CASOY DEMITIDO
Casoy fora
‘‘Foi profundamente triste e lamentável a notícia da saída de Boris Casoy da TV Record, dada pela Folha (Cotidiano, 31/12). Como editor-chefe, criou um jornalismo atuante, independente e apartidário. Sua capacidade profissional, inteligência e simpatia cativaram milhões de telespectadores cansados da mesmice de nossos telejornais. Mais uma vez (pelo que foi noticiado ontem) a pressão de grupos -nesse caso, o ‘des’governo Lula- ganhou, tirando (ou tentando tirar?) uma pedra de seu caminho. Com esse fato, perde a TV Record, o jornalismo brasileiro e o país. Parabéns a você, Boris, pela coragem e dedicação com que nos brindou nesses anos todos com seu jornalismo brilhante, imparcial e verdadeiro.’ Humberto Giovine (Santos, SP)’
JK NA TV
O poder em folhetim
‘‘JK’, a minissérie que estréia nesta terça na Globo, abre o calendário eleitoral de 2006 contando na televisão a história daquele que foi um dos presidentes mais populares do país, do bordão que prometia fazer ‘50 anos em 5’.
Os autores da minissérie darão ao protagonista, Juscelino Kubitschek (1902-1976), o JK, tratamento de herói de novela. O texto da Globo que anuncia a minissérie saúda JK como ‘o homem que proporcionou ao Brasil uma era de ouro sob o signo da democracia e do otimismo’, que fez ‘gestão inovadora marcada pela construção da capital federal’.
Até a faceta mais prosaica de JK, a de mulherengo, será maquiada. Todas as amantes do presidente (e teriam sido muitas) serão reduzidas a uma só personagem.
Para contar a história do filho de caixeiro-viajante que chegou ao cargo público mais importante do país, Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, autores da minissérie, tiveram que fazer algumas concessões. Buscaram a autorização e a colaboração de descendentes de JK, que pediram para o assunto ‘mulheres’ ser tratado de ‘forma digna’.
‘No Brasil, fazer biografia de personagens recentes, com descendentes vivos, sem autorização das famílias, é arriscar vê-la fora do ar ou das prateleiras das livrarias’, avalia Maria Adelaide.
‘JK’ retratará Juscelino do nascimento, em Diamantina (MG), ao velório, em 1976, a primeira manifestação popular pela redemocratização do país. Mas não espere um curso de história do Brasil em 47 capítulos.
A minissérie é, antes de mais nada, uma novela que mistura personagens reais com fictícios -estes responsáveis pelo relato das mudanças na cultura e nos costumes. ‘A história pessoal de JK é repleta de lances de folhetim’, diz Nogueira.
A seguir, leia trechos de entrevista concedida por Maria Adelaide e Alcides Nogueira.
Folha – Há algum risco de a minissérie influir nas eleições presidenciais do ano que vem?
Maria Adelaide Amaral – A minissérie irá ao ar no primeiro semestre e não no segundo, quando se iniciará a propaganda eleitoral. Mesmo assim, não poderemos impedir que os diversos candidatos busquem identidade de temperamento e/ou de propósitos com JK. Já desde este ano, curiosamente, muitos se comparam a ele. Na verdade, todos desejariam ser JK.
Folha – Vocês já estão escrevendo os últimos capítulos de ‘JK’. Acreditam que criaram uma minissérie que irá contar de forma fiel a história do presidente?
Alcides Nogueira – Achamos que sim, pois, para escrever a minissérie, fizemos (e continuamos a fazer) uma pesquisa imensa, em profundidade, além de consultarmos freqüentemente os familiares do presidente, amigos, pessoas que fizeram parte de seu círculo mais íntimo.
A história pessoal de JK é repleta de lances de folhetim, de grandes momentos, de muita emoção. Por que sonegar isso do telespectador? Por isso, na minissérie, a emoção está presente o tempo todo, ao lado e junto de sua trajetória política.
Folha – Personagens reais de ‘JK’ interagem com personagens fictícios. Isso não tira autenticidade histórica da minissérie?
Nogueira – Isso já foi usado muitas vezes, inclusive por nós em ‘Um Só Coração’ [2004], e, em vez de tirar a autenticidade histórica, ajudou o telespectador a compreender melhor o universo que estava sendo retratado.
Mesmo baseada em fatos reais, a minissérie é uma obra de ficção, não é um documentário. Mas tomamos cuidado para que a ficção esteja sempre inserida com propriedade dentro da história real.
A nossa preocupação foi retratar, com as tramas ficcionais, os tipos, usos e costumes e situações que estiveram presentes nesses quase 74 anos de história do Brasil. São personagens e histórias representativas de cada período vivido por Juscelino.
Folha – Na festa de lançamento da minissérie, vocês disseram que ‘JK’ não seria possível sem o apoio dos descendentes de JK. Como a família apoiou a produção?
Amaral – Não estamos nos Estados Unidos, onde é possível fazer biografias autorizadas e não-autorizadas. No Brasil, fazer biografia de personagens recentes, com descendentes vivos, sem autorização das famílias, é arriscar vê-la fora do ar ou das prateleiras das livrarias. Veja o que aconteceu com o livro de Ruy Castro sobre Garrincha.
Mas o contato com a família é uma das melhores coisas, sobretudo da fase da investigação. Sei disso desde que escrevi ‘Tarsila’ para o teatro. Porque muitas informações, eu diria até que as mais interessantes para um dramaturgo, não estão nos livros, e uma leva a outra, abrindo infinitas portas. Simpatias, antipatias, cumplicidade dos membros das famílias com os personagens constituem um rico manancial com o qual construímos solidamente um personagem. Isso também aconteceu em ‘Um Só Coração’ com Yolanda Penteado e Ciccilo Matarazzo.
Folha – Vocês tiveram que fazer concessões históricas para poder contar a saga de JK?
Nogueira – Não havia motivo para fazer concessões históricas. Os fatos são recentes, conhecidos de muita gente e amplamente documentados. Não se trata de uma minissérie chapa-branca. O [Carlos] Lacerda, que foi um dos maiores opositores do governo JK, tem papel de muito destaque, retratado com suas próprias palavras, tiradas de seus discursos e artigos. E muitos dos personagens ficcionais representam exatamente certos bolsões da sociedade que rejeitavam Juscelino.
Folha – Uma dessas concessões não foi justamente a junção de todas as amantes de Juscelino em uma só? Dessa forma, o aspecto mulherengo não ficará um tanto ‘escondido’? A família de JK pediu para amenizar esse aspecto?
Amaral – A única coisa que a família de JK pediu foi para tratar do tema com dignidade, o que tem sido muito fácil, uma vez que os personagens envolvidos são muito dignos.
JK era um homem galante e sedutor, e isso será evidenciado. Mas não era um conquistador deselegante e invasivo como outro que mais tarde ocuparia a Presidência. Aliás, o que se diz é que as mulheres se jogavam para cima dele. E, a julgar pelo número de senhoras que nos disseram ter tido um caso com o presidente, nos perguntamos como é que ele tinha tempo para governar.
Não gostamos do termo mulherengo porque isso o define mal. Ele era sim um ‘homme aux femmes’ [literalmente, homem que gosta de mulheres], mas conhecia bem as regras da elegância, delicadeza e cortesia.’
