O que é inteligência, em primeiro lugar? A inteligência pode ser definida como a capacidade mental de raciocinar, planejar, resolver problemas, abstrair idéias, compreender idéias e linguagens e aprender.
Eis o que registra a Wikipédia:
‘Existem dois `consensos´m de definição de inteligência. O primeiro, de Intelligence: Knowns and Unknowns, um relatório de uma equipe congregada pela Associação Americana de Psicologia em 1995:
`Os indivíduos diferem na habilidade de entender idéias complexas, de se adaptar com eficácia ao ambiente, de aprender com a experiência, de se engajar nas várias formas de raciocínio, de superar obstáculos mediante pensamento. Embora tais diferenças individuais possam ser substanciais, nunca são completamente consistentes: o desempenho intelectual de uma dada pessoa vai variar em ocasiões distintas, em domínios distintos, a se julgar por critérios distintos. Os conceitos de `inteligência´ são tentativas de aclarar e organizar este conjunto complexo de fenômenos.
Uma segunda definição de inteligência encontra-se no Mainstream Science on Intelligence, que foi assinada por 52 pesquisadores em inteligência, em 1994:
`Uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender idéias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência. Não é uma mera aprendizagem literária, uma habilidade estritamente acadêmica ou um talento para sair-se bem em provas. Ao contrário disso, o conceito refere-se a uma capacidade mais ampla e mais profunda de compreensão do mundo à sua volta – `pegar no ar´, `pegar´ o sentido das coisas ou `perceber´.’
Richard Herrnstein e Charles E. Murray: `…habilidade cognitiva´.
Sternberg e Salter: `…comportamento adaptativo orientado a metas´.
Saulo Vallory: `…habilidade de intencionalmente reorganizar informações para inferir novos conhecimentos´.’
Capacidade de raciocínio
A inteligência não depende da informação, mas da habilidade que as pessoas usam a mesma para emitir juízo ou tomar decisões. São dados que, dentro de uma visão filosófica incipiente pessoal do indivíduo, traçarão uma política para chegar aos seus objetivos. Assim, não se pode dizer que um africano é mais falto de inteligência do que um europeu, pois não existe diferença a priori nos dois, apenas diferenças culturais de informações e capacidades de enfrentar os meios em que vivem e de decidirem o melhor para seus valores particulares. Educados ao contrário, não se mostrariam menos capacitados em ambientes trocados na capacidade de decidir. Sem uma filosofia pessoal para atingir os objetivos pessoais não é possível traçar uma política, uma estratégia de como atingir estes ideais e sonhos pessoais. Nem todos querem ser médicos, nem todos querem ser jogadores de futebol. As informações servirão para as pessoas analisarem como atingir seus ideais. Pessoas pensam de formas diferentes, graças às nossas diferenças bem vindas, não pelas nossas igualdades mediocrizantes. Não fossem elas ainda não usaríamos fogo, não teríamos descoberto a roda e habitaríamos na África.
Assim, o texto do jornalista Luciano Martins Costa neste Observatório – ‘A imprensa não estimula a inteligência‘ – erra ao atribuir entre as suas funções que a mesma possa fazer este trabalho de estímulo à inteligência. Poderíamos esperar que a mesma ‘formasse opiniões’ que é a função da informação que o leitor recebe e deve julgar a sua pertinência para as suas ações. Trabalhos com crianças superdotadas têm demonstrado que as crianças precocemente estimuladas aumentam o seu QI, a capacidade de resolver problemas. Depois deste período em que o cérebro estabelece as suas conexões, não é mais possível fazer este estímulo. Muito menos por leitura da imprensa. Mesmo crianças nascidas desfavorecidas, quando submetidas a um programa lúdico de estímulo, se destacam do seu grupo social aumentando a capacidade de raciocínio.
Verdades pessoais
Se considerar dono da verdade é terrível. Pavlic Morozov achou que a tinha descoberto e entregou o pai às autoridades do Estado soviético para o matarem. Na guerra civil espanhola, irmãos ficaram em trincheiras separadas para se eliminarem. Destruíram todos que pensavam diferente, familiares, padres, autoridades, empresários de posses, servidores públicos. Crimes motivados pela certeza da verdade. A confiança de possuir a verdade cria o Estado totalitário e a mídia subserviente que não quer saber da opinião do leitor, mas transformá-lo em uma máquina de pensamento única para trabalhar para o Estado e servir docilmente as idéias mirabolantes emanadas das verdades vertidas pelo Grande Irmão.
Mas ao analisarmos o que o articulista se refere como inteligência, na verdade são verdades pessoais que o mesmo acha ‘inteligentes’ das pessoas ‘terem’. O que certamente é uma visão falsa do que seja inteligência. Apenas julga os outros pelos seus valores e aqueles que não possuem a mesma visão e escala, não possuem esta capacidade que atribui obrigação da mídia fazer.
Imprensa deve servir
Então cairíamos no outro ponto de que a imprensa deveria fazer: ser formador de opinião fornecendo dados e análises para isto. Mas é interessante que ao mesmo tempo em que acusa a mídia de fazer isto pelo maniqueísmo do proprietário, formando uma falsa visão, na sua opinião, por discordar da mesma por valores personalíssimos, de que ela não deva fazer isto. Mas perseguir uma agenda supostamente indiscutível, que não existe. Ter que possuir uma visão certa para que todos pensem iguais aos seus valores sobre: o rei da Espanha, Hugo Chávez, relações com a Venezuela, capitalismo etc. O que é ser inteligente? É pensar como ele. Não existe dúvida de que quem não pensa assim não possui inteligência e precisa ser estimulado com os seus valores e opiniões para conseguir vir a atingi-la. Não é ser inteligente não tê-los. É, como diria Diogo Mainardi, ser estúpido, como encerra o texto.
Democracia não é o sistema em que todos pensam igual e possuem os mesmos valores. Justamente, é o regime em que se respeitam os valores dos outros (crenças e não crenças, opiniões, pontos de vista e objetivos de vida diversos), pois reconhecendo que ninguém é dono da verdade, se aceita que os outros sejam diferentes, vivam diferentes e possuam valores diferentes. Ao contrário dos totalitarismos, nos quais os indivíduos, partidos e imprensa são todos anulados pela opinião certa do partido do ditador ou, muitas vezes, como em Cuba, apenas do próprio ditador mesmo. No mundo livre, as pessoas são livres para cultuarem seus valores e lerem o que desejam, sem serem obrigados a terem lavado o cérebro pelo pensamento único.
Verdades verdadeiras e certas não existem neste campo. É uma idéia errada a de que a imprensa transformará todos com a mesma cabeça e com a mesma verdade. Triste pensamento para um jornalista cultivar. Não é para este objetivo que as pessoas compram jornais e assistem televisões. A imprensa deve servir. Mas para as pessoas decidirem por si, pelos seus valores.
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Médico, Porto Alegre (RS)