Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

ELEIÇÕES 2006
Carlos Eduardo Lins Da Silva

O marketing do marketing

‘O INSTITUTO Datafolha prestou grande serviço aos estudos de comunicação no Brasil ao publicar anteontem o resultado de pesquisa sobre a influência da propaganda política via rádio e TV sobre a decisão de voto do cidadão. O poder do marketing eleitoral de massas sempre foi superestimado. No Brasil pós-regime militar, a atribuição de importância exagerada a esse instrumento passou dos limites da razoabilidade.

A inflação dessa imagem foi, sem dúvida, estimulada pelos próprios responsáveis por campanhas eletrônicas de candidatos, com o objetivo -inconsciente, talvez, em respeito ao princípio da inocência presumida- de aumentar seu faturamento.

Mas a convicção sobre o poder incomensurável do marketing eleitoral foi prazerosamente engolida pela sociedade, sempre disposta a encontrar um bode expiatório para os seus erros e feliz em atribuir à ‘manipulação’ de marqueteiros geniais e maquiavélicos o resultado de votações das quais ela depois se arrepende.

O Datafolha demonstrou com números a tese de que, de fato, a propaganda sozinha muda muito pouco a intenção de voto do eleitor: só 6% dos eleitores disseram ter mudado de candidato por causa dela. E a maioria absoluta nem mesmo a assistiu.

O cidadão -mesmo o mais simples e ignorante- não decide em quem votar da mesma forma que resolve qual marca de sabonete comprar. Ele sabe que são julgamentos fundamentalmente diversos, que envolvem valores de qualidades desiguais.

Em geral, o voto é deliberado em função do uso da racionalidade e da avaliação de convicções ou crenças muito próximas do núcleo mais relevante da personalidade do indivíduo (religião, ideologia, família, condições econômicas de vida). É evidente que avaliações podem ser equivocadas e que arrependimento pode sobrevir quando se constata falha. Daí a tentação de atribuí-la a outro e eximir-se da responsabilidade pelo engano.

As técnicas de comunicação, evidentemente, têm importância. Mas são só um dos meios pelos quais se veiculam idéias, propostas, conceitos e fatos. Estes são os que pesam quando o eleitor pondera em quem votar. Fernando Collor de Mello é com freqüência lembrado como exemplo de político vazio de substância e representatividade que chega à Presidência da República após ser construído como produto de marketing.

Claro que sua exposição via rádio e TV a todo o país quando era bem conhecido apenas em seu Estado foi indispensável para a vitória que obteve em 1989. Mas, se ele não defendesse projetos e programas com quem a maioria da população realmente se identificasse e julgasse os melhores para a nação, jamais teria vencido.

Ao contrário do mito em que se transformou a campanha presidencial de 1989, o que ela de fato comprovou foi como são estreitas as possibilidades de a propaganda política influir no resultado de um pleito. Ulysses Guimarães, o candidato do PMDB à Presidência, tinha mais que o dobro de tempo do horário eleitoral gratuito de Collor e Lula juntos. Aureliano Chaves, do PFL, tinha 60% a mais de tempo do que Collor e Lula somados. A campanha de Ulysses gastou 13 vezes mais dinheiro que a de Collor e 100 vezes mais que a de Lula.

Ulysses ficou em sétimo lugar, com 4,4% dos votos, e Aureliano, em nono, com 0,83%. Ao segundo turno, foram Lula, do PT (16%), e Collor, do PRN (28,5%). O que os fez chegar lá não foi o marketing: foi o sentido de mudança, reforma, renovação que deram, sincera ou hipocritamente, ao discurso. Era o que a maioria desejava. Quando uma eleição é muito disputada, o marketing pode ser decisivo.

Mas raramente o é. Outra lenda, esta universal, é a de que John Kennedy venceu Richard Nixon em 1960 por causa do desempenho de ambos na série de debates pela televisão que travaram na campanha.

Pesquisas de vários institutos e universidades provaram que não foi assim: poucos eleitores mudaram sua intenção de voto por causa dos debates, e os que trocaram Nixon por Kennedy foram tantos quantos os que trocaram Kennedy por Nixon.