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Produção reúne personagens reais e fictícios
‘Superprodução com 110 atores fixos e 90 participações especiais, a minissérie ‘JK’ junta personagens reais e fictícios para contar a saga do filho de caixeiro-viajante que se formou médico e se tornou presidente. Personagens fictícios, segundo os autores, servirão para retratar o contexto social e cultural em que viveu JK.
Assim, Juscelino (Wagner Moura e José Wilker) irá interagir com Maria Salomé (Deborah Evelyn), personagem fictícia que ilustra as mulheres que desafiaram as leis sociais e se tornaram independentes. Do núcleo de Salomé, destacam-se ainda Coronel Licurgo (Luís Melo) e Zinque (Dan Stulbach), ambos fictícios.
A minissérie se estrutura em três núcleos: o de JK, o de Salomé e o de Lílian Gonçalves (Mariana Ximenes), personagem real, que representa os candangos, os operários das obras de Brasília. Sua mãe foi cozinheira do Catetinho, o ‘palácio’ improvisado por JK em suas visitas às obras de Brasília.
A minissérie se estrutura também em três fases. A primeira durará apenas o primeiro capítulo, que mostra o nascimento e a infância de Juscelino. Na segunda fase, com 15 capítulos, JK será interpretado por Wagner Moura e sua mulher, Sarah Kubitschek, por Débora Falabella. Mostrará a juventude de JK, sua luta para formar-se médico e sua chegada à Prefeitura de Belo Horizonte. Depois disso, na terceira fase, JK será vivido por José Wilker, e Sarah, por Marília Pêra.
Os ‘Anos JK’ (quando ocupou a Presidência, entre 1956 e 1961) foram chamados também de os ‘Anos Dourados’, de grande ‘efervescência cultural’ e desenvolvimento econômico. Foi quando surgiram a bossa nova (JK seria chamado de ‘o presidente-bossa nova’) e o cinema novo. A arquitetura moderna, personificada em Oscar Niemeyer, também será retratada.’
Ronaldo Costa Couto
Kubitschek conhecia a natureza humana
‘Tempo curto, escasso. Mas JK fazia milagres com o seu. Dormia pouco, movimentava-se muito, decidia rápido. E ainda conseguia divertir-se. Tinha hábitos, manias e comportamentos marcantes. A começar da gargalhada fácil e freqüente, que o jornalista Carlos Castello Branco descreveu como uma jovem, sadia e sonora explosão de alegria. Para ele, JK foi um rapaz que morreu aos 73 anos. Pura jovialidade, bom humor, coragem, dinamismo e simpatia.
Livrava-se dos sapatos assim que dava para disfarçar, por baixo da mesa, por exemplo. Mesmo de terno e gravata, e até em ocasiões solenes. Criança, luxou o dedo mínimo do pé direito. Tratamento malfeito, seqüela definitiva. Sofria muito em caminhadas longas.
Ao vestir-se, gostava de ter todas as peças colocadas em seqüência sobre a cama, cadeira e outros móveis: cueca, calça já com os suspensórios (não usava cinto), meias dobradas do avesso, camisa desabotoada (não gostava de abotoaduras), gravata, paletó, geralmente um lenço de bolso, e, junto ao closet, os sapatos sem cadarços, um ou dois números acima do normal, para não pressionar o frágil mindinho e serem calçados e descalçados facilmente.
Era realmente preocupado com a aparência. Penteava e repenteava o cabelo com freqüência. Valorizava quase ao extremo a indumentária. Maior xodó: as gravatas. Tinha coleção enorme, adorava escolhê-las e comprá-las. Não abria mão de dar o laço, um caprichoso e comprido triângulo. Generoso em quase tudo, morria de ciúme delas.
Quase obsessivo com pontualidade, olhava toda hora o relógio de pulso, sempre adiantado cinco minutos.
Embora pouco bebesse, tinha preferência pelo champanhe rosé. Nas festas e recepções, aceitava uma ou outra dose de uísque, que raramente bebericava. Gostava mesmo era de ficar sacudindo o copo e ouvindo o tilintar dos cubos de gelo. De vez em quando pedia um cigarro e ‘fumava’ apagado. Punha na boca, não acendia, brincava com ele nos lábios, jogava fora. Quando chegaram os de filtro, mordiscava a ponta, descartava.
Sentia-se em casa a bordo de aviões. Conversava, despachava normalmente, dormia feito um bebê feliz. Não tinha medo: acreditava piamente que não morreria em acidente aéreo.
Dormia menos de cinco horas por noite. Deitava tarde, acordava antes das 6h20, ligava para a mãe, dona Júlia, pedia a bênção, conversava com ela. Depois banho, geralmente de banheira. Não era incomum despachar no banheiro com assessores mais íntimos, como o coronel Affonso Heliodoro. No Laranjeiras, havia um telefone ao lado da banheira, cadeira de barbeiro também.
Gostava de comida de sal no café da manhã, como bifes fininhos, bem passados. Gostava de muita gente por perto, detestava ficar sozinho. Raramente almoçava ou jantava com menos de dez pessoas. Dependendo do cardápio, costumavam servir-lhe comida mineira, em separado. Às vezes dormia de 15 a 20 minutos depois do almoço. Se estava em casa, fazia questão de botar pijama. Fora, programava o inseparável despertador de pulso, pedia licença, buscava um canto discreto, tirava o paletó, sentava ou deitava, fechava os olhos, dormia quase instantaneamente. Era o bastante para vencer o cansaço e recuperar a energia. Acordava novo em folha, refeito, animadíssimo.
Dançava bem, era um ‘pé-de-valsa’. Em campanhas ou visitas, nas festas simples do interior, trocava sempre de par para prestigiar todas as moças. Adorava conviver com intelectuais e artistas, amava saraus, serenatas e serestas. Conhecia profundamente a natureza humana. A masculina e talvez ainda mais a feminina.
Ronaldo Costa Couto, 63, economista e escritor, doutor em história pela Sorbonne (Paris IV), foi ministro do Interior, governador de Brasília e ministro-chefe do Gabinete Civil no governo Sarney (1985-89). Inédito, este texto integrará a quinta edição do livro ‘Brasília Kubitschek de Oliveira’ (editora Record), nas livrarias neste mês’
Marco Antonio Villa
Instabilidade política marcou o governo Juscelino
‘No Brasil, temos enorme dificuldade de tratar o passado, especialmente o mais recente. Qualquer crítica parece uma heresia. O governo Juscelino Kubitschek foi marcado por vários êxitos inegáveis. JK assumiu a Presidência numa conjuntura política muito difícil. Em novembro de 1955, um mês após a sua eleição -quando recebeu pouco mais de um terço do total de votos-, foram necessárias duas intervenções do ministro da Guerra para que pudesse tomar posse: na primeira foi retirado da Presidência o deputado Carlos Luz e na segunda foi impedido o retorno de Café Filho, o presidente licenciado. Acabou assumindo o governo o senador Nereu Ramos. Ou seja, entre novembro de 55 e janeiro de 56, o Brasil teve três presidentes.
