Sou artista plástico, já fui estilista e comerciante. Por conta da minha ousadia e capacidade de gerar controvérsias, me acostumei a freqüentar as páginas dos jornais. Fosse por uma exposição onde se abordava o assunto perversão, fosse como estilista, por fazer uma coleção de moda inspirada em Carlos Zéfiro.
Cresci dentro de uma redação, pois meu pai foi secretário do O Fluminense, onde mais tarde trabalhei como diagramador, antes dos computadores e dos editores de texto.
Até 2004, jamais havia escrito cartas aos jornais, nem prestava muita atenção à política municipal. Nesse ano, fui vítima inocente dessa política. Por causa da ação incompetente de um vereador, tive meus esforços dos cinco anos anteriores jogados no lixo e minha vida, e de outros comerciantes do local, virou de cabeça para baixo por conta de uma inversão de sentido de trânsito da rua onde funcionavam nossos estabelecimentos (mas isso é outra história).
Passei então a vigiar intensamente a casa legislativa de meu município, além de manifestar minha insatisfação em cartas para os jornais locais, e a ‘pesquisar’ fatos diversos sobre a vida dos vereadores, Niterói ainda é uma cidade pequena (560.000 habitantes). Tive como resultado dessa minha iniciativa o disparo de três tiros contra a porta de meu estabelecimento, a título de intimidação. Logo percebi que a sujeira ia mais fundo e mais longe.
Jetom como recompensa
Nas minhas investigações, descobri que a casa era um ninho de iniqüidade e crime, vereadores armados em plenário se agredindo (episódio envolvendo o hoje deputado estadual Rodrigo Neves – PT), ameaçando cidadãos, vários membros da casa envolvidos com as mais diversas máfias, comprometidos com os lobbies da especulação imobiliária, das empresas de transportes (um dos vereadores, por uma deturpação da Lei Orgânica do Município é dono de empresa de ônibus), das construtoras, compra e venda de votos etc.… Infelizmente, é impossível levantar provas cabais para acusar alguém, as testemunhas simplesmente desaparecem, ou não querem se comprometer.
Passei a integrar movimentos de ação popular e conscientização. Encabecei uma tímida manifestação contra aumentos abusivos de passagens de ônibus em maio de 2006, que tomou vulto e alcançou a mídia, mais como curiosidade que como movimento que os jornalões levassem a sério, a ‘Greve de Passageiros de Ônibus’ em 2006 (leia mais aqui).
Em 2007, realizei dois trabalhos artísticos que de novo ganharam a mídia local, mas não os grandes jornais, convencidos e cooptados pela hábil assessoria de imprensa do vereador Zaff, de que eu queria notoriedade às custas do mesmo, como se não fosse capaz de brilhar com luz própria. Em um deles cobri um poste (da ‘Galeria do Poste’, também anexo) com cartazes de ‘PROCURA-SE’ com as fotos de todos os vereadores, além dos últimos prefeitos, onde a recompensa era exatamente o jetom recebido por eles para votar contra o cidadão.
Ironia e sarcasmo
No mesmo ano, preparei a exposição ‘Niterói – A Autofagia Desdentada de Uma Ex-Cidade Sorriso’ onde denunciava a selvageria da especulação imobiliária e apontava o poder público (executivo, legislativo e judiciário) como cúmplice de crimes contra o patrimônio cultural/ambiental. Esta quase foi censurada pelos nobres e rapinantes edis de minha cidade. O secretário de Cultura, André Diniz (PT), também vereador, não cancelou a exposição (realizada em espaço da Secretaria), mas cedeu um pouco às pressões da corja e reteve a maioria dos convites além de mandar aos jornais release que deturpava todo o conceito do trabalho exposto.
No mesmo ano (em julho) fui agredido pelo vereador que deu início a este meu périplo pelo submundo da política municipal (o Zaff). Em um bar, ele me quebrou um copo no rosto quando, instigado por ele, disse-lhe o que pensava, sem papas na língua (relato completo aqui).
Este ano, eleitoral, deparei com fato novo que muito me intrigou. Este edil, justamente um dos mais faltosos, como publicado pelo Globo Niterói em 2006, começou a aparecer, nas páginas do JB Niterói, com mais freqüência do que comparecia às sessões da Câmara Legislativa. Várias notícias ao longo dos últimos dois meses davam-no como ativo protetor dos fracos e oprimidos. Tive várias missivas publicadas questionando a recente notoriedade do rapaz. Parecia-me que havia no JB alguém muito envolvido com a assessoria de imprensa do vereador e outro alguém que, desavisado, gostava da ironia e sarcasmo com que eu desmascarava as canhestras tentativas de fazê-lo parecer competente e responsável.
Mensagens e respostas
Por conta de uma nota publicada no JB Niterói, que carecia de substância, foi trocada a seguinte correspondência eletrônica com o Jornal do Brasil – Niterói.
Primeira mensagem, 31/03/2008:
‘Ontem uma pequena nota na segunda página dava resultados de uma pesquisa eleitoral para a Câmara Municipal de Niterói (CMN). Sem divulgar quem encomendou a pesquisa, ou de qual foi o instituto que a realizou. O resultado estrambótico mostrava, junto a Gallo, como sendo dos mais votados, um dos vereadores mais inexpressivos e faltosos da CMN. Segundo a legislação eleitoral, o jornal deveria divulgar quem encomendou, e qual instituto realizou a pesquisa. Resta a dúvida se essa não é mais uma nota plantada pela eficiente assessoria de imprensa do edil faltoso. Se ele fosse tão eficiente e capaz quanto sua assessoria de imprensa…
René Amaral’
Sem resposta.