O que decidiu aquela eleição, como quase todas, foram considerações materiais: desde as condições do clima no dia da votação até a suposição de qual candidato seria o mais eficaz para melhorar as condições da economia e as do próprio eleitor. No fundo, é sempre isso o que mais importa.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA, 53, livre-docente e doutor em comunicação pela ECA-USP, é diretor da Patri Relações Governamentais & Políticas Públicas. Foi secretário (1984 a 87) e diretor-adjunto de Redação (1988 a 89) da Folha e correspondente do jornal em Washington (1987 a 88 e 1991 a 98). É autor de ‘O Marketing Eleitoral’ (Publifolha, 2002).’

Rubens Figueiredo

Sobre Enéas e ‘Big Brother’

‘A TELEVISÃO dita comportamentos, faz e desfaz a moda, coloca temas na ordem do dia, transforma ilustres desconhecidos em celebridades, desfaz reputações em minutos. A televisão faz um país inteiro assistir satisfeito, meses a fio, a um grupo de anônimos que lavam banheiros, fazem omelete e travam diálogos idiotas. Por que não haveria de ser importante nas eleições?

A opinião pública está saturada de política. Pesquisas mostram que 18% pretendem anular seu voto para deputado. Em 2002, 2,9% fizeram o mesmo. Vivemos uma eleição sem clima de eleição. Não temos outdoors nem penduricalhos nos postes, e os pagodeiros estão em casa, pois os showmícios foram proibidos.

Temos um presidente candidato com 50% de intenção de voto e uma massa de eleitores de baixa instrução satisfeitos com o governo. A economia patina, mas as pessoas têm a sensação de que tudo vai bem. A coisa está empolgante como um caldinho de batata. Mas, daí a dizer que o horário eleitoral não tem influência nas eleições, há uma distância oceânica.

Vamos começar pelos cargos proporcionais, que é o pedaço mais enfadonho do horário eleitoral. O que não foi Enéas, com seu mais de 1 milhão de votos, que levou consigo outros quatro deputados do então desconhecido PRONA para Brasília, senão um produto da TV? Um visual diferente, uma fala rápida, um bordão, algumas campanhas com pouquíssimo tempo e… pimba! Conseguiria aquela votação distribuindo jornal nas esquinas? Enéas é um produto puro da TV.

Mas há outros candidatos que obtiveram notoriedade em suas áreas de atuação e partiram para a política. Esportistas, cantores, apresentadores, radialistas etc. No horário eleitoral, eles multiplicam por dez o seu potencial de votos, já que divulgam que são candidatos para o conjunto do eleitorado. Exemplos: Agnaldo Timóteo, Biro-Biro, Éder Jofre, Aurélio Miguel, Clodovil e muitos outros.

No que tange aos cargos proporcionais, Collor é um exemplo de almanaque da força da TV. Político de Alagoas, de fora do ‘stabilishment’, desconhecido nacionalmente, candidato por um partido que não existia, transforma-se num grande fenômeno e acaba eleito presidente da República. Suas bravatas não teriam o mesmo efeito em adesivos de pára-choque.

Mas tudo poderia ser diferente se não fosse… a TV. As pesquisas mostravam uma ascensão de Lula, que ameaçava a liderança de Collor. Aí, o programa de Collor divulgou as declarações de Mirian Cordeiro, ex-namorada de Lula, com quem tivera uma filha. E houve o debate, no qual Collor foi melhor. E a edição do debate. A tendência se inverteu e Collor virou presidente. Tudo rapidinho, tudo na TV, quase tudo no horário eleitoral.

Na eleição de 2002, o candidato Ciro Gomes vinha bem nas pesquisas. Então, proferiu frases infelizes: uma ofensiva às mulheres e outra questionando a inteligência de um eleitor. As declarações foram reproduzidas nos programas do adversário, e Ciro despencou nas pesquisas, para não mais se recuperar. É a força da TV.