A instabilidade política marcou o qüinqüênio juscelinista. Houve duas tentativas de golpe militar patrocinada por oficiais da Aeronáutica -Jacareacanga e Aragarças- que acabaram fracassando. Mas, durante o governo, não houve ano sem que tenham sido presos por indisciplina dezenas de oficiais militares. Como os rebelados acabaram anistiados, isto acabou estimulando novas tentativas golpistas. E pior: ao lançar como candidato oficial à sua sucessão o marechal Teixeira Lott, em 1960, manteve no centro da luta política as Forças Armadas -recordando que nas três eleições anteriores tivemos duas vezes o brigadeiro Eduardo Gomes como candidato e uma vez o general Juarez Távora. Numa república marcada por quarteladas, isso foi extremamente nocivo para a democracia.
No campo econômico é inegável o progresso. Contudo deve ser lembrado o custo de um crescimento sem o devido planejamento. A inflação aumentou ano a ano, cresceu a dívida externa e disparou a dívida pública. A construção de Brasília favoreceu as empreiteiras -parte delas, mineiras-, e no Congresso Nacional a oposição denunciou inúmeras vezes o desvio de recursos públicos. O governo, porém, criou dificuldades para a instalação de CPIs, além de cooptar parcela dos oposicionistas, como o deputado udenista Antonio Carlos Magalhães. A mudança da capital federal acabou também iniciando o processo de decadência econômica do Rio de Janeiro: não houve nenhum programa federal que possibilitasse a transição da antiga capital para o Estado da Guanabara.
JK marcou seu qüinqüênio também por uma velha prática nacional: usar o poder para favorecer os amigos e aliados. O Dnocs serviu como instrumento eleitoral nas eleições estaduais de 1958 no Nordeste -ano de seca. Inchou a máquina pública e distribuiu benesses. Um dos agraciados foi o então deputado Armando Falcão, seu ministro da Justiça por um ano e meio. Antes de sair do governo, deu ao amigo um cartório no Rio de Janeiro.
Quando passou o governo a Jânio Quadros, deixou algumas bombas econômicas de efeitos retardados e o país com sérios problemas de crédito externo, pois em 1959, em um gesto preparatório para a campanha de 1965, rompeu com o Fundo Monetário Internacional.
Marco Antonio Villa é professor de história da Universidade Federal de São Carlos (SP) e autor de, entre outras obras, ‘Jango, um Perfil’ (editora Globo)’
TELEVISÃO
Para analistas, queda da baixaria marcou 2005
‘A entrada da Record na dramaturgia e o fim de algumas baixarias como os programas de João Kléber e Márcia Goldschimidt, ambos retirados do ar, marcaram 2005 na televisão brasileira.
As opiniões são de cinco especialistas convidados pela Folha para fazer uma análise do ano e dar palpites para 2006. Os acadêmicos Gabriel Priolli e Laurindo Lalo Leal Filho; os novelistas Gilberto Braga e Lauro César Muniz; e o ator Juca de Oliveira concordam que a programação não é ideal, pois é feita com base em audiência e objetivos comerciais.
Eles criticam programas de auditório que exploram a vida de pseudo-artistas, fofocas na TV e cenas de sexo e violência em horários impróprios. Para 2006, fica a esperança de uma programação melhor. Abaixo, as opiniões:
Folha – 2005 foi um bom ano para a TV brasileira? Por quê?
Gabriel Priolli – As minisséries da Globo se destacaram. Por conta da situação política, foi um ano mais ocupado pelo jornalismo. A crise enfatizou a importância dos canais públicos e o interesse que as pessoas têm em acompanhar os debates. Em dramaturgia, tivemos outras emissoras investindo em produção, fato positivo, não pelo volume, mas pela qualidade; e a Globo abrindo espaço para a produção independente.
Gilberto Braga – Muito bom, especialmente pelo fato de a Record dar força à dramaturgia.
Juca de Oliveira – Foi um bom ano. Houve importante estímulo a uma programação mais ousada com ‘Hoje É Dia de Maria’. A Record se firmou como produtora de novelas de qualidade.
Laurindo Lalo Leal Filho – Foi um bom ano, especialmente para a sociedade. O episódio do João Kleber [que começou com o pedido de reclassificação e terminou com o corte do sinal e a apresentação de programa educativo] foi um fato inédito na história na TV brasileira. 2005 também marcou uma padronização das programações, cada vez mais parecidas.
Lauro César Muniz – Foi muito bom, principalmente para a teledramaturgia, gerando uma concorrência positiva e salutar.
Folha – O que mais lhe agrada na TV?
Priolli – Gosto de futebol, teledramaturgia e telejornalismo. Acho que a parte de shows anda fraca. Programas de auditório, de variedades e programas para jovens também estão limitados.
Braga – Não sou um típico espectador de TV aberta. Mesmo assim, tenho visto ‘Belíssima’ com grande interesse.
Oliveira – Na TV aberta, os jornais da Record, Rede TV! e SBT, mais completos que os da Globo.
Leal Filho – Programas que rompem com a rotina como as minisséries da Globo, que mostram a potencialidade criativa da televisão brasileira. Temos uma TV acomodada, com programas que demoram a se renovar.
Muniz – Gosto de jornalismo. Na TV aberta, acompanho futebol e novelas.
Folha – Qual programa deveria ser banido da TV em 2006?
Priolli – Por imposição de influência externa, nenhum. A atitude democrática em relação à TV é fazer críticas quanto a conteúdos inadequados, levando os produtores à reforma ou as emissoras à punição. O que houve com João Kléber foi uma reação da sociedade, e o Estado agiu em defesa do interesse público. São programas que não deixarão saudades.
Braga – Não tenho motivo para responder. Acho agressivo. Eu sou da geração paz e amor.
Oliveira – Os programas que exploram o aviltamento do ser humano: as pegadinhas, o estímulo a que participantes comam coisas nojentas e os de estilo ‘Big Brother’, que exigem dos participantes uma pré-condição degradante. Se todos forem íntegros, de caráter e de princípios morais e éticos, o programa se torna chato.
Leal Filho – Não gosto do termo ‘banido’. Programas de fofoca no meio da tarde não trazem nenhuma contribuição para a sociedade. É uma forma de entretenimento pobre e pouco criativa. A sociedade precisa criar mecanismos, apoiada pelo Estado, para discutir o papel da televisão. Tiraria do ar programas que atentam contra direitos humanos, dignidade das pessoas, visões de mundo e de grupos. Isso não pode ser decidido por uma pessoa ou um órgão do Estado, mas por um grupo que represente a sociedade.
Muniz – Não gosto de programas de auditório onde se exploram coisas fáceis, escândalos marginais. Não incluo nisso os rapazes do ‘Pânico’, que fazem um tipo de humor satírico, crítico e forte, sem barreiras e até sem cuidado. É preciso saber conviver com eles.
Folha – O que falta à TV brasileira? Que programas integrariam uma TV ideal?
Priolli – Será aquela quando tivermos um país dos sonhos, possível apenas quando tivermos outro padrão educacional e cultural.
Braga – Não sei responder. Eu não sou um homem de televisão.
Oliveira – Nossa TV é comercial. Essa TV dos sonhos, com uma programação de elevação cultural, não é uma aspiração realista. Quando se eleva o nível de informação, cai proporcionalmente a audiência. Assim como está, nossa televisão é muito boa.
Leal Filho – Falta muita coisa. Em jornalismo, documentários sobre o cotidiano, além de debates políticos e mesas-redondas. A TV, entendida como serviço público, deveria prestar serviços. Na programação infanto-juvenil, há um vazio grande em dramaturgia.
