Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.
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O Estado de S. Paulo
Quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
MÍDIA & GOVERNO
Sem entrevista para não escorregar
‘Preocupado em evitar ‘movimentos em falso’ que atrapalhem as negociações para garantir a prorrogação da CPMF no Senado, o Palácio do Planalto montou uma operação de contenção da imprensa e de exposição de seus ministros. As preocupações e temores eram tantos no fim da tarde de ontem que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou até a cancelar a gravação que faria para defender a necessidade de aprovação do imposto do cheque. A avaliação de um assessor palaciano, que confirmou o cancelamento do pronunciamento de Mantega, é que, nesta hora, qualquer passo errado pode pôr tudo a perder.
O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que diariamente tem conversado com a imprensa sobre o andamento das negociações, também foi orientado a se calar, para evitar atropelos. Os jornalistas que vinham fazendo plantão nos últimos dias no quarto andar do Planalto, onde fica o gabinete de Múcio, foram impedidos ontem de permanecer lá, para dar mais privacidade ao ministro e evitar a abordagem das pessoas que fossem conversar com ele.
Múcio passou o dia ao telefone. Por volta de meio-dia, reuniu-se com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), para fazer um balanço das articulações. Ao longo do dia, a cena se repetiu.
CONTAGEM
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou sua agenda em aberto, para poder ajudar nas negociações. Depois que Lula voltou de um almoço com militares, Múcio lhe fez um relato do andamento das articulações e apresentou uma prévia da contagem de votos.
A idéia do governo era, tendo certeza dos 49 votos, partir, de imediato, para a votação da prorrogação da CPMF. Caso contrário, deveriam esperar mais um pouco, empurrando a decisão para o dia seguinte ou para a quinta-feira.
O Planalto insistia em que estava aberto a negociações, mas não confirmava se concordava em repassar todo o dinheiro do imposto para a área de saúde, como estavam exigindo alguns senadores.
Apesar de Lula ter ido à casa do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do oposicionista DEM, negociar um dos votos para CPMF, ele e Múcio estavam procurando, preferencialmente, os senadores da base aliada.’
Carlos Marchi
Professor relata censura na TV pública
‘Entrevistados da TV Brasil podem fazer críticas ao governo federal? No dia 6 de dezembro, num intervalo da gravação do programa Espaço Público, na antiga TVE, no Rio, a entrevistadora Lúcia Leme pediu ao professor de Comunicação Felipe Pena, um dos entrevistados, que moderasse seus ataques ao governo, porque senão ela poderia ser demitida. Quando a gravação recomeçou, Pena repetiu o que falara e deixou o estúdio. Na versão que foi ao ar, ele ‘desapareceu’; suas críticas foram suprimidas.
‘Desafio que qualquer profissional da antiga TVE diga ter recebido qualquer recomendação de algum diretor da TV Brasil para evitar críticas ao governo’, disse ao Estado ontem a presidente da TV Brasil, jornalista Teresa Cruvinel. Ela avaliou que o problema tenha sido causado pelo momento em que o episódio aconteceu, no último dia da TVE, véspera de sua transformação em TV Brasil. ‘A transição foi difícil, pode ter desencadeado insegurança nas pessoas’, justificou. Para ela, a cobrança de Lúcia Leme não se deve a orientações da TV Brasil: ‘Não a ouvi. Mas o que ela falou foi por conta dela.’
Pena, eleitor de Lula entrevistado muitas vezes no Espaço Público, disse ter percebido na TVE, nos últimos dois meses, sinais de desagrado com críticas ao governo. ‘Eram esgares, interrupções indevidas’, explica. A professora Ângela Paiva, da PUC-RJ, que estava no programa, confirmou o episódio. Lúcia Leme não retornou sucessivos telefonemas feitos na tarde e noite de ontem.’
Evandro Fadel
Requião é acusado de usar emissora
‘O Ministério Público no Paraná entrou com ação contra o governador Roberto Requião (PMDB), a Rádio e Televisão Educativa estadual, a União e a Anatel. O objetivo, informou, é ‘impedir o uso indevido’ da Rádio e TV Educativa por Requião para fazer ‘promoção pessoal e ataques à imprensa, adversários e instituições públicas’.
A ação propõe aplicar multa de R$ 100 mil ao governador, no caso de descumprimento da ordem. O governo estadual não comentou a ação, informando ainda não ter sido notificado.’
CENSURA
Líder da OAB defende liberdade de imprensa
‘A primeira presidente da Comissão Especial de Propriedade Imaterial da regional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Elaine Yachouh Abrão, afirmou que a imprensa livre é uma das bases de um Estado democrático. ‘Nada pode atrapalhar essa liberdade, a não ser outras regras previstas na lei’, disse ela, em palestra. A especialista em propriedade intelectual criticou o Ministério Público por determinar a apreensão de livros com conteúdo polêmico, como foi o caso do Os Protocolos dos Sábios do Sião, no início de 2006. ‘O Ministério Público não pode sonegar uma fonte que considero importantíssima para meu sentido crítico.’’
TV DIGITAL
Itens de TV digital terão tarifa zero
‘A Câmara de Comércio Exterior (Camex) reduziu ontem a zero a alíquota do Imposto de Importação (TEC) para nove itens ligados à TV digital. A tarifa praticada hoje para estes produtos varia de 12% a 16% em média.
O benefício tributário valerá até 31 de dezembro de 2008 e incentivará os investimentos das empresas de TV na montagem do sistema digital.
O conversor de TV digital (set top box) – equipamento que permite às pessoas continuar usando as atuais TVs analógicas mesmo nas transmissões com sinal digital – não está na lista porque já tem alíquota zero de imposto de importação.
O governo, entretanto, estuda a possibilidade de conceder benefícios fiscais para reduzir o preço dos conversores. Os mais baratos custam hoje no mercado cerca de R$ 400, mas o governo quer reduzir o preço pela metade. Uma das idéias, segundo tem afirmado o ministro das Comunicações, Hélio Costa, é isentar o produto do PIS-Cofins.
Costa também defende a concessão de incentivos para que os conversores sejam produzidos em todo o País, e não apenas na Zona Franca, como hoje.
A redução do Imposto de Importação para equipamentos das emissoras de TV, decidida ontem, já havia sido prometida pelo governo como forma de facilitar a troca dos sistemas, do analógico para o digital. A lista divulgada ontem pela Camex inclui geradores de sinais de teste, monitores profissionais de vídeo e mesas de comutação, entre outros equipamentos.
NÃO TARIFÁRIOS
Camex também aprovou ontem uma revisão das normas que colocam controles não-tarifários para o comércio exterior. A secretária-executiva da Camex, Lytha Spíndola, disse que atualmente 15 órgãos do governo fazem o controle dos produtos que entram ou saem do País. Em alguns casos, é preciso uma ‘dupla ou tripla anuência’.
Lytha Spíndola explicou que alguns controles se justificavam no passado, mas hoje podem representar um entrave ao comércio. ‘Quando a intervenção é excessiva, acaba não tendo um foco e os produtos prioritários não recebem a atenção necessária’, disse.
Atualmente, 36% dos itens importados pelo Brasil incluídos na lista do Mercosul, sujeitos à aplicação da Tarifa Externa Comum (TEC), e 20% das exportações, estão sujeitos a algum tipo de controle não-tarifário.
A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) precisa opinar sobre 1.312 produtos, enquanto 903 itens passam pelo crivo do Ministério da Agricultura. Lytha Spíndola acredita que a revisão das normas deve ser concluída em seis meses.
Os sete ministros da Camex ainda resolveram tornar definitiva a aplicação de direito antidumping nas importações de escovas de cabelo e alto-falantes para automóveis provenientes na China. Será cobrada, por cinco anos, uma sobretaxa de US$ 15,67 por quilo de escova de cabelo e US$ 2,35 por quilo de alto-falantes.
Além disso, a Camex decidiu excluir os óculos de segurança e aqueles com valores acima de US$ 4,87 da lista de armações importadas da China, que estão sendo sobretaxadas por prática de dumping.’
