As eleições municipais deste ano já começam a dominar o noticiário político e ganhar as primeiras páginas dos jornais e revistas do País. Até o dia 3 de outubro, quando os brasileiros voltam às urnas para escolher prefeitos e vereadores, a tendência, obviamente, é que a cobertura se intensifique ainda mais.
No acompanhamento do jogo eleitoral, a mídia brasileira tem dado mostras de que ainda não amadureceu o suficiente para separar o legítimo apoio editorial que os veículos podem dar aos candidatos de sua preferência do noticiário, onde deveria reinar a informação. A cobertura eleitoral não é uma tarefa fácil. Candidatos de pequenos partidos, por exemplo, costumam reclamar da falta de espaço nos jornais, mas como tratar com igualdade políticos em situação desigual? A divisão estrita do espaço ou tempo disponível nem sempre é um bom critério, pois pode acabar privilegiando justamente os arrivistas que alugam legendas em busca de espaço para projetos as mais das vezes pessoais. Além disso, o espaço é só um dos fatores: é preciso observar também como cada veículo se comporta em relação a cada candidatura. Muitas vezes, o maior número de laudas ou tempo na TV pode estar sendo destinado a demolir a reputação do candidato. Em outros casos, como ocorreu com a então candidata do PFL à presidência da República em 2002, Roseana Sarney, basta uma foto para enterrar as ambições eleitorais do político.
Com tudo isso, o cidadão deve se precaver com o noticiário sobre as eleições. É preciso ler e ouvir com cuidado e prestar atenção às entrelinhas. Neste ano, pelo menos para quem vota nas cidades do Rio, São Paulo e Belo Horizonte e tem acesso à internet, a novidade é que há na rede um bom site, idôneo e competente, fazendo um acompanhamento quinzenal da cobertura eleitoral dos grandes jornais dessas cidades. Na página do Laboratório de pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública do Instituto Universitário de pesquisas do Rio de Janeiro (http://doxa.iuperj.br/) já está ativo o link para as análises da eleição de 2004.
A cada quinze dias, os pesquisadores fazem um levantamento de quantas vezes os candidatos a prefeito das três cidades foram citados nos jornais analisados (Folha de S. Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, O Dia, Extra, O Estado de Minas e O Tempo) e classificam as notícias em positivas, negativas e neutras. Com gráficos simples, é possível visualizar a evolução do noticiário desses jornais e perceber em relação a quais candidatos o veículo é mais crítico ou complacente.
No caso da eleição de São Paulo, por exemplo, os números do Iuperj já foram até utilizados pelo Ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, que criticou a cobertura do diário paulistano. De fato, os dados coletados mostravam que a Folha se comportava de forma extremamente crítica em relação à prefeita Marta Suplicy (PT) e ao ex-prefeito Paulo Maluf (PSDB), ao mesmo tempo em que tratava de forma bem mais positiva o tucano José Serra. Curiosamente, Beraba não mencionou que Serra era então colunista do jornal. Após a bronca de Beraba, a Folha melhorou um pouco, mas no levantamento realizado entre os dias 24/06 e 07/07, a tendência voltou a se inverter e o jornal mais notícias negativas do que positivas sobre Marta. No caso de Serra, impressiona que o padrão não tenha mudado praticamente nada nos três últimos estudos: o que a Folha mais publica são notícias neutras. Na sequência, empatadas, as negativas e positivas.
Para cada um dos jornais listados, o Iuperj faz um levantamento como o da Folha de São Paulo, brevemente descrito acima. Se eles vão se comportar melhor nesta eleição do que nas passadas, só o tempo dirá. Mas a verdade é que pelo menos neste anos eles estarão mais vigiados, o que só faz bem à democracia. Na pior das hipóteses, ao consultar o site do instituto carioca, o eleitor descobrirá em quem votam os grandes jornais do País.