Muniz – Acho que a série ‘Mandrake’ (HBO) é um caminho interessante, mesmo não sendo a TV aberta um veículo para tamanha liberdade de dramaturgia. A produção independente deve crescer e demonstrar força.
Folha – A nova classificação indicativa, que está em discussão no Ministério da Justiça, pode ajudar a controlar o que as crianças vêem?
Priolli – Eu defendo, estimulo e apóio toda revisão da legislação do audiovisual brasileiro. Qualquer regulação se configura em ordenamento legal por meio de leis ou estatutos. Nossa regulação é atrasada e insuficiente.
Braga – Espero que possa, mas não é assunto que eu acompanhe.
Oliveira – Não sei por que, de vez em quando, o governo tenta ressuscitar procedimentos autoritários. O povo brasileiro tem vivíssimo na lembrança e na carne o que sofreu com a censura da ditadura.
Leal Filho – Embora seja apenas indicativa, a classificação estabelecerá um parâmetro visual com selos para que os pais saibam a quem se destinam. O efeito pode ser limitado, mas vai atingir as emissoras, que operarão com mais cuidado.
Muniz – Censura não controla qualidade em hipótese alguma. Os produtores têm de responder pelo que levam à TV. Acho que seria melhor outra maneira de selecionar o que se vê em casa.’
Lúcia Valentim Rodrigues
Terrorismo de ‘24 Horas’ substitui reprises na Globo
‘Faltam menos de 24 horas para começar o quarto dia na vida do agente especial Jack Bauer. Por causa do sucesso de ibope da terceira temporada -que chegou a dar mais audiência do que a média do horário-, a Globo comprou os direitos de exibição na TV aberta da quarta parte de ‘24 Horas’, a série em tempo real protagonizada por Kiefer Sutherland, que já passou no canal pago Fox.
O seriado entra no período de férias do ‘Programa do Jô’, no lugar das habituais reprises tapa-buracos, de amanhã a 2 de fevereiro (com reprise do último capítulo no dia seguinte). No dia 6, estréia ‘Lost’, também um hit na TV paga, no ar pelo AXN.
O horário flutuante da série, que será apresentada após o ‘Jornal da Globo’, entre 23h30 e 0h45, faz o pacote de DVDs, recém-lançado pela Fox, parecer mais interessante ao fã, apesar do preço.
A Globo também fica em desvantagem em relação ao DVD ao perder o tempo real do programa, que tem os minutos dos comerciais também computados na passagem do tempo. A emissora aberta sai num horário do cronômetro e volta após o intervalo sem se preocupar com isso.
Este ‘24 Horas’ começa às 7h. Um grupo terrorista faz um atentado contra um trem para pegar uma maleta e desviar a atenção de um plano maior. Jack Bauer (Sutherland) saiu da UCT (Unidade de Combate ao Terrorismo) e agora trabalha no Departamento de Defesa do governo dos EUA. Mas a primeira hora nem termina e Bauer já está de volta à ação.
Os vilões são muçulmanos e estão infiltrados há anos em solo americano. Por causa disso, a série foi acusada de disseminar o preconceito contra o mundo islâmico. Bobagem, como comenta o roteirista Stephen Kronish: ‘Não queremos dizer que todo muçulmano é um terrorista. Isso seria injusto. Mas também temos de manter a verossimilhança. Se fosse um bando de terroristas suecos, iriam rir da gente por anos’.
Para quem quer mais do seriado, há também um bom material extra espalhado pelos sete DVDs, com comentários dos atores que interpretam os terroristas, uma hora de cenas deletadas, um passeio pela construção da UCT e episódios feitos para celular (uma cópia chinfrim de ‘24 Horas’).
E a quinta temporada já está agendada nos EUA. Nos dias 15 e 16, episódios de duas horas abrem a temporada. Um aperitivo: além de Sutherland, pelo menos outros dez participantes de temporadas anteriores devem voltar.
24 Horas – 4ª Temporada
Na TV: de amanhã a 3 de fevereiro, após o ‘Jornal da Globo’
Em DVD: Fox; R$ 190, em média’
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Sem maquiagem, 4º ano desdenha do correto
‘Torturador , assassino, ex-inimigo do Estado, ex-viciado e com problemas em relacionamentos. Não poderia ter herói mais difícil de seduzir o espectador, mas é nessa soma de (anti)valores que reside o charme de Jack Bauer (Kiefer Sutherland).
Com a família longe (sua filha e o namorado dela se mudam para Valência após as aventuras da terceira temporada), Bauer se envolve com a filha do chefe (o secretário de Defesa dos EUA), arruma um emprego em que trabalha menos e sai da linha de tiro. Ou seja, não poderia estar mais infeliz.
O quarto ano da série ganha pontos ao desistir do politicamente correto das temporadas anteriores, em que os malvados não tinham proveniência definida e matavam só por dinheiro. Agora, a ação se concentra em um vilão e no ódio político-religioso. O problema a solucionar: como desmantelar várias células terroristas infiltradas nos EUA há anos e sem nenhum registro criminal. Exatamente como foi no 11 de Setembro, e é aí que está o lado mais emocionante de ‘24 Horas’.
O preconceito existe no mundo real. As bombas atômicas, perseguidas por pessoas determinadas a morrer por sua religião se assim for preciso, também. Qualquer ambiente de trabalho, que lide com combate ao terrorismo ou não, está povoado de traições e disputa de poder. E os norte-americanos falham na proteção de seu próprio território. A vida segue sendo assim, e não é porque falamos de ficção que isso vai mudar. Aliás, é melhor que não mude.
Embora alguns personagens se percam pelo caminho, o quarto ‘24 Horas’ mostra a força do primeiro ano, em que o tempo real causou sensação para o público, e uma coragem renovada, em que os abusos cometidos no mundo atual não são maquiados por uma Hollywood de fantasia.
Algumas pessoas se sentem mais confortáveis perto do inferno. Jack Bauer é uma delas. E não há nada mais próximo disso hoje em dia do que viver na terra de George W. Bush.’
Leonardo Cruz
Série morreu, e esqueceram de enterrá-la
‘Muitos fãs não vão gostar de ler isto, mas lá vai: ‘24 Horas’ deveria ter acabado na primeira temporada. Mais especificamente, na metade do primeiro ano, lá pela décima segunda hora, quando Jack Bauer deixa de ter como missão secreta assassinar o então candidato democrata à Presidência, David Palmer, para salvar sua família seqüestrada.
A partir daquela hora, quando Bauer sai do papel de agente duplo e se concentra em perseguir os terroristas que ameaçam Palmer, a série perde encanto e passa apenas a utilizar reviravoltas para surpreender o espectador.
Não que ‘24’ não tenha méritos -ao contrário, é um marco no seriado televisivo por duas razões centrais. Uma é estética: a ação contínua, em tempo real, nunca tinha sido utilizada de forma tão radical e intensa em outros programas de TV, refletindo o ritmo acelerado e integrado da sociedade atual. A outra é histórica: ‘24’ é ‘o’ seriado pós-11 de Setembro -muito mais ágil do que o cinema, foi a primeira ficção audiovisual a ter o terrorismo de larga escala como personagem principal.