TV POR ASSINATURA
Anatel prepara licitação de TV a cabo para março
‘A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) prepara para março de 2008 uma licitação de concessões de TV a cabo. A idéia, segundo o superintendente de Comunicação de Massa da agência, Ara Minassian, é licitar essas licenças nas capitais e outras grandes cidades do País. A Superintendência de Comunicação de Massa apresentará até janeiro ao conselho diretor da Anatel a proposta de licitação, que, segundo ele, deverá seguir, regime de chamamento público, ou seja, nas cidades em que aparecer só uma interessada, esta levará a concessão.’
ARQUITETURA
Paris faz festa para homenagear Oscar Niemeyer
‘Receber uma homenagem na Maison du Brésil na Cidade Universitária de Paris (hoje à noite, com mesa de debates, exibição de filmes e exposição de pinturas de Jacques Benoit) só pode tocar um homem como Oscar Niemeyer, cuja vida e obra estiveram com freqüência ligadas à França. Quando jovem, ele já havia feito grandes viagens pela Europa, pela Europa da beleza, Veneza, Florença, Lisboa e, claro, Paris, onde encontrava seu amigo Vinícius de Morais. Como ele detesta voar de avião, a ponto de muitas vezes se recusar a embarcar no último minuto, percorria o planeta de navio.
E aí se entregava a dois exercícios que ama: observar as nuvens, que lhe recordam o corpo da mulher, e admirar o mar. E citava este verso de Fernando Pessoa: ‘Navegar é preciso, viver não é preciso.’ Mas, foi mais tarde, após 1964, que ele adquiriu o hábito de vir a Paris e depois, de viver aqui durante algum tempo. Nessa época, já era um homem coberto de glórias, o arquiteto mais ilustre do mundo, o criador de Brasília, com seu amigo Lúcio Costa.
Anteriormente, já havia enriquecido a terra brasileira com muitas obras de arte, entre as quais, em 1941 e 1944, o bairro da Pampulha, em Belo Horizonte, à beira de um lago artificial, por encomenda do seu então prefeito, Juscelino Kubitschek. Foi ele que introduziu em suas construções, graças à liberdade estética que lhe permitia o concreto armado, ‘as linhas curvas que lhe permitem reencontrar a graça das velhas igrejas coloniais’.
Ele explica sua partida para Paris pela ditadura militar que imperava no Brasil. Claro, no início do regime dos generais, sua reputação o havia protegido, mas ele não se conformava com o clima de opressão e, no governo Médici (1969-74), resolveu deixar o seu querido Brasil. ‘Nós vivemos num clima muito sórdido’, disse ele, e acrescentou: ‘Eu poderia mostrar à Velha Europa meu trabalho de arquiteto.’ Apesar da distância, ele sente-se bem em Paris onde ‘todas as pessoas parecem felizes’, ele observou (com uma certa ingenuidade). Ele foi acolhido de braços abertos. Primeiramente, pelos comunistas, que permanecerão seus amigos e cujas festas no jornal L’Humanité ele adorava. Não demoraria para projetar a sede do Partido Comunista Francês, na Place du Colonel Fabien, que mais tarde se tornaria um lugar cult.
‘Como nós amávamos essa cidade’, ele escreveu. ‘A Paris dos palácios reais, dos grandes espaços dos bosques de Bolonha e de Fontainebleau, a Paris da Rive Gauche que freqüentaram Fitzgerald, Hemingway, Juan Gris e Cocteau, a Paris da Rotonde, do Café de Flore e do Deux Magots.’ Ele ali encontrava Jean-Paul Sartre que lhe havia dito algum tempo antes, em Brasília, defronte o Palácio do Planalto: ‘Como é belo! Suas colunas nos envolvem como um leque.’ Ele freqüentava André Malraux graças ao qual poderia desenvolver projetos na França. Em particular, ele lhe permite criar uma ‘cidade nova’ em Grasse, no sul da França. Comunista, não poderia ignorar o grande poeta Aragon, seu charme de aristocrata. Mas ele também apreciava Raymond Aron, cujas idéias ele não compartilhava. Raymond Aron quis que ele entrasse no Collège de France, o que o obrigaria a fazer visitas indispensáveis. Essas obrigações protocolares lhe pareceram absurdas. No seu magnífico livro de memórias, As Curvas do Tempo (Revan), ele diz: ‘O mesmo sistema da Academia Brasileira de Letras. Nunca fui a essas entrevistas, o que Raymond Aron deplorou numa carta que me escreveu alguns meses depois.’ Seu público internacional se ampliava. Ele não realiza projetos apenas na França. Projeta construções para Israel, Gana, Líbano e, também, para Argel, na jovem república argelina que acabava de obter sua independência após uma guerra terrível contra a França. Na Argélia, ele projeta a Universidade de Constantine, para qual desenhou a construção das salas de aulas sobre pilotis com vãos de 50 metros e balanços de 25 metros. Cada projeto seu é uma ocasião para confirmar suas intuições e avançar um pouco mais para a modernidade e a leveza. Assim, em Constantine, os especialistas do governo queriam obrigá-lo a fazer vigas da fachada com 1,5 metro de espessura, mas Niemeyer se obstinou e as fez com 30 centímetros de espessura apenas, o que lhe permitiu conservar uma pureza extrema de linhas.
O homenageado está completando cem anos de vida, sempre fraterno, generoso, cheio de vida e ávido por criar. Contudo, em suas memórias (As Curvas do Tempo), é com um pouco de nostalgia que ele lança um olhar sobre o passado, ele, o arquiteto do futuro. Ele ali confessa sua nostalgia, seu gosto pelas velhas casas de outrora onde havia passado sua infância no Rio , ou pelas arquiteturas do período colonial. Contemplando alguns azulejos gastos pelo tempo, ele os acaricia com o olhar. ‘Eu os olho com ternura’, diz.’
CACO BARCELOS
Testemunha da barbárie sofrida por quem mora onde a cidadania não chega
‘Amanhã, depois de A Grande Família, vai ao ar o último especial do Profissão Repórter, sobre a busca da fama. Caco Barcelos e sua equipe de jovens jornalistas desenham o perfil de aspirantes a modelo, jogador de futebol, a cantor e, claro, a celebridade na próxima temporada do Big Brother Brasil. A série de cinco programas foi bem-sucedida (quase 30 pontos de média no ibope). Crítico em relação ao jornalismo ‘ideológico e moralista’, o repórter (57 anos de idade e 34, de profissão) diz, nesta entrevista exclusiva, que parte da imprensa tem um ‘olhar olímpico’ sobre as tragédias brasileiras, parecido com o da classe média-alta, que interpreta Tropa de Elite como apologia ao extermínio e aprova, porque a polícia não a incomoda. ‘Neste país não se tem notícia de um suspeito rico torturado ou morto pela polícia.’
Profissão Repórter saiu do Fantástico para ocupar o lugar de Linha Direta. O jornalismo faz sucesso?
A série deu certo porque reportagem faz sucesso. O público está carente de assistir a reportagens mais densas. Exemplo são os livros de não-ficção, que vendem mais do que os de ficção, e o programa ter dado quase 30 pontos no ibope.
Onde você quer chegar com o Profissão Repórter?
Quero muito que jovens jornalistas tenham a mesma paixão que eu pela reportagem. Não acho que eu seja habilitado para formar ninguém. Trabalho em equipe, mas quem está na rua é soberano para decidir o rumo da matéria. E o espaço é concedido em função do resultado de cada um. Muitas vezes o material que os jovens trazem é melhor do que o meu e isso faz com que eles tenham 4 minutos no ar e eu, 2.
As barbaridades que este país gera bastam para alimentar o programa?
A realidade supera as expectativas e haja energia para agüentar o que ela oferece. A realidade é minha matéria-prima, tanto que fui convidado pelo British Council para escrever uma peça de teatro para o projeto National Theater e sofri com a camisa-de-força da ficção. Então construí minha história em cima de outras, que recolhi nos morros do Rio e na periferia de São Paulo. A realidade é maravilhosa e dramática demais.