Segunda mensagem, 01/04/2008:
‘Reitero meu pedido ao JB Niterói que revele em nota o Instituto que efetuou e a entidade ou pessoa que encomendou a pesquisa eleitoral que dá os candidatos a vereador Gallo e Zaff como os mais votados, publicada em nota da segunda página do JB Niterói na edição de domingo 30/03/2008. Lembro aqui que, divulgar pesquisa eleitoral sem revelar o instituto que a efetuou e quem a encomendou é, no mínimo, mau jornalismo e no máximo crime eleitoral!
Não quero de jeito nenhum me intrometer na política editorial deste único que, dentre os grandes jornais, trata Niterói como cidade, e não como bairro do Rio de Janeiro, mas a falta de informações na nota publicada compromete a credibilidade deste veículo que considero idôneo.
Desde já grato por sua atenção.
René Amaral’
Primeira resposta, 01/04/2008:
‘Prezado leitor,
A pesquisa foi encomendada pelo PT e registrada no TRE. O número do registro foi publicado pelo JB Niterói em duas outras reportagens na semana passada.
Atenciosamente,
Alexandre Coelho, Subeditor JB Niterói’
Baixaria e futilidades
Segunda resposta, da autora, a malcriada, 01/04/2008:
‘Primeiro lugar: Caso você não saiba, jornalisticamente, não temos a necessidade de repetir várias vezes a procedência da pesquisa, já que foi revelada em um texto anterior. Caso contrário, ficaria redundante.
Além do mais, em momento nenhum o texto se tratou de mau jornalismo ou crime eleitoral, como você cita no e-mail. Não precisamos afirmar a credibilidade e a idoneidade do nosso veículo – que hoje encabeça as primeiras colocações dos mais vendidos do país – porque um dos leitores tem um problema pessoal com um dos citados.
Caso não saiba, eu que escrevi o informe. Além do mais, não preciso dar explicações sobre o que escrevo em minha coluna, até porque é tudo verdade. Se não estiver satisfeito com o resultado, reclame com o instituto que fez a pesquisa, pois apenas noticio fatos baseados em provas concretas.
Eloísa Leandro’
Minha resposta, 01/04/2008:
‘Cara Eloísa,
Em primeiro lugar gostaria que a civilidade que usei para me referir a vocês me fosse retribuída, em momento nenhum fui grosseiro, como você em sua resposta. Caso você não saiba, apesar de não ser jornalista, cresci dentro de uma redação, a do Fluminense, onde meu pai foi secretário geral, e onde também trabalhei como diagramador nos tempos em que você devia ainda usar fraldas. Conheço jornais de dentro para fora.
Se a pesquisa foi mencionada em edição anterior, não é obrigação minha, nem de nenhum outro leitor, saber da origem da pesquisa, não leio o JB todos os dias, mas você tem a obrigação de me informar com precisão todos os dias. Em consulta a amigo do TER, verifiquei que a cada vez que a pesquisa é mencionada, as fontes (instituto e quem encomendou) além do número de registro do TRE devem ser referidas. Informação nunca é redundante. A credibilidade de um veículo está diretamente relacionada com a isenção e a qualidade da informação que este veicula, ao escamotear fatos e dados sob a desculpa de fugir a redundâncias você coloca esta mesma credibilidade em jogo. Mau jornalismo é requentar notícias, para satisfazer a interesses outros que a informação isenta e idônea, como me parece ter sido praticado neste caso.
Como jornalista você tem, sim, que dar explicações sobre o que escreve, chama-se responsabilidade profissional. Se não estou satisfeito, não se deve ao resultado de uma pesquisa, e sim ao fato de que, nas últimas semanas, a ocorrência do nome desse edil, com quem você faz coro (suspeito) ao mencionar ‘problemas pessoais’, tem sido estranhamente freqüente, assídua demais para quem em 2006/2007 foi acusado exatamente do contrário com relação a sua presença na Câmara Municipal de Niterói.
Esclarecendo minha posição, não tenho quaisquer problemas pessoais com este ou qualquer outro vereador, o problema é de natureza política e ética, coisa de higiene. Jamais gozei de relação pessoal com este edil, ‘problemas pessoais’ é o mantra dele para se esquivar de minhas críticas sempre documentadas. Ouvir da sua parte a desculpa esfarrapada dos ‘problemas pessoais’ confirma minhas suspeitas de que a assessoria de imprensa dele é realmente mais eficiente que ele em sua atuação como vereador, e que você na sua, como repórter.
Sem mais,
René Amaral’
Resposta da autora (02/04/2008, 16:50):
‘Subject: Res:Re: Pesquisa eleitoral???
To: René Amaral
Este e-mail confirma que você, realmente, não lê o jornal direito, pois a informação sobre a origem da pesquisa está na matéria ao lado.
Agora quando você fala de eficiência, qual eficiência? Ao contrário de mim, você é uma pessoa desocupada e desinformada, ou então, não teria tanto tempo para ficar escrevendo desaforos e informações truncadas.
Espero que esta baixaria termine aqui. Não perderei mais meu precioso tempo com futilidades e pessoas ociosas.
Eloísa’
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Encerro aqui meu relato e deixo aos leitores a reflexão sobre o relacionamento dos jornais com as personalidades, sejam elas políticas ou não.
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Artista plástico, Niterói, RJ