No fundo, mais do que qualquer trama, são esses os dois pontos que mantiveram a série viva, com audiência elevada, nas três temporadas seguintes.
Esse périplo todo para concluir que, nesta quarta temporada que sai em DVD e chega também à Globo, o frenesi e a paranóia do mundo contemporâneo estão lá, mas o recurso às reviravoltas deixa de surpreender e passa a ofender a inteligência do espectador.
Um único exemplo: em meio a uma crise nacional, com o presidente Keeler (republicano) hospitalizado e seu vice (também republicano) em desespero, quem é chamado para resolver o problema? David Palmer, o candidato democrata da primeira temporada e presidente nas duas seguintes. É como se, no auge da crise do ‘mensalão’, o presidente Lula tivesse pedido ajuda e conselhos a FHC e ao seu tucanato.
Dá pra levar a sério?’
Bia Abramo
O que devemos assistir em 2006
‘O ano é novo, mas a TV bate na mesma tecla. Já virou tradição as emissoras de TV aberta só despertarem ali em torno do Carnaval, depois de encher o verão com muita praia, axé e pagode, enquanto a Globo leva a sério o início do ano, estreando uma minissérie histórica superproduzida -’JK’- e uma nova edição do ‘Big Brother Brasil’.
2006, portanto, vai começar embalado por Juscelino como herói de um momento em que o Brasil se imaginou moderno, civilizado, chique; e pelo indiscreto charme de brasileiros e brasileiras contemporâneos se digladiando por R$ 1 milhão. Se ‘JK’ é mais ou menos previsível em termos de conteúdo e forma -afinal, trata-se de roteiro de Maria Adelaide Amaral, com elenco simpático e investimento sério e pesado na reconstituição de época-, o sexto ‘BBB’ nem tanto.
O esqueleto do programa deve mudar muito pouco -as novidades que vêm sendo anunciadas são irrelevantes-, mas é de se perguntar o que pode acontecer com o programa depois das singularidades observadas no ano passado.
Ou seja, o clima ‘honesto’, ‘sincero’, em que as disputas mais mesquinhas perderam espaço para um simulacro mais convincente de amizade e um namoro mais ou menos de verdade, será irreproduzível; mas, ao mesmo tempo, é improvável que o ‘salve-se quem puder’ retorne.
A batalha das novelas deve continuar em 2006 -Record e SBT aproveitam os desacertos da Globo e investem em produções mais bem cuidadas. O SBT deve estrear um segundo horário de novelas em abril, bem como a Record, que estréia a nova faixa com nomes historicamente ligados à Globo, como Lauro César Muniz e Lucélia Santos.
A emissora de Edir Macedo está tão interessada em ficção que também vai fazer uma tentativa de série à moda das americanas com ‘Avassaladoras’, anunciada como uma versão brasileira de ‘Sex and the City’, já em janeiro. Das séries que a Globo testou no final de 2005 -’Levando a Vida’, ‘Correndo Atrás’, ‘Quem Vai Ficar com Mário?’, ‘Toma Lá, Dá Cá’-, alguma deve emplacar para o pós-Copa, mas o que promete mesmo é a série ‘Brasilândia’.
A exemplo de ‘Cidade dos Homens’, a produção retoma personagens de um filme -’Antonia’, de Tata Amaral, ainda inédito. A história gira em torno de um grupo de rap formado por quatro jovens mulheres da periferia paulistana -a rapper Negra Li será uma das protagonistas.
De resto, 2006 será um ano com uma Copa e uma eleição presidencial de potenciais dramáticos para além de qualquer esforço ficcional. A primeira é assombrada pelo sucesso, a outra é obscurecida pelo desencanto coletivo; mas ambas devem oferecer mais emoções do que mesmo o melhor roteirista do mundo poderia imaginar.’
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Folha de S. Paulo
Sábado, 31 dezembro de 2005
GRAMPOS NOS EUA
EUA vão investigar revelação do ‘Times’
‘A pedido da NSA (Agência de Segurança Nacional, da sigla em inglês), o Departamento da Justiça dos EUA irá investigar o vazamento, para o jornal ‘New York Times’, de informações sigilosas sobre seu programa de espionagem. Tal vazamento deflagrou um forte revés político para o governo de George W. Bush ao revelar, há duas semanas, o uso extenso de escutas telefônicas sem autorização judicial desde 2002.
‘O vazamento de informações sigilosas é sério. O fato é que, quando o script da Al Qaeda não está na primeira página e o dos Estados Unidos está, há ramificações sérias’, disse Trent Duffy, porta-voz da Casa Branca, em Crawford, Texas.
Sob saraivada de críticas de ilegalidade e abuso de poder, o governo defendeu que o monitoramento de conversas foi feito dentro dos limites legais, no marco das regras aprovadas após o 11 de Setembro. Porém o principal óbice ao programa é a realização de escutas sem o aval de uma corte secreta criada especificamente para acompanhar assuntos de espionagem, conforme lei de 1978.
Democratas e republicanos prometeram investigar o programa de monitoramento e outras práticas de inteligência e contraterrorismo suspeitas, como a rede de prisões secretas no exterior.
Segundo o jornal, milhares de moradores e cidadãos dos EUA foram grampeados em conversas com suspeitos no exterior. Ligações domésticas não teriam sido monitoradas. Para o presidente, as liberdades civis no país não foram desrespeitadas.
Não se sabe se os repórteres do ‘Times’ serão interrogados sobre suas fontes.
Além da reação contra os grampos clandestinos, o apoio à plataforma de ‘guerra ao terror’ do presidente Bush está minado pela crescente desconfiança de abuso de poder e ineficiência.
Segundo reportagem do ‘Washington Post’, a CIA mantém hoje seu maior programa secreto de espionagem desde a Guerra Fria. Entre as atividades já conhecidas está a rede de operações no exterior que detém, transporta e interroga suspeitos.
Além disso, já foi revelado que a CIA, FBI e Pentágono conduziram monitoramento de diversos grupos civis, ativistas e ONGs norte-americanos que não têm relação direta com ameaças à segurança nacional.
‘Cookies’
Ontem a NSA confirmou que, ‘por erro’, estava instalando ‘cookies’ em todos os computadores que acessavam seu site. Os ‘cookies’ -arquivos ocultos instalados a partir de navegação na internet- tinham validade de 35 anos e são proibidos pela legislação do país. Eles permitem o rastreamento da navegação do usuário e, potencialmente, acesso a informações pessoais.
Para o diretor do Centro de Democracia e Tecnologia em Washington, Ari Schwartz, o uso de ‘cookies’ não preocupa, dado o poder de monitoramento da NSA. ‘Mas há uma falta de conhecimento geral sobre privacidade quando eles nem sequer seguem as próprias regras do governo sobre privacidade na web’, disse.
Com agências internacionais’
Editorial
Abuso de poder
‘Desde os atentados de 11 de Setembro de 2001, o presidente George W. Bush tem buscado meios de ampliar os poderes do Executivo. Sob a compreensível justificativa de intensificar o combate ao terrorismo, tem se cercado de assessores empenhados em fornecer versões e interpretações da lei para embasar seus excessos. O último deles, contudo, ultrapassou os limites de forma inédita. A Agência de Segurança Nacional (NSA) realizou escutas telefônicas e interceptou e-mails de milhões de cidadãos norte-americanos.