Como se chama a sua peça?
Osama, o Homem-Bomba do Rio. Ela foi traduzida para o inglês e faz parte de um banco de peças do mundo inteiro para ser encenada por quem quiser.
Você não acha a atitude do telejornalismo muito blasé em relação às tragédias brasileiras?
Acho o olhar do jornalismo um pouco olímpico, pouco envolvido. Somos mais eficientes ao tratar dos problemas dos mais bacanas. Quando se refere aos pobres, o jornalismo sequer dá o nome e qualificação das vítimas. Ao se falar de qualquer rico, aí sim citam nome, profissão, idade. É comum o jornalismo se referir a pessoas como bandidos, sem dar nome e qualificação. A gente aceita a versão da polícia, por isso não raro o noticiário fala em ‘ação covarde’. O jornalismo não pode ter uma atitude ideológica, moral.
Como escritor, você mexeu na questão da violência policial. A denúncia trouxe alguma mudança?
Muito pequena. Isso porque na época da edição do livro (Rota 66 – História da Polícia Que Mata), o governador Mário Covas exigiu que todo policial que matasse devia ser encaminhado ao analista. Com essa obrigação, o policial não tinha tempo para fazer bico (trabalho extra), então deixou de matar para não atrapalhar seus negócios. As mortes caíram de 1.500 para 230 pessoas/ano. Hoje a média é o dobro disso, mas nada comparado com o Rio que tem a polícia mais violenta do mundo. A PM carioca matou um jovem pobre a cada 4 horas nos primeiros 6 meses deste ano.
A explosão do filme Tropa de Elite é uma apologia ou crítica à violência policial?
O filme é uma obra de arte, o diretor tem direito de trabalhar sobre o que ele escolher. Mas o público de classe média o encara como apologia ao extermínio.’
TELEVISÃO
Animação é aposta para 2008
‘A TV Rá-Tim-Bum comemora 3 anos hoje com expectativa de fechar o ano com 1,5 milhão de assinantes. O canal infantil, que começou com uma grade baseada em atrações antigas da TV Cultura e poucas novidades, cresceu graças aos investimentos em produções originais. Um dos programas mais vistos da TV Rá-Tim-Bum, o Cocoricó, ganhou episódios novos com o lançamento do canal e tem lucrado com licenciamentos.
Para 2008, a TV Rá-Tim-Bum pretende aumentar o investimento em originais, principalmente na área da animação. ‘Estamos trabalhando para dar atenção ao crescimento das animações e vamos investir nisso’, fala Mauro Garcia, diretor do canal.
NOVOS PROJETOS
Garcia adianta que dois novos projetos estão em produção no canal. Um deles é uma série animada baseada no livro De Menina a Mulher, de Drica Pinotti, voltado a pré-adolescentes. Outro projeto é uma animação sobre insetos que têm necessidades especiais e trabalham em equipe para suprir suas deficiências.
Segundo o diretor, as produções do Teatro Rá-Tim-Bum continuarão em 2008. ‘Esse é um sucesso absoluto e um projeto importante, porque adaptamos as peças para a TV e as levamos para fora de São Paulo’, diz Ga rcia.
Na onda de novas produções, a TV Rá-Tim-Bum deve fazer, no ano que vem, seu primeiro pitching. ‘A gente tem ido atrás de idéias e projetos, mas tudo o que chega aqui vem desorganizado’, conta Garcia. ‘Estamos organizando a forma para o pitching, mas haverá espaço para documentários e programas infantis.’
Para comemorar o aniversário, a TV Rá-Tim-Bum reformulou seu site www.tvratimbum.com.br, com mais jogos para as crianças.’
LIVRO
Os dez mais do cinema da Retomada
‘Selecionar os dez melhores filmes produzidos no Brasil desde 1995, ano da chamada Retomada do cinema brasileiro, não é, evidentemente, uma tarefa fácil, ainda mais quando entram em conflito o gosto do público e a opinião da crítica. O livro Cinco Mais Cinco (Legere Editora, 296 págs., R$ 35) tenta justamente unir espectadores e críticos em torno dessa discussão sobre as dez obras cinematográficas mais marcantes da última década. Ele será lançado hoje, a partir das 18h30, com bate-papo às 20 h, na Livraria da Vila , reunindo seus três autores, o cineasta Cacá Diegues e os críticos Luiz Carlos Merten, do Estado, e Rodrigo Fonseca, do Globo.
O livro, primeiro de uma coleção organizada pelo Festival Internacional de Cinema do Rio, analisa os dez títulos que se destacaram entre 1995 e 2006, cinco preferidos pelo público – 2 Filhos de Francisco, Carandiru, Se Eu Fosse Você, Cidade de Deus e Lisbela e o Prisioneiro – e cinco eleitos por críticos – Cidade de Deus, Edifício Master, O Invasor, Lavoura Arcaica e Terra Estrangeira. Cidade de Deus foi o único presente em ambas as listas.
O que poderia passar como um elogio à diversidade é, para o diretor Cacá Diegues, uma virtude relativa. ‘Ela pode ser o resultado de nossa falta de jeito para selecionar com rigor’, opina em seu texto de abertura, observando que a presença de Cidade de Deus em ambas as listas indica que um filme para ser popular não precisa abdicar da reflexão. Diegues, ao fazer o balanço de sua geração, a do Cinema Novo, compara seus colegas com os da Retomada e conclui que, para os primeiros, importavam a cultura e a política, enquanto para os cineastas mais jovens, arte a tecnologia estão em primeiro lugar.
O crítico Luiz Carlos Merten analisa no livro os cinco maiores fenômenos de bilheteria entre os filmes da Retomada, de 2 Filhos de Francisco a Cidade de Deus, concluindo que arte e tecnologia preocupam, de fato, realizadores como Fernando Meirelles, diretor do último. Merten lembra a polêmica provocada por um texto da crítica e historiadora Ivana Bentes, que acusou o filme de espetacularizar a violência e cunhou a expressão ‘cosmética da fome’. Desde então, ela já mudou de opinião e hoje, segundo o crítico, diz preferir sua ‘estética da crueldade ao humanismo piegas de alguns títulos brasileiros contemporâneos’. Para Merten, a atualidade de Cidade de Deus é assustadora. ‘Para o bem e para o mal, é o filme que define a nossa cara’, afirma.
O crítico Rodrigo Fonseca analisa os filme da Retomada que foram eleitos pela crítica – alguns muito caros e incapazes de recuperar o dinheiro investido, caso de Lavoura Arcaica e O Invasor. Fonseca, no entanto, chama a atenção para o lugar de honra que esses filmes mais ‘difíceis’ ocupariam na lista dos mais populares se fosse computado o número de pessoas que assistiu a esses filmes em salas de debates, palestras e auditórios de universidade. Conclusão: cabe à crítica formar novas platéias para esses filmes que trazem o inaudito.
Serviço
Cinco Mais Cinco. Cacá Diegues, Luiz Carlos Merten e Rodrigo Fonseca. Livraria da Vila. R. Fradique Coutinho, 915, tel. 3814-5811. Hoje, às 18h30. Às 20 h, bate-papo com os autores’
MÚSICA
Led Zeppelin leva 20 mil fãs ao delírio em concerto histórico
‘Na noite de segunda-feira, cerca de 20 mil pessoas estavam em estado de êxtase vendo o velho desejo se concretizar: a volta do mito Led Zeppelin. São quase três décadas desde que o grupo chegou ao fim e o tão aguardado show da banda britânica, realizado no palco do O2 Arena, em Londres, entra para a história não só como o retorno da banda aos palcos, mas também como um dos maiores encontros de fãs de todo o mundo num só lugar. ‘É meio estranho, temos aqui gente de 50 países’, disse durante o show o vocalista Robert Plant, de cavanhaque, roupa preta e os velhos cachos loiros.
