechou acordo. Segundo um enviado americano a Pequim, a cooperação com a China em biocombustíveis é ‘natural’. Com a Índia, também.


A BOLHA


‘Economic Times’, ‘South China Morning Post’ e outros noticiam a saída de recursos dos Brics, China sobretudo.


E análises de mercado de MarketWatch e Gannet falam em ‘bolha’ chinesa e sugerem a retirada dos emergentes.


E AS APOSTAS


Já a ‘Time’ saúda a ‘nova e peculiar força’ da América Latina. A Fitch sustenta, via Dow Jones, que o Brasil terá sua nota de investimento. E a ‘Economist’ diz que a queda global afetará pouco a Rússia -e o Brasil auto-suficiente.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Gazeta transforma TV digital em shopping


‘A TV Gazeta inaugura depois de amanhã suas transmissões digitais experimentais na Grande São Paulo. A emissora, diferentemente das grandes redes, não irá apostar na transmissão em alta definição. Usará seu canal digital para vender pela própria TV. Inicialmente, oferecerá 4.000 produtos.


Mantenedora da TV Gazeta, a Fundação Cásper Líbero criou uma nova unidade de negócios, a Link Interativa, com a missão de criar aplicativos de interatividade e de transformar a TV em um shopping center.


O carro-chefe do projeto será o BestShop TV, unidade de televendas, que ocupará o horário nobre a partir de janeiro.


Com a TV digital, o telespectador que estiver vendo o BestShop poderá comprar produtos anunciados sem sair da frente do televisor, desde que esteja pré-cadastrado. Ao clicar no botão de interatividade do controle remoto, seu televisor abrirá páginas de internet, e a compra se dará como em um site de vendas. A imagem do programa ocupará uma janela.


Já o ‘TV Culinária’, de Palmirinha Onofre, abrirá janelas para receitas e para a venda de produtos de seu cenário.


Nos merchandisings, a Gazeta exibirá um ícone que, acionado, encaminhará o telespectador para o site do anunciante. Em anúncios convencionais, a Gazeta oferecerá um dispositivo pelo qual o telespectador poderá pedir o envio de mais informações, via e-mail ou SMS.


SEM NOÇÃO 1 A Globo autoclassificou a novela ‘Duas Caras’ como imprópria para menores de 12 anos, inadequada antes das 20h. Normalmente, novelas das 21h são inadequadas para antes das 21h (14 anos). Mas, depois do show de boate de sexo explícito protagonizado por Flávia Alessandra, quase nua, nos últimos capítulos, ‘Duas Caras’ deveria vir com o selo de imprópria para menores de 16 anos (22h).


SEM NOÇÃO 2 Em seu blog, o autor de ‘Duas Caras’, Aguinaldo Silva, avisa que vai dar um ‘choque de realidade naquele paraíso tropical’ que é a fictícia favela da Portelinha. Diz que traficantes vão invadir o reino de Juvenal Antena (Antonio Fagundes), o miliciano que, ao invés de ser tratado como bandido, é mostrado como herói.


HEBE DE CALÇA Amaury Jr. terá um novo programa na Rede TV!. Exibido nas noites de sábado, terá auditório e um sofá no palco. Nele, colunista social eletrônico entrevistará convidados e apresentará números musicais.


PROVOCAÇÃO 1 A Record publica nesta semana na revista ‘Meio & Mensagem’, dirigida ao mercado publicitário, anúncio em que provoca a Globo. Diz: ‘Não deixe seus 30 segundos lutando contra o rebaixamento’. Ilustra com a queda de audiência da concorrente nos últimos anos.


PROVOCAÇÃO 2 O anúncio é uma resposta a publicação da Globo, na semana passada, que dizia para o anunciante investir ‘com segurança nas 30 maiores audiências da TV’, todas dela.’