Desde 2002, em obediência a uma ordem secreta do presidente Bush, a NSA tem espionado sem autorização judicial. Para rastrear suspeitos no exterior, o governo não é obrigado por lei a recorrer a tribunais locais. Mas o mesmo não se aplica aos cidadãos norte-americanos.
Nesses casos, é preciso recorrer a um tribunal conhecido como Fisa (Foreign Intelligence Surveillance Act), criado em 1978 para coibir ingerências desse tipo. Exposto um bom motivo, a autorização é concedida.
São insondáveis as razões que levaram o presidente Bush a ignorar esse procedimento elementar numa nação que se orgulha de ser um baluarte da democracia. Até porque o Fisa raríssimas vezes contraria o governo: desde sua criação, concedeu 19 mil autorizações de investigação. E rejeitou apenas cinco.
A recusa em cumprir a formalidade sugere que a escala da espionagem, cujos números ainda não foram estimados com precisão, ultrapassa em muito as expectativas iniciais. Da mesma maneira, as evidências de que a operação contou com o auxílio de companhias de telecomunicação dos EUA pedem investigações imediatas por parte do Congresso.
É evidente a necessidade de criar mecanismos eficientes para regular a atividade de agências de inteligência -e isso também vale para outros países, entre os quais o Brasil. Com a difusão do telefone celular e da internet, que concentra volume crescente de informações pessoais dos usuários, a espionagem ganhou mais territórios onde se imiscuir. Sem uma legislação clara e eficaz para definir a atuação desses serviços, aumenta o risco de violação das liberdades civis.
Não resta dúvida de que a ameaça do terrorismo é real e justifica uma reorientação da política de segurança dos Estados Unidos e de outros países que se sentem ameaçados. Mas não se pode viver eternamente em estado de exceção. E muito menos fazê-lo à revelia do Congresso e dos tribunais competentes.
É um traço da geopolítica que superpotências protejam sua hegemonia por meio da força. Mas o governo Bush parece inverter o sinal e aplicar uma conduta impositiva e autoritária também dentro do país. Não é uma atitude simples de justificar em nome da democracia.’
CHINA
Jornalistas entram em greve na China
‘Cerca de cem repórteres do jornal chinês ‘Beijing News’ deram início anteontem a uma greve informal, em represália à demissão do editor-chefe do periódico, Yang Bin, mandado embora sem que nenhuma explicação fosse dada. A imprensa chinesa é totalmente controlada pelo governo, e a greve no ‘Beijing News’, além de ser um episódio raro, revela as tensões entre os líderes do Partido Comunista e alguns veículos da mídia, que têm forçado o limite da tolerância do governo recentemente, ao publicar reportagens sobre temas políticos e escândalos de corrupção a fim de conquistar leitores.’
CARMEN MIRANDA
Carlos Heitor Cony
‘Não chegava a ser bonita, a voz não era lá essas coisas, o repertório tinha altos e baixos, depois de certo tempo mais baixos do que altos. Como artista de cinema, aceitou a caricatura que bolaram para ela, com uma ou outra exceção, como aquela esplêndida Fifi que fez no pior filme de Groucho Marx (‘Copacabana’) e um dos piores de toda a cinematografia mundial.
Mesmo assim, foi e continua sendo uma das personalidades mais importantes, senão a maior, do nosso meio artístico. E merecia o livro que Ruy Castro acaba de lançar, um nutrido volume que ultrapassa a categoria de boa biografia, para ser, como é, um formidável painel de uma época, tanto no setor nacional (rádio e disco) como sobretudo no universo do cinema norte-americano, esquematicamente, de 1939 a 1955.
Conhecida e reconhecida sua competência para biografias (Nelson Rodrigues e Garrincha), Ruy tem a obsessão pelo rigor histórico, mas não se limita aos fatos que apura. Dá opinião, tanto no detalhe como na panorâmica. Daí que Carmen teve afinal a sua história contada e comentada por um especialista.
Pela atração que exerceu e exerce até hoje, ela já tem uma bibliografia respeitável. Lembro o livro de Cássio Barsante, valioso na parte iconográfica, mas prejudicado pela paixão que Carmen provocava nele -o que aconteceu com outros autores e cineastas.
Ruy vai fundo na vida e nos feitos de seus biografados. Não se limita ao solo de cada um, mas ao conjunto do tempo e modo. Seu conhecimento do mundo cinematográfico de Hollywood, da discografia nacional e internacional é impressionante.
Disso resulta uma enciclopédia não somente para conhecer um momento de nosso tempo. Vai além: tendo como núcleo a vida de uma mulher gloriosa e sofrida como Carmen Miranda, ele penetra nos subterrâneos do ser humano em luta permanente para ser humano e -perdão pelo pleonasmo- para ser.’
CASOY DEMITIDO
Record rescinde contrato com o âncora Boris Casoy
‘A direção da TV Record rescindiu ontem à tarde o contrato com o jornalista e âncora Boris Casoy, 64, que venceria no final de 2006.
Segundo a Folha apurou, a intenção da emissora é fazer do ‘Jornal da Record’, apresentado por Casoy, um ‘clone’ do ‘Jornal Nacional’, da Globo, a partir de 2006, ano de eleições presidenciais. A proposta de se assemelhar ao concorrente havia sido feita ao âncora cerca de oito meses atrás.
A direção sugeriu, inclusive, que ele dividisse a bancada com uma mulher, seguindo a linha do casal William Bonner e Fátima Bernardes. Casoy, cujo contrato prevê liberdade editorial, não concordou. O ‘Jornal da Record’ está entre os três maiores faturamentos da rede e nos últimos meses teve crescimento de audiência (sete pontos), impulsionado pela bem-sucedida novela ‘Prova de Amor’.
Em entrevista à Folha, Casoy apenas confirmou a rescisão, disse que já a esperava e que os termos de rompimento foram amigáveis. Ele deverá fazer um acordo com a Record para receber a multa por rescisão contratual.
Casoy, que já recebeu convites de outras redes, afirmou que não planeja se aposentar agora, apesar de não ter ainda outro trabalho em vista. Ele viaja hoje ao exterior e só deve retornar em 30 dias.
Além dele, Dácio Nitrini, diretor-executivo, Sallete Lemos, comentarista econômica e âncora-substituta e Selma Lins, editora-chefe, foram cortados. A decisão pegou a equipe do ‘Jornal da Record’ de surpresa. Sallete Lemos foi informada ao chegar à Redação para apresentar o telejornal, já que estaria de plantão no lugar de Casoy. Às pressas, a repórter Cristina Scaff foi convocada.
A rescisão ocorreu após reunião na sede da rede, na Barra Funda (SP), entre o âncora e dirigentes da casa. Casoy liderava uma ‘estrutura à parte’, com equipes de reportagem e produção separadas dos demais jornalísticos, e se reportava diretamente à presidência. Não era vinculado à direção de jornalismo, nas mãos de Douglas Tavolaro, responsável pelos outros telejornais, que agora assumirá o ‘Jornal da Record’.
A emissora não anunciou quem o substituirá. Há meses, surgiram rumores de que Carlos Nascimento, da Band, fora sondado, mas a Record descarta esse nome.
