Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Correspondente irá a julgamento na China

Será julgado o jornalista chinês Zhao Yan, acusado pelo governo de expor segredos de Estado. Correspondente do New York Times, Yan foi preso em setembro do ano passado, acusado de repassar ao jornal americano detalhes sobre a rivalidade entre o ex-líder do Partido Comunista Jiang Zemin e o novo presidente, Hu Jintao. O jornalista pode enfrentar sentença de 10 anos de prisão.

‘O modo como eles fizeram isso mostra que eles sabem como a acusação é controversa’, reclama o advogado de Yan, Mo Shaoping. Segundo ele, o caso voltou para ‘reinvestigação por duas vezes’, por ordem da promotoria, ‘e eles esperaram até o último minuto para nos notificar’ de que haveria realmente julgamento. Além da acusação inicial, consta também no processo uma acusação menor por fraude. Ela foi adicionada alguns meses após a prisão de Yan, e é referente a 2001, antes do jornalista começar a trabalhar para o Times. Investigadores alegam que ele recebeu dinheiro para oferecer uma matéria a um jornal chinês, o que é negado por seu advogado. ‘Não vimos nenhuma evidência de que ele seja culpado de algo’, desabafou o editor-executivo do Times, Bill Keller.

Repressão e medo

Yan é mantido em um centro de detenção em Pequim. Sua família foi proibida de se comunicar com ele, e seu advogado tem direito apenas a visitas limitadas. A organização Repórteres Sem Fronteiras, que este mês concedeu ao jornalista prêmio por seu compromisso com a defesa da liberdade de expressão, afirmou que sua prisão ‘espalhou medo entre as dezenas de jornalistas chineses que trabalham para um crescente número de empresas de mídia estrangeiras na China’.

A prisão foi condenada também por governos internacionais. Em setembro, o presidente americano, George W. Bush, incluiu o nome de Yan em uma lista de casos problemáticos de violação dos direitos humanos entregue a Hu Jintao durante um encontro em Nova York. A secretária de Estado Condoleezza Rice também criticou a prisão do jornalista.

A detenção de Yan é mais uma de uma série de prisões de jornalistas chineses. Em abril, Ching Cheong, correspondente do jornal de Cingapura Straits Times, foi preso acusado de espionagem. No mesmo mês, o repórter Shi Tao foi condenado a 10 anos de prisão por revelar segredos de Estado. Informações da Reuters [23/12/05] e de Jim Yardley [The New York Times, 24/12/05].



Tribunal abre as portas à imprensa

Tribunal de Xangai concedeu a repórteres estrangeiros da sucursal de Pequim do New York Times acesso irrestrito por quatro dias para estudar o sistema legal chinês, depois de acusações de que ele não seria justo. O acesso sem precedentes foi permitido em resposta a dois artigos publicados pelo jornal, que levantavam dúvidas sobre a legitimidade do sistema judiciário chinês. Os jornalistas poderão entrar em todas as salas, assistir aos julgamentos e entrevistar litigantes e advogados, e serão acompanhados por funcionários do tribunal.

Teoricamente, grande parte dos julgamentos é aberta aos jornalistas locais, enquanto profissionais de imprensa estrangeiros precisam de uma autorização do governo para cobri-la. Na prática, jornalistas locais e estrangeiros são barrados em qualquer julgamento considerado sensível ou controverso, afirma nota da United Press International [20/12/05].