As emissoras de televisão turcas vão poder transmitir parte de sua programação em curdo e outras línguas faladas por minorias a partir de janeiro, como informa Amberin Zaman [Los Angeles Times, 29/12/05]. A mudança é vista como um passo em direção à expansão dos direitos culturais da minoria curda, há muito tempo reprimida no país; faz parte também do esforço da Turquia para se tornar membro da União Européia – que vem pressionando o país a acabar com a discriminação aos curdos.
Emissoras privadas na região sudeste, predominantemente curda, reagiram com otimismo. ‘É um sinal muito positivo para o povo curdo. Mas naturalmente temos que verificar o conteúdo da nossa programação para ficarmos livres de problemas’, afirma Nezahat Baybasin, proprietário de um canal local de notícias na cidade de Diyarbakir, completando que fez uma solicitação para transmitir em curdo há dois anos.
Algumas estações de televisão reclamaram que os programas serão limitados a 45 minutos por dia e que nenhum deles será transmitido ao vivo por causa da regulamentação, que requer legendas em turco. ‘Mesmo assim, quem imaginaria que poderíamos ter programas de televisão em uma língua que éramos proibidos até de falar?’, diz o político independente curdo Hasim Hasimi.
Censura aos curdos
A Turquia tem sido criticada por autoridades da União Européia por processar Orhan Pamuk. O escritor mais famoso do país é acusado de insultar a nação, por causa de uma entrevista que concedeu a uma revista suíça, na qual afirmou que ’30 mil curdos [foram mortos nas últimas décadas] e um milhão de armênios foram assassinados [em um massacre sob o domínio do Império Otomano há 90 anos], mas ninguém ousa falar disto’.
A população curda, estimada em 14 milhões, é a maior minoria étnica da Turquia. Até 1991, sua língua era oficialmente proibida como parte de uma campanha do governo turco para fortalecer valores de sua cultura antiga e reprimir sentimentos nacionalistas.
Décadas de repressão ajudaram a atrair uma sólida corrente de recrutas para o grupo de rebeldes separatistas conhecido como PKK, que vem lutando contra forças de segurança turcas desde 1984. Centenas de curdos foram processados e presos por desconsiderarem leis que proibiam publicações em língua curda. Em 2002, o parlamento concedeu direitos limitados para o ensino de curdo como língua ‘estrangeira’ em escolas particulares.
No ano passado, a televisão estatal turca começou a colocar no ar pela primeira vez programas de meia hora em dois dialetos curdos, mas poucos curdos assistiram a eles. O problema eram os temas abordados. ‘Por que alguém ia querer assistir a programas sobre cultivo de milho ou vacina de varíola?’, questiona o escritor Ahmet Sumbul.
A maioria dos curdos prefere assistir à Roj TV, emissora por satélite curda transmitida da Dinamarca. O governo de Ancara, capital turca, tem pressionado a Dinamarca para fechar o canal, afirmando que ele divulga propaganda terrorista. Uma instituição de crítica à mídia com sede em Ancara preencheu 11 petições para tirar do ar o canal de notícias ART, desde seu lançamento em 1997, por divulgar canções em curdo que foram acusadas de incitar o separatismo.