Casoy negou ontem ter sofrido pressão da Igreja Universal (dona da Record) desde sua admissão, há oito anos. ‘Pelo contrário. Todas as vezes em que houve tentativas de interferência política por parte do governo Lula -e a pressão foi forte-, a Record me defendeu com unhas e dentes.’.
Segundo a Folha apurou, a presidência da Record relatou a Casoy que o governo não admitia críticas e que teria chegado a sugerir nomes para substituí-lo e a ameaçar corte de publicidade estatal no ‘Jornal da Record’. Também teria reclamado da cobertura dada a temas desgastantes para o Planalto, como o caso Celso Daniel e a CPI do Banestado.
Casoy chegou à Record em junho de 97, vindo do SBT, onde comandou por nove anos o ‘TJ Brasil’. O jornal tinha bom ibope e ressuscitou o então incipiente jornalismo da TV de Silvio Santos.
Na Record, assinou por dois anos e meio, naquela que foi considerada a maior contratação da história do canal. O contrato foi renovado por quatro anos em 98, e por mais dois anos em 2002. O acordo previa outro programa, o ‘Passando a Limpo’. Em seu site, a Record descreve Casoy como ‘um dos profissionais de maior credibilidade no país’, cujos comentários são ‘uma marca no telejornalismo brasileiro’.
A Folha tentou entrevistar o diretor de jornalismo ontem, mas foi informada de que ele estava em reunião com a presidência. A reportagem também não localizou a direção de comunicação.’
CENSURA NA GLOBO
Globo censurou Diretas-Já, diz Boni
‘O ex-vice-presidente das Organizações Globo e um dos responsáveis pelo ‘padrão Globo de qualidade’, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, disse em entrevista ao jornalista Roberto Dávila que Roberto Marinho, fundador da emissora, determinou a censura ao primeiro grande comício da campanha pelas Diretas-Já em janeiro de 1984, em São Paulo.
Segundo Boni, àquela altura ‘o doutor Roberto não queria que se falasse em Diretas-Já’ e decidiu que o evento da praça da Sé fosse transmitido ‘sem nenhuma participação de nenhum dos discursantes’ -’quer dizer, a palavra, o que se dizia, o conteúdo estava censurado’. O programa ‘Conexão Roberto Dávila’ foi transmitido na última quarta-feira à noite pela TV Cultura.
Boni falava a respeito da pressão dos diversos governos militares sobre o jornalismo da emissora, quando, questionado especificamente sobre a campanha das Diretas, disse que nela ocorreu ‘uma censura dupla’. ‘Primeiro, uma censura da censura; depois, uma censura do doutor Roberto’, declarou Boni.
O que motivou a decisão, segundo ele, foi o temor de que os militares cassassem a concessão da TV Globo caso os comícios fossem noticiados. ‘No momento das Diretas-Já, [os militares] ameaçaram claramente a Globo de perder a concessão’, ele disse.
A versão é diferente da que aparece no livro ‘Jornal Nacional – A Notícia Faz História’, publicado pela Jorge Zahar em 2004, e que representa a versão da própria Globo para a história de seu jornalismo. O texto ali publicado não faz nenhuma referência a uma intervenção direta de censura por parte de Roberto Marinho.
Segundo o texto, ‘a matéria [transmitida no dia do comício em São Paulo] provocou polêmicas’. ‘Com o passar dos anos, fatos misturaram-se a mitos até que uma versão falsa ganhasse as páginas de muitos livros sobre o assunto: a Globo teria omitido que o comício era uma manifestação pelas Diretas.’
A versão oficial, no entanto, afirma que a TV Globo vinha sendo ‘pressionada pelos militares a simplesmente não cobrir os eventos’ e cita o próprio Boni, que declara não ter sido possível ‘fazer a cobertura de maneira adequada’.
Tanto o livro quanto Boni disse na entrevista transmitida nesta semana afirmam que a cobertura mudou depois daquele comício de São Paulo.
O texto oficial diz que, quando ‘crescem os comícios, a cobertura se fortalece’. Segundo Boni, a Globo entrou atrasada na ‘campanha pelas Diretas’, mas a censura inicial de Roberto Marinho foi contornada.
A Folha não conseguiu falar ontem com Boni. A assessoria da TV Globo, procurada pela reportagem, disse que a versão contida no livro corresponde à opinião da emissora sobre o fato.’
CINEMA NACIONAL
Governo prevê 2006 igual a 2005 nas telas
‘Os filmes brasileiros repetirão em 2006 sua performance nos cinemas do país em 2005 (cerca de 14% do mercado), segundo projeção do governo federal.
Decreto publicado ontem no ‘Diário Oficial’ manteve para o próximo ano a cota de tela -número de dias de exibição obrigatória de filmes nacionais nos cinemas- válida em 2005.
A tabela prevê que cada cinema do país exiba filmes brasileiros no mínimo durante 35 dias do ano. A obrigação varia de acordo com o número de salas num mesmo local. Num multiplex de seis ou sete salas, por exemplo, cada uma deve cumprir cota de 63 dias.
O descumprimento é punido com multa aos exibidores (proprietários de cinema), que discordam da existência da cota de tela e haviam reivindicado ao governo a redução da tabela para 2006.
‘Cada produto tem que se defender por si mesmo’, diz Otelo Coltro, vice-presidente da Playarte. Para cumprir a cota de 2005, Coltro recolocou em cartaz neste fim de ano filmes como ‘Meu Tio Matou um Cara’, de Jorge Furtado, que estreou em janeiro e tem edição em DVD já disponível.
‘Tivemos público de duas, três pessoas [por sessão], e há o caso de não aparecer ninguém’, diz. O executivo afirma que tentou, sem sucesso, programar títulos recentes, como o documentário ‘Vinicius’, estreado em novembro.
‘Nem todas as distribuidoras têm cópias disponíveis. Outras negam, porque já têm acordo com cinemas da concorrência e dizem friamente que a cota de tela é um problema do exibidor.’
O cálculo da cota foi feito pela Ancine (Agência Nacional do Cinema). O decreto é assinado pelo presidente Lula e pelo ministro Gilberto Gil (Cultura).
‘Levamos em conta o desempenho do filme brasileiro neste ano e o levantamento das estréias previstas para 2006’, diz Manoel Rangel, diretor da Ancine.
Boa parte do resultado da bilheteria nacional em 2005 se deve a ‘2 Filhos de Francisco’, de Breno Silveira, que terminou o ano como o filme mais visto no país (5,3 milhões de espectadores). Não há nenhum outro título brasileiro no ranking dos dez mais assistidos.
Para 2006, está previsto o lançamento de 61 filmes nacionais; 22 deles já têm data de estréia definida. ‘Estimativas do mercado apontam que entre dez e 12 desses filmes têm condições de atingir o patamar de 1 milhão de espectadores’, diz Rangel. É dessa aritmética que resulta a projeção da ocupação de 14% do mercado pelo filme brasileiro em 2006.
Valmir Fernandes, presidente da Cinemark, a maior rede exibidora do país, diz que ‘é fácil fazer projeção otimista quando são os outros que pagam a conta’.
Fernandes defendeu na Ancine a redução da cota de tela para o próximo ano e diz que ela impõe ‘um risco alto para o setor’ de exibição. ‘O que acontece quando a projeção não se confirma? É prejuízo para a exibição.’