Marmanjos de todo o mundo choravam e abraçavam o amigo ao lado, como se o impossível tivesse se tornado real. Outros dançaram sozinhos, sob efeito hipnótico dos riffs de Jimmy Page. O tributo a Ahmet Ertegun, lendário fundador da Atlantic Records (selo que lançou a banda nos anos 60), foi o motivo que levou o grupo a se reunir, com praticamente sua formação clássica: Plant, Page e o baixista John Paul Jones.
O baterista Jason Bonham ocupou o lugar do pai, John Bonham, morto em 1980. Antes desse show histórico em Londres, o Led Zeppelin só havia se encontrado nos palcos duas vezes: em 1985, para o show beneficente Live Aid, e no aniversário de 40 anos da gravadora Atlantic em 1988, já com o baterista Jason Bonham. O show de abertura, às 19h30, foi comandado por Bill Wyman, ex-Rolling Stone, que recebeu Paul Rogers e Mick Jones.
Às 21 h, as luzes se apagaram e, no telão, um trecho do filme The Song Remains the Same descrevia a história da banda Led Zeppelin. Robert Plant abriu a noite cantando o clássico Good Times Bad Times. Foi um show para quem conhecia a fundo a discografia da banda e também para quem só estava familiarizado com os hits ledzeppianos. O quarteto emendou Ramble On, Black Dog e In My Time of Dying. Plant resolveu falar com o público antes de For Your Life. ‘São muitos sentimentos envolvidos. Finalmente, chegamos a este ponto’, disse ele. Antes de Trampled Under Foot, do álbum Physical Graffi, Plant deu a dica. ‘Este é o estilo Led de fazer blues.’ Mesmo prometendo dar um tempo em Stairway to Heaven, Plant rendeu-se a ela, para fãs visivelmente agradecidos com tal ato de generosidade. O vocalista o fez em memória do amigo Ertegun.
Since I´ve Been Loving You soou repaginada, assim como outras músicas. Houve espaço para novos arranjos, improvisação. E para a velha guitarra nervosa de Page, que fez miséria em canções como Dazed and Confuse e Misty Mountain Hop, além, claro, em seus solos quase que obrigatórios. Plant e Page continuam entrosados, mas o vocalista não atinge mais os agudos. Com a música Kashmir, eles brincaram de encerrar quase duas horas de show. Mas houve outros dois bis, particularmente especiais. Primeiro, veio Whole Lotta Love e depois Rock and Roll. Robert Plant e seu trio se despediram do público, mas para a maioria o sonho se estendeu para horas e horas depois. Há quem diga que o show, que nasceu para ser único e em Londres, vai virar turnê. O vocalista do Cult, Ian Astbury, deu a dica recentemente durante um show. Disse que, durante o próximo ano, abrirá o show de uma banda famosa, que tem L e Z no nome. Um fã gritou Led Zeppelin e ele confirmou.
Mas há quem diga também que a banda deveria parar por aí. Que Plant não tem a mesma voz de antes e Page, o mesmo fôlego para encarar uma turnê. A possível tour não foi confirmada.
Apesar da expectativa de confusão, a troca de ingressos para o show no O2 Arena foi tranqüila. Os ingressos foram distribuídos em sorteios na internet, no site oficial do projeto, entre as cerca 20 milhões de pessoas cadastradas. Só 20 mil foram contempladas, mas por conta de mudança de data de show ou mesmo falta de dinheiro, leilões extra-oficiais surgiram superfaturando os tíquetes. No site EBay, houve quem cobrasse 5 mil libras (cerca R$ 20 mil) por dois ingressos. Isso enfureceu a produção do projeto, que prometeu barrar todo mundo cujo nome no ingresso não coincidisse com o do comprovante de pagamento do cartão de crédito e do passaporte. Isso porque, quem foi sorteado, recebeu um código e teve direito a comprar dois ingressos, em seu nome, por 125 libras cada um, mais taxas, num total de cerca de R$ 1 mil. E, claro, bancar a viagem a Londres por conta própria.’
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Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
THE POLICE
Elio Gaspari
Claudia Raia precisa ajudar Luciano Huck
‘QUEM CONTOU foi a repórter Mônica Bergamo. O apresentador Luciano Huck foi à boca-livre do show da banda Police, incomodou-se com o trabalho da fotógrafa Audrey Furlaneto, resolveu tirá-la da cena e, afastando a câmera, empurrou-a. Sem que essa fosse sua intenção, derrubou-a. Como ela lhe disse em seguida, ‘muito gentil’. (Em versões posteriores, falsas, ele teria ‘agredido’ a fotógrafa.)
Huck estava num evento público, convidado pelos patrocinadores do show. Sabia que dividiria o tempo com fotógrafos. Por conta da curiosidade que atrai, vestia a camiseta destinada a divulgar as marcas de quem providenciou o paganini do espetáculo. Deliberadamente, enfeitava um lance de propaganda do evento e dele próprio.
Se uma pessoa resolve ser uma ‘celebridade’ (seja o que for que isso signifique), fotógrafos e jornalistas passam a ser uma sarna em suas vidas. A rainha Elizabeth reclama quando é obrigada a falar atrás de pódios altos. O presidente americano Lyndon Johnson (1963-1969) implicava com os fotógrafos e câmeras que mostravam o lado esquerdo de rosto (como se naquela máscara isso fizesse alguma diferença). Jacqueline Kennedy recorreu à Justiça para impedir que o paparazzo Ron Galella chegasse perto dela, mas quem urdiu o cenário em que a madame aparecia pelada (de costas e de frente) numa praia grega foi seu marido, Aristoteles Onassis. Será que alguém é capaz de supor que Britney Spears e Juliana Paes se esqueceram de vestir a calcinha no dia em que foram fotografadas em circunstância tão vulgar?
Os fotógrafos podem ser um estorvo, mas raramente são o problema. Sete paparazzi foram detidos pela polícia francesa porque perseguiam o Mercedes da princesa Diana na noite parisiense. Sugeriu-se que teriam provocado o acidente que a matou, mas era seu motorista quem dirigia com excesso de álcool no sangue e de velocidade no motor.
O gosto pela exposição pública levou pessoas a vestir camisetas monstruosas para irem ao show do Police, mesmo não gostando da banda. Outra ânsia, a de ser uma supercelebridade, provoca surtos de impaciência. Fazem um tipo, pois quem não quer aparecer, não aparece. Quando um fotógrafo invade o espaço privado dos outros, a história é outra. Marlon Brando quebrou o queixo de Galella numa calçada de Chinatown. (Acertou a conta com um cheque de US$ 40 mil.)
Felizmente, Huck não tentou empurrar o bandido que lhe roubou o Rolex numa esquina de São Paulo, em outubro. Empurrar fotógrafa numa boca-livre em que se está protegido por seguranças particulares é covardia. Audrey Furlaneto, que o exasperou, poderia dizer como ele: ‘Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna’.
Para surpresa dos curiosos, os políticos são geralmente mais delicados do que as celebridades. Huck é uma pessoa gentil, mas poderia tomar umas aulas de bons modos com Marta Suplicy. (Fotógrafos que a acompanharam testemunham sua paciência.) Se não quiser trocar de ambiente, pode procurar Claudia Raia e Edson Celulari, personagens doces e serenos. Caso queira superar o gênero arroz-de-festa, há o padrão Claudia Abreu. Ela estava no show do Police, mas separa sua vida pessoal das promoções, dos empreendimentos e das campanhas comerciais de que participa. Tudo é uma questão de estilo.’
VIRANDO NOTÍCIA
Escrevendo com chumbo
‘RIO DE JANEIRO – Na quarta-feira passada, em Omaha, Nebraska, EUA, o garoto Robert Hawkins, 18, com problemas na família, na escola e na polícia, foi despedido do McDonald’s onde trabalhava, acusado de furtar US$ 17, e ainda levou um chute da namorada. Em meio a seu inferno íntimo, escreveu um bilhete: ‘Sei que sou um merda. Mas, agora, vou ficar famoso’. Pegou seu fuzil, entrou num shopping, matou oito pessoas e se matou.
