Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

RSF divulga balanço de 2006

Depois do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, é a vez da Repórteres Sem Fronteiras divulgar seu balanço final de 2006 [31/12/06]. A organização de defesa da liberdade de imprensa, com sede em Paris, classifica o ano como ‘o mais letal para jornalistas desde 1994’.


Os números assustam. Segundo os dados da RSF, foram 81 jornalistas e 32 assistentes de mídia mortos, 1.472 atacados fisicamente ou ameaçados, 871 presos e 56 seqüestrados; 912 veículos de imprensa sofreram algum tipo de censura. Há casos de mortes de profissionais de imprensa que não foram contabilizados pela organização porque as investigações ainda não concluíram se os crimes têm relação com o trabalho das vítimas.


Em 1994, foram contabilizadas 103 mortes de jornalistas enquanto faziam seu trabalho ou simplesmente expressavam sua opinião – parte deles no genocídio de Ruanda, cerca de 20 na guerra civil argelina e uma dúzia na antiga Iugoslávia. Em 2006, o Iraque foi o lugar mais perigoso para o exercício da profissão jornalística, com 64 jornalistas e assistentes de mídia (entre tradutores, motoristas, técnicos e seguranças) assassinados. É a quarta vez consecutiva que o país ocupa a nada nobre posição. Desde o início da guerra, em 2003, foram 139 jornalistas mortos – durante os 20 anos da Guerra do Vietnã, entre 1955 e 75, morreram 63 jornalistas. Nesta guerra no Iraque, cerca de 90% das vítimas são iraquianos. As investigações sobre estes casos são raras e muitas vezes terminam sem solução.


O segundo país mais perigoso, de acordo com a RSF, é o México. Foram nove jornalistas assassinados em 2006. Todos investigavam o narcotráfico ou noticiavam conflitos sociais violentos. Nas Filipinas, foram seis mortos. Na Rússia, três – o que eleva para 21 o número de profissionais de imprensa mortos no país desde o início do governo do presidente Vladimir Putin.


Eleições e repressão


Ataques contra jornalistas em Bangladesh, já comuns, tornaram-se diários no fim do ano, poucas semanas antes das eleições parlamentares. Em outros países que também tiveram eleições durante o ano, a RSF registrou diversos casos de ataques físicos e ameaças a profissionais de imprensa. A organização cita casos de ameaças no Peru, na República do Congo, em Belarus e no Brasil – onde o escritório de um jornal em Marília, no interior de São Paulo, foi invadido no dia da eleição presidencial.


Os casos de censura diminuíram levemente com relação a 2005, quando foram registradas 1.006 ocorrências. Em 2006, a Tailândia foi o país que mais censurou veículos de imprensa. Depois de um golpe militar em setembro, mais de 300 estações de rádio comunitárias foram fechadas, assim como sítios de internet. A situação voltou ao normal após algumas semanas.


Inimigos da internet


Em países conhecidamente repressores como China, Burma e Coréia do Norte não foi possível conseguir informações exatas sobre veículos de comunicação censurados ou fechados. Em novembro, a RSF divulgou uma lista com os 13 maiores inimigos da internet. Junto aos três países citados acima, estão Belarus, Cuba, Egito, Irã, Arábia Saudita, Síria, Tunísia, Turcomenistão, Uzbequistão e Vietnã. Blogueiros e ciberdissidentes nestas regiões são constantemente ameaçados e detidos por expressar suas opiniões online. Sítios são fechados ou submetidos a filtros e fóruns de discussão têm mensagens críticas apagadas. Cerca de 30 blogueiros foram presos ao longo do ano.


Pela primeira vez, a RSF incluiu em seu balanço anual o registro detalhado do número de jornalistas seqüestrados em todo o mundo. Foram pelo menos 56 casos em 2006 – 17 no Iraque e seis na Faixa de Gaza, os lugares mais perigosos. Todos os profissionais capturados em territórios palestinos foram libertados, mas seis no Iraque foram executados pelos criminosos.