Assim como o executivo da Playarte, o presidente da Cinemark afirma que a cota é desnecessária, porque os exibidores têm natural interesse em programar filmes que o público quer ver.
Não é a opinião do diretor da Ancine. ‘Ao longo do tempo, a cota de tela se mostrou importante para viabilizar a presença do filme brasileiro nas salas’, diz Rangel. Ele lembra que ‘se por um lado você tem um conjunto de filmes brasileiros previstos para entrar no mercado em 2006, por outro, há também um conjunto de blockbusters de Hollywood’.
No embate, Rangel diz que ‘o filme brasileiro terá dificuldade, se não se assegurar espaço a ele no processo de ocupação das salas’.’
TELEVISÃO
Globo lança série com ‘clone’ de Amaury Jr.
‘Amaury Jr. na Globo? Quase isso. A emissora estréia em abril a série humorística ‘Essa Nada Mole Vida’, cujo protagonista é um telecolunista social, interpretado por Luiz Fernando Guimarães.
De acordo com o diretor do seriado, José Alvarenga Jr. (‘Os Normais’, ‘A Diarista’), o personagem será apresentador de um programa nos moldes do de Amaury Jr. (atualmente na Rede TV!). ‘Ele irá cobrir festas da noite carioca’, conta. ‘Não tem muita audiência, algo em torno de dois, três pontos, mas vai circular bem nesse meio de celebridades.’
Amaury Jr., segundo o site da Rede TV!, é o ‘precursor do colunismo social eletrônico’, ‘está sempre na lista de convidados das melhores recepções do país’ e entrevista ‘gente que faz o Brasil acontecer’. ‘Nesses encontros, o jornalista, muito à vontade, faz entrevistas descontraídas, bem-humoradas e informativas, sempre ressaltando a beleza das festas e dos famosos’, resume o texto.
Confusão
O ‘clone’ de Amaury Jr. na Globo tem um filho com uma ex-namorada, e um juiz o obriga a ficar com a criança nos finais de semana. ‘Ele será obrigado judicialmente a cuidar do menino justamente nos dias em que tem de trabalhar. Então, terá de levá-lo para as festas’, conta Alvarenga.
O intérprete do garoto deverá ser escolhido por meio de testes.
‘Essa Nada Mole Vida’ tem roteiro de Alexandre Machado e Fernanda Young (‘Os Normais’) e será exibido nas noites de sexta-feira, após o ‘Globo Repórter’.
Test drive
A equipe do seriado, formada em ‘Os Normais’, irá ‘esquentar as turbinas’ com um novo quadro de humor no ‘Fantástico’, cuja estréia deve ocorrer entre os meses de janeiro e fevereiro.
Em ‘Super Sincero’, Luiz Fernando Guimarães fará o papel de um homem que decide falar toda a verdade sobre tudo. Serão quatro episódios de seis minutos cada um, com direção de Alvarenga e texto de Machado e Young.
Além de ‘Essa Nada Mole Vida’ e ‘Super Sincero’, o diretor continua no comando de ‘A Diarista’. Ele torce ainda para que ‘Os Amadores’, especial testado pela Globo neste final de ano, emplaque na programação de 2006.’
MEMÓRIA / GIANNI RATTO
Teatrólogo Gianni Ratto morre aos 89 anos
‘O teatrólogo Gianni Ratto, um dos mais respeitados cenógrafos e diretores do teatro brasileiro, morreu ontem à tarde, aos 89 anos, em São Paulo, vítima de um câncer na bexiga. Velado ontem, em sua casa, no bairro do Pacaembu, o corpo será cremado na manhã de hoje, na Vila Alpina, segundo informou Kati Almeida Braga, sua ex-mulher.
Ator, diretor, cenógrafo e iluminador, Gianni Ratto nasceu em Milão, na Itália, em 1916. Foi vice-diretor técnico do Scalla de Milão e trabalhou com nomes como Igor Stravinski antes de se transferir para o Brasil, em 1954, a convite da atriz Maria Della Costa, para dirigir ‘O Canto da Cotovia’, um drama do francês Jean Anouilh que inaugurou o teatro que recebeu o nome da atriz, em SP.
No palco, sob a direção de Ratto, Della Costa contracenava com Sérgio Britto, Eugênio Kusnet, Fernanda Montenegro e Fernando Torres, entre outros.
Em entrevista à Folha, em 2004, Della Costa lembrou seu encontro com Ratto. ‘Fomos à Itália em 1953, com a cara e a coragem, eu e Sandro [Polloni, seu marido]. Dois jovens que não tinham um tostão, praticamente. Chegamos a Milão e nos disseram que o Ratto era um dos sete melhores cenógrafos do mundo. Conversamos com ele, explicamos que estávamos terminando de construir o teatro. Ele aceitou. Chegando aqui, começamos os ensaios da única peça que ele trouxe debaixo dos braços: ‘O Canto da Cotovia’. Calhou comigo no papel de Joana d’Arc, desbravando um teatro ali numa travessa da av. 9 de Julho, onde era tudo mato.’
O crítico teatral Sábato Magaldi também destacou a importância que Ratto já tinha adquirido antes de vir ao país. ‘Em primeiro lugar, temos de lembrar que o Gianni era o mais importante cenógrafo de teatro italiano quando ele veio para o Brasil. (…) Ele se identificou muito com o país’, afirmou ontem o crítico.
A diretora Ariela Goldmann, para quem Ratto fez diversos cenários, lembrou a generosidade do teatrólogo. ‘Estamos perdendo uma pessoa muito generosa. Ele teve uma importância crucial na cultura brasileira, pois ensinava gerações. Estava interessado no porvir. Aprendi com ele que a primeira pessoa que tinha de ficar satisfeita com o meu trabalho era eu mesma’, disse.
Gianni Ratto também trabalhou em diversas óperas, colaborando com os teatros municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Criou figurinos para cerca de 50 produções e, para muitas delas (como ‘Elixir’ e ‘Suor Angelica’), assinou também cenários e direção de cena. Em outubro passado, teve uma exposição de seus figurinos no Teatro Municipal de SP.
Em setembro de 2004, Ratto recebeu o título de cidadão paulistano, concedido pela Câmara Municipal de São Paulo em reconhecimento a seu trabalho no teatro nacional. Em outubro do mesmo ano, foi homenageado pela Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo com o Prêmio Apetesp, por sua contribuição para o desenvolvimento do teatro paulista nos últimos 50 anos.
Documentário
‘A beleza é uma meretriz que se entrega facilmente a santos e assassinos’, escreveu Ratto no livro de memórias ‘A Mochila do Mascate’ (ed. Hucitec, 1996). A obra inspirou documentário de mesmo nome exibido na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo -deve estrear no primeiro semestre de 2006-, com roteiro de sua filha, Antonia Ratto, 29, em parceria com a diretora Gabriela Greeb. No filme, acompanhado de Antonia, Ratto refaz o percurso de sua vida, passando por Gênova, Milão, Florença, São Paulo e Rio de Janeiro.
Além das memórias, Ratto tangenciou a ficção em ‘Noturnos’ e ‘Crônicas Improváveis’ (ambos da ed. Códex), discorreu sobre ofício em ‘Antitratado da Cenografia’ (ed. Senac) e ‘Hipocritando – Fragmentos e Páginas Soltas’ (ed. Bem-Te-Vi).’
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