O horário eleitoral é particularmente importante quando um governador ou um prefeito com altos níveis de aprovação apresentam um candidato desconhecido. Fleury seria eleito governador de São Paulo, em 1994, sem a ‘blitz’ televisiva diária na qual Quércia dizia ser ele, Fleury, o continuador da sua obra? E Pitta, ex-prefeito de São Paulo, seria eleito se não fosse a pregação de Maluf a seu favor?

Televisão é um instrumento poderosíssimo, mas não tem o condão de mudar atitudes e valores fortemente arraigados nas pessoas. A TV não convence as pessoas a deixar de gostar de seus filhos. Collor foi presidente porque existia um desejo generalizado de mudança na sociedade, que ele encarnou com seu voluntarismo de carateca. Agora, não. A grande maioria dos eleitores não quer mudar. E existe um candidato que representa a não mudança. É por isso que não muda.

RUBENS FIGUEIREDO, 48, é cientista político pela USP, consultor, diretor do Cepac – Pesquisa e Comunicação e comentarista da rádio Jovem Pan. É autor, entre outras obras, de ‘Marketing político e persuasão eleitoral’.’

Marcelo Coelho

Tecle M para votar

‘NO MARASMO vigente, um dos fatos mais importantes da campanha presidencial terminou sendo de ordem vocabular, e não política ou programática. De uma hora para outra, um palavrão, um termo que antes pertencia ao vasto grupo dos ‘excluídos’, passou a ganhar cidadania plena em reportagens, comentários e debates.

Veio da classe artística a iniciativa de colocá-lo em circulação. Num encontro de apoio à candidatura Lula, foi o ator Paulo Betti quem pronunciou a palavra maldita.

Betti, que já representara tantos papéis de cunho popular no cinema (de Lamarca a Ed Mort), desempenhou função liberadora. Sua voz se fez a voz do povo, cuja linguagem, sempre sintética nas horas de indignação mais funda, nunca se submeteu à distinção preconceituosa que separa em níveis hierárquicos de nobreza as palavras da nossa língua.

Ele afirmou que não é possível fazer política sem pôr a mão naquilo que, em outro momento de descontração, Lula tinha dito que o Chile era. As declarações de Betti foram transcritas com todas as letras, e as de Lula também; ouviu-se então um grito de liberdade nas redações. Clóvis Rossi alçou um palavrão ao título de um artigo nesta Folha; outros jornais tampouco se deixaram prender pelo decoro habitual, e o debate político ganhou, com isso, um termo mais expressivo para descrevê-lo.

O prazer de publicar foi maior do que a suposta indignação com o publicado. Toda a blindagem do marketing, das belas aparências, dos sorrisos de campanha era desmontada de repente. Assumia-se de uma vez por todas aquilo que sofismas e manobras de todo tipo tentavam esconder durante mais de um ano. Depois da dança da pizza, fazia tempo que um correligionário não se mostrava tão verdadeiro.

‘Política a gente faz com o que a gente tem. Não com o que a gente quer’, disse Lula em contexto semelhante. Foi esse raciocínio, maquiado com alguma purpurina weberiana em torno da ‘ética da responsabilidade’, que fundamentou toda a estratégia de alianças levada a cabo por FHC, quando segurava com mãos firmes o pegajoso timão do Estado.

Todo o raciocínio em torno de compromissos e alianças para assegurar a ‘governabilidade’, antes monopólio argumentativo do PSDB, é agora invocado pelas forças lulistas.

‘Não sou igual a Lula’, proclama então Fernando Henrique. Mas, nessa concepção de governabilidade e de alianças, a principal divergência entre ambos se limita ao vocabulário. Discute-se a base parlamentar que Lula terá a seu dispor num segundo mandato.

Pensando nisso, o presidente lançou a idéia de um entendimento nacional; em muitas questões, PT e PSDB não têm pontos de atrito significativo. Só espero que, quando todos se derem as mãos, Paulo Betti não esteja por perto.