Robert ficou famoso -por três dias. No sábado e no domingo seguintes, não um, mas dois atiradores isolados, ambos no Estado do Colorado, também abriram fogo contra inocentes, abatendo um total de quatro pessoas e ferindo outras tantas. Roubaram o seu show.
Pode-se dizer que o garoto de Nebraska, sozinho, matou o dobro que os dois juntos e, por isso, deveria ficar por mais tempo no noticiário. Que nada. A essa altura, já quase ninguém se lembra de seu nome. Até o fim do ano, terá sido reduzido a um número e seu atentado não passará de uma estatística na violência americana. Os dois atiradores que o sucederam terão o mesmo destino. Só as vítimas continuarão a ser lembradas, e com que dor.
Quero crer que a motivação principal de Robert não era a de ‘ficar famoso’ -e, se foi, ele seria só mais uma vítima dessa cretina cultura de celebridade que nos assola. Prefiro achar que, como a maioria dos jovens que disparam contra grupos e depois se matam, ele queria apenas se expressar.
Fosse no século 19, um menino como Robert se alistaria na Legião Estrangeira ou escreveria poesia e morreria tuberculoso. Em meados do século 20, ele iria para a luta armada ou se tornaria um crítico estruturalista. Em nossos dias, Robert tira seu próprio fuzil do armário e grava seu testemunho com chumbo no corpo de quem não tem nada com isso.’
Daniel Bergamasco
Hit em estádio, ‘mostre seus seios’ causa polêmica no futebol americano
‘Com cerveja e rosquinhas na mão, os torcedores do New York Jets, time de futebol americano, vão se amontoando em torno da rampa espiral do setor D do Giants Stadium, em East Rutherford, Nova Jersey, assim que começa o intervalo do jogo. A estratégia é se debruçar sobre o parapeito para provocar as garotas que despontam lá embaixo.
Primeiro alvo: uma jovem loira, 20 e poucos anos, aparece para subir a ladeira. A multidão urra: ‘Show your tits! Show your tits! Show your tits! [Mostre seus seios!]’. Ela passa de cabeça baixa, sem atender ao pedido. E é alvejada por bolinhas de guardanapo usado.
A brincadeira costuma ser pior: copos com cerveja cheios pela metade voam em direção à cabeça das garotas que não concordam em levantar a blusa. As que obedecem são aplaudidas, mas, depois, têm as fotos publicadas em sites da internet.
A zombaria é uma tradição nos jogos dos Jets no estádio, sempre na mesma rampa do setor D. Nesta temporada, o número de adeptos chegou às centenas, o que atraiu a atenção da mídia local e críticas das autoridades.
Richard J. Codey, presidente do Senado de Nova Jersey, criticou o ritual três semanas atrás, mas ontem disse que acredita nas medidas tomadas para coibi-lo.
Com a difusão da novidade, hoje os torcedores instalados em outros setores correm para o D no intervalo.
O estádio teve de reforçar a segurança. No jogo do último domingo, em que os Jets, que fazem campanha pífia, foram derrotados pelo Cleveland, havia pelo menos dez homens, entre policiais e funcionários, cercando a multidão, mas se limitando a afastar os que estavam com cerveja na mão. ‘Não posso proibir ninguém de gritar’, disse um segurança à Folha.
Segundo freqüentadores, o ritual, ao menos por enquanto, não afastou do estádio o público feminino, que pode ser considerado expressivo.
Mulheres acompanhadas também não são poupadas. O surgimento de uma delas, versão mais cheinha da socialite Paris Hilton, puxa novos gritos de ‘show your tits’, e a moça é acolhida nos braços do namorado -que é ultrajado aos berros de ‘asshole! asshole [imbecil]’, mas dá risada, tentando mostrar que levou na esportiva.
Várias garotas, aliás, entram na brincadeira e vão voluntariamente até o parapeito da rampa fazer o suspense do tira-ou-não-tira.
‘Eu vim aqui pelos seios! Os seios são o que importa!’, diz Daniel Hatton, 32, com gorro dos Jets e cerveja na mão. Ao fundo, a torcida grita: ‘Tits! Tits! Tits! Tits!’.
‘Esses caras são uns imbecis. Amo vir ao jogo, mas essa bagunça é ridícula. Já vi uma garota sair daqui com a roupa molhada, depois de acertarem cerveja nela’, diz a estudante Meaghan Smith, 22.
Com o policiamento e os relatos de que as garotas que mostram os seios têm tido suas fotos espalhadas na internet, poucas têm atendido ao pedido da multidão. No domingo, nenhuma garota topou levantar a blusa.
O fotógrafo do tablóide ‘New York Post’ reclamava. ‘Preciso da foto de uma garota, mas só esse aqui mostrou os seios’, dizia ele, mostrando na câmera a foto de um rapaz obeso que ergueu a blusa para a multidão.’
TRANSPOSIÇÃO
Jejuo também por democracia real
‘ACUSAM-ME de inimigo da democracia por estar em jejum e oração combatendo um projeto do governo federal autoritário, falacioso e retrógrado, que é o da transposição de águas do rio São Francisco.
Meu gesto não é imposição voluntarista de um indivíduo. Fosse isso, não teria os apoios numerosos, diversificados e crescentes que tem tido de representantes de amplos setores da sociedade, inclusive do próprio PT.
Vivêssemos uma democracia republicana, real e substantiva, não teria que fazer o que estou fazendo.
Um dos mais graves males da ‘democracia’ no Brasil é achar que o mandato dado pelas urnas confere um poder ilimitado, aval para um total descompromisso com o discurso de campanha, senha para o vale-tudo, para mais poder e muito mais riquezas. Tráficos de influências, desvios do erário, porcentagens em obras públicas e mensalões são práticas tradicionais na política brasileira, infelizmente, pelo visto, ainda longe de acabar. A sociedade está enojada e precisa se levantar.
Há políticos -e, infelizmente, não são poucos- que, por onde passaram na vida pública, deixaram um rastro de desmandos, corrupção, enriquecimento ilícito etc. Como ainda funcionam o clientelismo eleitoral, a mitificação de personagens, as falsas promessas de campanha, o ‘toma-lá-dá-cá’ e mais deseducação que educação política do povo, esses políticos conseguem se reeleger e galgar posições de alto poder em governos, quaisquer que sejam as siglas e as alianças.
Na campanha do candidato Lula, o tema crucial da transposição era evitado o máximo possível. Mas as campanhas eleitorais, à base do marketing e das verbas de ‘caixa dois’ das empresas, são tidas e havidas como grandes manifestações do vigor de nossa democracia, que, com urnas eletrônicas, dá exemplo até aos EUA…
O projeto de transposição não é democrático, porque não democratiza o acesso à água para as pessoas que passam sede na região semi-árida, distante ou perto do rio São Francisco.
O governo mente quando diz que vai levar água para 12 milhões de sedentos. É um projeto que pretende usar dinheiro público para favorecer empreiteiras, privatizar e concentrar nas mãos dos poucos de sempre as águas do Nordeste, dos grandes açudes, somadas às do rio São Francisco.
A transposição não tem nada a ver com a seca. Tanto que os canais do eixo norte, por onde correriam 71% dos volumes transpostos, passariam longe dos sertões menos chuvosos e das áreas de mais elevado risco hídrico. E 87% dessas águas seriam para atividades econômicas altamente consumidoras de água, como a fruticultura irrigada, a criação de camarão e a siderurgia, voltadas para a exportação e com seríssimos impactos ambientais e sociais.
Esses números são dos EIAs-Rima (Estudos de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente), públicos por lei, já que, na internet, o governo só colocou peças publicitárias.
O projeto de transposição é ilegal e vem sendo conduzido de forma arbitrária e autoritária: os estudos de impacto são incompletos, o processo de licenciamento ambiental foi viciado, áreas indígenas são afetadas e o Congresso Nacional não foi consultado como prevê a Constituição.
