Por quase três horas na madrugada de quarta-feira (4/1), canais de televisão a cabo, redes de rádio e jornais da costa leste dos EUA informaram que 12 mineiros haviam sobrevivido após ficarem presos em uma mina de carvão na Virgínia Ocidental devido a uma explosão, ocorrida na segunda-feira (2/1) – o corpo de um 13º homem já havia sido encontrado pela equipe de resgate.
Algumas emissoras de TV deixaram claro que a informação sobre o resgate dos mineiros com vida não havia sido confirmada. A Fox News Channel e a NBC não divulgaram a notícia de que os mineiros estavam vivos como um fato confirmado, citando como fontes apenas os familiares. A CBS News não colocou no ar esta informação e só mais tarde divulgou que apenas um mineiro havia sido encontrado com vida.
No entanto, a grande maioria da mídia divulgou a notícia como um milagre. ‘Milagre na mina’, no Newsday, e ‘Eles estão vivos!’, no The Rocky Mountain News, foram algumas manchetes de jornais impressos antes de ser divulgada a notícia de que a explosão havia deixado apenas um sobrevivente. A emissora CNN foi a primeira a noticiar que os mineiros estavam vivos, sendo seguida pela Fox News e MSNBC. O programa Nightline, da ABC (que colocou no ar a notícia com mais de duas horas de atraso), e a CNN divulgaram que os sinos tocaram na igreja batista localizada nas proximidades da mina, entrevistaram familiares que comemoravam a notícia e citaram autoridades do governo que forneceram detalhes do resgate, 30 horas depois da explosão que deixou os mineiros presos no subsolo. ‘Escutamos os sinos da igreja tocarem. Escutamos pessoas gritando, aplaudindo. Um amigo de um dos mineiros veio, chorando, nos contar que havia escutado na igreja que os 12 mineiros foram encontrados vivos’, disse Anderson Cooper, âncora da CNN que ficou horas transmitindo ao vivo de terça (3/1) para quarta-feira (4/1).
Da alegria à dor
O desespero atingiu os amigos e familiares das vítimas três horas depois – tarde demais para alguns jornais mudarem suas primeiras páginas –, quando foi divulgada a notícia verdadeira: havia apenas um sobrevivente. A mídia teve de se questionar se a primeira informação não tinha sido noticiada rápido demais.
Alguns jornais localizados no oeste do país puderam corrigir suas edições por causa da diferença de fuso horário. Sherry Devlin, editora do Missoulian, disse que, quando a AP informou que apenas um homem havia sobrevivido, metade da tiragem estava impressa e eles puderam refazer a primeira página das edições posteriores. Já no USA Today, 45% das 2.2 milhões de cópias da edição de quarta-feira (4/1) afirmavam que os mineiros estavam vivos. Outros jornais divulgaram a mesma informação em pelo menos algumas de suas edições, como o New York Times, Star Tribune e Washington Post. Mike Fetters, porta-voz do museu sobre mídia Newseum, que divulga as primeiras páginas de diversos jornais em seu sítio, afirmou que mais da metade dos 250 jornais americanos examinados pela equipe do museu publicou matérias de primeira página que afirmavam que os mineiros estavam vivos. Poucos jornais levantaram dúvidas sobre a credibilidade da informação.
Justificativas da mídia
Críticos da mídia afirmaram não entender onde ficaram as regras básicas de apuração neste caso. ‘É uma desculpa dizer ‘Erramos, mas todos erraram também’. Fontes que você pensa ser confiáveis podem estar erradas’, opinou o professor de comunicação da Universidade de Boston Tobe Berkovitz. ‘O trabalho dos repórteres e editores é parar e dizer ‘temos possíveis notícias boas, mas não estão confirmadas’’, disse Greg Mitchell, editor da revista Editor & Publisher.
Esta, entretanto, não é a opinião dos jornalistas que cobriram o caso, que alegam ter feito tudo o que puderam para informar o público. ‘Todos divulgaram a matéria errada, mas houve apuração’, alegou o presidente da CNN, Jonathan Klein, que citou como algumas fontes o governador da Virgínia Ocidental, Joe Manchin, e uma senadora, assim como repórteres que estavam no local.
Bill Hemmer, âncora da Fox News que estava em Virgínia Ocidental, classificou o erro da mídia como ‘a segunda tragédia do desastre da mina de carvão’. Cooper, âncora da CNN, disse que não entende por que a empresa de mineração permitiu que a informação errada fosse adiante por tanto tempo.
‘Não apuramos a notícia apenas com familiares. Sem dúvida, as circunstâncias não ajudaram na apuração. Tínhamos a confirmação do resgate através de duas fontes distintas, de alto nível, que nos contaram repetidas vezes a mesma informação. Tínhamos mais cinco ou seis fontes distintas’, comentou James Goldston, produtor-executivo do Nightline, da ABC, sobre o fato de darem a notícia da sobrevivência dos mineiros.
‘Em algum momento, temos de publicar a notícia. Não podemos ficar sentados esperando para a mais recente informação, porque senão o jornal sairia ao meio-dia e as pessoas ficariam imaginando por que não receberam o jornal’, afirmou Martin Baron, editor do Boston Globe, que também citou como fontes Manchin e familiares das vítimas.
‘A AP estava divulgando a informação corretamente apurada por fontes confiáveis – membros da família e o governador. Com o passar do tempo, não havia evidências de que os mineiros estavam vivos. A melhor informação viria da empresa de mineração, mas ela preferiu não se pronunciar’, informou Mike Silverman, editor da agência de notícias AP.
O New York Times afirmou em declaração que havia divulgado a informação de que os mineiros estavam vivos baseado em fontes do governo e familiares. O jornal não teve tempo de corrigir as edições com a nova notícia, mas atualizou seu sítio quando as mortes foram confirmadas. Informações de Paul J. Gough [Hollywood Reporter, 5/1/06], Jocelyn Noveck [Associated Press, 4/1/06] e Mark Memmott [USA Today, 4/1/06].