MARCELO COELHO é colunista da Folha’

Walter Ceneviva

Propaganda versus meio ambiente

‘NOS ÚLTIMOS dias, a campanha eleitoral registrou muitas referências ao meio ambiente. Vieram dos que se queixam de demora dos laudos ambientais. Dos que reclamam leis mais severas para preservar as condições da vida. A expressão ‘meio ambiente’ sempre me pareceu errada ou, pelo menos, imprópria. Deveria excluir o segundo termo (ambiente) para privilegiar o primeiro (meio) ou vice-versa. O legislador poderia, ter adequado ‘environment’, usando só ambiente. Com meio ambiente, usou duas palavras para definição única.

A questão semântica não interfere com o fato jurídico. A Constituição atribui (art. 225) a todos o direito individual ou coletivo ao meio ambiente. Sua preservação seria dever do Estado. Há, porém, órgãos oficiais com o vício da não-preservação seja por se omitirem, seja por permitirem a corrupção ou o abuso. Neste período pré-eleitoral, muros, postes e ruas agravam as condições com cartazes e pichações. Exemplo corriqueiro também colhe quem percorre estradas brasileiras. Basta que o governante comece a tapar buracos para surgirem placas anunciando a ‘recuperação’. O descuido com as condições ambientais, ao indicar o responsável pelo ‘benefício’, perturba a visibilidade do entorno, ou seja, do ambiente protegido, além de confundir os motoristas.

Tem sido sempre assim, desde que o meio ambiente começou a ser preocupação científica, nos começos do século 20. Os últimos anos agravaram a condição urbana. Em nossas maiores cidades, a poluição da propaganda, em particular nas ruas mais movimentadas, está atingindo a intoxicação visual. Com os anúncios gerados eletronicamente, das figuras e pessoas em movimento, acrescenta-se, à poluição, o maior perigo para o trânsito.

Se, na linguagem constitucional, o ambiente é de todos, uma das formas de o garantir consiste em implementar o afastamento dos poluidores. A benefício próprio, eles ocupam prédios, terrenos e espaços com propaganda que, à noite, acrescenta a perturbação do sono de quem vive por perto. O Código Civil dá, aos vizinhos, a proteção do sossego e o da saúde das pessoas. A proibição das interferências prejudiciais é desrespeitada, até pelas luzes e cores de centenas de anúncios acendendo e apagando.

O direito da publicidade é legítimo e conveniente. Seu abuso, porém, tem quebrado o equilíbrio ambiental. A infração seria apenas dos abusadores se o poder público fizesse sua parte, impondo as restrições previstas em lei, direta ou indiretamente. Acontece que os interesses dos anunciantes e da indústria publicitária, da criação à instalação, têm muito poder para impedir a limpeza, único meio para garantir a qualidade do ambiente.

Desse ponto de vista, aliás, a posição do prefeito de São Paulo, confirmada na última semana, tende a acabar com o excesso dos outdoors (eis o inglês acolhido sem cerimônia). Tem atribuição legal para tanto, já que em cada cidade a municipalidade é a responsável pela regulamentação de interesse local. Os munícipes devem cobrar dos prefeitos e vereadores a preservação do equilíbrio entre os direitos à propaganda e ao ambiente humano preservado. Na dúvida, deverá preferir o segundo, pois se trata de garantia constitucional atribuída a todos. Todos, no artigo 225, não contempla exceções.’

Rogério Gentile

A PF e o álibi ético de Lula

‘Com a megaoperação deflagrada ontem pela Polícia Federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhou mais um trunfo na eleição deste ano.

Desarticulou um dos braços financeiros da facção criminosa PCC e, de quebra, ‘passou a perna’ na polícia de São Paulo. A imagem que fica é a de que seu governo fez o serviço que a turma do secretário Saulo de Castro Abreu Filho -leia-se a turma do ex-governador e presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB)- não conseguiu.

Mais do que isso, ao desbaratar a quadrilha de roubo a banco da organização criminosa, pode ainda ter tirado a sorte grande, fisgando um dos envolvidos no rumoroso seqüestro do jornalista Guilherme Portanova e do auxiliar técnico Alexandre Calado, da TV Globo.