Há 14 ações que comprovam ilegalidades e irregularidades ainda não julgadas pelo Supremo Tribunal Federal. Mas o governo colocou o Exército para as obras iniciais, abusando do papel das Forças Armadas, militarizando a região. A decisão do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, de Brasília, em 10/12 deste ano, obrigando a suspensão das obras, é mais uma evidência disso.
O mais revoltante, porque chega a ser cruel, é que o governo insiste em chantagear a opinião pública, em especial a dos Estados pretensos beneficiários, com promessas de água farta e fácil, escondendo quem são os verdadeiros destinatários, os detalhes do funcionamento, os custos e os mecanismos de cobrança pelos quais os pequenos usos subsidiariam os grandes, como já acontece com a energia elétrica. Os destinos da transposição os EIAs/Rima esclarecem: 70% para irrigação, 26% para uso industrial, 4% para população difusa.
Temos um projeto muito maior. Queremos água para 44 milhões de pessoas no semi-árido. Para nove Estados, não apenas quatro. Para 1.356 municípios, não apenas 397. Tudo pela metade do preço previsto no PAC para a transposição.
O Atlas Nordeste da ANA (Agência Nacional de Águas) e as iniciativas da ASA (Articulação do Semi-Árido) são muito mais abrangentes, têm prioridade no abastecimento humano e utilizam as águas abundantes e suficientes do semi-árido.
Fui chamado de fundamentalista e inimigo da democracia porque provoquei que o povo se levantasse e, disso, os ‘democratas’ que me acusam têm medo. Por que não se assume a verdade sobre o projeto e se discute qual a melhor obra, qual o caminho do verdadeiro desenvolvimento do semi-árido? É nisso que consiste a nossa luta e a verdadeira democracia.
DOM FREI LUIZ FLÁVIO CAPPIO, 61, é bispo diocesano da cidade de Barra (BA) e autor do livro ‘Rio São Francisco, uma Caminhada entre Vida e Morte’.’
MÍDIA & GOVERNO
Ministério Público denuncia Requião por uso de TV estatal
‘O Ministério Público Federal apresentou ação civil pública contra o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), e o presidente da Rádio e TV Educativa do Estado, Marcos Batista, por uso indevido da emissora. Segundo a Procuradoria, Requião usa a TV para fazer promoção pessoal e atacar a imprensa, adversários e instituições públicas.
A ação foi ajuizada anteontem na 1ª Vara Cível Federal de Curitiba e pede multa de R$ 100 mil a Requião pela conduta irregular. Em caso de reincidência, o pagamento deve ser de R$ 500 mil e a TV estatal terá de tirar do ar o programa semanal ‘Escola de Governo’, no qual a equipe do governador exibe projetos e ações das secretarias.
Segundo a Procuradoria, gravações do programa mostram ataques de Requião contra a imprensa e membros do Ministério Público do Estado, acusados por ele de receberem aposentadorias irregulares.
O porta-voz de Requião, Benedito Pires, disse que o governo não irá se pronunciar antes de conhecer o teor da ação civil.’
TODA MÍDIA
Quem manda?
‘Lula foi ao governador do DEM ‘virar um voto’, na Globo e pelos sites. ‘Não conseguiu.’ Depois, teria reunião com governador do PSDB, mas ele ‘morreu’.
E o dia foi de rescaldo do FHC ‘100% em campo’ contra a CPMF, no dizer do ‘Painel’. Na emblemática Associação Comercial do Rio, voltou a atacar a taxa, após obter da bancada nova reunião contra a CPMF. E foi após Arthur Virgílio, seu líder, dizer que não é ‘soldado raso’ de José Serra e Aécio -e ironizá-los, segundo o blog de Josias de Souza, referindo Mário Covas e Tancredo Neves. Registre-se que três meses atrás, à revista ‘Piauí’, FHC já havia criticado Aécio, ‘menos preparado’, e Serra, ‘início não foi brilhante’.
Mas este reage, agora em público. Ontem surgiu até no ‘Jornal Nacional’ para falar em defesa da CPMF.
LULA + CHÁVEZ
Lula visita Hugo Chávez amanhã, espalharam os blogs. E já anteontem à noite, noticiam agências, o venezuelano afirmava que a ‘relação comercial’ com a Colômbia ‘vai sofrer’. Que, ‘agora, em vez de comprar tantas coisas da Colômbia, vou ao Brasil… América Central, Nicarágua’.
Mas as mesmas agências noticiaram que a visita de Lula a Evo Morales, domingo, ‘visa a seduzir a Bolívia para longe da Venezuela’, segundo ‘fontes governamentais’.
FALTA TUDO
Os sites de ‘Financial Times’ e ‘Wall Street Journal’ deram o Banco do Sul, com destaque para a indefinição sobre ‘como a capitalização será dividida, que projetos vai financiar, quem vai presidir’. Em suma, ‘quanto cada um põe e os direitos e deveres’. Citaram a reticência do Brasil.
TEORIA
O ex-chanceler do México Jorge Castañeda escreveu na ‘Newsweek’ -e o blog de Pedro Dória ecoou- a versão de que Chávez ‘tentou alterar’ o resultado do referendo, mas foi ‘ameaçado pelos militares’. As provas saíram no oposicionista ‘El Nacional’ e de ‘uma fonte de inteligência’.
BRASIL + EUA, EM BALI
Em que pese o jogo de cena, ‘negociadores limitaram uma proposta para pagar por preservação de florestas após EUA e Brasil reagirem’, segundo a Bloomberg. E um ‘acordo está próximo’ na questão, deram ‘Guardian’, ‘FT’ etc. Ela incluiria ‘projetos-piloto’ em alguns países para testar o pagamento direto ou os créditos de cabono.
PROTEÇÃO EUROPÉIA
A agência Reuters noticiou ontem que a União Européia está analisando ‘restrições maiores’ à carne importada do Brasil, como cobram fazendeiros britânicos e irlandeses. Já foi até feita a proposta, pelo comissário agrícola.
… E AMERICANA
A mesma Reuters noticiou que a Organização Mundial do Comércio decidiu colocar em pauta -e vai agora ‘investigar os subsídios agrícolas americanos, que o Brasil e o Canadá afirmam desrespeitar as normas internacionais’.
‘NOTÍCIAS COMMODITIES’
O Google fechou com AP e AFP e passou a privilegiar páginas próprias, nas buscas. E agora é o ‘International Herald Tribune’ que fecha com a Reuters para não mais comprar o serviço e sim dividir a publicidade. O acordo pode ser estendido ao ‘New York Times’, dono do ‘IHT’.
O ‘WSJ’, sublinhando serem concorrentes do próprio ‘WSJ’ e sua agência, Dow Jones, descreveu como ‘acordo não-usual’. O blog BuzzMachine saudou como ‘modelo’ para o setor de como lidar com as ‘notícias commodities’.
MAIS CHOQUE
Do confronto na favela diante da Globo SP, o ‘JN’ não deu as cenas de crianças e mulheres. Record e Band, sim. E o ‘JN’ questionou os favelados pelo trânsito e pelos barracos vazios.’
PESQUISA
Tolerância ao controle da mídia varia de país para país
‘Um estudo encomendado pela rede pública britânica BBC e divulgado nesta semana revela grandes variações nas crenças sobre o papel e a importância da liberdade de imprensa no mundo. No estudo, 56% das pessoas disseram crer que a atuação da mídia é importante para uma sociedade livre.
Por outro lado, 40% dos entrevistados em 14 países disseram que a importância da harmonia social e da paz supera a de uma imprensa livre, ainda que isso signifique controle do que é noticiado.
Foram consultadas 11.344 pessoas nos EUA, no México, na Venezuela, no Brasil, no Reino Unido, na Alemanha, na Rússia, no Egito, na Nigéria, no Quênia, na África do Sul, nos Emirados Árabes Unidos, na Índia e em Cingapura entre 1º de outubro e 21 de novembro de 2007.
