Jornais do Sudão reagiram com revolta à morte de cerca de 20 refugiados sudaneses em uma operação da polícia egípcia no Cairo para desmantelar seu acampamento, em 30/12. A imprensa do Egito, por sua vez, deu pouco destaque à notícia.
Na imprensa sudanesa, o episódio foi classificado como trágico e ‘completamente inaceitável’. ‘Este é um fim terrível para pessoas que saíram de sua própria frigideira para cair no fogo do Egito. O uso de força brutal era desnecessário e inumano’, afirmava trecho de editorial no independente Khartoum Monitor.
‘Ninguém poderia imaginar que a tentativa dos refugiados poderia terminar de maneira tão violenta e que cassetetes e canhões de água fossem usados… Isso é uma grande tragédia humana’, lamentou o Al-Ayyam.
Diversos veículos exigiram do governo uma resposta forte. ‘O governo sudanês está errado se pensa que não é responsável por isso’, dizia um artigo opinativo no Al-Adwa, intitulado ‘Vergonha no Cairo’. ‘O governo deveria exigir uma explicação sobre o que aconteceu, e deveria propor meios de resolver o problema dos outros refugiados que estão agora detidos em campos de segurança [no Egito]’, completava o texto.
O independente Al-Wahdah criticou, além do governo sudanês e da atitude egípcia, a imprensa de seu país. ‘Como sempre, nossa mídia oficial continua distante e nenhuma declaração foi publicada sobre o incidente’, afirmou.
Sem destaque
Já no Egito, grande parte da minguada cobertura foi factual e apareceu com mais destaque apenas nos veículos independentes e de oposição. Alguns jornais citaram grupos egípcios de defesa dos direitos humanos para criticar a operação policial.
Jornais estatais concentraram suas reportagens na declaração divulgada pelo Ministério do Interior, que acusava os refugiados pelo início do conflito ao jogar garrafas e cilindros de gás nos policiais.
Um comentário no Al-Jumhuriyah, entretanto, questiona por que o governo egípcio permitiu que o problema dos refugiados crescesse ao ponto em que fosse preciso usar força policial para resolvê-lo. Informações da BBC News [31/12/05].