Pouco importa que a Polícia Federal esteja há mais de um ano literalmente correndo atrás da quadrilha, a mesma que furtou o Banco Central de Fortaleza (CE), e que até agora não tenha conseguido recuperar quase nada.

Dos R$ 164,8 milhões furtados no maior assalto da história do país, apenas R$ 18 milhões foram resgatados pela Polícia Federal. Alguns dos quais, é necessário lembrar, achados por garotos depois que uma bola de futebol caiu numa casa abandonada. Uma piada.

Em ano de eleição presidencial, o que vale mesmo é o marketing político, o discurso. Lula, que já tem enorme vantagem nas pesquisas sobre Alckmin, ganhou mais essa.

Feriu o PCC e esvaziou a constatação tucana -verdadeira- de que a facção criminosa nascida nas penitenciárias do Estado se fortalece com as armas e drogas que a PF não vê passar pelas fronteiras.

Entre janeiro e julho, vale o registro, foram apreendidas apenas 107 armas -coincidência ou não, fronteira é um assunto que não dá tanta mídia.

O presidente da República, que não tem respostas para o mensalão e para as incontáveis denúncias contra a velha companheirada do PT, prefere se agarrar às espetaculosas ações especiais da PF -de janeiro de 2003 até o início de agosto já foram quase 280 (no segundo mandato de FHC, cerca de 60).

Se o Bolsa-Família é o principal cabo eleitoral de Lula, as operações da PF se transformaram no seu contra-argumento, no seu único álibi ético.’



INTERNET
Editorial

Desconectados

‘HÁ UMA preocupante queda-de-braço em curso. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Ministério das Comunicações se batem em torno do modelo de mercado para o fornecimento de acesso à internet em banda larga através da tecnologia sem fio chamada de WiMax. O governo questiona a decisão da agência -correta- de aproveitar a oportunidade para fomentar a competição no setor.

O WiMax propicia acesso à rede mundial de computadores por meio de ondas de rádio -dentro de bandas determinadas de freqüência. Em um raio de até 50 km da antena emissora, usuários podem conectar-se ao serviço. É a modalidade que apresenta o maior nível de mobilidade em comparação com as outras disponíveis -via cabo e via Wi-Fi, que provê acesso sem fio, mas numa área mais restrita.

De acordo com as regras definidas pela agência, empresas telefônicas estariam, por um período de cinco anos, impedidas de disputar licitação para as faixas de freqüência do WiMax nos territórios em que detenham concessão de telefonia fixa. Uma liminar obtida na quinta-feira pela associação que representa os concessionários, no entanto, assegura participação irrestrita no leilão, cujo início está agendado para depois de amanhã. A Anatel informou que vai recorrer da decisão.

O princípio que norteou a normatização da Anatel é plenamente defensável. Empresas que detêm virtual monopólio da telefonia fixa em suas áreas, que atuam fortemente na telefonia celular e que detêm 78% do mercado total de banda larga de internet precisam ser expostas a maior concorrência, sob pena de o consumidor tornar-se o maior prejudicado ao final do processo.

O Ministério das Comunicações brande a ‘inclusão digital’ ao pressionar pelo abrandamento das restrições aos concessionários. A Anatel estabelece prazo obrigatório para o vencedor das licitações do WiMax iniciar a prestação do serviço apenas nas cidades de mais de 500 mil habitantes -nas outras, o atendimento dependerá da atratividade do negócio. Já o ministério diz que gostaria de estender a obrigação a mais comunidades. Sugere que a atuação das teles dentro de sua área facilitaria a consecução de tal objetivo.

Estranha e tardia obsessão do governo. As primeiras licitações da tecnologia sem fio datam de 2003 -e as regras eram as mesmas. O processo de consulta pública para o leilão das novas bandas começou em dezembro de 2005, mas o ministério só agora fala em intervir no assunto.