Em parte da pesquisa, os entrevistados foram instados a escolher entre duas afirmações: ‘A liberdade da imprensa para relatar notícias honestamente é muito importante para garantir que vivamos numa sociedade livre, ainda que isso leve a debates desagradáveis ou à instabilidade social’ e ‘Apesar de a liberdade da imprensa para relatar notícias honestamente ser importante, a harmonia social e a paz são mais importantes, o que às vezes significa que é preciso controlar o que é noticiado pelo bem geral’.
Na maioria dos países, a liberdade de imprensa foi considerada mais importante do que a estabilidade, mas Rússia, Índia e Cingapura são exceções. Nesses países, cerca de 48% apóiam o controle para garantir a paz, contra 40% que priorizam a liberdade de imprensa.
No Brasil, 52% afirmaram que a liberdade supera a manutenção da estabilidade. Nos EUA, 70% dos entrevistados -o maior percentual entre os países pesquisados- escolheram a primeira afirmação. Na Venezuela, o percentual chegou a 64%, terceiro maior, atrás do Reino Unido (67%).
Quando os entrevistados foram questionados se consideram que em seu país existe imprensa livre, numa escala de 1 (sem liberdade) a 5 (muito livre), os americanos foram mais duros na avaliação da própria mídia, com 53% optando pelas notas 4 e 5. Foram superados por países como Quênia (82%), Índia (72%), Venezuela (63%) e Egito (64%). No Brasil, 52% optaram por notas 4 e 5.
A pesquisa foi encomendada dentro das celebrações dos 75 anos da BBC World Services e foi conduzida pelos institutos GlobeScan Incorporated e Synovate.’
VENEZUELA
Jornal que critica Chávez diz que governo cortou seu papel
‘O jornal venezuelano ‘Correo del Caroní’, feroz crítico do presidente Hugo Chávez, não circulará hoje sob a alegação de que o governo está bloqueando a importação de papel.
Segundo o jornal, ‘o regime de Chávez negou os dólares à empresa Dipalca, que eles sabem ser importadora do papel chileno para jornais que usamos exclusivamente na impressão deste diário’.
Devido à rígida legislação cambial, a importação com dólares subsidiados (oficial) precisa de aprovação da Cadivi (Comissão de Administração de Divisas), órgão do governo federal. Fora da Cadivi, a compra fica muito mais onerosa, já que a diferença entre o câmbio paralelo e o oficial está em aproximadamente 165%.
Com 30 anos de existência, o jornal circula principalmente em Ciudad Guayana, um importante pólo industrial 700 km a leste de Caracas, com cerca de 700 mil habitantes.
Segundo o diretor do ‘Correo’, David Natera, uma solução seria emprestar papel dos outros jornais, mas todos os que ele procurou alegaram ter estoques baixos.
Outros dois diários do interior do país, ‘El Impulso’ (Barquisimeto) e ‘El Carabobeño’ (Valencia), dizem ter o mesmo problema.
Em nota divulgada ontem, a ONG Repórteres Sem Fronteiras disse estar ‘preocupada’ com a situação. ‘O caso do ‘Correo de Caroní’ não é o primeiro desse tipo’, afirmam.
Até ontem à tarde, o Cadivi não havia se pronunciado sobre as acusações feitas pelo ‘Correo del Caroní’.’
CUBA
Humorista deserta para os Estados Unidos
‘Um popular humorista cubano desertou de Cuba para os EUA com sua família ontem, segundo o diário ‘Nuevo Herald’, de Miami. Carlos Otero, 49, que produzia a edição de Réveillon do seu programa de TV em Toronto, no Canadá, pediu asilo político no país vizinho.
Ao jornal, Otero disse que Cuba ‘parou no tempo’ e que os cubanos vivem em grande incerteza sobre o futuro desde que o ditador Fidel Castro transmitiu o poder ao irmão, Raúl, a fim de tratar de problemas de saúde, há 16 meses.
O apresentador disse esperar suportar o exílio e ver os dois filhos estudarem o que quiserem.
Segundo o jornal americano, o programa de entrevistas de Carlos Otero, chamado ‘Sabadazo’, é um dos mais assistidos em Cuba. O humorista disse não esperar mais que a edição de Réveillon seja levada ao ar.’
TELEVISÃO
Canais estrangeiros são 75% da TV paga
‘Os canais estrangeiros ocupam 75% da programação da TV paga nacional. É para manter esse domínio que a ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura) lançou campanha contra projeto de lei que cria cota de 50% para canais pagos brasileiros.
Os dados integram estudo de uma programadora nacional, que pediu para não ser identificada. Não foram considerados canais nacionais as emissoras abertas, os canais obrigatórios, as TVs mistas (como MTV) e os de pay-per-view. Embora tenha 50% de capital nacional (Globo), os Telecines são estrangeiros, assim como HBO. GNT e Multishow, apesar de terem quase 50% de conteúdo internacional, são brasileiros.
O estudo revela que as operadoras que têm participação acionária da Globo, contrariando o discurso do grupo de defesa do conteúdo nacional, dão menos espaço aos canais brasileiros. Na Net, só 21% dos canais são nacionais. Na Sky, esse percentual cai para 17%. A concentração média de canais estrangeiros (75%) tende a aumentar com a aprovação da compra da Vivax pela Net.
Essa concentração ocorre porque a Globo tem poder de veto sobre os canais brasileiros nessas duas operadoras. Assim, novos canais nacionais, como Woohoo (esportes radicais) e Esporte Interativo (futebol), ambos independentes, e Fiz e Ideal, do Grupo Abril, não entram na Net e na Sky.
COLEGA Assistente de palco de Silvio Santos, Patrícia Salvador irá cobrir as férias de Adriane Galisteu no SBT. Ela apresentará o ‘Charme’, a partir do dia 24, ao vivo, durante 20 dias. Será dirigida por Silvia Abravanel, filha do dono do SBT.
NOVO DIA O humorístico ‘Toma Lá, Dá Cá’ deverá mudar das noites de terça para as de domingo, a partir de abril de 2008. Por enquanto, é apenas tendência. O martelo ainda não foi batido pela cúpula da Globo
DÚVIDA Oficialmente, os programas de Milton Neves (‘Bola na Rede’ e ‘Terceiro Tempo’) voltam ao ar em janeiro, após as férias do futebol nacional. Mas, nos bastidores da Record, especula-se o contrário.
APOSTA Um dos especiais de fim de ano da Globo, ‘Casos e Acasos’ têm boas chances de emplacar uma temporada em 2008. O diretor do programa, Marcos Schettmann, almoçou anteontem com Mário Lúcio Vaz, diretor-geral artístico da emissora, e apresentou o piloto.
NA GERAL A Record ‘emplacou’ dois apresentadores entre os líderes na última pesquisa do Datafolha entre os prefeituráveis para 2008. Wagner Montes (Rio de Janeiro) e Raimundo Varela (Salvador) são âncoras do ‘Balanço Geral’ em suas cidades.
SERÁ? O ‘Balanço Geral’ acaba de estrear em São Paulo. O apresentador, Geraldo Luís (um ‘clone’ de Jorge Kajuru), é muito popular em Limeira.’
MÚSICA
Led Zeppelin do século 21 triunfa em show
‘‘Nos dias da minha juventude/ Contaram-me o que era ser um homem/ Agora que eu alcancei a idade/ Tentei fazer o melhor que posso em tudo.’
Os primeiros versos de ‘Good Times, Bad Times’, uma música sobre traição, ganharam novo sentido no momento em que o Led Zeppelin do século 21 a tocou na noite de anteontem, na O2 Arena.
Dezenove anos após a última malfadada tentativa de reunião, Londres viu uma banda hiperbem ensaiada e disposta, capaz de encarar uma turnê mundial sem macular sua bela história. No show, Jason Bonham substituiu o pai, John, que morreu em 1980 e causou o fim do grupo.
A apresentação durou 90 minutos e deve ser lançada em DVD no ano que vem. Alguns trechos de ‘Black Dog’, captada por uma emissora de televisão inglesa, e o início de ‘Good Times, Bad Times’, gravado por um fã, já podem ser vistos no YouTube.
