O calmo secretário-geral das Nações Unidas perdeu a paciência com um repórter na semana passada, segundo nota da Reuters [22/12/05]. Em uma coletiva de imprensa, Kofi Annan respondia controladamente às questões sobre sua participação no polêmico programa Petróleo por Comida, mas se irritou quando o repórter James Bone, do London Times, perguntou sobre a compra de um Mercedes-Benz para Kojo, filho do secretário. Kojo teria importado o carro usando o status diplomático do pai para evitar pagar impostos.
Annan perdeu o controle. ‘Eu acho que você está sendo prepotente. Você tem se comportado como um aluno de colégio nesta sala por muitos meses e anos. Você é motivo de vergonha para seus colegas e para sua profissão. Por favor, pare de se comportar mal e por favor vamos passar a um assunto sério’, desabafou.
O presidente da Associação de Correspondentes da ONU afirmou que Bone tinha o direito de fazer a pergunta. Annan disse que concordava, ‘mas eu também acho que nós temos que entender que precisamos tratar uns aos outros com respeito’, ressaltou.
Perguntado novamente se teria comprado uma Mercedes livre de impostos para seu filho, o secretário respondeu que sabia que os repórteres estavam ‘todos obcecados por este carro’ e que, se eles quisessem saber mais sobre o assunto, deveriam fazer perguntas a Kojo ou a seu advogado. ‘Não sou porta-voz ou advogado dele’, completou.
Petróleo por dinheiro
O programa Petróleo por Comida foi implantado no Iraque em 1996 e tinha como objetivo permitir que o país comprasse alimentos e remédios usando dinheiro arrecadado com a venda de petróleo – derrubando qualquer sanção comercial estabelecida.
Annan afirmou que a questão tem sido coberta pela imprensa a partir de ‘vazamentos deliberados’ alimentados por ‘pessoas com objetivos pessoais’. O secretário disse ainda que os jornalistas costumam distorcer a história, como teria sido o caso da denúncia de que centenas de pessoas e organizações teriam lucrado com a venda irregular de petróleo enquanto o programa ainda estava em vigor.
A ONU, responsável pela administração do Petróleo por Comida, abriu uma investigação para apurar a denúncia. A comissão responsável pela investigação repreendeu Annan por má-administração do programa, mas o inocentou de qualquer irregularidade pessoal.