As teles, pelas regras da Anatel, estão livres para participar de leilões fora de seus territórios de concessão. Podem contribuir para a ‘inclusão digital’ nas áreas de suas concorrentes e ainda ampliar a competição pelo acesso à internet. Em cinco anos, teriam o direito de atuar também em seu território. É tempo de sobra para serem associadas a uma política de ‘universalização’ que apenas engatinha nas tecnologias mais básicas -que dirá do WiMax, por ora apenas uma boa promessa para o futuro.

De tudo o que pode acontecer nesse processo, o pior seria uma intervenção do ministério na Anatel. Significaria um grave retrocesso institucional, que o país deve evitar a qualquer custo.’



PUBLICIDADE
Editorial

A lei dos outdoors

‘NA CIDADE de São Paulo, a proliferação descontrolada de mensagens publicitárias é uma das principais fontes de poluição visual. É elogiável a disposição do prefeito Gilberto Kassab de enfrentar o problema.

O projeto de lei por ele apresentado e já aprovado em primeira votação na Câmara Municipal, porém, suscita algumas indagações. Cabe, antes de tudo, perguntar se é realmente necessário um novo marco regulatório. O descalabro propagandístico se deve muito mais à não-aplicação da lei do que a regras excessivamente permissivas.

Se o poder público não é capaz de fazer cumprir as normas já vigentes, por que conseguiria impor legislação ainda mais dura, que está próxima de banir a propaganda através de outdoors, luminosos, faixas, anúncios em prédios e telões? O projeto é tão radical que fica a sensação de que o prefeito o propôs apenas para depois negociar um meio-termo em posição vantajosa.

Mais do que uma sensação, é mesmo desejável que o prefeito se disponha a ceder no processo de negociação. Vetar quase todas as modalidades de anúncio seria excessivo -outdoors e assemelhados integram a paisagem urbana das mais civilizadas metrópoles do mundo, só que de modo bem mais disciplinado.

O importante é que, nos debates em curso, Executivo e Legislativo cheguem a um modelo que restrinja bastante os níveis da poluição visual registrados hoje na capital, sem no entanto proibir a veiculação de propaganda na cidade. Esse modelo deveria harmonizar uma norma menos permissiva e a capacidade de fiscalização da prefeitura.’



AVIAÇÃO & MÍDIA
Flávio de Carvalho Serpa

Jornalista retoma a disputa sobre paternidade da aviação

‘Em 2002 o Congresso dos EUA cassou de Alexander Graham Bell a paternidade da invenção do telefone, devolvendo-a ao italiano Antonio Meucci, reparando uma injustiça que durou 113 anos. Em ‘Conexão Wright-Santos-Dumont’, o jornalista Salvador Nogueira mostra porque não se deve esperar dos americanos generosidade semelhante em relação a Alberto Santos-Dumont, preterido na paternidade da invenção do avião em proveito dos irmãos Orville e Wilbur Wright.

Nogueira, jornalista especializado em tecnologia, tenta purgar para os leitores brasileiros o chauvinismo que envolve a questão -o Brasil é o único país onde Santos-Dumont é considerado o pai da aviação. A pista para a decolagem do mais pesado que o ar, segundo Nogueira, estava pavimentada de arapucas legais tão complicadas quanto os desafios tecnológicos. Para agravar, uma acesa batalha de egos e intrigas torna a obra, escrita na forma romanceada, uma leitura cativante.

A raiz de toda confusão seria o sistema de patentes, uma profunda paranóia americana que contaminou todo o mundo. A verdadeira história da invenção do avião acaba sendo um capítulo dramático da batalha das patentes. Os irmãos Wright mantiveram em segredo as provas de terem voado bem antes do brasileiro, como ficou provado posteriormente, para evitar a espionagem industrial.

A obsessão com o sistema foi tão longe que eles acabaram infernizando a vida de todos os inventores posteriores com suas patentes muito abrangentes. As pendengas só acabaram com um mal pior: o governo americano suspendeu-as para limpar o caminho no esforço de guerra.