 


Márvio dos Anjos


Especial decifra o fenômeno karaokê


‘O GNT apresenta amanhã um especial para decifrar uma das brincadeiras que mais vêm e vão: o karaokê. Recentemente redescoberta, a onda fervilha em São Paulo. Vá à Choperia Liberdade, uma das muitas casas de karaokê do bairro mais oriental da cidade, e não haverá dúvidas: é febre contagiosa. E vai além dessas casas: existe uma União Paulista de Karaokê, que promove concursos disputadíssimos, dominados por membros da comunidade japonesa. Mas hoje a prática ‘não-profissional’ não conhece mais fronteiras étnicas. Batizado ‘Strangers in the Night’, o programa tem afinados e desafinados, como Léo Jaime, Sidney Magal, Soninha, Ana Maria Braga e vários anônimos que, sem medo de pegar num microfone, encantam e maltratam ouvidos alheios. Essa variedade de opiniões, que inclui ainda uma terapeuta, fazem do especial um divertido saladão, daqueles que deverão inspirar muita gente a freqüentar essas casas. Paira, porém, no programa o velho provérbio de que ‘quem canta seus males espanta’, o que o deixa com um ar ingênuo e descartável, como tantos programas da TV a cabo. Mas alguns personagens, como a mulher endiabrada no palco e o casal que se conheceu na cantoria, até que o salvam do desperdício total.


STRANGERS IN THE NIGHT – O MUNDO DO KARAOKÊ


Quando: amanhã, às 23h30


Onde: GNT’


 


CINEMA
Samuel Blumenfeld


A volta do dinossauro


‘DO ‘LE MONDE’ – Em 1997, Francis Ford Coppola esteve em Paris para divulgar seu filme ‘O Homem que Fazia Chover’. Ele estava taciturno, calado, desanimado e amargurado. Seu paletó parecia de segunda mão. Sua camisa, mal abotoada, escapava das calças, descuidada. Os jornalistas o desesperavam. Seu filme -adaptado de um best-seller de John Grisham, sobre um advogado que combate uma multinacional na Justiça- não lhe interessava.


‘O Homem que Fazia Chover’ encerrou um período sombrio que durou 15 anos. O diretor mais prestigioso dos anos 1970 acumulara trabalhos encomendados para poder saldar uma dívida de US$ 30 milhões (R$ 52,2 milhões) contraída após o fracasso da comédia musical ‘O Fundo do Coração’ (1982) e a falência de seu estúdio, American Zoetrope. ‘Não sei o que vou fazer’, declarou Coppola na época. ‘Mas sei que meus últimos filmes não me satisfazem. Agora estou com tempo livre pela frente. Mas o que fazer com esse tempo?’


Dez anos depois, aqui está ele novamente: barba, óculos esfumaçados, um lenço dobrado para dentro da camisa e uma boina. Seus cabelos esparsos e impecáveis têm o formato de uma juba. Seu terno azulado lhe cai perfeitamente. Seus braços se estendem confortavelmente pelas costas do sofá do hotel parisiense. Coppola tem o charme e os gestos de um chefe de gangue que retornou ao topo da pirâmide. E, no caso preciso de Coppola, 68, as aparências revelam a verdade.


Como os dinossauros, o diretor norte-americano de 68 anos aparece ou desaparece em função dos abalos sísmicos que pontuam sua carreira: o sucesso colossal de ‘O Poderoso Chefão’ (1972), a filmagem homérica de ‘Apocalypse Now’ (1979), o abismo financeiro de ‘O Fundo do Coração’.


Juventude


O grau de sua força recuperada se mede pelo emprego feito desse tempo reencontrado.


Francis Coppola voltou a ser um homem apressado. Ele acaba de concluir seu primeiro filme em dez anos, ‘Youth Without Youth’ (juventude sem juventude), adaptação de um romance do romancista e historiador das religiões romeno Mircea Eliade. Ele se prepara para retornar à Argentina para começar a rodar ‘Tetro’, filme autobiográfico sobre uma família siciliana que emigrou para a Argentina. O tempo perdido sem filmar é uma obsessão sua.


‘Preciso voltar ao trabalho. Um filme por ano, no mínimo.’ ‘Youth Without Youth’ conta a história de um professor de lingüística (Tim Roth) na Romênia, em 1938. Atingido por um raio, ele rejuvenesce milagrosamente e aproveita a oportunidade para levar adiante suas pesquisas sobre a origem da linguagem.


