As faculdades de Comunicação, com raras exceções, têm apresentado cada vez mais descomprometimento com a formação social e humana dos alunos. Talvez pela necessidade de apresentar sólidos resultados de colocação de alunos no mercado de trabalho, as universidades detentoras de cursos de Comunicação Social têm aplicado uma política de enriquecimento técnico e desumanização das grades curriculares.
Contrariando sua fama no contexto de pesquisa, extensão e sólida formação de jornalistas, a Faculdade dos Meios de Comunicação Social da PUC-RS adotou, excluindo qualquer participação dos alunos, uma nova grade curricular este ano, repleta de cadeiras tecnicistas, extinguindo toda reflexão proporcionada pela formação teórica do currículo anterior.
Nota-se a subserviência às diretrizes do mercado jornalístico nessa nova distribuição curricular, destruindo toda a formação crítica em que se apoiava o curso de Jornalismo. Paradoxalmente, a técnica elevou a composição curricular, ignorando a qualidade do material produzido pelos futuros profissionais.
O currículo novo, por exemplo, condensou quatro cadeiras de cunho teórico e reflexivo (todas de quatro créditos) numa mísera cadeira no primeiro semestre (de dois créditos). Adicionaram-se para a felicidade dos orientadores dos novos paradigmas mercadológicos do jornalismo, cadeiras de Jornalismo Digital, Assessoria de Imprensa e Design Gráfico, e foram simplesmente ignorados, solenemente, os apelos de manutenção das cadeiras de Sistemas Internacionais de Comunicação, Antropologia Cultural e Social e Sociologia Geral, entre outras.
Relação não mais harmônica
A Famecos, talvez por sua falta de percepção (ou preocupada em diminuir a crítica acadêmica que tem efervescência na graduação de Jornalismo), não notou que a qualidade técnica só é visualmente atrativa quando seu conteúdo é interessante também. Teremos cadeiras de Jornalismo Online e Digital, mas não mais embasamento para mudarmos o sistema vigente de transmissão de informações padronizadas.
Talvez por uma questão meramente de desencargo de consciência, foram jogadas algumas cadeiras teóricas ao longo do curso, sem a constatação de que o aprendizado é contínuo, e não segmentado. Curiosamente, foram incluídas duas cadeiras de Pesquisa, em meio à formação técnica. Ora, os futuros egressos da Famecos saberão pesquisa, mas não o que pesquisar. Excelente.
Como se não fossem suficientes as imposições da nova grade, professores de alta qualificação poderão ser remanejados ou transferidos para cadeiras eletivas ou qualquer coisa do gênero. Parece que a incitação da crítica e o questionamento dos parâmetros ideológicos da máquina midiática passou do limite, e quem sabe, as coisas tenham começado a fugir do controle.
A Famecos, exemplo em ensino de Comunicação Social no país, perde seu referencial de corpo discente (pelo enfraquecimento científico dos graduandos), possivelmente docente e estrutura curricular. Esquece-se que era, anteriormente, não só detentora de estrutura curricular sólida, corpo docente com renome profissional, de pesquisa, extensão e de produção científica. Construiu seu referencial com uma harmônica relação entre todos os aspectos constituintes de um bom curso de graduação. Quando se propõe a mudar seu currículo, a Famecos muda sua proposta e, mais que isso, seu compromisso. Coloca o exame social e humano do mundo de lado, para atender às demandas de alguns. Lamentavelmente.
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Estudante de Jornalismo da PUC-RS e de Ciências Econômicas da UFRGS