Uma falha do texto é a salada de sistemas de medidas. Um vôo de 200 jardas é muita ou pouca coisa? Uma envergadura de asas de 18 pés é enorme? O mesmo para os valores monetários: 1 milhão de francos cobrados pelos irmãos Wright por um avião ao governo francês era uma exorbitância?

Ao final de ‘Conexão’ emerge um Santos-Dumont quase patético no seu purismo humanista, ao contrário da maior parte dos inventores que perseguia o promissor mercado de máquinas de guerra. Ele distribuía os prêmios que ganhava entre seus mecânicos e os pobres de Paris e nunca patenteou os planos de seus aeroplanos. A idéia de a invenção do avião servir ao morticínio das guerras atormentou Santos-Dumont e apressou o final trágico de sua vida. Talvez seja esse humanismo, afinal, a mais indelével e incontestável grandeza do brasileiro.

CONEXÃO WRIGHT-SANTOS-DUMONT – A VERDADEIRA HISTÓRIA DA INVENÇÃO DO AVIÃO

Autor: Salvador Nogueira

Editora: Record

Quanto: R$ 42,90 (380 págs.)’



TELEVISÃO
Daniel Castro

Redes terão canal de TV virtual nacional

‘As redes terão um único número de canal em todo o país, o que facilitará a vida do telespectador, com o advento da TV digital, na qual o televisor será um microcomputador. Assim, hipoteticamente, a Record poderá ser identificada pelo número sete no Brasil todo.

Esse canal será um número virtual. Tecnicamente, a Record estará na freqüência de outro canal (em São Paulo, deverá ser o 20), mas bastará clicar o número sete no controle remoto para sintonizá-la.

A adoção do canal virtual (ou canal único nacional) já está definida pelas redes. Foi solicitada em carta ao presidente Lula. Na semana passada, a Anatel informou às redes que é viável.

As emissoras se reunirão segunda-feira para definir os critérios que serão adotados. Algumas, como a Band, já fecharam que terão número único nacional. Outras poderão ter números apenas regionais. Será decidido também como ocorrerá a escolha dos números (se por ordem alfabética ou sorteio, por exemplo). O número não será necessariamente o dos canais que as redes ocupam hoje em SP. Poderá ser qualquer um, como 2006, porque será uma ferramenta de marketing (haverá outras formas simples de sintonizar as redes).

Os números dos canais reais que cada rede ocupará em SP já estão pré-definidos. A Globo deverá ficar no 18, a Band no 23, a Rede TV! no 24 e o SBT no 28. Mas podem mudar.

CONSTELAÇÃO 1Já está definido o elenco de ‘Bailando por Um Sonho’, ‘reality show’ de dança que estréia em novembro no SBT, provavelmente às quartas.

CONSTELAÇÃO 2’Bailando’ será disputado pelos seguintes famosos (alguns nem tanto): Patrícia Salvador (assistente de palco dos programas de Silvio Santos), Analice Nicolau, Valéria Valenssa, Sidney Magal, Alexandre Barillari, Virginia Nowicki, Luciana Vendramini, Lucas Poletto (vice de ‘Ídolos’), Fernando Scherer (o nadador Xuxa) e o modelo Reinaldo Ritts.

QUEIJO PODREO novo programa de Carlos Massa, o Ratinho, no SBT, foi adiado para março. Ontem, toda a produção, inclusive diretor, foi demitida.

O PACIFICADOR 1Diretor de Mídia Eletrônica do Grupo Paulo Pimentel (afiliado do SBT no PR), Daniel Pimentel Slaviero, 26, foi eleito anteontem novo presidente da Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV), que hoje, dentre as cabeças-de-rede, só congrega a Globo.

O PACIFICADOR 2A escolha de Slaviero foi bem aceita pelo SBT e pela Record, que, se ocorrerem mudanças estatutárias que lhes dêem maior representação, voltarão à entidade. Para Alexandre Raposo, presidente da Record, a eleição ‘abriu caminho para a democratização da Abert’.

NOVO DIA ‘A Praça É Nossa’ (SBT) está se dando bem às quintas. Cresce um ponto por semana. Anteontem, deu 11 no Ibope.’



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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

O Globo

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