Em ‘Black Dog’, o vocalista Robert Plant, 59, altera as melodias, pois seu falsete não alcança mais as altas notas originais. Mas o timbre e a força continuam ótimos. À sua esquerda, Jimmy Page, 63, reina na guitarra, vestido com um sobretudo preto.
Não faltou nem a escarnecida ‘Stairway to Heaven’, a música cuja fama se voltou contra si mesma, pesadelo de dez entre dez vendedores de guitarra. No bis, o Zeppelin voltou com as incendiárias ‘Whole Lotta Love’ e ‘Rock’n’Roll’.
‘Nave-mãe’
Com ares de acontecimento do ano, não faltaram as celebridades. De Mick Jagger aos irmãos Gallagher, do Oasis, de Paul McCartney aos Arctic Monkeys, o ‘jet set’ do rock deu o ar de sua graça na área VIP do show, que foi definido pelo ‘Times’ como ‘nave-mãe de todas as reuniões’.
Aliás, a imprensa inglesa (tanto a séria quanto a ‘hypeira’) louvou o show com entusiasmo. Jornalões como o ‘Guardian’ e o próprio ‘Times’ fizeram coro com o semanário musical ‘NME’.
Todos esses foram unânimes em apontar ‘Kashmir’ como ponto alto da noite, saudaram a categoria dos senhores e ‘liberaram’ a banda para uma turnê mundial, ainda não confirmada. Críticos envergonhados que quiserem fugir para Andrômeda vão perder.’
CINEMA
Brasil e França se associam para adaptar romance
‘Há mais de seis anos tocando o projeto de adaptação para o cinema do romance ‘Vermelho Brasil’, que em 2001 rendeu o Prêmio Goncourt ao escritor francês Jean-Christophe Rufin, o produtor Cláudio Kahns deu mais um passo. Associou-se aos produtores franceses Nicolas Traube e Pierre Spengler, com quem esteve na semana passada no Rio de Janeiro visitando possíveis locações, como a Ilha Grande, perto de Angra dos Reis, no litoral fluminense.
‘São lugares com uma geografia e vegetação ainda bastante similares ao Rio da época em que se passa o livro, no século 16’, diz Spengler, convidado há cerca de um ano para participar do projeto. ‘De resto, teremos que recriar digitalmente parte do Rio retratado no romance.’
Lançado no Brasil em 2002, pela editora Objetiva, ‘Vermelho Brasil’ conta a história da fracassada tentativa de invasão francesa do Brasil, em 1555, por meio do Rio, numa expedição comandada por Nicolas de Villegagnon. A epopéia é narrada pela perspectiva de duas crianças, Just e Colombe, que vêm ao país em busca de seu pai. O título do livro é uma alusão à cor do pau-brasil, que deu nome ao país.
‘Apesar do sucesso que o romance teve na França, esta passagem apaixonante da história francesa é, em grande parte, desconhecida no meu país’, afirma Spengler.
Filmagem em 2008
Produtor de títulos como ‘A Marvada Carne’ (1985), ‘Vera’ (1987) e ‘Como Nascem os Anjos’ (1996), Kahns pretende iniciar as filmagens de ‘Vermelho Brasil’ no segundo semestre de 2008. O lançamento do longa-metragem seria em 2009, quando acontece o Ano da França no Brasil. Ao menos duas seqüências deverão ser filmadas na França: a saída de Nicolas de Villegagnon da Normandia em direção ao Brasil e o fim de sua vida.
Por ora, os produtores têm apenas um primeiro tratamento de roteiro, escrito pelo francês Jean Luc Feigle, e procuram também um roteirista brasileiro. Há pelo menos uma candidata a diretora, a argelina radicada na França Josée Dayan, um nome ligado à televisão francesa.
Orçado em 6 milhões (cerca de R$ 15,5 milhões), ‘Vermelho Brasil’ terá 40% da produção bancada pelo canal de TV France 2, segundo Kahns, que também está tentando leis de incentivo brasileiras.’
INTERNET
Brasil é estrela, diz guru do soft livre
‘Jon ‘Maddog’ (cachorro louco) Hall é o diretor-executivo da Linux International, organização que promove o uso do Linux. Considerado um guru do software livre, Hall esteve no Brasil para inaugurar uma sala com seu nome na empresa de treinamento e consultoria 4Linux e conversou com a Folha. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
BRASIL
O Brasil é uma das grandes estrelas do software livre. O governo e a indústria têm usado software livre para resolver seus problemas. Trabalham e contribuem uns para os outros.
Se você paga pelo software, isso significa que os royalties saem do país para outros, normalmente para os Estados Unidos. Isso é dinheiro que poderia dar emprego a pessoas, programadores, aqui no Brasil. Quando o dólar sai, não há muito que possa acontecer por aqui.
Quero ver o Brasil formar sua própria indústria de software, o que leva a uma melhor indústria de hardware, o que leva a melhores sistemas, o que leva a mais produção, o que leva a exportações… Esse é o ecossistema em que as pessoas têm de pensar. Não é apenas software.
PLANOS
Temos uma companhia [Koolu] trabalhando com um plano de negócios que achamos que poderá trazer a internet para, pelo menos, 85% das pessoas no Brasil, a um preço que elas podem pagar. E também fazer o software muito mais fácil para elas usarem, mais como se fossem usar um telefone em vez de um computador.
Também queremos criar várias bolhas wireless, de modo que seja possível acessar a internet de qualquer lugar de uma cidade como São Paulo.
Contei esse plano para o governo brasileiro, e eles estão interessados nisso. Parte do plano é treinar 2 milhões de administradores de sistemas e produzir máquinas no Brasil, criando mais empregos.
VANTAGENS
O controle para resolver os problemas saiu das mãos do consumidor para as da fabricante; ela tem o controle sobre o seu negócio. Nós precisamos colocar o controle de volta nas mãos das pessoas. Software livre é isso, é controle, é você decidindo. A grande coisa do software livre é o seu valor, o fato de que você pode adaptá-lo às suas necessidades para conseguir o que quiser.
CRESCIMENTO
No mundo, 80% dos supercomputadores usam Linux. Um terço de todos os sistemas de servidores usam Linux, um terço usa Unix proprietário, um terço usa Microsoft. E todos usam software livre.
Eles podem não saber, mas usam. Se você tem um roteador Linksys, usa software livre. Se você tem um roteador D-Link, usa software livre. Se você usa e-mail, você provavelmente usa o Sendmail como transporte, você usa software livre.
Você pode usar o Apache Web Server, isso é software livre. Ele pode estar rodando em Linux -é software livre.
APLICATIVOS WEB
Há uma nova filosofia de design: a de aplicativos baseados na web -em que eles são executados no servidor, e o desktop é simplesmente uma tela.
Se todos os meus aplicativos estão no servidor, e eu posso usar um aparelho como uma tela para ele, o sistema operacional usado não me importa.
PIRATARIA
Você diz para as pessoas que elas precisam estar na internet e ter um computador para poder fazer negócios hoje. Mas há quem não pode pagar pelo software. E o que elas vão fazer? A única coisa que lhes resta é a pirataria. Gosto de dizer: use software grátis -algo que é dado não pode ser pirateado.
DICAS
Não tente aprender tudo de uma vez. Você se sentirá esmagado. Faça pequenos passos até você chegar ao seu destino.
Muitas pessoas não se lembram de como aprenderam a usar o Windows, mas houve um processo de aprendizagem. É assim que se deve aprender o software livre.
DESAFIOS
A inércia é um problema. Algumas pessoas confundem ser diferente com ser difícil de usar. E precisamos de documentação melhor e mais clara. Precisamos encorajar as pessoas a fazerem isso.
MICROSOFT E APPLE
Tecnicamente, a Microsoft não é boa. Não é necessariamente o melhor produto que vence; é a melhor estratégia de marketing. E a Microsoft é mestre nisso. A Apple faz produtos e sistemas operacionais muito bonitos, mas infelizmente não são abertos. E acho que, no fim, o fato de serem tão fechados irá feri-los.’
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