‘‘Tomar em conta o leitor’ este lema deveria ser – e em grande medida é, julgo poder afirmá-lo – a preocupação primeira deste jornal. Em primeiro lugar, por aquilo que o Jornal entende que o leitor necessita, não apenas quanto à informação e opinião, mas também relativamente ao vasto conjunto de outros serviços que cada dia as edições encerram. Pense-se no boletim meteorológico, nas farmácias de serviço, no cartaz de espectáculos ou mesmo nas palavras cruzadas e no sudoku. Ou é a preocupação com os leitores que está no centro do dia-a-dia da Redacção e da empresa ou serão a empresa e a Redacção, mais tarde ou mais cedo, a pagar por isso.
Não entendemos todos do mesmo modo o que seja ‘ter em conta o leitor’. A diversidade de títulos e de projectos jornalísticos aí está para o confirmar. E isso passa-se porque, essa categoria chamada ‘leitor’ não é singular, mas plural. E, por outro lado, quem é dono destes meios de comunicação social também tem projectos que podem ir do mercantilismo mais rasteiro ao idealismo mais desenraizado.
Vem isto a propósito de uma carta recebida há já algum tempo do leitor Carlos da Silva Almeida, de Ermesinde, na qual questiona as opções do JN quanto às suas edições regionais, pondo em dúvida, precisamente, que tais opções sirvam, de facto, os leitores. A quadra que atravessamos, em que uma parte dos leitores viaja pelo país, pode ser oportuna para esclarecer alguns aspectos deste tema.
Provavelmente muitos nunca se deram conta de que o JN não é todo igual, em todo o país, dado que dificilmente podem confrontar as diferentes edições. No entanto, uma é a que é distribuída no Grande Porto e, grosso modo, no eixo Porto – Bragança – Chaves (designada edição Nacional), outra é a edição Minho (distritos de Braga e Viana), outra a edição Centro e outra ainda a edição Sul (cobrindo a parte do país a sul de Pombal).
Carlos da Silva Almeida tem familiares a residir em Portimão, o que o leva a passar lá alguns períodos, durante o ano. ‘Como leitor diário do JN’, além de só conseguir adquirir o seu jornal na tabacaria de um supermercado local, não aceita que não possa comprar no Algarve a edição nacional (ao contrário do que acontece com a Imprensa estrangeira), nem lhe agrada que, na edição Sul, que lá chega, apenas conte com ‘uma página destinada ao Porto’. ‘Não querendo contestar o que levou a quem tem por missão aplicar a melhor estratégia no plano financeiro do Jornal de Noticias, não posso deixar de discordar’, observa o leitor. E vai mesmo mais longe fazer várias edições do JN não lhe parece ‘uma boa estratégia de venda’. No caso do Algarve, haveria um motivo acrescido: ‘por aquelas bandas passam muitos nortenhos e habituais leitores [deste] Jornal’.
Solicitei à Direcção do Jornal de Notícias que explicasse a política seguida pela empresa quanto às edições regionais, à distribuição e ao conteúdo de cada edição.
Acerca do que escreve este leitor, faz notar o director do JN, José Leite Pereira, que ‘não é regra a edição Sul ter apenas uma página do Porto. Depende da importância das notícias desse dia’. E explica o critério ‘Fazer edições regionais significa – quanto ao noticiário local – aproximar o mais possível as notícias da área onde o leitor nos compra. Não faria sentido enviar para a edição Sul, por exemplo, uma notícia de uma rua esburacada no Porto. As notícias que transitam de edição para edição são as que, embora sendo locais, podem ter importância nacional (exemplo recente: o problema do subsídio aos trabalhadores do lixo no Porto). As edições locais são feitas a pensar na melhor maneira de servir os interesses de uma região’.
As flutuações sazonais alteram um pouco este esquema ‘No Verão, com a ida de muitos leitores para o Algarve, cresce na edição Sul o peso de notícias mais a Norte, por motivos óbvios’, acrescenta Leite Pereira.
A informação de proximidade – notícias locais, mas também os roteiros de cinemas, farmácias de serviço, exposições, trânsito, telefones úteis, etc. – constitui o critério justificativo da especificidade de cada edição local, que chega a afectar uma média de 15 a 20 páginas por dia. Nas palavras do director, ‘podem ainda variar algumas notícias de Desporto e alguns espectáculos muito localizados que não interessarão aos leitores de todo o País’. A primeira página pode reflectir essa importância dada a ‘assuntos de relevância local’. Contudo, ‘há um princípio básico que é o de manter em todas as edições o que é importante a nível nacional’.
A avaliação da experiência é globalmente positiva, ainda que a configuração das edições esteja, neste momento, a ser revista para, nas palavras de José Leite Pereira, tentar-se ‘ultrapassar alguns constrangimentos de distribuição’. ‘Estamos precisamente nesta altura a procurar medir o impacte destas edições junto dos leitores, mas estamos certos de que o servimos melhor se lhe pudermos dar mais notícias da sua região’, sublinha o director do JN.
A todos os leitores, votos de um feliz ano de 2006.’