Para não cair na armadilha do cineasta consolidado rodando um filme com grande orçamento, Coppola se recolocou na pele de um estudante de cinema. Ele se impôs uma disciplina de asceta e financiou sua produção com recursos próprios. Ele percorreu a Romênia em 2005, na companhia de sua neta Gia, à procura dos lugares mencionados no romance de Mircea Eliade. Achou evidente que, para dirigir uma história sobre rejuvenescimento, deveria se cercar de uma equipe técnica jovem, encontrada na própria Romênia. Coppola filmou ‘Youth Without Youth’ com a mesma escassez de meios que marcou seu road movie ‘Caminhos Mal Traçados’ (1969). Usou um caminhão que transportava todos seus equipamentos e que lhe permitia filmar onde bem entendesse, num modo de semi-improvisação. Coppola rodou ‘Caminhos Mal Traçados’ em 1968 em Nova Jersey, para então se deslocar cada vez mais a oeste, chegando a Nebraska.


Apesar de o roteiro do filme ser escrito com muita precisão, os locais de filmagem não eram escolhidos de antemão. A idéia de um caminhão com todos os equipamentos e de uma estrutura superleve visava torná-lo independente, inalcançável.


Ela também respondia a uma fantasia de onisciência. A idéia de estar em toda parte e de agir sobre o espaço, como hoje sobre o tempo, era seu sonho. ‘Na época de ‘Poderoso Chefão’ e de ‘Apocalypse Now’, eu via o diretor como um general cujas ordens não podiam ser discutidas. Hoje, voltei a ser o diretor que eu era na adolescência, um líder de bando, clandestino, alguém que não necessariamente sabe onde colocar sua câmera e que se questiona constantemente.’


Influência da filha


A idéia de fazer cinema em escala menor veio a Coppola em função da experiência de sua filha, Sofia, que também enveredou pela direção com ‘As Virgens Suicidas’ (1999), ‘Encontros e Desencontros’ (2003) e ‘Maria Antonieta’ (2006). O pai assinou a produção dos três filmes. O sucesso comercial da filha, no momento em que sua própria carreira estava em baixa, foi difícil de encarar. ‘Eu estava feliz por ela, mas dizia a mim mesmo que ainda não tinha conseguido fazer tudo o que eu queria.’


‘A verdade é que roubaram minha carreira’, continua. ‘Ao mesmo tempo em que a roubavam, eu tive que endossar um papel para o qual não era necessariamente talhado. As pessoas não param de me ouvir falar do ‘Poderoso Chefão’ com tristeza. Esse filme foi um fracasso pessoal, apesar de todo o mundo enxergar nos filmes da série uma realização artística e comercial. O sucesso se tornou um peso, me levou a fazer grandes filmes comerciais quando o que eu queria fazer eram pequenos filmes artísticos. Como Woody Allen. Como Bergman em sua ilha, com seus amigos.


Um filme por ano, em meu microcosmo próprio, era isso o que eu queria.’


Vinhos


A eclipse artística de Coppola durante os anos 2000 não conseguiu esconder o sucesso retumbante da marca Francis Ford Coppola Presents. Transformado em império financeiro, baseado em grande medida no setor agroalimentar, ela reúne vinícolas, uma fábrica de macarrão e molho de tomate e uma de azeite de oliva. A FFC Presents também agrupa restaurantes em São Francisco, complexos de hotéis em Belize e na Guatemala e uma revista literária, a ‘All-Story’.


‘É inexato dizer que sou rico.


Não: sou imensamente rico. O vinho me reabriu as portas do cinema. A isso é preciso acrescentar a receita de ‘Apocalypse Now’, cujo negativo pertence a mim. O filme rende mais dinheiro hoje do que na época em que saiu. Eu sempre pensei que um homem de negócios deve comportar-se como artista.


Agora estou em condições de fazer aquilo que sempre sonhei -ou seja, financiar meus próprios filmes, com independência total.’


Tradução de CLARA ALLAIN’


 


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